Os cenários magníficos que a natureza nos proporciona todos os dias parecem ser destinados, em última instância, à conveniência exclusiva do gênero humano. Esta falsa compreensão fez com que as gerações anteriores e as atuais, da grande maioria da população mundial, arrogantemente se elevasse acima de todas as outras formas de vida do nosso planeta. A fragmentação do meio ambiente, a destruição de hábitats naturais, a poluição química da água, do solo e do ar, a exploração excessiva dos recursos naturais, muito mais rápido do que a natureza consegue repor, a introdução de espécies exóticas (plantas e animais), em ecossistemas, onde crescem fora de controle e a mudança do clima pelo aumento da quantidade de gases de estufa, são conseqüências desta desastrosa relação do homem com a natureza. Não podemos esquecer que somos membros de comunidades ecológicas intimamente ligadas entre si, que interagem com o meio ambiente e com um destino comum.
Chegou o momento de a humanidade escolher o seu futuro e para isso é necessário uma mudança radical do seu comportamento com respeito à natureza. O único caminho é por intermédio da informação. Saber como os sistemas da Terra funcionam e como se processam os ciclos da matéria, que há bilhões de anos proporcionam ao nosso planeta a sua sustentabilidade e a manutenção da vida, é o grande desafio para a educação do século 21. Somente com essa sabedoria, que deve ser construída a partir dos primeiros passos do aprendizado da linguagem escrita e falada, é que conseguiremos formar cidadãos bioalfabetizados. Estes, com os seus estilos de vida, suas atividades econômicas e suas tecnologias irão compor uma nova sociedade que não irá interferir na capacidade extraordinária da natureza em manter a vida.
A “bioalfabetização” está solidamente baseada na “biofilia”, na epistemologia moderna e na ética da conservação. Este valor ético fundamenta-se no fato de que todas as outras formas de vida, que estão ao nosso redor, são remotas, têm um ancestral comum e são complexas demais para serem levianamente descartadas. Um dos felizes instintos humanos é a capacidade de amar outras espécies de vida principalmente quando passamos a conhecê-las melhor. Este fenômeno é chamado de “biofilia. A curiosidade e o interesse em encontrar vida desconhecida, seja nas profundezas dos oceanos, no recôndito de florestas, no alto das montanhas e principalmente na possibilidade de encontrar vida em outros planetas, são exemplos que comprovam que estamos hereditariamente preparados para adotar comportamento biofílicos.As crianças possuem uma natureza singular, que as caracteriza como seres que sentem e pensam o mundo de um jeito muito próprio. Constroem o seu conhecimento a partir das interações que estabelecem com as outras pessoas e com o meio em que vivem.
O seu aprendizado não é uma cópia da realidade, mas, fruto de um intenso trabalho de criação e significação. Edward Wilson, eminente professor de biologia da Universidade de Harvard, cita em seu livro o “Futuro da Vida”, os estágios do desenvolvimento mental infantil em relação a biofilia.
“Até os seis anos de idade as crianças tendem a ser egocêntricas e dominadoras em suas relações com os animais e a natureza, mas já mostram algum interesse por pequenos animais como insetos, minhocas e algumas aves. Entre seis e nove anos se interessam por animais selvagens e já percebem que estas criaturas podem sofrer e sentir dor. Gostam de freqüentar bosques e terrenos baldios. Criam seus lugares secretos e este instinto territorial reforça sua individualidade e auto estima e quando se instalam em ambientes naturais aproximam-se mais da natureza, mantendo por ela um amor duradouro.Dos nove aos doze anos o conhecimento e o interesse pela natureza aumentam rapidamente, e entre treze e dezessete anos a maioria dos jovens adquire um sentimento de responsabilidade moral em relação ao bem-estar dos animais e à conservação das espécies”.
Estas etapas da vida das crianças são os melhores momentos para maximizar o instinto biofílico promovendo a “bioalfabetização”. Estudos fisiológicos comprovam efeitos positivos também da biofilia sobre a saúde humana pela aproximação com a natureza. Medidas objetivas do grau de tensão de pessoas com ansiedade crônica, por meio da pulsação, pressão sistólica, tensão dos músculos faciais e condutância elétrica da pele, mostraram uma acentuada diminuição destes sinais e um prazeroso relaxamento quando em contato direto com a natureza ou pela simples visualização de pinturas ou fotografias de paisagens naturais. O instinto biofílico deveria ser o grande aliado para a preservação da natureza mas o Homo sapiens depois de ser obrigado a inventar a agricultura e as cidades tornou-se com o tempo um habitante de áreas abertas e esqueceu que também faz parte deste extraordinário mundo natural.
Sem comentários:
Enviar um comentário