terça-feira, 19 de novembro de 2024

Citação de Brian Eno


"Estou cada vez mais convencido de que a nossa única esperança de salvar o nosso planeta é se começarmos a ter sentimentos diferentes sobre ele: talvez se ficarmos reencantados pela incrível improbabilidade da vida; talvez se sofrermos arrependimento e até vergonha por o que já perdemos; talvez se nos sentirmos entusiasmados com os desafios que enfrentamos e com o que ainda poderá tornar-se possível. Resumidamente, precisamos de nos voltar a apaixonar, mas desta vez pela Natureza, pela Civilização e pelas nossas esperanças para o futuro."

Brian Eno quote:
"I’m more and more convinced that our only hope of saving our planet is if we begin to have different feelings about it: perhaps if we became re-enchanted by the amazing improbability of life; perhaps if we suffered regret and even shame at what we’ve already lost; perhaps if we felt exhilarated by the challenges we face and what might yet become possible. Briefly, we need to fall in love again, but this time with Nature, with Civilisation and with our hopes for the future."

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

O elogio da esquerda etiquetária da direita


«Devia-nos escorrer uma lágrima furtiva quando lemos os carinhosos analistas que exigem à esquerda que regresse à “velhinha luta de classes”, agora “propriedade” da direita, pois o “vírus” democrata foi “capturado por grupelhos anticapitalistas”. O eterno Fukuyama é citado por Teresa de Sousa para provar que o que condenou Kamala foi a “protecção exclusiva de um conjunto de grupos marginalizados: minorias raciais, imigrantes, minorias sexuais, etc.”. E acrescenta ela com condescendência: “O problema não está em que estas preocupações não sejam justas, que são”. São mas não são e não podem, aqui aplica-se a filosofia da famosa rábula do Ricardo Araújo Pereira.

As minhas teses contra estes conselhos comoventes são, primeiro, que são uma fraude para incensar Trump e, depois, que tentam empurrar a esquerda para uma marginalidade etiquetária conveniente à direita.

Apaziguar Trump?
A pantomina começa por apresentar o Partido Democrata (PD) como a esquerda. O PD foi o partido dos esclavagistas durante a guerra civil; 70 anos depois, mesmo com a sua supermaioria, Roosevelt desistiu de uma lei federal contra os linchamentos porque os senadores democratas sulistas não o permitiriam. A perda dessa influência territorial e a pressão dos direitos civis mudou o mapa partidário, mas não a fidelidade a Wall Street: foi Clinton quem determinou o fim da lei do New Deal no controlo bancário e Kamala vangloriou-se da chancela da Goldman Sachs no seu programa. Chamar esquerda ao PD, ou fantasiar que representou os trabalhadores, é um insulto mal recebido pelos seus chefes.

Num país dividido ao meio pelo bipartidarismo, tanto democratas como republicanos sempre tiveram povo e é uma pirueta apresentar Trump como o portador da tal nova “luta de classes” colonizada pela direita. E, como é bom de ver, os lusos “proprietários da luta de classes” olham para o salário como a abominação que reduz o lucro. Nisso coerentes, a sua “luta” é pela redução do IRC ou, como notava o bilionário Warren Buffett, é para pagar menos IRS do que a sua secretária. Temo aliás que este amor pela “classe” seja de pavio curto e que volte à fábula meritocrática do elevador social, minúscula arca de Noé onde não cabe classe alguma.

O facto é que os “proprietários da luta de classes” se refugiam no discurso poltrão sobre a culpa woke para justificarem Trump. Afinal, repetem, ele tocou o coração do povo, oferecendo o identitarismo MAGA e a esperança dos descamisados. No entanto, bastaria olhar para a galeria de horrores do séquito para notar que o trumpismo é o poder de uma casta económica e procura impor a necropolítica, pobres descamisados que são carne para canhão. Por isso, a política de apaziguamento dos que endeusam o homem, que já deu mau resultado no passado, não será melhor agora: o que ela prova, como se verifica no fim do cordão sanitário francês ou na nomeação de Rutte para a NATO às costas do Governo de extrema-direita, é que a direita clássica desliza para o trumpismo.

Arrumados no beco?
O trumpismo é um identitarismo brutalista, dirigido por um fascista, com traços teocráticos e subordinado à pilhagem do país por uma elite empresarial, cujo ícone é Elon Musk, que investiu 119 milhões e ganhou 26 mil milhões com a eleição. Esta vaga crescerá. É o que me leva ao meu segundo ponto: a resposta da esquerda só pode ser a disputa da maioria, o que exige que crie a certeza social de que é ela que garante liberdade e segurança.

Assim sendo, face à ameaça civilizacional, é só curiosa a tentativa dos apaziguadores de nos pedirem um regresso ao passado. Ora, uma esquerda declarativa e cerimonial – etiquetária, portanto – só serve para o consolo da direita. Ela é inútil, nenhuma muralha de Jericó cairá com as trombetas das proclamações sobre o partido-guia. O modelo dessa política etiquetária já foi experimentado de todas as formas e só conduziu a sectarismo e auto-satisfação desarmante, enquanto a luzinha que brilhava numa janela do Kremlin para iluminar a humanidade se extinguiu às mãos dos dirigentes feitos oligarcas. Esse passado é um beco onde morreu a saudade.

Entretanto, em nome da fantasia de um exército de robots obedientes a algum grande educador do proletariado, a esquerda conservadora propõe na Alemanha a deportação de imigrantes e noutros países opõe-se à paridade entre homens e mulheres ou a medidas de transição energética.

Pois pergunto então que sentido teria a esquerda abandonar a maioria do povo, que são mulheres, ou renunciar aos direitos humanos, ou entregar o futuro ao capitalismo fóssil? Ou se, quando em Portugal se fez o referendo que despenalizou o aborto, havia outra prioridade da luta de classes? Ou se o país ficou pior por ter aprovado o casamento gay, que enfureceu a direita, a hierarquia religiosa e, já agora, muitos populares? É precisamente por disputar o único imaginário universalista que resta – liberdade e igualdade – que a esquerda deve rejeitar o etiquetarismo e juntar todos os setores populares que disputam os seus direitos.

Num tempo em que há menos sindicalizados do que precários e trabalhadores por turnos, ou migrantes, ou quando há mais manifestantes nas marchas LGBT+ do que no 1.º de Maio em todas as cidades menos uma, essa inclusão é uma condição para restabelecer a capacidade de acção colectiva da classe trabalhadora – e deve ser o seu programa.

Mais ainda, se a segurança da vida boa, dos bens comuns, da saúde à escola, e dos bens essenciais, o salário e a casa, é a base do projeto socialista, tal transmutação democrática só vencerá se for a expressão de uma aliança maioritária. Essa é aliás a razão pela qual setores da esquerda norte-americana, refugiados no seu próprio etiquetarismo sem alternativa política, prejudicam o combate pela igualdade ao substituírem a luta social pela ideia de que a experiência pessoal do trauma é a fonte da autoridade discursiva ou que o cancelamento pode estabelecer a regra da praça pública.

Contaminada pelo abismo intoxicante das redes sociais, essa esquerda é profundamente individualista e desiste do sentido da comunidade, que é a essência do universalismo socialista. Sim, Trump ensina-nos alguma coisa: a não desistir de toda a luta de classes que enfrenta o capitalismo real.»

terça-feira, 12 de novembro de 2024

Trump e o fim de uma era dourada que nunca o foi


Por Ricardo Paes Mamede
A vitória de Trump nas eleições presidenciais americanas foi recebida com preocupação generalizada e há boas razões para isso. Trump tem um modo de fazer política que degrada a democracia e põe em causa o regular funcionamento do Estado de direito. A sua mensagem é contrária à coesão social e à dignidade da pessoa humana, estimulando o ódio, a intolerância e o desprezo pelo ambiente, pela ciência e pelos factos. Ao nível económico, promete uma redução de impostos que agrava as desigualdades e uma política comercial agressiva que desestabiliza as relações internacionais. Pior ainda, o regresso vitorioso de Trump é um estímulo acrescido a todos os partidos e movimentos que, em diferentes países (Portugal incluído), seguem a mesma linha política. Nada de positivo pode vir daqui.
À boleia das críticas a Trump surge muitas vezes o lamento sobre o fim de uma era de globalização supostamente feliz. O anunciado regresso do proteccionismo americano contrastaria com várias décadas de relações comerciais assentes em regras, que teriam contribuído para um bem-estar alargado à escala global.
Esta narrativa tem dois problemas. Primeiro, ignora que a globalização económica contemporânea, com as suas regras e lógicas de funcionamento, criou um conjunto de problemas sérios nas economias e nas sociedades. Segundo, é incapaz de perceber que o sucesso de Trump — e de outros movimentos políticos semelhantes — é mais consequência do que causa dos problemas decorrentes das relações económicas internacionais.
A forte expansão do comércio internacional e dos fluxos financeiros é um dos traços mais marcantes da economia global contemporânea. Sob a promessa de prosperidade generalizada, as fronteiras comerciais foram desmanteladas, abrindo espaço a uma mobilidade sem precedentes de capital, bens e serviços. Países de rendimentos baixos especializaram-se na produção intensiva de bens de consumo a baixo custo, enquanto as nações mais ricas se concentraram em sectores de alta tecnologia e serviços financeiros. Este processo resultou na criação de cadeias de valor globais, fazendo emergir uma interdependência entre economias que foi por muitos recebida como uma promessa de paz e estabilidade. Na verdade, este modelo trouxe um conjunto de distorções e desequilíbrios que colocam em causa a viabilidade de uma economia mundial integrada nos moldes actuais.
A emergência da China como superpotência industrial, assente na instalação em massa naquele país de fábricas das empresas dos países ricos a partir da década de 1980, foi um dos principais factores que contribuíram para agravar os desequilíbrios globais. A deslocalização da capacidade produtiva para a China pretendia tirar partido dos seus baixos custos de produção e aceder a um mercado potencial de grandes dimensões.
Os resultados foram, por um lado, a acumulação de enormes excedentes comerciais e de capacidades tecnológicas pela economia chinesa; por outro lado, a desindustrialização de muitos países ocidentais, com impactos nefastos nas suas estruturas sociais e no seu endividamento externo. Os poucos países que resistiram à desindustrialização daí decorrente foram aqueles que produziam os bens de que a China necessitava para o seu desenvolvimento económico. Como exemplo mais ilustrativo, a economia alemã, tendo um perÆl de especialização assente em máquinas e equipamentos de produção e transporte, viu crescer as suas exportações como poucos, à boleia da procura chinesa. Tal como a China, a Alemanha seguiu uma política de contenção da procura interna (por via de políticas salariais e orçamentais restritivas), traduzindo-se na acumulação de excedentes comerciais signifcativos face aos seus parceiros.
Assim, a par do crescimento exponencial dos movimentos de bens e capitais, a globalização contemporânea caracterizou-se por enormes desequilíbrios nas contas externas, com efeitos negativos na estabilidade financeira internacional. Os países com elevados superavits comerciais reciclaram os seus excedentes financiando os deficits dos países com contas externas negativas. Isto permitiu aos últimos continuar a consumir, mas à custa de um endividamento crescente.
Estes desequilíbrios têm estado na origem das centenas de crises financeiras e recessões económicas ocorridas nas últimas quatro décadas em diversos pontos do globo (incluindo a crise do euro, que arrastou Portugal entre 2010 e 2013). O excesso de crédito e a especulação financeira dão lugar a bolhas no preço dos activos que, ao rebentar, originam recessões profundas. A pandemia e a guerra na Ucrânia vieram acrescentar à lista de efeitos nefastos da globalização os riscos associados a um excesso de interdependência entre países no fornecimento de bens essenciais.
Longe de ser uma era dourada, a globalização económica contemporânea tem estado assim associada a fenómenos de instabilidade social, financeira e económica. Pelo caminho, milhões de trabalhadores nos países desenvolvidos viram os seus empregos desaparecer, os salários estagnar, a precariedade e as desigualdades aumentar. A capacidade dos Estados para fazer face a estes problemas fragilizou-se. Era difícil que isto não se traduzisse em instabilidade política.
Quem lamenta o fim da globalização como a conhecemos até há pouco não se limita a ignorar os aspectos nefastos das regras em vigor. Parece também confundir as vantagens inerentes às trocas comerciais entre países com uma economia global em que “regulação” significa pouco mais do que impor a cada Estado a abertura descontrolada das suas economias à concorrência internacional.
Não haja dúvidas de que o proteccionismo de Trump é simplista e perigoso. O aumento acentuado das taxas aduaneiras, acompanhado de uma atitude de confronto nas relações entre países, poderá resultar numa guerra comercial generalizada, com consequências graves para a economia global.
A solução para os desequilíbrios resultantes da globalização económica deveria, ao invés, passar por uma regulação mais robusta dos sistemas financeiros e por uma coordenação internacional das políticas cambiais e comerciais que permitisse ajustar as contas externas distribuindo as responsabilidades entre os países com excedentes e os países deficitários — na linha do que Keynes propôs há 80 anos, com pouco sucesso, no âmbito das negociações de Bretton Woods.
Na ausência de tais mecanismos de coordenação, não é de espantar que os países recorram aos instrumentos que têm à sua disposição. A solução não é boa. Desmantelar as fronteiras económicas nacionais e esperar que tudo corra pelo melhor, como em larga medida se fez nas últimas décadas, ainda o é menos.

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Retirem a Helena Ferro de Gouveia do Horário Nobre!

Exigimos a retirada de Helena Ferro de Gouveia do horário nobre da televisão devido ao seu apoio inabalável ao genocídio do povo palestiniano em Gaza

Nós, cidadãos do mundo, vimos por este meio expressar a nossa profunda preocupação com a presença de Helena Ferro de Gouveia no horário nobre da nossa televisão. Esta figura pública, que defende sem reservas uma campanha de violência extrema, compromete a integridade da opinião pública ao divulgar propaganda enganosa e sem contraditório sobre a situação em Gaza.

É do conhecimento geral que Helena Ferro de Gouveia, sem respeito pelo valor da vida humana, apoia abertamente a morte de milhares de pessoas como resposta desproporcional aos eventos de 7 de outubro de 2023, quando uma fação terrorista, inicialmente criada e apoiada por Israel, atacou indiscriminadamente cidadãos israelitas. Com cada intervenção, ela procura distorcer o cenário do conflito em favor de interesses socioeconómicos e políticos específicos, gerando um desequilíbrio na perceção pública da realidade e agravando uma crise que já afeta e tira a vida a milhares de pessoas, incluindo crianças inocentes, numa escala sem precedentes.

Razões para a petição:

Propagação de ódio: O horário nobre deve estar reservado a conteúdos de qualidade. A promoção de ideias de apoio ao genocídio é um insulto aos valores fundamentais da humanidade.

Normalização da violência: Ao permitir que Helena Ferro de Gouveia expresse publicamente o seu apoio à violência contra civis, estamos a contribuir para a normalização de atos desumanos, criando um ambiente em que o sofrimento de inocentes é relativizado.

Distorção da verdade: A repetição de propaganda sem contraditório ameaça gravemente a compreensão pública do conflito, desviando a atenção das reais causas e consequências e impedindo uma visão justa e equilibrada.

Erosão dos valores éticos dos media: Os meios de comunicação social têm a responsabilidade de apresentar informação com rigor e imparcialidade. Permitir que figuras públicas transmitam opiniões extremistas e unilaterais ameaça a credibilidade dos media e contraria os seus próprios princípios de neutralidade.

Impacto negativo na coesão social: Discursos de ódio e de incitação à violência contra um povo podem desencadear divisões internas, ampliando tensões sociais e contribuindo para um clima de intolerância e desumanização.

Apelamos a todos para que se juntem a esta causa. Com o vosso apoio, podemos restaurar o equilíbrio e proteger a dignidade de um povo, afastando as influências nocivas de Helena Ferro de Gouveia.

Assinem a petição. Salvemos o povo da Palestina. Expulsemos o ódio do horário nobre.

Obrigado!


domingo, 10 de novembro de 2024

Crise na Democracia

«Tudo é mau nos resultados eleitorais dos EUA. Acontece. Já não é a primeira vez na história que demagogos, populistas, protoditadores ganham eleições e, sem excepção, os efeitos são sempre maus. Não são maus para toda a gente, nem são maus para tudo, mas no geral são maus, em primeiro lugar, para a democracia, depois, dependendo do país, são maus para outros países ou para o mundo. No caso de Trump, são maus para quase tudo, a não ser para a direita radical em todo o mundo e para a Rússia porque, como se vê, eles são “estranhos companheiros de cama”, para não dizer em inglês.

Como quem me lê sabe, não foram uma surpresa estes resultados e a preocupação com a possibilidade e depois com a sua concretização. Estando a escrever dos EUA, em plena Trumplândia, e tendo tido já várias discussões com votantes no Trump, lendo a propaganda republicana, ouvindo as rádios como a Patriot Radio, tenho uma noção do que levou Trump ao poder. Percebe-se muito bem como os MAGA e Trump ganharam primeiro a guerra cultural, depois a guerra política, por esta ordem. A esquerda que anda há mais de uma década convencida das suas “causas fracturantes”, que nos EUA tem consequências práticas, muito mais absurdas do que na Europa, acantonou-se nas elites e perdeu as suas bases sociais, a começar pelos sindicatos. Se lessem Marx, perceberiam que trocar “bases sociais” por “bases intelectuais” é derrota certa. Não é razão única, mas foi a fundação em que todo o resto se construiu: medos, ódio ao “outro”, identidade construída contra o “outro”, radicalidade grupal, substituição da ciência e do saber por fake news e teorias conspirativas, ignorância agressiva, discurso violento nas redes sociais que são excelentes para isso, dissolução de muitos mecanismos que são fundamentais para haver democracia. Não é um anátema contra os votantes de Trump, mas é isso mesmo que os “faz”.

Eu não me irrito com muita coisa, mas a minimização do Trump, antes e depois das eleições, sob várias formas e feitios, deixa-me “balístico” e a cantar o hino nacional como se fazia antes do 25 de Abril, com uma subida do tom de voz numa certa parte da letra. A Marselhesa também serve. E a Constituição americana também.

Não tenham ilusões: há muita gente em Portugal, no processo de radicalização à direita dos últimos anos, que está feliz com a vitória de Trump, e não é só o Chega. Estão felizes com a derrota dos “outros”, os socialistas, os bloquistas, os centristas, os do “sistema”, e essa felicidade transparece por todo o lado.

Sem dúvida que é necessária análise no comentário e na academia sobre as “razões” do que se passou, até porque há muita coisa nova no movimento MAGA e nas razões do seu crescimento e no papel carismático de Trump. Mas para quem sabe o que é a fragilidade da democracia, há um combate político imediato a travar. Nós não estamos nos anos 30, mas também estamos nos anos 30.

Por tudo isto, deve denunciar-se a minimização em curso do que se passou, e as suas várias formas – uma delas é só falar dos malefícios e asneiras dos democratas em tom de fúria, muito trumpista, aliás, para evitar falar dos desmandos de Trump; outra é dizer que não se deve tomar à letra o que ele diz, que hoje tem uma equipa e um programa (um susto de equipa e o programa é o do Project 2025), que não vai fazer o que disse que ia fazer (esquecendo que ele é um narcisista patológico e, pelo menos, vai tentar, deixando um rastro de estragos pelo caminho), que não vai entregar a Ucrânia a Putin, que não vai aprovar taxas aduaneiras retaliatórias, que não se vai vingar (vai, vai) dos seus opositores, e que não vai fazer nada do que prometeu no “primeiro dia” em que quer ser “ditador”. Esquecem-se de que Trump é um criminoso que se vai perdoar a si próprio e aos assaltantes condenados do 6 de Janeiro, e que não há hoje para um homem como Trump quaisquer “checks and balances”, com uma interpretação absoluta do poder presidencial, tendo na mão o Supremo Tribunal, o Senado e talvez a Câmara dos Representantes.

Deixei para o fim a questão, que presumo alguns vão logo fazer depois de lerem o primeiro parágrafo deste artigo: "E, então, a pujança da democracia americana, o valor do voto popular, a escolha inequívoca dos americanos?" É que há um pequeno problema, o mesmo com que faz que seja uma asneira dizer que Hitler subiu ao poder democraticamente: é que a democracia não é apenas a vontade popular expressa no voto, é o primado da lei, o valor dos procedimentos constitucionais, o respeito pelos limites e separação dos poderes. Democracia apenas com o voto, sem a lei, é demagogia e a demagogia é o terreno ideal para os ditadores. Esperem por seis meses de Trump e voltamos aqui.»

sábado, 9 de novembro de 2024

Make America Great Again!


The worst Holocaust in all of Human History
The American Holocaust consisted of the genocide of 100 million indigenous and native Amerindians
Dismantling The Empire is the only way to save America!~ Jill Stein

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Trump- neofascista

A América (EUA)  é "construída por tipos puritanos, fanáticos religiosos e  por criminosos" ( Demie More)
O ódio, o ressentimento, a mentira e a violência foram e continuarão a ser o combustível desta tragédia democrática que é a consolidação do fascismo como alternativa política.
"Estas eleições fizeram prova da falência do establishment político e mediático. falhou tudo. falharam as previsões, falharam os comentadores, falharam os resultados. pretendeu-se condicionar a opinião e favorecer um dos candidatos, por sinal, uma candidata, na qual, aliás, podendo, eu teria votado. ao invés de ir à raiz das coisas optou-se pelo politicamente correcto de uma agenda de fantasias e desejos. Trump, um delinquente desbocado, fez uma campanha implacável. utilizou o insulto como arma de arremesso e escolheu apenas dois ou três temas - as guerras, a ameaça do outro configurada na imigração, a economia. mentiu. mas, actor consumado, disse o que o seu eleitorado queria ouvir. ninguém sabe como vai acabar com as guerras ou se vai fazer a maior deportação de sempre de pessoas que ele diz comerem cães e gatos de estimação. tão pouco se sabe até que ponto poderá impor medidas proteccionistas. falou à emoção dos mais pobres contra as elites que nada resolvem. Harris, certamente do agrado de pessoas mais sofisticadas, patinou nas guerras e na imigração, recuou em posições anteriores como no caso dos fósseis, defendeu bem a questão do aborto e deixou no ar a ideia de taxar os mais ricos. em determinados contextos as evasivas são letais. neste, foi. para quem tem o coração à esquerda, meter a cabeça na areia é suicidário. ceder sistematicamente ao apelo das políticas neoliberais, enveredar pelo belicismo apoiando guerras absurdas, hesitar no socialismo e envergonhar-se dele é horrível. tal como contemporizar com uma liderança europeia que passa a vida a falar de guerra enquanto, em nome da moderação, apoia o sionismo e escancara as portas ao fascismo. meter a cabeça na areia serve para quê? sabem, por exemplo, a qual a percentagem de americanos que não acredita nos media mainstream? 70 por cento."- Jorge Campos

terça-feira, 5 de novembro de 2024

Filme: Dreams, de Akira Kurosawa


Desdobrando-se numa série de oito vinhetas míticas, esta última obra de Akira Kurosawa foi inspirada nas próprias visões noturnas do acarinhado realizador, juntamente com histórias do folclore japonês. Numa viagem visualmente sumptuosa pela imaginação do mestre, histórias de maravilhas infantis dão lugar a aparições apocalípticas: um jovem rapaz tropeça num casamento de raposa numa floresta; um soldado confronta os fantasmas dos mortos na guerra; o colapso de uma central sufoca uma paisagem costeira com fumo radioativo. Intercalado com reflexões sobre o poder redentor da criação, incluindo um tributo ricamente texturado a Vincent van Gogh (interpretado por Martin Scorsese), Sonhos de Akira Kurosawa é ao mesmo tempo uma montra para o talento artístico do seu criador na sua forma mais desenfreada e um lamento profundamente pessoal por um mundo à mercê da ignorância humana.
"People have forgotten they're a part of nature too." (a partir de 1h:43 minutos, um diálogo deveras importante)

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Extremos climáticos no abismo?


«Corremos o risco de atravessar pontos de inflexão planetários? Corremos o risco de empurrar o planeta para uma trajetória em que se possa afastar continuamente de um estado que possa sustentar a vida tal como a conhecemos? Este documentário explora estas questões, apresentando perspetivas de especialistas e investigação científica em curso sobre o sistema terrestre em rápida mudança e o risco crescente de desencadear feedbacks de "ciclo vicioso" rápidos, não lineares e até auto-reforçados em sistemas planetários críticos, como os mantos de gelo da Antártida e da Gronelândia , as correntes oceânicas (incluindo a circulação meridional de capotamento do Atlântico ou AMOC) e a Floresta Amazónica.

sábado, 2 de novembro de 2024

Trump não vai ser derrotado por uma mulher. Vai ser derrotado por milhões de mulheres


If anti-Trump Republicans like Mitt Romney and Mike Pence aren't courageous enough to endorse Kamala Harris, how can we expect an anti-Trump voter married to a trigger-happy MAGA bully to speak up? Well, in the voting booth she doesn't have to, says a new Lincoln Project ad called "Secret."

The ad begins with two couples who are friends with each other stepping out of their cars to vote. Out of earshot of the women, one of the men asks the other if he's still voting for Trump. "Hell yeah," his buddy replies.

"What about your wife?" the MAGA man asks. "She doesn't like him," the friend says with a heavy sigh. "But she's votin' for him," he insists. The first says his wife is doing the same. Or so he thinks.

What neither man realizes is that these women, when left alone in their voting booths, have other plans. They glance at each other with knowing looks. They smirk. One of them mouths out the word, "Kamala." Other women begin to look around, and it's soon clear they are all in on the "Secret" — the name of the ad — as they all fill in the Kamala Harris bubble. (See video above, posted by the Lincoln Project.)

"Only you need to know who you vote for. Just ask Melania," says the caption on the ad's YouTube page, poking fun at Melania Trump's obvious disdain for her husband. While a few comments found the ad to be offensive, most commenters, including a lot of men, applauded the message, which, sadly but most likely, targets a real demographic.

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Somos Todos Um

De cor não se faz o peito,
Nem de tom a dignidade,
O sangue que corre no corpo
É o mesmo em qualquer idade.
Não há raça que domine,
Nem pele que determine,
O valor de uma alma humana
Que a vida enfim ilumine.
Olhos castanhos, azuis,
Pele clara, pele escura,
Somos todos passageiros
Na mesma amarga procura.
Somos filhos da mesma terra,
De um mundo só, sem fronteira,
Desconhecemos o ódio,
Mas o amor faz-se bandeira.
Racismo é a sombra fria
Que ofusca a nossa razão,
Lutemos todos por um dia
De igualdade e união.

João Soares, 23.10.2024

quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Necear


O que é que junta um economista, um jornalista e uma poeta neste podcast “Um pouco mais de azul”?

Rita Taborda Duarte vai falar do livro "Nada", da escritora catalã Carmen Laforet, editado em 1945 e que foi agora reeditado em Portugal. Francisco Louçã trata de duas formas de necear: trumpizar (enquanto comenta a cadeira de cidadania para a AD), e usar o Chat GPT para saber se o Orçamento do Estado é de esquerda ou de direita. Fernando Alves destaca o momento em que Luís Montenegro neceou, ao associar Cavaco Silva ao transformismo, uma disciplina na qual, seguramente, o professor não se reconhecerá.

Khruangbin - May Ninth






Waiting for May to come

Hoping for the rain
A memory held too long
Just another day
Oh, what it could be
Oh, what a dream to me
Memory burned and gone
A multicolored gray
Waiting for May to come
Happy for the rain
Oh, what it could be
Oh, what a dream to me
Waiting for May to come
Hoping for the rain
A memory held too long
Just another day
Oh, what it could be
Oh, what a dream
Memory burned and gone
A multicolored gray
Waitin' for May to come
Happy for the rain
Memory burned and gone
A multicolored gray

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

James McBride


Necessitamos todos deste romance empolgante que é um hino ao amor, derrubando todas as diferenças que dizem separar-nos.
Leitura recomendada!
Estamos em 1972, quando os trabalhadores de Pottstown, na Pensilvânia, escavavam as fundações de um novo empreendimento imobiliário, a última coisa que esperavam encontrar era um esqueleto no fundo de um poço. Quem seria e como fora lá parar?
Estes eram dois dos muitos segredos bem guardados pelos residentes de Chicken Hill, o bairro decrépito onde viviam lado a lado imigrantes judeus e afro-americanos, partilhando ambições e desgostos. Chicken Hill era onde Moshe e Chona Ludlow viviam quando Moshe, no final dos anos 1920, decidiu admitir negros na sua casa de espetáculos, e onde Chona tinha a Mercearia Céu & Terra.
A apreensão instala-se quando aparece um funcionário do estado em busca de um rapazinho surdo para o internar numa instituição. Chona e Nate Timblin, o empregado negro de Moshe e líder oficioso da comunidade negra de Chicken Hill, procuram, juntos, manter o rapaz a salvo.
À medida que as histórias destas personagens se vão sobrepondo e adensando, percebemos as dificuldades sentidas pelas pessoas que vivem à margem da América branca e cristã, e o que elas têm de fazer para sobreviver. E, quando finalmente é revelada a verdade sobre o sucedido em Chicken Hill, e o papel que o poder branco instalado teve nos acontecimentos, McBride mostra-nos que, em tempos difíceis, são o amor e a comunidade – o céu e a terra – que nos podem salvar.