terça-feira, 7 de janeiro de 2025

A Rússia invadiu a Ucrânia e a torneira da Alemanha fechou-se. A crise é tal que até o regresso ao nuclear está em aberto

Manifestante com uma máscara do chanceler de saída, Olaf Scholz, segura um cartaz onde se lê "sustentável", num protesto contra os planos da Comissão Europeia para classificar o gás e o nuclear como amigos do ambiente 

Um tsunami no Japão originou um tremor de terra na Alemanha que, mais de 13 anos depois, continua a provocar ondas de choque no país. Na sombra do desastre de Fukushima, em março de 2011, a chancelaria de Angela Merkel em coligação com os liberais do FDP tomou a decisão de acabar com a produção de energia nuclear, ordenando o encerramento faseado de todos os reatores do país. 

A Alemanha gozava então de uma posição privilegiada no contexto europeu e mundial - a economia era sólida, o seu parque industrial estava longe da situação débil em que hoje se encontra, as empresas alemãs ainda davam cartas dentro e fora do continente e, energeticamente, o país era, em grande medida, movido a gás natural importado da Rússia. Mas mais de uma década depois, o paradigma alemão mudou radicalmente - a economia está em recessão há dois anos e, com a invasão em larga escala da Ucrânia, fechou-se a torneira russa da qual a Alemanha dependia.

O novo paradigma não travou a desnuclearização do país. Cerca de um ano depois da invasão da Ucrânia, em abril de 2023, a Alemanha assistiu ao fecho da última central nuclear ainda a operar - uma fonte que, no ano anterior, gerou entre 4 a 6% do total de eletricidade produzida pelo país. Na despedida, o ministro da Economia e do Ambiente, Robert Habeck, do partido minoritário Os Verdes, garantiu que "a segurança do abastecimento energético na Alemanha está e continua a estar garantida" e "permanece muito elevada" em comparação com o resto do mundo, lembrando que a decisão foi tomada em primeira instância pelos conservadores da CDU e os liberais do FDP.

A mensagem foi recebida com muito ceticismo, a começar pelo partido conservador de Friedrich Merz, o homem em rota para se tornar o próximo chanceler da Alemanha após o colapso da chancelaria Scholz esta segunda-feira e que - não é segredo - considera que a antecessora cometeu um erro grave ao ordenar o fim do nuclear. “Isto marca um dia negro para a proteção climática na Alemanha”, disse então o vice-líder da bancada parlamentar da CDU. “Este ministro d’Os Verdes", acusou Jens Spahn, "prefere deixar centrais elétricas a carvão a funcionar em vez de centrais nucleares neutras para o clima” e o Governo Scholz transformou-se numa “coligação do carvão”.

Sem comentários: