domingo, 12 de dezembro de 2004

A Infância Ideal

Uma criança é um poema vivo. Como Herberto Helder disse sobre o poema, que ele «cresce na confusão da carne, sobe ainda sem palavras»,  «cresce tomando tudo em seu regaço». Por favor, que nenhum poder destrua a criança!!

Metade das Crianças do Mundo Vive na Pobreza
Por BÁRBARA WONG
Sexta-feira, 10 de Dezembro de 2004
 

Mais de metade das crianças do Mundo sofrem de privações, que as afastam da chamada "infância ideal", lamenta Kofi Anan, o secretário-geral das Nações Unidas. Diariamente, a Convenção sobre os Direitos da Criança, assinada por todos os países, é posta em causa e violada por muitos, indica "A Situação Mundial da Infância", o décimo relatório anual feito pela Unicef (o fundo das Nações Unidas para a Infância).

O estudo confirma que um em cada dois meninos vive em situação de pobreza, sem alimentação adequada, sem acesso à educação e a água potável - em suma, privado de viver a infância como a outra metade dos que moram, muitas vezes, na mesma rua.

A Unicef contabiliza que há cerca de 2,2 mil milhões de crianças, até aos 15 anos, no Mundo. Destas, 1,9 mil milhões vivem em países em desenvolvimento. Na pobreza subsistem mil milhões de crianças e adolescentes.

As várias metas que os estados-membros da Organização das Nações Unidas se propõem cumprir até 2015 e que têm implicações directas na vida dos mais pequenos - como é a erradicação da pobreza, o acesso à educação, a redução da mortalidade infantil, o combate ao HIV/Sida - podem não ser cumpridas, já que pouca coisa tem mudado, lamenta o estudo.

"Nenhum dos objectivos será atingido se a infância continuar sob o actual nível de ataque", avisa o relatório. Há cerca de 45 países que estão muito aquém de conseguir cumprir. O Iraque destaca-se pela negativa, com um retrocesso de sete por cento (ver infografia) devido à guerra.

"Demasiados governos tomam decisões informadas e deliberadas que, na prática, prejudicam a infância", reagiu a directora-executiva da Unicef, Carol Bellamy, durante a apresentação do estudo, ontem, em Londres.

180 milhões trabalham
A pobreza tem várias faces e não é exclusiva dos países em vias de desenvolvimento. Em onze dos 15 estados industrializados sobre os quais se dispõe de dados, a proporção de crianças que vivem em lares de rendimentos baixos aumentou na última década. No topo da tabela estão Finlândia, Noruega e Suécia, com taxas de pobreza infantil de perto de três por cento. Apenas na Noruega o número baixou. No fim da lista estão México e EUA, com valores superiores a 20 por cento. Contudo, os EUA fazem parte da lista de quatro países que conseguiram fazer cair ligeiramente esta taxa.

Portugal não está nesta tabela. Os números nacionais dizem que dois por cento da população global, entre 1992 e 2002, vivia com cerca de 75 cêntimos por dia.

A pobreza reduz a capacidade das famílias e das comunidades de se ocuparem das crianças, reflecte o estudo. Por isso, à escala mundial há 180 milhões de meninos que trabalham e nas piores condições; todos os anos, 1,2 milhões são vítimas de tráfico e dois milhões, na maioria raparigas, são explorados sexualmente para fins comerciais.

Embora não os desencadeiem, os meninos vêem-se envolvidos nos conflitos e são as suas maiores vítimas. Na década de 90, dos 3,6 milhões de mortos em conflito, perto de metade (45 por cento) foram crianças.

Estas são ainda sujeitas a violência sexual, traumas, fome e doença - cerca de 20 milhões foram obrigadas a deixar as suas casas para fugir a conflitos. A Unicef calcula que, no decurso de uma guerra de cinco anos, a taxa de mortalidade infantil aumente, em média, 13 por cento.

No que diz respeito ao HIV/Sida, a Unicef volta a alertar que o vírus é a primeira causa de morte de pessoas entre os 15 e os 49 anos. No ano passado, morreram 2,9 milhões de pessoas infectadas, das quais meio milhão era crianças com menos de 15 anos. Havia ainda 2,1 milhões de crianças que viviam com o HIV.

Além de estarem infectados, os mais pequenos ficam órfãos muito cedo - em dois anos (2001 e 2003), o número de meninos que perderam um ou ambos os progenitores aumentou de 11,5 para 15 milhões, dos quais perto de 80 por cento viviam na África Subsariana.

"A pobreza nega à criança a sua dignidade, ameaça a sua vida e limita o seu potencial", resume Kofi Anan. A Unicef conclui que cabe aos países adoptarem políticas assentes na protecção dos mais novos.

Infância ameaçada-Relatório da UNICEF

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