domingo, 27 de abril de 2025

Sobre o luto


Para mim, do luto o que dói mais é saber que nunca mais conseguimos falar com as nossas pessoas queridas nem ver a luz dos seus olhos com vida...tudo isso e sentir a temperatura de um corpo morto é terrível.
Cada um tem os seus processos de viver o luto. A mim conforta-me que reste alguma coisa da pessoa e estar perto do que ficou. 
Do luto, o que dói ainda mais é qual destino às cinzas de um corpo cremado; de um(a) amigo(a); da esposa, do marido etc. Há quem prefira terra. Em Matosinhos, o Tanatório tem um Jardim da Memória (o Roseiral), onde os enlutados depositam as exéquias na terra. Também é bonito entregar as cinzas ao mar. Ou nos locais onde foram felizes. Pode não ser cá, no mesmo País. O que importa é a despedida final. Dever ser dada toda a liberdade de escolha das famílias. Não é preciso ir a correr no dia seguinte depositar as exéquias. Por vezes, leva o seu tempo.
Sinceramente não sei se alguma vez superamos de alguns lutos.

"Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros."
— Clarice Lispector, último bilhete escrito no hospital da Lagoa, Rio de Janeiro, em 7.12.1977

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