quinta-feira, 15 de maio de 2025

A Palestina e o colapso da ordem mundial baseada em regras

A realidade no terreno - Em Abril de 2025, a catástrofe humanitária em Gaza atingiu proporções catastróficas.

Por Peiman Salehi

Introdução
Em Maio de 2025, a catástrofe humanitária em Gaza atingiu um nível sem precedentes. Mais de 50.000 palestinianos foram mortos desde outubro de 2023, a grande maioria deles civis, incluindo milhares de crianças. No entanto, as potências ocidentais — particularmente os Estados Unidos e os seus aliados — continuam a defender a chamada “ordem internacional baseada em regras”. Esta frase, frequentemente invocada para justificar sanções, intervenções e pressões diplomáticas noutros locais, soa vazia quando aplicada à difícil situação do povo palestiniano, que dura há décadas. A ocupação contínua, as políticas de apartheid e os repetidos crimes de guerra cometidos por Israel — apoiados incondicionalmente pelo Ocidente — expõem uma profunda hipocrisia no cerne desta ordem dita global.

Apesar de mais de 100 resoluções da ONU condenarem os colonatos israelitas, a deslocação forçada e os ataques indiscriminados contra civis, continua ausente uma responsabilização significativa. Israel não enfrenta sanções, embargo de armas ou isolamento internacional. Em vez disso, continua a receber milhares de milhões de dólares em ajuda militar, acordos comerciais preferenciais e cobertura política das potências ocidentais. Gaza, entretanto, continua cercada. Os hospitais são bombardeados, os comboios de ajuda são bloqueados e as necessidades básicas como água, combustível e electricidade são deliberadamente retidas. Esta não é uma resposta de segurança — é uma punição coletiva em grande escala.

Aplicação Selectiva do Direito Internacional
A abordagem do Ocidente ao direito internacional é tudo menos consistente. Quando a Rússia anexou a Crimeia ou quando países como o Irão e a Venezuela foram acusados ​​de violações de direitos, seguiram-se sanções rápidas e condenação global. No entanto, quando Israel viola abertamente as Convenções de Genebra, ataca as infraestruturas civis e desafia o Tribunal Internacional de Justiça, é recompensado com acordos de normalização, investimentos em tecnologia e parcerias de defesa. Este flagrante duplo critério destruiu a credibilidade de qualquer narrativa “baseada em regras”. É claro que as “regras” se aplicam apenas aos adversários do Ocidente — não aos seus aliados.

A armamentização da narrativa
Igualmente preocupante é o papel dos media ocidentais em moldar a perceção pública. A resistência palestiniana é rotulada como “terrorismo”, enquanto a agressão israelita é enquadrada como “autodefesa”. Termos como “confrontos” são utilizados para obscurecer a realidade dos ataques militares unilaterais. A desumanização dos palestinianos e a eliminação do seu sofrimento são componentes essenciais para manter esta ilusão de superioridade moral. O jornalismo que desafia esta narrativa é frequentemente silenciado, censurado ou descartado como tendencioso.

Conclusão
A Palestina já não é apenas uma crise humanitária — é um espelho que reflecte a falência moral do sistema global. A ordem mundial baseada em regras, promovida pelo Ocidente, entrou em colapso sob o peso das suas próprias contradições. Quando o direito internacional é aplicado seletivamente, quando algumas vidas são consideradas dispensáveis ​​e quando a justiça é sacrificada por interesses geopolíticos, o que resta não é a ordem, mas a dominação. A justiça para a Palestina já não é uma preferência política; é um imperativo moral global. Até que o mundo enfrente esta hipocrisia, a paz permanecerá fora de alcance — não apenas para os palestinianos, mas para a humanidade como um todo.

1 comentário:

Manuel M Pinto disse...

Abencerragem: "Palestina, um crime nas nossas barbas"
http://abencerragem.blogspot.com/2025/05/palestina-um-crime-nas-nossas-barbas.html

... "Não se trata com isto, como sabem os que por aqui passam, de desculpar e muito menos "absolver" a barbárie do Hamas -- grupo armado independentista islâmico, e não terrorista na sua essência, mesmo que praticando abjectas acções terroristas, como o são quaisquer ataques a civis; mas o a abjecção do governo israelita traduz-se na multiplicação do terror infligido pelo Hamas. Se fosse a vingança bíblica que queriam, há muito que estavam vingados. Mas é mais que isso: é genocídio praticado por um povo que foi sempre perseguido, de Nabucodonosor a Hitler."
Por Ricardo Alves