quarta-feira, 14 de maio de 2025

‘Ainda mais assustador’: Sandor Lederer, activista anti-corrupção húngaro diz que a era Trump espelha a cleptocracia de Orbán


Alex Wagner conversa com Sandor Lederer, diretor e fundador do organismo anticorrupção húngaro K-Monitor, sobre a dimensão da corrupção na Hungria e como os cidadãos se tornaram insensíveis a ela. Governar através de um escândalo, sugere, pode ser estratégico: sobrecarregar o público até que a indignação desapareça, uma tática que também vê em prática nos EUA sob a administração do presidente Trump. 
Durante a conversa, Lederer traça também paralelos perturbadores entre a tendência autoritária da Hungria e a situação actual nos EUA, onde o nepotismo da era Trump e a consolidação do poder da elite se assemelham ao modelo cleptocrático da Hungria. Para Lederer, é “ainda mais assustador” ver estes padrões a consolidarem-se num país que era anteriormente considerado o detentor das salvaguardas democráticas mais fortes do mundo.

Quem manda neste país - De pouco nos serve escolher um Parlamento e um Governo, se o verdadeiro poder em Portugal não é o democrático


Por João Paulo Batalha
Está a chegar ao fim, graças a Deus, a campanha para uma eleição dispensável, convocada para resolver um caso de venalidade e má conduta ética, que não vai resolver o caso que a provocou. Uma ficção dramatizada e pouco convincente, em que os políticos fingem que vão resolver tudo, e os eleitores já nem fingem que acreditam. É uma campanha pouco entusiasmante porque é uma campanha repetida (estivemos nisto há um ano) e porque o cidadão médio espera muito pouco dos mesmos partidos e das mesmas lideranças.

Temos boas razões para a descrença. Em Portugal, o verdadeiro poder está hoje fora do Estado, acima do Estado. Capturando um poder político fraco, mandam os grandes lóbis. Comem à mesa dos contribuintes, esmifram os consumidores, prosperam intocados, protegidos pela lei e a salvo dos tribunais. O melhor caso de estudo dessa privatização do poder e da soberania democrática desenrola-se à frente dos nossos olhos há cinco anos.

Em 2020, a EDP vendeu à francesa Engie seis barragens na bacia do Douro por 2.200 milhões de euros – concessões que o Estado tinha prorrogado não muito tempo antes, sem concurso, por uma fração desse valor. O negócio foi estruturado de forma a que a operação não pagasse impostos. Os alertas para a engenharia fiscal foram feitos ainda de o negócio se concretizar, pelo Movimento Cultural da Terra de Miranda, uma organização cívica que assumiu um combate desigual por justiça para o Nordeste transmontano, de onde há décadas muita riqueza é extraída, sem contrapartidas justas para as populações locais.

Os avisos foram inúteis. Apesar de prevenido, o Governo da época abriu todas as portas e estendeu à EDP todas as facilidades. O negócio das barragens está sob investigação há anos, e faz parte de um conjunto grande de diferendos que opõem a EDP ao Estado, a maior parte dos quais sem resolução à vista – e vários a trabalhar para a prescrição. Mas o conflito mais revelador tem sido o pagamento do IMI devido pelas concessões das barragens. De novo, tem sido a sociedade civil, através do Movimento Cultural da Terra de Miranda, a liderar este combate, com apoio dos municípios beneficiários do IMI que nunca foi cobrado, e contra a cumplicidade permanente dos Governos e da Autoridade Tributária, sempre do lado da EDP.

A receita foi sempre a mesma: os agentes públicos que deviam zelar pelo interesse comum, no Governo ou na AT, eram os primeiros a expressar dúvidas sobre a legalidade de cobrar o imposto sobre imóveis aos imóveis nos quais a EDP sustenta a sua atividade de produção energética e boa parte dos seus lucros. Invocava-se a complexidade do problema e as intricâncias da lei. A EDP empatava – e empatar é ganhar. Finalmente, em 2023, o então secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Nuno Félix, ordenou à Autoridade Tributária que avaliasse as barragens e cobrasse os impostos. Nem assim. A própria AT, sempre expedita com o pequeno contribuinte faltoso, continuou a arrastar os pés.

O novo Governo PSD/CDS tratou da coisa de forma muito portuguesa: nomeou uma comissão para estudar o assunto. A comissão publicou agora o seu relatório, em que sugere uma alteração legislativa para garantir que o IMI seja mesmo cobrado. 

Uma derrota para a EDP? Pelo contrário: uma requintada vitória travestida de derrota. Como noticiou ontem o Jornal de Negócios, alterar a lei para mandar cobrar o IMI seria reconhecer que a lei atual não obriga ao seu pagamento – quando obriga! Seria dar cabo dos esforços, desde 2020, para arrecadar o bendito imposto, que qualquer outro cidadão paga sem reclamar, e seria deitar fora o que está por cobrar dos últimos quatro anos (tudo o que não foi pago antes disso já prescreveu). A comissão nomeada pelo Governo propõe, em suma, fazer a vontade à EDP, parecendo que está a derrotá-la. Mesmo perdendo, a EDP ganha.

Pior, alertou de novo o Movimento Cultural da Terra de Miranda, uma alteração legislativa não só limparia todo o IMI de anos anteriores, como daria argumentos para renegociar os contratos de concessão, a pretexto de que os novos encargos fiscais não estavam previstos. Significa isto que, mesmo quando começasse a ser pago, o imposto sobre os imóveis que rendem milhões à energética não seria pago pelo contribuinte EDP, mas por todos os outros contribuintes!

Há cinco anos que o Estado português não consegue cobrar os impostos que são devidos nas barragens. Quando se exige à Autoridade Tributária e a sucessivos Governos que defendam o interesse público, arranjam sempre forma de fazer as vontades ao grande lóbi. A soberania da EDP sobrepõe-se à do Estado, num país onde os concessionários exercem um domínio feudal sobre os servos da gleba. Domingo elegeremos um novo Parlamento e escolheremos um novo Governo. Mas continuaremos a baixar a cabeça a quem verdadeiramente manda neste país.

Somos todos sobreviventes




Morreu aos 89 anos o antigo presidente do Uruguai, Pepe Mujica

O Luar quando Bate na Relva


O luar quando bate na relva
Não sei que cousa me lembra...
Lembra-me a voz da criada velha
Contando-me contos de fadas.

E de como Nossa Senhora vestida de mendiga
Andava à noite nas estradas
Socorrendo as crianças maltratadas ...
Se eu já não posso crer que isso é verdade,
Para que bate o luar na relva?

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XIX"
Heterónimo de Fernando Pessoa

terça-feira, 13 de maio de 2025

Israel espera que 50% da população de Gaza fuja durante ataque em grande escala

com o apoio directo do governo português e de toda a direita nacional, que acabou de votar contra qualquer pedido de contas a israel. Embora tb seja verdade que o ps votou agora a favor de um pedido de contas que não aplicou nunca nos meses de governação ps em que o genocídio começou. A falta de vergonha na cara anda em alta.

"- Israel expects half of Gaza’s 2.3 million people to leave as its military prepares an all-out assault in the next few days .
- A WHO official says without food “an entire generation” of Palestinian children will be permanently affected as Israel’s Gaza blockade and mass starvation continues.
- Israeli forces bomb Nasser Hospital in Khan Younis killing two people, including journalist Hassan Eslaih, and wounding other patients and staff.
- Israel’s war on Gaza has killed at least 52,908 Palestinians and wounded 119,721, according to Gaza’s Health Ministry. The Government Media Office updated the death toll to more than 61,700, saying thousands of people missing under the rubble are presumed dead." Fonte

Estamos a cancelar a desobediência civil e isso é grave


Chamam-lhes palermas, parvos, "ecofascistas", que só prejudicam o ambientalismo, etc, etc. Mas como sabemos os ambientalistas com "boa educação" preocupam-se em insistir na legislação e a legislação ambiental não é clara, há pareceres questionáveis do ICNF, da APA e andamos esgotados com argumentos para a frente e para trás. A lavagem verde não acontece só em Portugal. Procuram denegrir as acções "radicais" destes jovens. O que é verdade e um facto incontestável é que eles se magoaram líderes, estão a sofrer repressão. E silenciamento. E isso assusta-nos. Deve inquietar-nos. Já não se fala da greve estudantil climática há quase 2 anos, fruto dessa repressão e desdém por parte de outros ambientalistas. 
E o ecologismo na Política? Então não faltam exemplos de gestos "palermas". Estou a falar, por exemplo do passe ferroviário. Uma boa medida climática mas provocou guerra suja. O LIVRE precisa denunciar fortemente o PSD. Eles não criaram nada; eles apenas alargaram o Passe Ferroviário Nacional — uma invenção do LIVRE que foi colocado em prática através do contributo da maioria do PS. E fazer essa denúncia, como?

Concordo com Myriam Zaluar que diz o seguinte "Sei que este meu pensamento não é popular, nos dias que correm, em que é permitido lutar pelas causas certas, mas só se for uma luta fofinha, porém vou exprimi-lo na mesma:  as conquistas dos trabalhadores, das mulheres, das pessoas racializadas ou de quem quer que seja NUNCA se fizeram através de acções fofinhas. Fizeram-se através de greves que 'prejudicaram' o conjunto da sociedade porque se assim não fosse não surtiam qualquer efeito. Fizeram-se através de acções 'radicais' que causaram muita celeuma e às vezes alguma dor, até por se não fosse assim, não teriam tido qualquer visibilidade."
Acrescento eu o seguinte: a emergência climática, os abusos sobre a mineração, directivas dos Habitats sem um suporte de desobediência civil, percebemos que tudo está na mesma e para pior!
A Nova Lei dos Solos e o Mercado Voluntário de Carbono isso são realmente medidas absurdas e radicais num Planeta com limites planetários. É o "sistema" capitalista novamente "radical" e a levar-nos para o abismo, se continuarmos com contestação apenas na base de "boa educação". 

Por fim para vossa reflexão sugiro a leitura deste artigo  Gerador
"Nos últimos anos, observa-se na Europa uma tendência crescente de criminalização do ativismo climático, com autoridades a recorrerem a novas leis e processos judiciais para travar protestos ambientais​. Em democracias consolidadas como o Reino Unido, a Alemanha ou a Itália, ativistas pacíficos têm sido detidos, julgados e até condenados por ações de desobediência civil em nome do clima, levantando alarmes sobre possíveis excessos legais e retrocessos nas liberdades de expressão e reunião​.

Portugal não está imune a este fenómeno: de ações simbólicas nas ruas de Lisboa a bloqueios de infraestruturas, vários ativistas climáticos portugueses enfrentaram detenções e acusações formais – incluindo multas pesadas – por exercerem o direito à manifestação. Enquanto as autoridades justificam estas intervenções como defesa da ordem pública e do Estado de direito, organizações da sociedade civil e juristas alertam para o impacto de tais medidas na liberdade de protesto e na vitalidade da democracia, num momento em que a urgência climática torna o dissenso cada vez mais crucial.

A decisão de interromper o então primeiro-ministro, António Costa, para ler um comunicado ao microfone foi impulsiva. Na sala que acolhia uma cerimónia do Partido Socialista, estava um grupo de ativistas do movimento Aterra sentados na plateia, à espera do momento para intervir. Queriam apelar ao governo para “dizer a verdade sobre os impactos ambientais da decisão” de construir um novo aeroporto, conta Francisco.

Foi ele quem subiu ao palco. Não disse mais do que “Lamentamos incomodar a vossa festa”, porque os seguranças logo o detiveram. Foi o único arguido, tendo sido acusado do crime de desobediência qualificada. Ficou sujeito a uma multa ou até dois anos de prisão por não ter informado às autoridades aquela manifestação que alegadamente tinha organizado. Depois de três audiências de julgamento em primeira instância, foi considerado inocente, mas o Ministério Público recorreu da decisão. O caso foi para o Tribunal da Relação e o Ministério Público ganhou.

“Claramente, há uma vontade de perseguir. E que mostra também a importância de agir, porque a quantidade de recursos que estão a ser mobilizados contra isto é revelador da importância do trabalho que estamos a fazer também”, afirmou Francisco, numa entrevista ao Gerador em agosto do ano passado.

“Recorremos dessa decisão, porque não podemos deixar que se abra um precedente tão absurdo para outras pessoas”, acrescenta.

Há cinco anos que decorre o processo do Francisco. Ainda hoje aguarda a decisão final, sob uma medida de coação que lhe exige apresentar termo de identidade e residência. Não sabe se vai ter de pagar uma multa ou se fará trabalho comunitário, mas vai avançar com uma queixa ao Comité dos Direitos Humanos."

John Muir - como via o lugar do nosso planeta no cosmos


John Muir was a Scottish-born American naturalist, writer, philosopher, botanist, zoologist, and glaciologist – you name it, he probably did it. 

This is how he saw our planet’s place in the cosmos:
“When we contemplate the whole globe as one great dewdrop, striped and dotted with continents and islands, flying through space with other stars all singing and shining together as one, the whole universe appears as an infinite storm of beauty.”

Saber mais aqui

segunda-feira, 12 de maio de 2025

William Rees

William E. Rees é um ecologista e economista ecológico canadiano, professor emérito da Universidade da Colúmbia Britânica, reconhecido por ter criado o conceito de "pegada ecológica" juntamente com Mathis Wackernagel. Este conceito quantifica o impacto humano sobre os ecossistemas, medindo a área de terra e água necessária para sustentar o consumo de recursos e absorver os resíduos gerados.

Perspetiva crítica sobre sustentabilidade e transição energética
Rees é um crítico do tecno-otimismo — a crença de que a tecnologia por si só resolverá as crises ambientais. Num artigo coautorado com Megan Seibert, intitulado "Through the Eye of a Needle", ele argumenta que a transição energética baseada em fontes renováveis enfrenta limitações físicas e ecológicas significativas. Segundo Rees, a verdadeira crise não é apenas energética, mas sim um "excesso ecológico" causado por um sistema económico que ultrapassa os limites biofísicos do planeta. Ele defende que é necessário reduzir a escala da atividade humana e adotar uma economia pós-crescimento para alcançar uma sustentabilidade real.


Visão sobre a sociedade moderna
William Rees considera que a sociedade moderna é "ecologicamente disfuncional", com normas culturais que perpetuam padrões de consumo insustentáveis. Para ele, o que é considerado "normal" na cultura atual é, na verdade, patológico do ponto de vista ecológico. Ele defende uma mudança cultural profunda, que vá além de soluções tecnológicas, para enfrentar as crises ambientais de forma eficaz.

Em resumo, William Rees defende que enfrentar as crises ambientais requer uma transformação sistémica — não apenas tecnológica, mas também económica e cultural — para alinhar a civilização humana com os limites ecológicos do planeta.

Machosfera “não é brincadeira de rapazes”, é bomba relógio


Escolhem as mulheres como inimigo, são orgulhosamente misóginos, transformam a violência de género em espetáculo ‘online’, doutrinam crianças e lucram com isso – eis a machosfera, uma “bomba relógio que já explodiu”, alertam especialistas.

“Temos uma sociedade pornificada, com plataformas digitais desreguladas, onde a misoginia e a violência contra as mulheres é espetacularizada, monetizada, comercializável. É uma bomba-relógio, um problema social que já explodiu nas nossas mãos”, sublinha Maria João Faustino, especialista em violência sexual.

Isto “não é uma mera brincadeira de rapazes”, garante Inês Amaral, investigadora do Observatório de Masculinidades do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.

Segundo a especialista, a misoginia “vende”, enquanto propaga filosofias “doentias e assustadoras”, num universo onde homens partilham “filmagens não consentidas de encontros com mulheres, ou até vídeos sem nada de sexual das mulheres, mães, irmãs, até das filhas”.

As “culturas digitais reacionárias e patriarcais” estão a construir “novas gerações que promovem ideias distorcidas sobre intimidade, consentimento, prazer mútuo e igualdade”, aponta Diana Pinto, da Plataforma Portuguesa para os Direitos das Mulheres.

As narrativas misturam “ressentimento, violência e nostalgia por uma ordem patriarcal perdida”, vendo como ameaça a emancipação feminina.

“Nos fóruns, nas redes sociais e nas plataformas de ‘streaming’, proliferam discursos misóginos que promovem uma cultura que sexualiza, desumaniza e até responsabiliza as raparigas e as mulheres pela violência que sofrem”, indica.

Esta “cultura digital violenta” é “potenciada por algoritmos e pela monetização de conteúdos sexistas, altamente lucrativos para alguns, nomeadamente para as plataformas”, assegura.

O problema de raiz é “muito profundo e está sedimentado em muitos séculos de desigualdade e supremacia masculina”, ganhando no ‘online’ “novas avenidas e dimensões de impunidade”, sinaliza Maria João Faustino, alertando que é “muito fácil aliciar, capturar e radicalizar jovens rapazes” para estes discursos.

A machosfera “tem muitos ecos e muitas alianças” com “a pornografia ou a extrema-direita” e “não está só nas catacumbas da internet”.

“Os misóginos são homens que partilham da vida em sociedade connosco, que vivem connosco, nas nossas casas, nas nossas famílias. É preciso fazer o reconhecimento doloroso de que são homens como nós, e muitas vezes homens que amamos, que são os nossos filhos, os nossos pais, homens em quem confiamos”, sublinha.

Maria João Faustino alerta que o problema é estrutural e tem passado “sem uma resposta preventiva ou uma abordagem séria”.

O britânico Andrew Tate, auto-denominado misógino, é para estes homens “uma espécie de herói” e propaga discursos “de uma violência atroz e uma promoção de ódio muito substancial, consumidos por centenas de milhares de jovens numa base quotidiana”, relata Inês Amaral.

“As crianças não vão ativamente à procura destes conteúdos, mas são o alvo destas pessoas”, avisa a investigadora.

Depois, “há o passa a palavra e o consumo de determinadas plataformas, nomeadamente de jogos, cheias destas ideias”, destaca, encontrando uma “ligação direta” entre a machosfera e os movimentos de Alt-Right (direita alternativa focada na supremacia branca) dos Estados Unidos da América.

É um “problema terrível”, fomentado “pelos discursos conservadores dos grupos e partidos de extrema-direita, que legitimam um discurso mais duro, de recurso à violência e de menorizar o papel das mulheres”, sinaliza Sandra Cunha, da FEM – Feministas em Movimento.

Tiago Rolino, jurista, gestor de investigação e ativista, olha para o machismo como “manifestação do sistema patriarcal”, o “topo da pirâmide de privilégios” que “está sempre presente”, bloqueando “a igualdade plena de direitos e oportunidades”.

“As primeiras vítimas do machismo são as mulheres. Mas os homens também. Têm mais suicídios, sofrem mais de doenças evitáveis porque não vão ao médico, consomem mais drogas, comentem mais crimes e têm mais depressões”, afirma.

Ser “provedor, corajoso, forte, bem constituído fisicamente, esconder as emoções, ser mulherengo e bem-sucedido” são os “pilares da masculinidade que o homem de verdade tenta atingir”, mas “nenhum os atinge a todos”, o que “causa problemas de frustração” e recurso à “violência para se imporem”, explica.

Exploração mineira não poupa zonas de proteção da natureza



A corrida ao ouro, e à prata, entre outros, está lançada em Portugal e quase sem travões para zonas protegidas, como o Parque de Montesinho, que agora podem vir a beneficiar de um puxão de orelhas da União Europeia a Portugal.

O aviso europeu, feito na sexta-feira, pode ter impacto em projetos mineiros em fase de consulta pública para autorização de direitos de prospeção e pesquisa no Parque Natural de Montesinho, em Trás-os-Montes, e nas Zonas Especiais de Conservação “Serra de Monfurado” e “Cabrela”, no Alentejo. Segundo a União Europeia, a legislação portuguesa tem em conta medidas compensatórias quando avalia projetos que podem afetar sítios protegidos pela Rede Natura 2000, “minando o resultado da avaliação dos efeitos.” 

Segundo a Diretiva Habitats, “se um projeto fere um local da rede Natura 2000, não pode ser aprovado simplesmente na base de que o estrago será compensado”, alerta a UE, que ameaça levar o estado português ao Tribunal Europeu. Portugal tem dois meses para responder, promovendo alterações à legislação atual, que tem merecido críticas dos ambientalistas, por ser incapaz de travar projetos, independentemente da oposição das populações e dos pareceres negativos das autarquias.

“A Lei atual é muito lata e deixa muitas válvulas de escape para se poder avançar de forma um bocadinho discricionária", observa Nuno Forner, ambientalista da associação Zero. "É necessário mudar. A lei devia ser explícita e dizer que em áreas protegidas não vamos autorizar exploração mineira", acrescentou aquele especialista em minas. 

Só cobre entra no top dos mais pesquisados
Em Portugal, há atualmente 123 contratos de concessão mineira ativos, e 63 pedidos de prospeção identificados pela Direção Geral de Energia e Geologia (DGEG), 21 contratualizados e 42 em publicação ou avaliação. Dos minerais críticos à transição ecológica, segundo Regulamento Europeu Matérias-Primas Críticas, apenas o cobre aparece entre os mais pretendidos, em segundo lugar, atrás do metal mais ambicionado de sempre pela humanidade: o ouro, com 25 pedidos de pesquisa, 15 concedidos e 10 em publicação ou apreciação. A prata aparece em terceiro lugar, com 23 pedidos, 14 autorizados e nove em espera. 

Entre as chamadas terras raras há ainda pedidos de prospeção de nióbion, antimónio, tântalo e trípoli. Na análise aos pedidos de prospeção na DGEG, destaque para o regresso do volfrâmio,  e para uma solicitação de pesquisa de cobalto, um componente das baterias automóveis mais usadas atualmente, e que está incluído num pedido de prospeção denominado “Valongo 2”, com cerca de 105 km2, nos concelhos de Vinhais e Bragança, abrangendo a Zona Especial de Conservação (ZEC) Montesinho/Nogueira.

Os municípios de Bragança e Vinhais estão contra a prospeção solicitada por uma empresa privada, a GMRConsultores, com sede em Braga, que teve também parecer negativo do Instituto de Conservação da Natureza e da Fauna (ICNF). Há ainda mais dois pedidos de prospeção que abrangemos concelhos de Bragança e Vinhais, denominados "Revelhe" e "Castrelos". 

"Escândalo" em Montemor o Novo
Não é o único projeto mineiro a Zonas Especiais de Conservação, classificadas no âmbito da Rede Natura 2000. Há um projeto de cerca de 70 km2 nas barbas do Porto, que engloba a ZEC de Valongo, aprovada esta semana, e ainda o pedido de atribuição de direitos de prospeção, designada “Montemor”, para prospeção e pesquisa de cobre, chumbo, zinco, ouro e prata, numa área de 447,5 km2 nos concelhos alentejanos de Montemor-o-Novo, Évora, Viana do Alentejo e Vendas Novas onde se inclui as Zona Especial de Conservação (ZEC) de Monfurado e Zona Especial de Conservação (ZEC) de Cabrela.

"É um escândalo", comenta Ana Pires, que em 2011 fez parte de um movimento de cidadãos que se opôs a uma mina de ouro na Boa Fé e agora acompanha com preocupação este novo projeto. "Como? Como?" repete incrédula com a ideia de se abrir uma mina numa área que apanha duas áreas de ZEC. "Quando se declara um parque natural, é porque há volta está tudo mal, já não há saúde para os bichos e as plantas", diz Ana Pires. 

O projeto para Montemor-o-Novo, que tem a oposição do presidente da Câmara, Olímpio Galvão, estima tirar 500 toneladas de ouro em cinco anos, considerando que a concentração é de dois gramas daquele metal precioso por cada tonelada de solo que será preciso remover, triturar e lavar com recurso a produtos químicos. “Será que vale a pena?”, questiona Ana Pires. "Desde que a zona foi incluída na Rede Natura, as pessoas tiveram que adaptar a vida. As atividades económicas mudaram para se adaptar, e está a viver equilibrado", acrescenta. 

“Isto é um contrassenso. Temos áreas protegidas, temos valores naturais que temos de proteger e depois temos a atribuição de direitos para prospeção e pesquisa que podem futuramente levar a  exploração com impactos muito significativos”, alerta Nuno Forner. “É um receio para nós, porque quando é atribuído o direito de prospeção e pesquisa, está ali quase praticamente implícito que as pessoas têm direito a apresentar depois um projeto para exploração. Não há uma salvaguarda”, acrescenta.

Novas concessões no Barroso e o perigo ambiental
“É claro que vão ter que ter um estudo de impacto ambiental, que tem de ser aprovado, mas sabemos que a maior parte dos estudos de impacto ambiental têm parecer favorável condicionado”, alerta, preocupado como a existência de "uma corrida muito predatória, que é explorar o mais rapidamente possível", que ameaça áreas com estatuto de proteção ambiental e agrícola, como por exemplo em Covas do Barroso, classificado como Património Agrícola Mundial da FAO.

Ao projeto de exploração de lítio, da Savannah Resources, com uma área total de cerca de 6km2, juntaram-se mais cinco, alguns encostados às concessões atualmente autorizadas, com Estudo de Impacto Amabiental condicionado, para exploração, prevista durante 17 anos. “O impacto ambiental que vamos ter ali é algo já mais alargado”, alerta Nuno Forner.  Lembrando que Portugal não tem uma estratégia nacional para os recursos naturais, argumenta que a análise é feita caso a caso, pelo que “é muito difícil que os promotores façam uma avaliação séria dos efeitos cumulativos ao nível do ambiente, que podem ser muito maiores que somar um, mais um e mais um.”

Os projetos da Savannah Resources, que detém a concessão da exploração do lítio na mina do Barroso e da Lusorecursos, que espera iniciar a extração  de lítio da mina do Romano, em Montalegre, foram incluídos na lista dos 47 projetos estratégicos selecionados pela Comissão Europeia para “assegurar e diversificar” o acesso às chamadas matérias-primas críticas. São contestados pelas populações, que prometeram recorrer para as instâncias europeias.

Receita para produzir ditadores


John Shattuck, enquanto presidente da Universidade Centro-Europeia em Budapeste, viu de perto como Viktor Orbán assumiu o controlo da democracia húngara e a transformou num Estado autoritário. 
Quando Trump foi eleito, em 2016, Trump apoiou Orbán, e Orbán começou a atacar universidades — forçando a Universidade Centro-Europeia a sair da Hungria. 
John acredita que Trump está a imitar o manual de Orbán. (Steve Bannon declarou uma vez que “Orbán era Trump antes de existir Trump.”)
O manual de Orbán tem 10 partes, segundo John: 
Um: Assuma o controlo do seu partido e imponha disciplina interna usando ameaças políticas e intimidação para acabar com toda a dissidência partidária. 
Dois: Construa a sua base apelando ao medo e ao ódio, rotulando os imigrantes e as minorias culturais como perigos para a sociedade e demonizando os seus adversários como inimigos do povo.
Três: Use desinformação e mentiras para justificar o que está a fazer.
Quatro: Use a sua vitória eleitoral para reivindicar um mandato abrangente — especialmente se não obtiver a maioria.
Cinco: Centralize o seu poder destruindo o serviço público.
Seis: Redefinir o Estado de Direito como regra por decreto executivo. Armar o estado contra todos os adversários democráticos. Demonize quem não apoia o líder como um “inimigo do povo”. 
Sete: Eliminar os freios e contrapesos e a separação de poderes, assumindo o controlo do poder legislativo, dos tribunais, dos meios de comunicação social e da sociedade civil. Aplicar aos opositores penalidades regulatórias, como auditorias fiscais, penalidades educacionais, como negação de acreditação, penalidades políticas, como investigações de assédio, penalidades físicas, como retirada de proteção policial, e penalidades criminais, como processo judicial. 
Oito: Confie nos seus oligarcas — líderes empresariais e financeiros extremamente ricos — para supervisionar a economia e recompensá-los com acesso especial a recursos estatais, cortes de impostos e subsídios. 
Nove: Alie-se a outros autoritários como Vladimir Putin e apoie os seus esforços para minar as democracias europeias e atacar países soberanos como a Ucrânia.
Dez: Faça o público acreditar que tudo isto é necessário e que resistir é inútil.

John observou que a influência de Orbán chega agora a toda a Europa.

Traduzido de Robert Reich

domingo, 11 de maio de 2025

O paradoxo militar e autoritário de Israel


Quando Israel bombardeia a Síria, o Líbano e Gaza, é “autodefesa”. Quando o Iémen responde, de repente é “antissemitismo”.

Os 10% mais ricos do mundo causaram dois terços do aquecimento global desde 1990


A investigação, publicada na revista Nature Climate Change e citado na quarta-feira pela agência Efe, avaliou até que ponto os diferentes grupos e sociedades contribuem para as emissões e revelou que o 1% mais rico do mundo contribuiu 26 vezes mais do que a média global para o aumento dos extremos de temperatura global e 17 vezes mais para as secas na Amazónia.

O trabalho, conduzido pela ETH Zurich (Suíça), mostra a relação entre a desigualdade de emissões baseada no rendimento e a injustiça climática, revelando que o consumo e os investimentos dos ricos tiveram e continuam a ter um impacto desproporcional nos eventos climáticos extremos.

Estes efeitos são "especialmente graves em regiões tropicais vulneráveis, como a Amazónia, o Sudeste Asiático e o Sul de África", que historicamente têm contribuído menos para as emissões globais.

O estudo mostra que os impactos climáticos extremos não são apenas o resultado de emissões globais abstratas, mas "podem estar diretamente ligados a estilos de vida e escolhas de investimento, que por sua vez estão ligados à riqueza", sublinhou Sarah Schöngart, investigadora da ETH Zurique, ex- aluna Young Scientists Summer Program (YSSP) e principal autora do estudo.

"Verificámos que os emissores ricos desempenham um papel significativo na condução dos extremos climáticos", e isso "fornece um forte apoio às políticas climáticas que visam reduzir as suas emissões", salientou Schöngart.

Utilizando um modelo que combinava dados económicos e simulações climáticas, os investigadores conseguiram rastrear as emissões de diferentes grupos de rendimentos globais e avaliar a sua contribuição para extremos climáticos específicos.

Assim, descobriram que as emissões dos 10% mais ricos da população dos Estados Unidos e da China, somente, multiplicaram as temperaturas extremas em regiões vulneráveis em duas ou três vezes.

"Se todos tivessem emitido como os 50% mais pobres da população global, o aquecimento global teria sido mínimo desde 1990", garantiu Carl-Friedrich Schleussner, coautor do estudo e diretor do Grupo de Investigação de Impactos Climáticos Integrados do IIASA.

"Corrigir este desequilíbrio é crucial para uma ação climática justa e eficaz", lembrou o investigador.

O estudo também destaca a importância das emissões ligadas a investimentos financeiros e afirma que focar-se nos fluxos financeiros e nas carteiras de indivíduos com rendimentos elevados pode gerar benefícios climáticos substanciais.

Os autores acreditam que estas descobertas podem ajudar a lançar instrumentos de políticas progressistas dirigidas às elites sociais e realçam que fazer os poluidores ricos pagarem também pode fornecer o apoio muito necessário para a adaptação e perdas e danos em países vulneráveis.

Reequilibrar a responsabilidade pela ação climática de acordo com o contributo real para as emissões "é essencial", não só para conter o aquecimento global, "mas também para alcançar um mundo mais justo e resiliente", concluem os autores.

Marjan Farsad - Khooneye Ma

Devido às restrições ao canto feminino no Irão, a música alternativa tem sido tradicionalmente dominada por homens.No entanto, nos últimos dez anos, isso começou a mudar.
O disco de 2014 de Marjan Farsad foi considerado como um catalisador dessa mudança, pois foi um sucesso tão grande que influenciou muitas cantoras mais jovens, incluindo artistas como Golsa e Banu.
O tema 'Khooneye Ma' (O nosso lar/A nossa casa) é uma das músicas mais conhecidas e gravadas entre todos os iranianos, especialmente entre a diáspora.