terça-feira, 15 de outubro de 2024

Para lá da fatalidade dos tempos



Num livro de 2015, Colapsologia, Pablo Servigne e Raphael Stevens criticavam uma economia despreocupada com os limites planetários e muito resistente à mudança, comparando-a como um carro que, em grande velocidade, se aproxima de um muro, conduzido por gente incapaz de olhar para o lado e perceber rotas alternativas.

Há inúmeras razões para estes bloqueios “sociotécnicos” — sendo uma delas, a meu ver, a enorme concentração de recursos e de bens e serviços a partir deles produzidos nas mãos de pouquíssima gente, que fará tudo para não perder, na transição, a sua “quota de mercado”, mudando de direcção, os que mudam, o mais devagarinho possível.

Mas, ao contrário da riqueza que estes poucos acumulam, esta dificuldade de imaginar caminhos alternativos, que nos desviem das várias crises que ameaçam a nossa existência colectiva, está bem distribuída pelo mundo, onde a ideia da TINA (There is no Alternative — Não há Alternativa) nos tornou seres passivos, à espera que outros tomem (as melhores) decisões sobre o nosso futuro.

Nesse mesmo livro, os autores assinalam que muito desse futuro se jogará na nossa capacidade de nos reimaginarmos enquanto sociedade, e de construirmos novas e poderosas narrativas sobre a humanidade e a nossa relação com esta casa comum, a Terra. E nesse sentido, destacam, “as iniciativas de transição” perceberam de maneira admirável que a batalha (e o esforço que será preciso fazer), se situa no terreno do imaginário e do Storytelling (a arte de contar histórias).

Em 2020, preso em casa, como muitos de nós, descobri que, no ano anterior, Rob Hopkins, co-fundador do Movimento para a Transição, cujo trabalho, a partir da pequena cidade inglesa de Totnes, vale a pena seguir, tinha publicado um novo livro, com um titulo tão singelo quão desconcertante: From What is to What If. Algo traduzível, directamente, por “Do que é ao que poderia ser”. A sua leitura revelou-se preciosa, pelas notas de esperança que me trouxe, naqueles dias sombrios.

A obra tem um subtítulo que nos lembra alguns livrinhos de auto-ajuda: Unleashing the Power of Imagination to Create the Future We Want (libertando o poder da imaginação para criarmos o futuro que desejamos). Mas, em vez de conselhos sobre como ficarmos ricos ou nos despedirmos do emprego para desenvolvermos um novo negócio, convida-nos a recuperar capacidades postas de parte ou atiradas para um cantinho das nossas vidas, e a utiliza-las em benefício da nossa saúde, da saúde da comunidade, da saúde do planeta.

Esta obra, que passou a ter, este ano, uma edição portuguesa, não vale, por isso, pelas respostas que dá — porque não é, relembro, um livro de auto-ajuda — mas por nos desafiar a fazer perguntas diferentes (pelas quais chegaremos, decerto, a respostas diferentes para as nossas inquietações). Voltando a Colapsologia, sou dos que sinto que “temos enorme necessidade de novas narrativas transformadoras neste momento de grande incerteza”. Mas, para isso, e como defendeu há muito o economista Serge Latouche, é preciso que “descolonizemos a imaginação”. E é isso que o co-fundador da Transition Network (TN), nos convida a fazer.

Rob Hopkins está em Portugal, e até ao final de Outubro apresentará o seu livro em várias cidades portuguesas, numa viagem em que terá a companhia da portuguesa Filipa Pimentel, co-líder da TN. Eu vou encontrá-lo perto de casa, na Póvoa de Varzim, cidade que criou, há pouco tempo, uma dinâmica para a transição, a partir de uma associação designada Centro do Clima. Depois de ter organizado, em 2021, durante o festival de cinema Porto/Post/Doc, uma sessão que o juntou, de longe, a José Carlos Mota e Laura Sobral — dois investigadores com trabalho admirável nas áreas do urbanismo e participação pública — vou poder, finalmente, agradecer-lhe, de viva voz, pelas reflexões que ele, e outros protagonistas do Movimento pela Transição, me têm proporcionado.

Enquanto jornalista muito dedicado às questões urbanas, a influência desta forma de pensar mudou, por exemplo, a minha abordagem ao espaço urbano, aos discursos que sobre ele se (re)produziram, e que nos fazem confundir desenvolvimento com uma inevitável motorização da mobilidade (símbolo de um crescimento imparável), que nos aprisionou a todos no trânsito e numa miríade de outros problemas, ao mesmo tempo que expandiu, e expande ainda, os limites da “cidade”. Tornando a gestão da vida urbana, e o nosso próprio quotidiano, insustentáveis. Percebi que, também na cidade, precisamos de construir, ou recuperar narrativas que nos ajudem a recuperar a rua.

Aberto a fazer perguntas diferentes, descobri gente que se recusa baixar os braços e vive imaginando e testando novas formas de viver a cidade, ou recuperando o que ela tinha de melhor, e que podemos resumir numa palavra, a proximidade: às pessoas, os vizinhos, aos serviços e aos bens de consumo, à troca de ideias, que também nos alimenta e à natureza, de que fazemos parte, mas da qual nos afastamos. Essa reaproximação faz-nos diminuir a pegada da mobilidade, ao mesmo tempo que alimenta o tecido urbano e a coesão social. E é uma poderosa ferramenta para a transição, ao pôr-nos mais perto de outros que, como nós, sentem o impacto do tempo, e a urgência da mudança, propiciando acção colectiva.

O que escrevi sobre a cidade pode ser replicado em muitos outros contextos e escalas. Kate Raworth, — que se identificou com o livro de Hopkins — desenvolveu na década passada pensamento paralelo para a economia, criando o conceito de Economia Donut. No qual, mais uma vez, desconstroi a aparência de ciência de teses e narrativas económicas tidas quase como “naturais”, e nos coloca perante novas possibilidades. Entre as quais, pasme-se, a cooperação, mais do que a sacrossanta concorrência, ganha destaque. E isto explica porque andam tão nervosos os arautos do status quo, do dividir para reinar, do homo economicus. Esse pseudo-ser egoista que tudo fará em benefício próprio, incluindo, se preciso for, prejudicar os outros.

Em todo este pensamento, perpassa sempre a ideia de que sozinho, ninguém chegará lá — se quisermos que esse lugar, o lá, não seja o pior dos cenários que nos pintam. E, apesar de nos terem ensinado que a competição é o grande motor da evolução humana humanidade, creio, como os autores de Colapsologia, que, pelas piores razões, vamos descobrir, nestas décadas, o valor da solidariedade. De outra forma, não acredito que sobrevivamos a este ciclo de (auto) destruição a que nos sujeitamos, arrastando, para o desastre, boa parte das espécies com as quais partilhamos o planeta.

O porquê de tanta giesta


Numa perspetiva histórica, o sucesso das giestas (Cytisus sp. pl. e Genista florida) nas paisagens atuais é, no mínimo, surpreendente. Há não mais de 50 anos as giestas eram de tal modo escassas que se semeavam nas terras pobres de Trás-os-Montes e da Beira Alta, no último ano de centeio, antes de um pousio alargado que alcançava, por vezes, uma década. A sementeira tinha o duplo objetivo de melhorar a fertilidade do solo (in loco e através da adição às camas animais e montureiras) e produzir lenho para queimar.
A explicação da expansão atual destes arbustos é multifatorial. Identificamos cinco causas prováveis. Duas delas são i) as plantações florestais a vala e cômoro, e ii) as fertilizações fosfatadas em solos marginais. A mobilização de solos para fazer floresta aumentou a espessura útil do solo, necessária às plantas de grande dimensão sob um clima mediterrânico ou temperado submediterrânico. Este fenómeno é evidente em Maio no Pinhal Interior. As giestas são evolutivamente próximas dos tremoceiros (Lupinus) e como eles, certamente, adaptadas a capturar o fósforo imobilizado pelo alumínio em solos ácidos. O stock de fósforo disponível nos solos de montanha para as giestas (mas não para outras plantas menos competentes) cresceu com adubações fosfatadas minerais quando, à custa de uma subida artificial dos preços, o cultivo do centeio e do trigo subiu as serras acima na primeira metade do séc. XX, ocupando solos marginais de pastagem. Sabe-se que as giestas respondem de forma exuberante ao fósforo.
A terceira e quarta hipóteses residem no desenho da copa (fisionomia) das giestas e no recente alargamento do período de retorno do fogo (por comparação com o fogo pastoril). Quem já viu fogo em giestas sabe que ardem de forma explosiva, num bruaá, com curtas interrupções cíclicas, i.e., o fogo em giestal avança aos solavancos. A causa está na estrutura da copa. As giestas possuem uma parte aérea de ramos delgados (de enorme combustibilidade na estação seca) que cedo se distancia do solo suportada, na base, por um curto tronco e pernadas grossos (pouco inflamáveis). Esta fisionomia afasta os combustíveis finos do solo, facilita a ascensão do comburente (oxigénio) durante o fogo e projeta a energia gerada pelas chamas em direção à atmosfera. Consequentemente, as giestas geram fogos de elevada intensidade e curto período de residência, em que a energia libertada não é suficiente para gerar elevadas temperaturas no solo ou à sua superfície. O avanço intermitente está certamente relacionado com o processo de secagem da copa com o avanço das chamas e a distribuição descontínua do combustível no espaço.
Que vantagens têm as giestas sob este padrão de fogo?
A temperatura à superfície do solo e, implicitamente, a severidade do fogo não dependem da intensidade da frente de fogo, normalmente medida em quantidade de energia libertada por metro linear de frente. Estão, sim, relacionadas com i) a distância dos combustíveis (finos) ao solo e ii) o tempo de residência do fogo. O fogo nas giestas tem muito em comum com o fogo das gramíneas nos pastos secos: é quente, rápido (entre as interrupções), intenso na copa, menos intenso à superfície do solo. Embora as giestas geralmente morram nos fogos de verão, as sementes tombadas no solo são, em larga medida, poupadas. Por outro lado, o fogo estimula a germinação das sementes das giestas, mais precisamente, quebra a dormência das sementes duras características deste grupo de arbustos. As plântulas vão usufruir de um nicho de regeneração melhorado, com poucos competidores, luz e a terra fertilizada pela cinza e pelas raízes em decomposição dos indivíduos parentais (recorde-se que as giestas são leguminosas fixadoras de azoto). No caso das gramíneas perenes, são poupados sementes e órgãos subterrâneos (ex. rizomas). Como se diz na bibliografia ecológica, as giestas e as gramíneas são engenheiras de habitats.
E como pode o alargamento do período de retorno do fogo beneficiar as giestas?
Várias hipóteses explicativas, outra vez. O fogo em ciclos curtos de recorrência é-lhes desfavorável. Se não vejamos. i) As giestas produzem semente tardiamente, a partir dos 3-4 anos; ii) as plantas jovens têm uma casca fina que as expõe ao efeito do fogo; iii) os giestais jovens ensombram pouco o solo e, ainda que pastoreados (com excepções), acumulam grandes massas combustíveis de gramíneas nas clareiras que põem em causa a sua sobrevivência perante o fogo (sobretudo se realizado durante a floração, no final de Abril, início de Maio).
Por outras palavras, o fogo pastoril com um curto ciclo de recorrência – em particular, os fogos de limpeza de pastagens tradicionalmente realizados em Setembro, depois da colheita de fenos e cereais, com as orvalhadas a caírem durante a noite – impedia que as giestas se reproduzissem e acumulassem sementes no solo. O fogo de verão em giestais maduros e altos, pelo contrário, dá tempo à reprodução sexuada e protege as sementes no solo e, por esta via, facilita a progressiva dominância das giestas nas nossas paisagens.
Quinta hipótese: efeito de massa. Entende-se por efeito de massa a dispersão de espécies e indivíduos de sítios com maior densidade populacional para sítios de menor densidade populacional. As giestas produzem anualmente massas significativas de sementes viáveis de dispersão balística (abertura explosiva da vagem), projetadas muitas vezes a mais de 5 m, arrastáveis pelas chuvas e deslizamentos de terra. Quanto mais sementes, maior a probabilidade de um evento raro de migração a longa distância e de colonização de um sítio vazio de giestas. Não cabe aqui explorar a argumentação ecológica, mas o efeito de massa permite a persistência em habitats a priori pouco favoráveis para as giestas e suplantar espécies em princípio mais competitivas.
As paisagens de Portugal continental encontram-se num momento perigoso. As giestas estão em franca expansão, há largos trechos de território adequados a estas espécies por colonizar, o regime de fogo atual é-lhes favorável e as giestas agravam os riscos de fogo de elevada intensidade no pino do verão (têm uma baixa ignibilidade e sustentabilidade do fogo na primavera) pondo em risco populações e haveres, com impactes ambientais detrimentais (aqui omitidos).
A montante das causas proximais da expansão das giestas antes elencadas estão o abandono rural (agricultura e pastorícia), a perseguição do fogo pastoril, a decadência de saberes rurais tradicionais, a dificuldade das agências públicas se adaptarem a novas realidades e a aversão ao fogo prescrito que perpassa a sociedade portuguesa.
Mas é como o fogo, façamos o que fizermos, não temos outro remédio senão aprender a coabitar Portugal com elas.
Autores: Carlos Aguiar, Avelino Rego, Duarte Marques, Marco Fernandes e Henrique Mira Godinho

segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Apelo à Paz - Mãos na Terra


Hoje escrevi este poema. Precisamos de Paz e de Soluções Baseadas na Natureza. Pedir Paz é um acto revolucionário, de empoderamento e realizável. Quanto ao meio ambiente, a situação é péssima. Há que meter mãos na Terra. Regressar às nossas raízes.
Apelo à Paz - Mãos na Terra
Deita as tuas mãos na terra,
sente o pulsar do coração do mundo.
Em cada grão, um eco suave,
de tempos antigos e futuros profundos.
Semeia paz nas fendas da dor,
onde as guerras deixaram cicatrizes.
Regamos com lágrimas de amor,
para curar todas as raízes.
Escuta o silêncio entre as folhas,
um sussurro que o vento traz.
É a terra que pede calma,
é o apelo sereno da paz.
Que cada mão toque o solo,
com o carinho de um irmão.
A paz floresce no coração do povo,
que cuida da terra com devoção.
Deita as tuas mãos na terra,
onde a vida começa e recomeça.
No toque suave, renasce a esperança,
e a paz é a colheita que o mundo não cessa.

João Soares

domingo, 13 de outubro de 2024

Crise de dispersão de sementes pode afetar futuro das plantas na Europa


A dispersão de sementes é crucial para a persistência dos ecossistemas, mas as ameaças de extinção e alterações populacionais entre os animais que a realizam poderão impedir a recuperação das populações de plantas em declínio no continente europeu.

Um estudo da Universidade de Coimbra publicado na revista Science indica que 30% das espécies de plantas têm a maioria dos seus dispersores na categoria de elevada preocupação, noticiou na quinta-feira a agência Efe.

Os investigadores focaram-se na forma como a perda de espécies animais na região poderá afetar o processo de dispersão das sementes, uma vez que pouco se sabe sobre a forma como estas duplas dispersores-plantas são interrompidas pela perda de espécies.

A equipa, liderada pela investigadora Sara Beatriz Mendes, reviu a literatura sobre duplas de dispersão entre animais e plantas para reconstruir a primeira rede europeia de dispersão de sementes.

Um terço destas interações cruciais são altamente preocupantes, o que significa que as espécies nelas envolvidas estão listadas como quase ameaçadas, em perigo ou com populações em declínio, de acordo com a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).

Os dados indicam que cada espécie animal dispersou em média 13 espécies de plantas, enquanto cada espécie de planta teve em média nove dispersores, resume a revista.

O estudo "revela uma crise de dispersão de sementes em desenvolvimento na Europa" e destaca grandes lacunas de conhecimento em relação aos dispersores e ao estado de conservação das plantas cujas sementes são dispersas por animais, "o que exige um maior escrutínio e ação para conservar o serviço de dispersão de sementes", referiu a equipa.

Os investigadores reconhecem que existem lacunas significativas nos dados sobre as relações de dispersão, mas acreditam que as suas descobertas podem ser utilizadas para orientar os esforços de conservação para preservar as relações de dispersores de grande preocupação.

Este é o primeiro estudo abrangente sobre a vulnerabilidade das espécies dispersoras de sementes, realçou o investigador Daniel Montoya, do Centro Basco para as Alterações Climáticas (BC3), citado pelo Science Media Centre, uma plataforma de recursos científicos para jornalistas.

Os autores compilaram uma extensa base de dados de 11.414 interações entre 1.902 espécies de plantas e 455 espécies de animais dispersores de sementes, incluindo 283 aves, 85 artrópodes, 69 mamíferos, 11 répteis, 4 moluscos, 2 peixes e um verme anelídeo.

A perda da função de dispersão "reduz a capacidade de recuperação dos ecossistemas, um fator chave face à recente aprovação da Lei Europeia de Restauração", acrescentou Montoya.

O investigador salientou que os resultados do estudo podem subestimar a vulnerabilidade de algumas espécies dispersoras, para as quais não existe informação sobre as suas tendências populacionais e vulnerabilidade.

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

"Temos cinco anos" para salvar o planeta. E "é preciso mudar o sistema alimentar mundial, que é intrinsecamente ilógico"



A organização ambientalista World Wide Fund for Nature (WWF) avisou que o que acontecer nos próximos cinco anos em termos de sustentabilidade determinará o futuro da vida na Terra.

“Temos cinco anos para colocar o mundo numa trajetória sustentável antes que as reações negativas da degradação da natureza e das alterações climáticas combinadas nos coloquem na encosta descendente de pontos de rutura descontrolados”, alerta a associação na edição deste ano do relatório “Índice Planeta Vivo”.

O relatório anual é compilado pela WWF há 15 anos e faz uma análise das tendências da biodiversidade global. A cada edição “assistimos a um maior declínio do estado da natureza e a uma desestabilização do clima e isto não pode continuar”, afirma a WWF no documento.

No documento deste ano a organização internacional salienta que há um risco real de fracasso, com “consequências quase impensáveis”, e que para manter um planeta vivo são precisas ações e mais esforços de conservação. É necessária, resume, uma transformação dos sistemas alimentares, energéticos e financeiros.

Lembrando que apesar do declínio da natureza houve populações que ou estabilizaram ou aumentaram em resultado de esforços de conservação, o documento salienta a importância das áreas protegidas (atualmente 16% das terras e 08% dos oceanos a nível global) e diz que os países precisam de alargar, melhorar, ligar e financiar adequadamente os seus sistemas de áreas protegidas, respeitando simultaneamente os direitos e as necessidades das pessoas afetadas.

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

O Impacto do Consumo de Água Engarrafada na Saúde e no Ambiente: Alternativas Sustentáveis


O consumo de água engarrafada tem vindo a crescer de forma preocupante, movido por uma perceção de qualidade superior e conveniência. No entanto, este hábito tem um impacto profundo, tanto na saúde pública como no meio ambiente. É imperativo invertemos o sentido dos nossos hábitos individuais e coletivos!

Impacto Ambiental

O principal problema associado ao consumo de água engarrafada reside na produção e descarte de embalagens de plástico. Estima-se que milhões de garrafas plásticas sejam produzidas diariamente em todo o mundo, com uma pequena fraçãoa chegar ao circuito de reciclagem. A maioria dessas garrafas acaba em aterros sanitários ou, pior, nos nossos oceanos, contribuindo para o aumento da poluição por plásticos, agravando a crise da sobrevivência de espécies de flora e fauna.

A produção de garrafas plásticas também envolve o uso intensivo de recursos naturais. Para fabricar uma garrafa de plástico de um litro, são necessários três litros de água e grandes quantidades de petróleo, o que resulta numa pegada de carbono significativa. Além disso, o transporte de água engarrafada, muitas vezes por longas distâncias, contribui para as emissões de gases com efeito de estufa com custos e impactos incalculáveis.

Impacto na Saúde

Embora a água engarrafada seja amplamente considerada segura, nem sempre é sinónimo de maior qualidade. Estudos indicam que algumas marcas de água engarrafada contêm microplásticos, produtos químicos disruptores endócrinos, como o bisfenol A (BPA), e outros contaminantes que podem ser prejudiciais à saúde humana. Além disso, a exposição prolongada ao calor pode causar a libertação de substâncias tóxicas das garrafas plásticas para a água.

Outro fator preocupante é a ausência de regulamentação rigorosa em algumas regiões do planeta, onde a qualidade da água da torneira é frequentemente superior à da água engarrafada.

Alternativas Sustentáveis

Para mitigar o impacto ambiental e os riscos à saúde associados ao consumo de água engarrafada, é crucial considerar alternativas mais sustentáveis:

Água da Torneira Filtrada: A água da rede pública em Portugal é, na sua maioria, de excelente qualidade e segura para consumo. O uso de filtros de água em casa pode melhorar ainda mais a qualidade, removendo possíveis impurezas e odores. Existem filtros de várias tecnologias, como carvão ativado ou osmose inversa, que oferecem soluções acessíveis e eficientes.

Estação de Água Filtrada em Locais Públicos: Uma das soluções mais eficazes e sustentáveis seria a implementação de estações de água filtrada em espaços públicos, como centros comerciais, estações de comboios, parques e eventos desportivos. Estes pontos de abastecimento permitiriam às pessoas encherem garrafas reutilizáveis, reduzindo drasticamente a necessidade de comprar água engarrafada.

Garrafas Reutilizáveis: O incentivo ao uso de garrafas reutilizáveis feitas de materiais como aço inoxidável, vidro ou plásticos livres de BPA é outra medida prática e imediata. Além de serem seguras para a saúde, estas garrafas têm uma durabilidade muito superior às de plástico descartáveis e podem ser usadas repetidamente, reduzindo significativamente o desperdício.

Políticas Públicas e Incentivos: A promoção de campanhas educativas sobre os benefícios da água da torneira e a criação de incentivos governamentais para empresas que promovam práticas sustentáveis também são essenciais para uma mudança a longo prazo. Por exemplo, a proibição ou restrição da venda de água engarrafada em instituições públicas, como escolas e hospitais, pode ser um ponto de partida importante.

A Mudança Começa Connosco

O impacto negativo da água engarrafada é um problema que pode e deve ser resolvido com o contributo de todos. O Movimento de Intervenção Cívica (MIC) acredita que a adoção de hábitos mais sustentáveis começa com a consciencialização e a educação. Cada garrafa reutilizada ou dispensada faz uma diferença no combate à crise ambiental e na proteção da nossa saúde.

O MIC apela, em particular, ao setor do retalho e da restauração, para a urgente mudança de hábitos, nomeadamente para o fim da venda de água engarrafada e acondicionada em plástico de reduzida dosagem (inferior a 75 ml), optando pela disponibilização de garrafas de vidro ou, preferencialmente, água filtrada disponibilizada a granel.
Individualmente compete-nos fazer melhores escolhas, evitar o consumo da água engarrafada, em especial das garrafas pequenas. Opte por garrafas reutilizáveis e, sempre que possível, água corrente, preferencialmente filtrada.
A solução está ao nosso alcance: basta optarmos por alternativas que promovam um futuro mais verde e saudável para as próximas gerações.

Eu faço a minha parte! E tu, fazes a tua?

segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Basta de eucaliptal! Carvalho!!


Meados de Setembro de 2024, o que parecia um final de verão tranquilo em termos de incêndios "florestais" revela-se um pesadelo ao nível de 2017. As promessas de um Portugal decente em termos florestais em cinzas pelo chão queimado da monocultura sem vida que tudo e todos asfixia. A solução? a retirada imediata das extensas áreas de monocultura de eucalipto e um mosaico natural de carvalhais e outras espécies que não gostam do fogo como o eucalipto gosta e que criam água em vez de a levar toda para as empresas de celulose. Um outro Portugal é possível. a prova? o exemplo do Sérgio Almeida. 

 Sê como o Sérgio, não sejas como a Navigator dos eucaliptos.

Estes vídeos só são possíveis com o apoio de donativos de pessoas que sabem que é importante dar visibilidade e voz a estas causas. as tv oficiais não o fazem, a industria da celulose e suas portas giratórias no nosso parlamento da nossa república não o permite .

domingo, 6 de outubro de 2024

Dois terços dos suíços disseram “não” à preservação da biodiversidade



O país é dos mais ameaçados pela extinção de espécies, mas mais de 60% dos seus habitantes consideraram que uma proposta de preservação da biodiversidade é “extrema” e “custosa”.

A Suíça, conhecida pela beleza natural, como os lagos cristalinos e os majestosos picos alpinos, está entre os países mais ricos do mundo cuja vida vegetal e animal está sob maior ameaça.

Num referendo recentemente realizado, os ambientalistas procuravam fazer aprovar legislação que garantisse melhor proteção da biodiversidade do país .

No entanto, chamada a pronunciar-se, a população suíça votou contra as medidas de proteção de biodiversidade propostas, que eram apoiada por várias organizações ambientais.

Em causa estavam 400 milhões de francos suíços (cerca de 421 milhões de euros) destinados ao aumento do financiamento público para encorajar agricultores a preservar terras e rios.

As medidas propostas tinham como objetivo que a fauna e a flora locais, imagens de marca do país, se desenvolvam sem interferência humana. Propunha-se ainda a proibição da construção de novas linhas férreas nas áreas protegidas.

Os resultados do referendo refletiram no entanto um descontentamento geral: cerca de dois terços da população (mais de 60%) votaram contra as medidas, apoiadas pela esquerda e pelos verdes.

O partido de direita, que predomina no parlamento, bem como o executivo, manifestaram-se contra a medida, argumentando que já são gastos cerca de 600 milhões de francos suíços (aproximadamente 631 milhões de euros) anualmente na proteção da biodiversidade.

No website da campanha contra a medida, lê-se que esta “limitaria severamente a produção (sustentável) de energia e alimentos, restringiria o uso de florestas e áreas rurais para turismo e tornaria a construção mais cara”. A mensagem é clara: “SIM à biodiversidade, mas NÃO à iniciativa extrema da biodiversidade.”

“Este problema permanecerá, independentemente do resultado da votação”, afirma o Partido Verde da Suíça, em declarações citadas pela Fast Company.

As associações ambientais recordaram também a quarta posição da Suíça no ranking da OCDE para países com as maiores taxas de espécies ameaçadas em todas as oito categorias de vida selvagem.

Em abril, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos acusou a Suíça de não estar a fazer o suficiente para conter o impacto das alterações climáticas.

sábado, 5 de outubro de 2024

O Indo que há em nós


Por Nuno Gomes
A Europa moldou o mundo durante os últimos 500 anos, com as invasões em todos os continentes, espalhando a sua "superioridade". Os nazis levaram essa "superioridade" ao extremo e tentaram exterminar aqueles que não encaixavam na sua ideia de raça pura ariana onde nem o próprio Hitler cabia, devendo, portanto, ser mais um para as câmaras de gás, segundo a sua lógica doentia. Hoje em dia, russos e israelitas apregoam essa "superioridade" com bombas e assassínios em massa.
Mas o espantoso é que na verdade a maioria dos europeus, incluindo os arianos, são emigrantes asiáticos, sobretudo das estepes da Ásia Central, que podem ser seguidos até ao vale do Indo, entre a Índia e Paquistão. As primeiras vagas de migração dos africanos modernos na Europa (Cro-Magnons) aconteceram há cerca de 40.000 anos, onde encontraram os Neanderthais e com eles se misturaram. Mas os Africanos ocuparam a Ásia muito mais cedo, chegando à Austrália há cerca de 60-65.000 anos. Os povos asiáticos tiveram, por isso, um desenvolvimento independente dos europeus e enquanto civilizações prosperavam na Índia, China, etc., na Europa vivia-se uma idade da pedra tardia. Basta ver que Göbekli Tepe, na Turquia, tem 12.000 anos e Stonehenge apenas 4.000. O nosso Cromeleque de Almendres é mais antigo que Stonehenge começando a ser construído há 6.000 anos, com modificações durante cerca de 3.000 anos. Mas enquanto os habitantes da Grã-Bretanha construíam Stonehenge os egípcios construíam as primeiras pirâmides. Os chamados povos indo-europeus tiveram origem no Vale do Indo, que migraram para a Europa através das estepes do Uzbequistão e Cazaquistão, Rússia, Ucrânia, etc., pela rota norte do Mar Cáspio e através do Irão, Turquia, Grécia, etc. Entre 4.000 e 5.000 anos atrás, dando origem às civilizações europeias actuais, pouco restando dos cro-magnons originais. Aliás, com a invasão da cultura yamnaya houve um genocídio dos homens, que foram massacrados, mas poupadas as mulheres, havendo uma substituição genética rápida na Península Ibérica há cerca de 4.500 anos.
E o povo ariano, esse tal de Hitler, é tão impuro como os outros e veio também do Indo, de onde veio, aliás, a cruz suástica usada pelos nazis, que por aqueles lados e noutras culturas era símbolo de prosperidade, não de destruição. 

segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Curiosamente apenas poucos países no mundo consomem os tremoços.


Digam se eu estiver errado mas que eu lembre, além de Portugal,  Espanha e Itália creio que nunca vi tremoços em outros países. Os espanhóis introduziram o hábito de comer tremoços em alguns países da América Latina. 
Em Portugal, o nome deriva do árabe al-turmus revelando a longa tradição do seu consumo entre nós, ao contrário de muitos outros países ocidentais onde é um ilustre desconhecido à mesa. 
O tremoço é a semente contida na vagem do fruto de uma planta, chamada “tremoceiro” do género Lupinus, cujas flores apresentam corola papilionácea, podendo ser azuis, róseas, roxas, brancas, amarelas (a que origina o nosso conhecido tremoço), vermelhas ou ter mesmo várias cores. A floração ocorre na primavera e verão.
O tremoço, à semelhança de outras leguminosas, como o grão, o feijão, a lentilha, a fava ou a ervilha apresenta diversas propriedades nutricionais muito interessantes para a saúde. Contudo, o tremoço em natureza apresenta um aminoácido e alcaloides neurotóxicos. 
Estes são eliminados depois de cozidos e cobertos com água que deve ser mudada com frequência durante vários dias até perderem o seu amargo original, com a eliminação dos alcalóides. A partir desse momento tornam-se no excelente alimento que todos apreciamos.

sábado, 28 de setembro de 2024

Centre for Functional Ecology | Promotional video


O “Centre for Functional Ecology - Science for People & the Planet” (CFE) reúne investigadores de todos os domínios da ecologia, das ciências do ambiente e do território, das ciências sociais e das humanidades. A dimensão multidisciplinar do CFE corresponde aos desafios societais contemporâneos em interação com a complexidade do compromisso global para a sustentabilidade.

Integra conhecimento desde os genes aos biomas, com o objetivo de estudar os mecanismos responsáveis pela conservação da biodiversidade e pela composição, estrutura e funcionamento das comunidades biológicas e ecossistemas, considerando a diversidade disciplinar indispensável à compreensão da relação entre as Pessoas e o Planeta, os territórios e as comunidades.

O CFE apresenta um forte compromisso com a transferência de conhecimento para o público em geral e para o setor produtivo, com ênfase na sustentabilidade dos territórios e bem-estar das comunidades locais.

Desde a sua criação em 2009, o CFE da Universidade de Coimbra apresenta um notável crescimento em dimensão, alcance e impacto. Atualmente, o CFE é composto por 126 investigadores doutorados integrados e um total de cerca de 400 investigadores organizados em 10 grupos de investigação estratégicos:

1. Biodiversidade, Conservação e Capital Natural

2. Ecossistemas Terrestres e Alterações Globais

3. Recursos Marinhos, Conservação e Tecnologia

4. Saúde do Solo

5. Sociedades e Sustentabilidade Ambiental

6. História, Território e Comunidades

7. Uma Só Saúde

8. Antropologia Forense e Paleobiologia

9. Bioeletrónica e Bioenergia

10. Ecologia e Ecotoxicologia Aquáticas

Cada um desses grupos apresenta os seus próprios objetivos claros de I&D, mas com colaborações muito fortes e fluidas entre todos os grupos de investigação, um marco do CFE desde a sua criação. O CFE apresenta também duas linhas temáticas transversais: Cátedra UNESCO em Biodiversidade e Conservação para o Desenvolvimento Sustentável e a Ciência Aberta.

A estratégia do CFE passa pela consolidação da trajetória altamente positiva no plano científico e formativo. A vibrante dinâmica de investigação alcançada nos últimos 5 anos, a incorporação de investigadores altamente qualificados e com forte dimensão internacional, o número e a qualidade dos artigos publicados e dos projetos aprovados, as sinergias estabelecidas com o setor privado e a participação de investigadores do CFE-UC em redes internacionais, incluindo no apoio na tomada de decisões, sustentam uma maior afirmação do CFE-UC a nível nacional e internacional.

O CFE, tendo a ecologia na sua matriz científica, produz conhecimento nas áreas das alterações globais, da gestão dos recursos hídricos e dos bens alimentares, da proteção dos oceanos, da biodiversidade, dos serviços dos ecossistemas, do património e das comunidades, e assumirá um maior compromisso pela sustentabilidade, numa visão concertada, transdisciplinar, transnacional e translacional, apoiada na partilha do conhecimento e na ciência aberta, e incorporando plenamente a Agenda 2030 das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, com os investigadores estimulados a dar prioridade ao pensamento sistémico com relevância ao nível local, nacional e internacional.

Em respeito pelos princípios orientadores da promoção de uma ciência aberta e socialmente responsável, o CFE-UC aposta em fortalecer algumas áreas prioritárias específicas, principalmente: agroambiental, fitossanidade, dieta mediterrânica, silvicultura, alterações globais, conservação da natureza, segurança alimentar, avaliação do risco ambiental, economia azul, ecossistemas marinhos e costeiros, economia circular, território, comunidades e desenvolvimento sustentável.

A formação avançada e a incorporação de estudantes no início e o desenvolvimento de ideias e projetos, é outra pedra angular da estratégia do CFE, sendo aposta uma forte afirmação no campo da formação técnica especializada e formação avançada, e na cooperação académica internacional, através do envolvimento em programas de Mestrado e Doutoramento internacionais, bem como a promoção do emprego científico.

Além disso, através da Cátedra UNESCO em Biodiversidade e Conservação para o Desenvolvimento Sustentável, as relações com os países de língua portuguesa continuarão a ser fortemente incentivadas. A longa história partilhada com esses países exige e privilegia tais colaborações, com um foco especial na conservação da biodiversidade e nas coleções biológicas, orientação e partilha de conhecimento.

Assim, a missão do CFE-UC é continuar a impulsionar os limites do conhecimento em todas as áreas da Ecologia e suas interfaces com a tecnologia e a sociedade, num compromisso permanente de produzir uma verdadeira Ciência para as Pessoas e para o Planeta.

sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Curta-Metragem: O Outro Par - The Other Pair


O filme egípcio “O Outro Par”, com duração de apenas 4 minutos, ganhou o prémio de melhor curta-metragem no festival de cinema egípcio. Sarah Rozik, a diretora, tem 20 anos e foi baseada na história de Gandhi. Fala sobre a Lei do Karma "Faça pelos outros o que você gostaria que eles fizessem por você".

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

No Topo da Montanha


No silêncio alto, sob o céu imenso,
Onde o vento dança, leve e intenso,
Eu sou pequeno, frente ao vasto horizonte,
Mas meu espírito cresce, como a luz de um monte.

Abaixo, o mundo se perde em fragmentos,
Rios serpenteiam como longos pensamentos,
E as árvores, verdes, tocam o firmamento,
Enquanto a montanha guarda seu lento alento.

O ar é puro, o tempo é brando,
Aqui, sou parte do todo, me expandindo e voando,
A alma flutua, leve como a brisa,
No cume do mundo, onde o silêncio avisa:

Que há paz na altura, no vazio encontrado,
Que no topo do mundo, não há mais passado,
Só o agora, vasto e eterno,
Onde o espírito toca o céu moderno.

João Soares, 22/09/2024