sábado, 26 de abril de 2025

O Dia da Terra e o compromisso pelo futuro


Há 55 anos nasceu um movimento global em defesa do nosso planeta. Milhões de pessoas uniram-se numa manifestação coletiva por uma agenda ambiental forte, centrada na proteção do ar, da água e dos solos. Liderada pelo senador e ativista norte-americano Gaylord Nelson, esta mobilização histórica deu origem ao Dia da Terra - um marco que ultrapassou fronteiras, culturas e ideologias, consolidando-se como a maior expressão planetária de consciência ecológica e ação transformadora.

Desde 1970, o mundo progrediu. As leis ambientais foram reforçadas, criaram-se agências reguladoras, baniram-se substâncias tóxicas e a educação ambiental ganhou visibilidade e força. Mas o espírito de urgência que impulsionou o primeiro Dia da Terra não só permanece como se tornou mais vital do que nunca. Hoje, enfrentamos uma ameaça sem precedentes, que põe em risco tudo o que conquistámos e desafia a humanidade a agir com coragem e solidariedade: a crise climática.

A data de 22 de abril, oficialmente reconhecida pelas Nações Unidas, alerta para desafios como a poluição, a degradação ambiental e a perda de biodiversidade. Mas a realidade exige mais do que sensibilização. As emissões de gases com efeito de estufa continuam a aumentar; as florestas, outrora santuários de vida, sucumbem ao avanço de interesses predatórios; os oceanos aquecem; os ecossistemas colapsam e a perda de biodiversidade atinge níveis alarmantes. E é gritante a injustiça quando os mais afetados por esta crise são justamente os que menos contribuíram para a causar.

Neste contexto, não há justiça climática sem justiça social. As cidades precisam de se adaptar, investindo em soluções baseadas na natureza, infraestruturas verdes e modelos de governança mais resilientes e participativos. A forma como produzimos, consumimos e nos organizamos, deve ser repensada com base em princípios circulares, regenerativos e sustentáveis.

Mas há uma outra crise, mais silenciosa e igualmente perigosa: a erosão da confiança. A descrença nas instituições, o imobilismo político e o sentimento generalizado de impotência corroem a nossa capacidade de ação coletiva. Talvez seja este o maior risco do nosso tempo: deixarmos de acreditar uns nos outros e na força transformadora da ação conjunta.

O legado do Dia da Terra continua a ser profundamente relevante. Ele recorda-nos que a mudança é possível. Que ela já aconteceu antes, quando multidões se uniram em nome da vida, da dignidade e da justiça ambiental. E que pode voltar a acontecer. Para isso, precisamos de ciência, tecnologia e inovação, mas também de uma esperança ativa; aquela que se traduz em escolhas conscientes, coragem política e compromisso cívico.

Como afirmou recentemente Denis Hayes, organizador do primeiro Dia da Terra: a crise climática é, simultaneamente, o maior desafio e a maior oportunidade da nossa geração. Concordo plenamente. É tempo de transformar o medo em responsabilidade, e a desesperança em projeto. O Dia da Terra não é apenas uma data no calendário; é um importante apelo à mobilização planetária.

Celebrar o 22 de abril é mais do que um gesto simbólico: é um ato ético, político e profundamente necessário. É uma renovação. Um pacto. Uma declaração de pertença. É afirmar que ainda acreditamos. Que ainda lutamos. Que ainda sonhamos. Porque a Terra - esta casa comum, bela e frágil - justifica todo o nosso empenho.

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