terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Musica do BioTerra: Rádio Macau - Cidade Fantasma


Rádio Macau é a banda que mais se aproxima do nível das grandes estrelas internacionais do post-punk. Para mim a melhor banda portuguesa de sempre e a que mais gosto.

Sê bem vindo à cidade rapaz
Sei que a vais gostar de conhecer
Passear nas ruas onde jaz
A memória do que está p'ra ser

É um outro mundo
Aonde o tempo parou
E o vento é rei
E dita a sua lei

Suspendendo no ar
Como um arlequim
Que não pode parar
O princípio e o fim

No vazio das ruas nos portais
Nos vidros quebrados das janelas
Bailam sombras mudas musicais
Em intermináveis tarantelas

É um outro mundo
Aonde o tempo parou
E o vento é rei
Dança tu também

Soerguido no ar
Como um arlequim
Que não pode parar
Olha bem para mim

Suspendendo no ar
Como um arlequim
Que não pode parar
O princípio e o fim

sábado, 28 de dezembro de 2019

Os ultra ricos preparam um mundo pós-humano

Fonte: aqui

Por Douglas Rushkoff | Tradução: Inês Castilho
Publicado 19/11/2018 às 14:31 - Atualizado 24/12/2019 às 10:09
No ano passado, fui convidado a fazer conferência num resort superluxuoso para um público que, imaginei, seria de aproximadamente cem banqueiros de investimento. Era de longe a maior remuneração que jamais me foi oferecida por uma palestra – metade do meu salário anual como professor – tudo para fornecer algumas dicas sobre o tema “o futuro da tecnologia”.
Nunca gostei de falar sobre o futuro. A sessão de perguntas e respostas sempre acaba mais como um jogo de salão, em que me pedem para opinar sobre as últimas tendências da tecnologia como se fossem dicas precisas para potenciais investimentos: blockchain, impressão 3D, CRISPR. As audiências raramente estão interessadas em aprender sobre essas tecnologias ou sobre seus impactos potenciais, além da escolha binária entre investir nelas ou não. Mas o dinheiro chama; por isso, entrei no show.
Ao chegar, fui introduzido no que me pareceu ser a sala reservada principal. Mas, ao invés de receber um microfone ou ser conduzido a um palco, simplesmente me sentei numa mesa redonda e minha audiência começou a chegar: cinco sujeitos super-ricos – sim, todos homens – do alto escalão do mundo dos fundos hedge. Depois de um pouco de conversa, percebi que eles não tinham interesse nas informações que eu havia preparado sobre o futuro da tecnologia. Haviam preparado suas próprias perguntas.
Começavam com aparente ingenuidade. Ethereum ou Bitcoin? A computação quântica é real? Mas, lenta e seguramente, concentraram-se em suas verdadeiras preocupações.
Qual região seria menos impactada pela crise climática que vem aí: Nova Zelândia ou Alasca? O Google está realmente construindo um “lar” para o cérebro de Ray Kurzweil e sua consciência viverá durante a transição, ou ele morrerá e renascerá inteiramente novo? Finalmente, o executivo-chefe de uma corretora explicou que havia quase concluído a construção de seu próprio sistema subterrâneo de abrigo e perguntou: “Como faço para manter a autoridade sobre minha força de segurança após o evento?
O Evento. Esse era o eufemismo que usavam para o desastre ambiental, a agitação social, a explosão nuclear, o vírus incontrolável ou os hackers-robôs que destroem tudo.
Essa única pergunta os ocupou pelo resto do tempo. Sabiam que guardas armados viriam para proteger seus complexos das multidões enfurecidas. Mas como pagariam os guardas, já que o dinheiro não teria valor? O que evitaria que os guardas escolhessem os próprios líderes? Os bilionários consideravam usar fechaduras de combinação especial que só eles conheciam para guardar sua provisão de comida. Ou fazer com que os guardas usassem colares disciplinares de algum tipo, em troca de sua sobrevivência. Ou talvez construir robôs para servir de guardas e trabalhadores – se essa tecnologia fosse desenvolvida a tempo.
Foi quando me bateu. Para esses senhores, essa era uma conversa sobre o futuro da tecnologia. Seguindo as dicas de Elon Musk colonizando Marte, Peter Thiel revertendo o processo de envelhecimento, ou Sam Altman e Ray Kurzweil inserindo suas mentes em supercomputadores, eles estavam se preparando para um futuro digital que tinha muito menos a ver com tornar o mundo um lugar melhor, do que com transcender inteiramente a condição humana e isolar-se do perigo hoje real das mudanças climáticas, aumento do nível do mar, migrações em massa, pandemias globais, pânico e esgotamento de recursos. Para eles, o futuro da tecnologia tem a ver com uma única coisa: escapar.
Não há nada de errado com avaliações loucamente otimistas de como a tecnologia pode beneficiar a sociedade humana. Mas o movimento atual de uma utopia pós-humana é outra coisa. É menos uma visão da migração da humanidade para um novo estado do ser do que uma busca de transcender tudo o que é humano: corpo, interdependência, compaixão, vulnerabilidade, complexidade. Como filósofos da tecnologia vêm apontando há anos, a visão transhumanista reduz muito facilmente toda a realidade a dados, concluindo que “ humanos não passam de objetos processadores de informação”.
É uma redução da evolução humana a um videogame em que alguém vence encontrando a saída de emergência e deixando alguns de seus melhores amigos pelo caminho. Serão Musk, Bezos, Thiel… Zuckerberg? Esses bilionários são os vencedores presumíveis da economia digital – o mesmo cenário de sobrevivência do mais apto que alimenta a maior parte dessa especulação.
Claro que nem sempre foi assim. Houve um breve momento, no início dos anos 1990, em que o futuro digital parecia aberto a nossa invenção. A tecnologia estava se tornando um playground para a contracultura, que via nela a oportunidade de criar um futuro mais inclusivo, igualitário e pró-humano. Mas os interesses de lucro do establishment viram somente novos potenciais para a velha exploração, e muitos tecnólogos foram seduzidos pelos unicórnios das bolsas de valores. O futuro digital passou a ser compreendido mais como ações futuras ou mercadorias futuras – algo a ser previsto e em que apostar. Assim, quase todos os discursos, artigos, estudos, documentários ou documentos técnicos eram considerados relevantes apenas na medida em que apontavam para um símbolo de corporação global. O futuro tornou-se menos uma coisa que criamos através de nossas escolhas ou esperanças pela humanidade, do que um cenário predestinado no qual apostamos com nosso capital de risco, mas ao qual chegamos passivamente.
Isso liberou todo mundo das implicações morais de suas atividades. O desenvolvimento da tecnologia tornou-se menos uma história de florescimento coletivo do que de sobrevivência pessoal. Pior, como vim a aprender, chamar atenção para isso era ser involuntariamente considerado um inimigo do mercado ou um rabugento antitecnológico.
A esta altura, o invés de tecer considerações éticas sobre empobrecer ou explorar muitos, em nome de poucos, a maioria dos acadêmicos, jornalistas e escritores de ficção científica passou a se dedicar a enigmas muito mais abstratos e fantasiosos: é justo um operador nos mercados financeiros usar drogas inteligentes? As crianças devem receber implantes para línguas estrangeiras? Queremos que veículos autônomos priorizem a vida dos pedestres, em detrimento dos passageiros? Devem as primeiras colônias de Marte ser administradas como democracias? Mudar meu DNA prejudica minha identidade? Os robôs devem ter direitos?
Fazer esse tipo de pergunta, embora filosoficamente divertido, é um substituto pobre para o exame dos verdadeiros dilemas morais associados ao desenvolvimento tecnológico desenfreado, em nome do capitalismo corporativo. As plataformas digitais já tornaram um mercado explorador e extrativista (pense na Walmart), em um sucessor ainda mais desumanizador (pense na Amazon). A maioria de nós tornou-se consciente desse lado sombrio na forma de empregos automatizados, trabalho temporário e o fim do varejo local.
Porém, os impactos mais devastadores desse capitalismo digital que avança recaem sobre o meio ambiente e os pobres do mundo. A produção de alguns de nossos computadores e smartphones ainda usa redes de trabalho escravo. Essas práticas estão tão profundamente arraigadas que uma empresa chamada Fairphone, fundada  a partir do zero para produzir e comercializar telefones éticos, verificou que era impossível. (Agora o fundador da empresa se refere a seus produtos como telefones “mais justos”)…
Enquanto isso, a mineração de metais raros e o descarte de nossas tecnologias altamente digitais destroem habitats humanos, substituindo-os por depósitos de lixo tóxico — recolhido por crianças camponesas e suas famílias, que vendem materiais utilizáveis de volta aos fabricantes.
Essa externalização — “fora da vista, fora da mente” — da pobreza e do veneno não desaparece apenas porque cobrimos nossos olhos com óculos de realidade virtual e ficamos imersos numa realidade alternativa. Quanto mais ignoramos as repercussões sociais, econômicas e ambientais, mais elas se tornam problemáticas. Isso, por sua vez, motiva ainda mais privação, mais isolacionismo e fantasia apocalíptica – e tecnologias e planos de negócios mais concebidos em desespero. O ciclo se retroalimenta.
Quanto mais comprometidos estamos com essa visão de mundo, mais passamos a ver os seres humanos como problema e a tecnologia como solução. A própria essência do que significa ser humano é tratada menos como uma característica do que como defeito intrínseco, um bug. As tecnologias são declaradas neutras, a despeito dos preconceitos nelas incorporados. Quaisquer que sejam os comportamentos ruins que induzam em nós, eles seriam apenas um reflexo de nosso próprio núcleo corrompido. É como se alguma selvageria humana inata fosse a culpada pelos nossos problemas. Assim como a ineficiência de um mercado de táxi local pode ser “resolvida” com um aplicativo que leva motoristas humanos à falência, as incômodas incoerências da psiqué humana podem ser corrigidas com um upgrade digital ou genético.
Em última análise, segundo a ortodoxia tecnosolucionista, o futuro humano chega ao climax se inserir nossa consciência num computador ou, talvez anda melhor, aceitar que a própria tecnologia é nossa sucessora na evolução. Como os membros de um culto gnóstico, ansiamos por entrar na próxima fase transcendente de nosso desenvolvimento, eliminando nossos corpos e deixando-os para trás junto com nossos pecados e problemas.
Nossos filmes e programas de televisão encenam essas fantasias por nós. Seriados de zumbis mostram um pós-apocalipse em que as pessoas não são melhores que os mortos-vivos – e parecem conhecê-los. Pior, esses filmes convidam os espectadores a imaginar o futuro como uma batalha de soma zero entre os humanos remanescentes, onde a sobrevivência de um grupo depende da morte de outro. Mesmo Westworld – baseado num romance de ficção científica em que robôs correm descontroladamente – encerrou sua segunda temporada com a revelação definitiva: os seres humanos são mais simples e previsíveis do que as inteligências artificiais que criamos. Os robôs aprendem que cada um de nós pode ser reduzido a apenas algumas linhas de código e que somos incapazes de fazer escolhas intencionais. Caramba, naquela série até mesmo os robôs querem escapar dos limites de seus corpos e passar o resto de suas vidas numa simulação de computador.
A ginástica mental requerida por essa profunda inversão de papéis entre humanos e máquinas depende do pressuposto subjacente de que os humanos são péssimos . Vamos mudá-los ou nos afastar deles para sempre.
Então, temos bilionários da tecnologia lançando carros elétricos ao espaço – como se isso simbolizasse algo mais que a capacidade de um bilionário promover-se na corporação. E se poucas pessoas conseguem escapar e de alguma forma sobreviver numa bolha em Marte – a despeito de nossa incapacidade de manter tal bolha até mesmo aqui na Terra, em qualquer dos dois testes multibilionários feitos na Biosfera – o resultado será menos a continuação da diáspora humana que um salva-vidas para a elite.
Quando os financistas de fundos hedge perguntaram sobre a melhor maneira de manter a autoridade sobre suas forças de segurança depois do evento, sugeri que sua melhor aposta seria tratar muito bem essas pessoas, desde já. Deviam envolver-se com suas equipes de segurança como se estas fossem formadas por membros de suas próprias famílias. E quanto mais eles pudessem expandir esse espírito de inclusão para o resto de suas práticas de negócios, gerenciamento da cadeia de suprimentos, esforços de sustentabilidade e distribuição de riqueza, menor a chance de haver um evento, em primeiro lugar. Toda essa magia tecnológica poderia ser aplicada desde já, para fins menos românticos, porém muito mais coletivos.
Eles ficaram pasmos com meu otimismo, mas na verdade não o aceitaram. Não estavam interessados em como evitar uma calamidade; estavam convencidos que já fomos longe demais. Apesar de toda a sua riqueza e poder, não acreditam que possam afetar o futuro. Estão simplesmente aceitando o mais sombrio de todos os cenários e, em seguida, trazendo todo o dinheiro e tecnologia que podem usar para isolar-se – especialmente se não conseguirem um lugar no foguete para Marte.
Felizmente, aqueles de nós sem dinheiro para considerar a negação de nossa própria humanidade têm disponíveis opções muito melhores. Não precisamos usar a tecnologia de modo tão antissocial e atomizante. Podemos nos tornar os consumidores e perfis individuais em que nossos dispositivos e plataformas desejam nos transformar, ou podemos nos lembrar que o humano verdadeiramente evoluído não caminha sozinho.
Ser humano não tem a ver com sobrevivência ou saída individual. É um esporte coletivo. Seja qual for o futuro dos humanos, será de todos nós.
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Douglas Rushkoff is the author of the upcoming book Team Human (W.W. Norton, January 2019) and host of the TeamHuman.fm podcast.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

1 milhão de espécies estão em risco de extinção


A natureza está declinando globalmente, com taxas sem precedentes na história humana. O índice de extinção de espécies também está acelerando, com prováveis graves impactos em pessoas ao redor do mundo.

O alerta foi feito num novo relatório da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, Ipbes, aprovado na 7ª sessão do Plenário que aconteceu até sábado, em Paris.

Extinção
O relatório conclui que cerca de 1 milhão de espécies animais e vegetais estão agora ameaçadas de extinção. Muitas, devem desaparecer nas próximas décadas.

Segundo o presidente do IPBES, Robert Watson “a esmagadora prova da Avaliação Global do IPBES, de uma vasta série de diferentes áreas de conhecimento, apresenta um quadro ameaçador”. Ele destaca que “a saúde dos ecossistemas dos quais nós e todas as outras espécies dependem está se deteriorando mais rapidamente do que nunca.”

Para Watson, “estamos erodindo as próprias fundações de nossas economias, meios de subsistência, segurança alimentar, saúde e qualidade de vida em todo o mundo”. No entanto, ele acrescentou que o relatório também indica que "não é tarde demais para fazer a diferença, mas apenas se começarmos agora em todos os níveis, do local ao global".

Estudo
O Relatório de Avaliação Global do IPBES sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos é o mais abrangente já apresentado. É o primeiro relatório intergovernamental deste tipo e se baseia na histórica Avaliação Ecossistémica do Milénio de 2005, introduzindo formas inovadoras de avaliação das evidências.

O estudo foi produzido nos últimos três anos, por 145 autores especialistas de 50 países e contou com o apoio de outros 310 autores contribuintes. O relatório avalia as mudanças nas últimas cinco décadas, fornecendo uma visão abrangente da relação entre os caminhos do desenvolvimento econômico e seus impactos na natureza. Ele oferece ainda vários cenários possíveis para as próximas décadas.

Com base na revisão sistemática de cerca de 15 mil fontes científicas e governamentais, o relatório também apresenta, pela primeira vez nessa escala, conhecimentos indígenas e locais, particularmente sobre questões relevantes para os Povos Indígenas e Comunidades Locais.

Índices
De acordo com a professora argentina Sandra Díaz, que co-presidiu o estudo com outros especialistas, “a biodiversidade e as contribuições da natureza para as pessoas são a nossa herança comum e a mais importante 'rede de segurança' de apoio à vida da humanidade.” Ela explica que “a diversidade dentro das espécies, entre espécies e ecossistemas, assim como muitas contribuições fundamentais que derivamos da natureza, estão declinando rapidamente, embora ainda tenhamos os meios para garantir um futuro sustentável para as pessoas e o planeta.”

A abundância média de espécies nativas na maioria dos principais habitats terrestres caiu em pelo menos 20%, principalmente desde 1900. Mais de 40% das espécies de anfíbios, quase 33% dos recifes de corais e mais de um terço de todos os mamíferos marinhos estão ameaçados.

O quadro é menos claro para espécies de insetos, mas evidências disponíveis apoiam uma estimativa de que 10% delas estejam ameaças. Pelo menos 680 espécies de vertebrados foram levadas à extinção desde o século XVI. Mais de 9% de todas as raças domesticadas de mamíferos usados ​​para alimentação e agricultura foram extintas até 2016, com pelo menos mais mil raças ainda ameaçadas.

Mais de 40% das espécies de anfíbios, quase 33% dos recifes de corais e mais de um terço de todos os mamíferos marinhos estão ameaçados.

Fatores
Para aumentar a relevância política do relatório, os autores da avaliação classificaram, pela primeira vez nessa escala e com base em uma análise minuciosa das evidências disponíveis, os cinco fatores diretos da mudança na natureza com os maiores impactos globais relacionados até o momento. Em ordem decrescente, estes são as mudanças no uso da terra e do mar, a exploração direta de organismos, a mudança climática, a poluição e as espécies exóticas invasoras.

O relatório observa que, desde 1980, as emissões de gases do efeito estufa dobraram, elevando a temperatura média global em pelo menos 0,7 graus Celsius. Com a mudança climática já afetando a natureza do ecossistema à genética, os impactos devem aumentar nas próximas décadas, em alguns casos, superando o impacto da mudança do uso da terra e do mar e outros fatores.

Apesar do progresso na conservação da natureza e implementação de políticas, o relatório também considera que as metas globais para conservar e usar a natureza de forma sustentável e alcançar a sustentabilidade não podem ser alcançadas pelas trajetórias atuais. Segundo o estudo, as metas para 2030 e além podem ser alcançadas apenas através de mudanças transformativas de fatores económicos, sociais, políticos e tecnológicos.

Com bons progressos em componentes de apenas quatro das 20 Metas de Biodiversidade de Aichi, é provável que a maioria delas não seja alcançada até o prazo de 2020.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Religião - Esperando pelo Salvador


“- Os indianos esperam por Kalki há 3.700 anos.
- Os budistas esperam por Maitreya há 2.600 anos.
- Os judeus esperam pelo Messias há 2.500 anos.
- Os cristãos esperam por Jesus há 2.000 anos.
- Sunnah espera pelo Profeta Issa 1.400 anos.
- Os muçulmanos esperam por um messias da linhagem de Maomé há 1.300 anos.
- Os xiitas esperam por Mahdi há 1.080 anos.
- Os drusos estão esperando por Hamza ibn Ali há 1.000 anos.

A maioria das religiões abraça a ideia de um “salvador” e afirma que o mundo permanecerá cheio de maldade até que este salvador venha e o preencha com bondade e justiça.

Talvez o nosso problema neste planeta seja que as pessoas esperam que alguém venha resolver os seus problemas, em vez de resolverem elas mesmas! ” - Riccardo Dablah

Música do BioTerra: The Cure - A Night Like This


Umas das músicas mais românticas que eu conheço. E o Robert Smith dá um jeitinho muito querido ao corpo. Um teledisco agradável!

Say goodbye on a night like this
If it's the last thing we ever do
You never looked as lost as this
Sometimes it doesn't even look like you
It goes dark, it goes darker still, please stay
But I watch you like I'm made of stone as you walk away

I'm coming to find you if it takes me all night
A witch hunt for another girl
For always and ever is always for you
Your trust
The most gorgeously stupid thing
I ever cut in the world

Say hello on a day like today
Say it everytime you move
The way that you look at me now
Makes me wish I was you
It goes deep
It goes deeper still this touch
And the smile
And the shake of your head
And the smile
And the shake of your head

I'm coming to find you if it takes me all night
Can't stand here like this anymore
For always and ever is always for you
I want it to be perfect like before
I want to change it all
I want to change [2x]

I want to change it all
I want to change [2x]

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Cartaz

Jesus nasce na província romana da Judeia, que já era a Palestina


A região era chamada de Palastu pelos assírios (2.500 a.C. - 612 a.C.) in Donald A. Mackenzie, The Myths of Babylonia and Assyria, Chapter XVIII: The Age of Semiramis 

A palavra Palestina deriva do grego Filístia (Philistia), nome dado pelos autores da Grécia Antiga a esta região, devido ao facto de em parte dela (entre a actual cidade de Tel Aviv e Gaza) se terem fixado no século XII a.C. os filisteus.

É de facto entre os escritos egípcios dos reinados dos faraós Mineptah e Ramsés III que se encontram as primeiras referências aos Filisteus, que integrando os Povos do Mar (designados igualmente como "Povos habitantes das ilhas" e "Povos do Norte") devastaram o Chipre, Ugarit, levaram à queda dos Hititas e acabaram com a Idade do Bronze.

Chamados de Peleset numa inscrição egípcia no pilone de Medinet Habu, acabaram por dominar os Cananitas e estabelecer-se nas zonas de Ekron, Gat, Ashdod, Gaza e Ascalon (que em junção formavam a chamada Pentapólis Filisteia), acabando por dar o nome à Palestina.

A Bíblia refere ainda que os Filisteus eram originários de um local, Keftiu, que se situaria ou na Cilícia, Ásia Menor, ou em Creta, no Mar Egeu.

A cidade de Gat foi destruída entre os anos 800 e 700 a. C., na sequência dos conflitos contra os Arameus, tendo Askalon, Ashdod e Ekron desaparecido após os ataques levados a cabo por Nabucodonosor, no século VI a. C.

Estas cidades, cada uma delas governada por um seranim ("senhor"), não voltaram a ser edificadas e habitadas pelos Filisteus, que a partir desta altura quase não são mencionados em documentos da época ou posteriores.

A religião que os Filisteus praticavam era politeísta, sendo Baal e Dagon alguns dos deuses principais.

No século II, os romanos utilizaram o termo Síria Palestina para se referirem à parte sul da província romana da Síria. O termo entraria posteriormente na língua árabe e é usado desde então para se referir a esta região. 


Situação política e religiosa da Palestina na época de Jesus Cristo 
Desde o ano 722 antes de Cristo, a região onde viviam os hebreus e palestinianos estava dominada por nações estrangeiras. A partir do ano 63 a.C. este domínio passou a ser feito pelos romanos.

Roma era a maior potência política e económica daquela época. Em 63 a.C. um general de nome Pompeu conquistou a Palestina, que desde então passou a fazer parte do império romano. A palestina funcionava como uma província semiautónoma, pois as autoridades locais foram mantidas.

No tempo do nascimento de Cristo, o imperador era Otavio Augusto. Ele governou de 27 a.C. a 14 d.C. Quando Cristo foi morto, o imperador era Tibério e ele reinou de 14 a 37 de nossa era.

Os romanos mantinham o seu domínio sobre as províncias do império a ferro e fogo, e para conseguir isto cobravam impostos de todas as nações dominadas. Frequentemente faziam recenseamentos nas províncias, para calcular se o recebimento dos impostos estava correspondendo ao crescimento da população.

O recenseamento feito na época do nascimento de Cristo tinha esta finalidade (Cf Lc 2, 1-7). Nas províncias do império, os imperadores eram representados pelos procuradores romanos. No tempo em que Jesus Cristo foi morto, o procurador era Pôncio Pilatos. Ele morava na cidade de Cesareia e visitava Jerusalém somente na época das grandes festas, para cuidar, sobretudo, da segurança da população.

Órgãos de governo e partidos políticos
Na Palestina, o órgão político mais importante era o Sinédrio. Este era como um Senado, composto por 71 membros comandados por um sumo-sacerdote. Este órgão era o responsável pela vida dos judeus, pela aplicação do cumprimento da lei e pela ordem interna.

No contexto político, destacavam-se os partidos político-religiosos que lutavam pelo predomínio no meio do povo. Todos eles tinham uma conotação religiosa. Entre os partidos mais fortes destacavam-se os saduceus, fariseus, essénios e os zelotas. Como hoje, cada partido lutava para continuar influenciando o povo.

Algumas características diferenciavam o povo judeu dos restantes povos que viviam no Médio Oriente:
  • O povo judeu acreditava num único Deus vivo e verdadeiro. Os restantes povos eram todos politeístas, pois acreditavam em muitos deuses diferentes. Esses deuses em geral eram representados na forma humana ou de animais.
  • A esperança no Messias ajudava o povo a caminhar. Esta esperança era forte, sobretudo, no meio do povo mais simples e humilde.
  • Os profetas, homens chamados por Deus, pregavam a fidelidade à Aliança e a volta da Nova Jerusalém.
  • A lei tinha uma importância decisiva. A lei ou Torá devia ser cumprida a todo custo.
  • As instituições mais importantes na vida religiosa do povo eram o templo, as festas religiosas, com destaque para a festa da Páscoa, a sinagoga e a guarda do dia de sábado.
Foi neste ambiente que Jesus Cristo nasceu como um homem histórico, encarnado na história humana. Foi neste ambiente que Ele lançou a semente do reino de Deus e convocou um grupo de pessoas, os apóstolos, para continuar a sua missão.
Após Jesus Cristo e, especialmente após a revelação do Espírito Santo em Pentecostes, os discípulos começaram a reunir-se em comunidades, tendo por base a comunidade de Galileia ao norte e falavam o aramaico, enquanto em Jerusalém falava-se o hebraico.
Tanto os pais de Jesus quanto Jesus nunca saíram da Galileia para viver em Jerusalém, e até eram desconhecidos por estes. Razão até por que foram os judeus que O entregaram para ser "morto" por estes serem inimigos de Jesus e por ter pertencido à doutrina dos Nazarenos.

Música do BioTerra: Felt - Primitive Painters


I just wish my life could be
As strange as a conspiracy
I hold out but there's no way
Of being what I want to be
Dragons blow fire angels fly
Spirits wither in the air
I'm just me I can't deny
I'm neither here, there nor anywhere

It's enough to scare the whole human race
(Yeah oh, you should see my trail of disgrace)
It's enough to scare the whole human race

I don't care about this life
They say there'll be another one
Defeatist attitude I know
Will you be sorry when I've gone
Primitive painters are ships
Floating on an empty sea
Gathering in galleries were stallions of imagery

It's enough to hold the whole human race
(Yeah oh, you should see my trail of disgrace)
It's enough to hold the whole human race

This is a new trance
Yeah, an entrance too
And there's a look on your face, it's a human race
And if you just can't stand it, ah, I swear

And there's a look on your face, it's a human race
And if you just can't stand it, ah, I swear
I said it thinner

This is a new trance
Yeah, an entrance too
And there's a look on your face, it's a human race
And if you just can't stand it, ah, I swear

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Henry Wadsworth Longfellow


This is the forest primeval.
The murmuring pines and the hemlocks,
Bearded with moss, and in garments green, indistinct in the twilight
Stand like Druids of eld, with voices sad and prophetic,
Stand like harpers hoar, with beards that rest on their bosoms
Loud from its rocky caverns, the deep-voiced neighboring ocean
Speaks, and in accents disconsolate answers the wail of the forest.

Henry Wadsworth Longfellow - Evangeline, A Tale of Acadie

domingo, 22 de dezembro de 2019

O encontro do saber indígena com a ciência para resolver a alteração climática




Para enfrentar um problema da dimensão da alteração climática é preciso unir o conhecimento científico e o indígena, defende a ativista ambientalista Hindou Oumarou Ibrahim. Nesta palestra, ela mostra como a sua comunidade nómada do Chade está a atuar em conjunto com cientistas para restaurar ecossistemas ameaçados de extinção, e ensina como criar comunidades mais resilientes.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Rapinas Nocturnas na Mitologia e Cultura Popular


Quando olhamos para as rapinas nocturnas encontramos um grupo de animais que, talvez mais do que qualquer outro, é responsável por preencher o imaginário do Homem desde tempos imemoriais, embora o seu “papel” tenha variado muitas vezes e de forma quase antagónica, entre diferentes épocas, regiões e povos, tocando, então, opostos, relativamente à forma como estas aves foram ou são encaradas pelas pessoas: temidas ou veneradas, desprezadas ou admiradas, consideradas sábias ou insensatas.

O facto de coabitarem no nosso imaginário, com os nossos medos e desejos mais profundos, tornou-as a face desses mesmos receios e sonhos, por vezes símbolos de sabedoria e protecção, outras vezes de má sorte e doença.

As rapinas nocturnas são um grupo de aves maioritariamente crepusculares e nocturnas, como a sua designação bem indica, que apresenta um comportamento secretivo, derivado da sua biologia e da sua ecologia. Tais características podem ter contribuído para os atributos que lhe são imputados na Mitologia e Folclore, sendo recorrente estas aves estarem associadas ao submundo ou mundo inferior, rituais de Passagem, em particular nascimento e morte, e magia, como companheiras de deuses, curandeiros e xamãs, bruxas e feiticeiros.

Também na Arte, estes predadores nocturnos surgem simbolicamente para representar o feminino, a noite e a lua, magia, morte e sonhos. São muitas as referências a estas aves, na literatura, pintura e escultura.

Na Europa Antiga, as aves de rapina estão ligadas simbolicamente às imagens de morte e de vida, em particular o abutre e a coruja (lato sensu), ambos associados à Deusa. Nas sepulturas megalíticas da Europa Ocidental, assim como em menires, há representações de rapinas nocturnas, feitas em osso ou rocha. Este fascínio é, por isso, anterior ao período Neolítico, sendo ainda de mencionar que tais representações se mantiveram por todo o período Neolítico, até à Idade do Bronze.

Ao longo da História, a forma como as rapinas nocturnas foram vistas foi variando consideravelmente. Sabe-se que desde o Paleolítico Superior existem representações destas aves, sendo mesmo das poucas espécies que surgem nas gravuras paleolíticas em cavernas. Há, na região de Ardèche, no sul de França, uma representação datada de c. 30.000 a.C., do que se considera ser um bufo-pequeno (Asio otus). Trata-se da representação mais antiga, conhecida, de uma rapina nocturna. Também na caverna Les Trois Frères, no sudoeste de França, podemos encontrar gravuras do que se consideram ser três corujas-das-neves (Bubo scandiacus), dois adultos e uma cria, já que foram encontrados numerosos ossos desta espécie, num variado número de cavernas, e também porque, nestas representações, as aves não possuem tufos auriculares, o que aponta para que se trate de uma representação da espécie mencionada.

Entre as diferentes tribos índias da América, também a estas aves eram atribuídos papéis distintos. Enquanto para algumas, as corujas, bufos e mochos correspondiam a símbolos de morte e doença, para outras representavam espíritos protectores, ou eram mesmo encaradas como as almas de antepassados e, por isso, merecedoras de respeito. Na América do Norte, por exemplo, há referências de que, para os Apaches, sonhar com uma coruja era sinal de morte iminente, mas para o povo Kwagulth estas aves representavam não só alguém que tinha recentemente falecido, mas também a sua alma recém-libertada; os índios Mojave acreditavam que após a morte se transformavam em corujas, tratando-se de um estágio intermédio antes de se transformarem num escaravelho-de-água e, posteriormente, em puro ar. Já na América do Sul, cita-se o exemplo do povo Chebero que considerava que os xamãs eram treinados na sua arte por uma coruja.

Ainda hoje, em África, as rapinas nocturnas são perseguidas porque culturalmente são vistas como animais malignos. Em muitos países, são comummente apelidadas de “witchbird”, cuja tradução corresponde a algo como ave bruxa e são-lhes imputados atributos sobrenaturais e uma ligação a feiticeiros.

Na Índia, estes animais estão associados a Lakshmi, Deusa Hindu da riqueza e da prosperidade. É referido que, quando esta Deusa viaja sozinha utiliza para as suas deslocações uma coruja. No festival Diwali, infelizmente, há uma grande procura de partes destas aves nocturnas, para usar em rituais mágicos e na medicina popular.

Em Inglaterra, as pessoas acreditavam, em particular durante os séculos XVIII e XIX, que quando uma coruja ululava ou passava junto à janela de uma casa onde se encontrava alguém doente, que tal era prenúncio de morte. As corujas-das-torres eram ainda aproveitadas para prever o tempo, sendo referido que quando uma coruja “gritava”, seguir-se-ia tempo frio ou uma tempestade; se, no entanto, fosse ouvida durante um período de mau tempo, tal era sinal que a mudança nas condições atmosféricas estaria para breve. Um costume menos inócuo para estas aves era o de pregar uma coruja na porta do celeiro, para afastar o mal e prevenir que a casa fosse atingida por raios; tal hábito era frequente até ao século XIX, embora haja relatos de que, em recônditas zonas rurais inglesas, tal ainda se pratique. No folclore inglês, há referência a mezinhas em que se usavam partes de corujas, incluindo os seus ovos, para curar determinadas doenças e dependências (alcoolismo).

No País de Gales, há uma crença que refere que se uma mulher grávida, fora de casa, à noite, ouvir uma coruja a cantar, a sua criança nascerá abençoada, mas em França a convicção é a de que se uma mulher grávida ouvir uma coruja é prenúncio de que a criança que vai nascer será uma rapariga; já na região de Lorena, segundo o conhecimento popular, estas aves nocturnas podem ajudar as mulheres solteiras a encontrar marido.

Nas Astúrias, o canto destas aves é encarado como um sinal de mau presságio. Um dos nomes comuns atribuído às corujas – guaxa – parece estar ligado ao nome de uma bruxa malévola que entrava nas casas, para beber o sangue de crianças, com o seu dente comprido e afiado. Já o romano Ovídio deixou escrito, em 43 a.C., que pássaros com actividade nocturna, plumagem clara e olhos grandes possuíam um bico em formato de gancho que utilizavam para perfurar artérias e beber o sangue. Daí a ligação entre vampiros, Striges, e o nome científico atribuído a esta ordem de aves, Strigiformes. Na Idade Média asturiana, as bruxas eram denominadas estriga.

É curioso que, em Portugal, a palavra estrige possa significar coruja, mulher com poderes mágicos (bruxa, estriga ou feiticeira) ou vampiro.
No nosso país, há uma panóplia de contos e lendas associados às rapinas nocturnas que povoam o imaginário popular. Nessas histórias, olha-se para estas aves, também, de ângulos distintos: ou espelhos de sabedoria e sagacidade ou portadoras de má sorte, arautos de desgraça e guardiãs de locais assombrados. Também na medicina popular, estão referidos vários usos para partes destas aves. Convém reforçar a ideia de que nenhuma destas receitas tem qualquer propriedade médica reconhecida por testes científicos acreditados e que, para além disso, estas aves estão legalmente protegidas e não podem ser abatidas ou capturadas.

Há também uma marca indelével na toponímia portuguesa, com o nome de vários locais a reflectir essa mesma realidade, citando-se, como exemplos, a aldeia de Corujas, em Macedo de Cavaleiros, e a vila de Coruche, em Santarém.

Também na heráldica nacional, podemos encontrar representações destas aves, referindo-se dois exemplos, para além dos anteriores: o Serviço de Informações Estratégicas de Defesa exibe no seu brasão de armas uma coruja-das-torres, cuja simbologia é assim descrita: “A Coruja-das-Torres, capaz de observar e caçar esplendidamente apesar das trevas que a envolvam, simboliza a sabedoria, a cautela, a surpresa e a certeza e alude à capacidade de obter informações importantes em tempo útil, que caracteriza o Serviço de Informações Estratégicas de Defesa.”. Esta ave surge ainda no brasão de armas da agora extinta freguesia de Alcorochel, do concelho de Torres Novas, cujo nome tem raízes árabes, com origem em Al Corujal, sendo referido que esta designação se prende com o facto de, outrora, terem existido muitas corujas naquela região.

Como já mencionado, a forma como determinados rituais de passagem são encarados pelos povos é marcadamente determinante no modo como estas aves são vistas, amadas ou odiadas, mas nunca relegadas ao esquecimento, por esses mesmos povos. Há no nosso amor ou aversão às rapinas nocturnas um legado histórico e cultural que numa primeira análise pode marcar a forma como as encaramos, mas que deverá, sim, servir, em caso de estima, para potenciar a sua protecção e, no segundo caso, para metamorfosear esse interesse de cariz negativo numa oportunidade para criar uma ponte de partilha de conhecimento entre as partes, população e conservacionistas, visando a preservação destas espécies. O facto deste grupo de aves possuir um forte perfil cultural, independentemente de, por vezes, a percepção tida se revestir de uma conotação negativa, poderá reforçar as acções de conservação que visam as rapinas nocturnas, de uma forma que não aconteceria com animais ou plantas aos quais as pessoas fossem indiferentes, ou seja, que não possuíssem o tal “peso” cultural.

Será necessário pegar nas lendas e superstições e reinterpretá-las, não tentando apagá-las da memória colectiva, mas reconhecendo-lhes a importância que têm na composição do nosso imaginário e permitindo, ao mesmo tempo, que a imagem que temos destas aves se transforme, incorporando factos sobre as suas biologia e ecologia, assim como sobre a sua inegável importância, como peças-chave na “teia natural”, ou seja, nos sistemas naturais.

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Documentário - Living the Change: Inspiring Stories for a Sustainable Future (2018)


Living the Change é um documentário de longa-metragem que explora soluções para as crises globais que enfrentamos hoje – soluções das quais qualquer um de nós pode fazer parte – por meio de histórias inspiradoras de pessoas pioneiras em mudanças nas suas próprias vidas e nas suas comunidades para viver de forma sustentável e regenerativa.

Os diretores Jordan Osmond e Antoinette Wilson reuniram histórias de suas viagens, juntamente com entrevistas com especialistas capazes de explicar como chegamos onde estamos hoje. De jardins florestais a banheiros de compostagem, agricultura apoiada pela comunidade e banco de tempo, Living the Change oferece maneiras pelas quais podemos repensar nossa abordagem de como vivemos.

Entrevistados:
Leo Murray, Charles Eisenstein, Shane Ward, Dr. Susane Krumdieck, Dr. Mike Joy, Frank van Steensel, Josje Neerincx, Greg Hart, Robert Guyton, Wiremu Puke, Andrew Martin, Ton Nicholson, Sarah Nelisiwe Nicholson, Sharon Stevens, Maria Lee, Stephen McLuckie, Weveney Warth, Matthew Luxon, Sharon McIver e Greg Inwood

sábado, 14 de dezembro de 2019

COP25 aconteceu em Santiago, Chile, entre 2 e 13 de dezembro



A COP 25 aconteceu em Santiago, Chile, entre 2 e 13 de dezembro. Com o tema "As ações do clima dependem de todos nós. A hora de agir é agora!", após o Brasil desistir de realizar o evento.

Página Oficial


Youtube

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Baltasar Garzón - análise sobre as alterações climáticas


Meio Ambiente
Continuamos a matar a nossa Mãe Natureza. O último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) revela contundente e intransigentemente uma realidade que não é menos perturbadora por ser conhecida. As políticas governamentais, algumas em particular, os interesses econômicos das grandes corporações e a indiferença do público em geral, fazem ouvidos moucos aos apelos dos especialistas e da própria natureza. Estamos tão absortos no imediato que não percebemos o que está por vir se não pararmos com essa deriva.
Incêndios em maciços florestais no mundo, um atentado ao meio ambiente que contribui para as mudanças climáticas. É tempo, pois, de abrir um grande debate internacional em que todos os cidadãos reconsiderem e reflitam sobre a viabilidade, no futuro, da sua forma de viver e do seu tempo na Terra. Temos que parar para pensar na energia que consumimos e sua origem; os produtos que compramos e sua origem; o que comemos e como é produzido; as empresas cujos produtos e serviços utilizamos e seu impacto no meio ambiente e nos direitos humanos daqueles que sofrem primeiro os efeitos dessa depredação e exploração suicida. Não basta apenas exigir ações de partidos políticos, governos, municípios, União Europeia e outras organizações internacionais, mas devemos ser consistentes e nos perguntar, de forma coerente, como devemos rever nossa conduta na Terra para que continue a vida sendo possível neste planeta.

Um novo crime: Ecocídio 
Porque a triste verdade é que continuam a ser cometidas verdadeiras atrocidades contra a natureza, catástrofes dirigidas pelos humanos através de grandes empresas e governos que estão por detrás da contaminação dos nossos oceanos e mares, do desaparecimento de espécies animais, da poluição da atmosfera e do ar que respirar, a destruição do subsolo, a pilhagem de florestas e selvas, ou a degradação dos rios. Enquanto alguns se recusam a vê-lo e permanecem obstinados em posições negacionistas que nenhum relatório científico moderadamente sério é capaz de sustentar, outros decidiram nomeá-lo e é ecocídio. Este conceito, desenvolvido pela falecida Polly Higgins, define magistralmente a destruição de todos estes ecossistemas para os tornar inúteis para a vida e usufruto dos seus habitantes: animais, plantas ou pessoas. Diante do ecocídio, é urgente ativar o direito e a justiça internacional e universal e lutar contra a impunidade derivada da barbárie climática e ecológica. É uma atitude inevitável que não deve ser adiada por um segundo.

Cúpula Mundial sobre a Crise Climática
Enquanto isso, e com o patrocínio da ONU, a maior cúpula mundial sobre a crise climática, a COP 25, acontecerá em Santiago do Chile em dezembro, na qual cerca de 30.000 participantes representando 200 países discutirão nossos mares, energias renováveis, ecossistemas, biodiversidade. .. Os acordos alcançados podem significar uma trégua para a Terra, afogada pela má gestão de nossos dirigentes. Mas de pouco servirá o melhor concerto se depois cederem a interesses espúrios, condicionados pelos resultados da empresa e pelas exigências dos accionistas que os conduziram à presidência. Como afirmou o Papa Francisco há alguns dias, há um palavrão para toda essa catástrofe ambiental: corrupção.

A resposta do cidadão
Devemos ir mais longe, proporcionando uma formação sólida às crianças e jovens, enquanto os adultos devem ser reeducados para cuidar melhor do nosso planeta e valorizar o legado que vamos transmitir às gerações seguintes. Esta educação deve traduzir-se numa maior ação política e cidadã inspirada em valores democráticos que fazem da política uma vocação de serviço a favor do bem comum e do bem maior e não no exercício grosseiro do poder a favor das elites e das suas economias benefícios. A participação cidadã é uma força capaz de conter os apetites vorazes dos poderosos. Mas também no âmbito legislativo, local e internacional, e especialmente no da justiça, é necessário dar passos definitivos acima dos interesses económicos ou políticos.
Devemos projetar esses novos espaços, por exemplo através da jurisdição universal, ampliando sua esfera de proteção à natureza. Como diz o teólogo Leonardo Boff: «O tempo das nações está passando; agora é a vez da Terra e temos que nos organizar para garantir os meios que vão sustentar a nossa vida e a da natureza”.

Entrevista- Exploring the Amazing World of Lichens with Manuela Dal Forno


Os líquenes estão ao nosso redor – em árvores, rochas e até em alguns edifícios. Mas, o que é um líquen? E de que adiantam? A cientista de líquens Manuela Dal Forno ajudará os alunos a entender a relação simbiótica especial dentro de cada líquen. Ela mostrará aos alunos os diferentes passos que ela dá para estudar os líquenes: encontrá-los na natureza, observá-los ao microscópio e analisar seu DNA. Ela compartilhará por que nos preocupamos com os líquenes. Compreender a vida ao nosso redor é importante para entender a natureza e como os ambientes estão mudando. Por exemplo, muitos líquens são indicadores da qualidade do ar e outros fornecem habitats para insetos e material de ninho para beija-flores.
Este programa foi ao ar originalmente em 28 de março de 2019, como parte da série de webcast do Smithsonian Science How, projetada para levar pesquisas e cientistas de história natural para alunos do ensino fundamental e médio.

Saiba mais sobre o programa Science How e inscreva-se para uma transmissão ao vivo no canal Youtube do Museu Nacional de História Natural do Smithsonian

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Veja o discurso completo em português de Greta Thunberg na COP 25


Há um ano e meio, eu não falava com ninguém, a menos que realmente precisasse. Mas depois encontrei um motivo para falar. Desde então, dei muitos discursos e aprendi que, quando você fala em público, começa com algo pessoal ou emocional para atrair a atenção de todos.

Diga coisas como “nossa casa está pegando fogo”, “quero que você entre em pânico” e “como se atreve”. Mas hoje não vou fazer isso, porque as pessoas apenas se concentram nessas frases. Elas não se lembram dos fatos, o motivo pelo qual eu falo.

Não temos tempo para ignorar a ciência. No último ano, falei constantemente sobre o rápido declínio dos limites de emissão de carbono. Mas como continua sendo ignorado, continuarei repetindo.

No capítulo 2, na página 108, no relatório SR1.5 do Ipcc, publicado no ano passado, diz que, em 1º de janeiro de 2018, para termos uma chance de 67% de limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC, tínhamos 420 Gigatons de CO2 restantes. Esse número, claro, é muito menor hoje, e emitimos 420 Gigatons todos os anos, incluindo o uso da terra.

O verdadeiro perigo é quando políticos e diretores de empresas fazem parecer que uma ação real está acontecendo quando, na verdade, quase nada está sendo feito além de contabilidade inteligente e propagandas criativas.

Com os níveis de emissões atuais, o limite será esgotado em cerca de 8 anos. Esses números não são opiniões de ninguém ou opiniões políticas, é a melhor ciência atualmente disponível. Embora muitos cientistas digam que esses números são demasiado moderados, são os que foram aceitos pelo Ipcc.

Por favor, observe que esses números são globais. Não há nada a dizer sobre o aspecto da igualdade, que é absolutamente essencial para fazer o Acordo de Paris funcionar em escala global.

Isso significa que os países mais ricos precisam fazer a sua parte, reduzir as emissões muito mais rapidamente e, em seguida, ajudar os países mais pobres a fazer o mesmo. Assim, as pessoas nas partes menos afortunadas do mundo podem elevar seus padrões de vida.

Esses números também não incluem a maioria dos loops de feedback, pontos não lineares ou aquecimento adicional oculto pela poluição tóxica do ar. A maioria dos modelos pressupõe, no entanto, que as gerações futuras serão capazes de eliminar centenas de biliões de toneladas de CO2 do ar com tecnologias que ainda não existem na escala necessária e talvez nunca venham a existir.

O limite de 67% é aquele com as maiores chances dadas pelo Ipcc. E agora temos menos de 340 giga toneladas de CO2 para emitir, que deve ser compartilhado de forma justa.

E por que é tão importante manter o aumento a 1,5ºC graus? Porque mesmo com 1ºC, as pessoas estão morrendo devido à crise climática. Porque é isso que os cientistas pedem para evitar desestabilizar o clima, para que tenhamos a melhor chance possível de evitar reações irreversíveis em cadeia, como geleiras derretidas e derretimento de zonas permanentemente geladas.

Cada fração de grau é importante. Então, aí está novamente. Esta é a minha mensagem. É nisso que eu quero me concentrar. Então, por favor, diga-me como reage a esses números sem sentir pelo menos algum nível de pânico? Como reage ao fato de que basicamente nada está sendo feito sem sentir o mínimo de raiva? E como falar sobre isso sem parecer alarmista? Eu realmente gostaria de saber.

Desde o Acordo de Paris, os bancos globais investiram US$ 1,9 trilião em combustíveis fósseis. 100 empresas são responsáveis ​​por 71% das emissões globais. Os países do G20 representam quase 80% do total de emissões. Os 10% mais ricos da população do mundo produzem metade de nossas emissões de CO2, enquanto os 50% mais pobres representam apenas um décimo.

De fato, temos algum trabalho a fazer, mas alguns mais que outros.

Recentemente, alguns países ricos se comprometeram a reduzir suas emissões de gases de efeito estufa em aproximadamente tantos porcento nessa ou naquela data. Ou tornar-se neutro em termos de clima e com emissão líquida zero em tantos e tantos anos.

Isso pode parecer impressionante à primeira vista, mas mesmo que as intenções possam ser boas, isso não é liderança. Isso não é liderar, isso é enganar. Porque a maioria dessas promessas não inclui aviação, transporte marítimo, importação e exportação de bens e consumo. No entanto, incluem a possibilidade dos países compensarem suas emissões em outros lugares.

Essas promessas não incluem as taxas de reduções imediatas anuais, nem para os países ricos, que são necessárias para permanecer dentro do limite existente. Zero em 2050 não significa nada se as altas emissões continuarem mesmo por poucos anos. Até lá, o limite restante se esgotará.

Sem ver o cenário completo, não resolveremos esta crise. Encontrar soluções holísticas é o objetivo da COP, mas, pelo contrário, parece ter dado algum tipo de oportunidade para os países negociarem brechas e evitarem aumentar sua ambição.

Os países estão encontrando maneiras inteligentes para não tomar medidas reais, como contar em dobro as reduções de emissões, mudar suas emissões para o exterior, voltar atrás em suas promessas de aumentar as ambições ou recusar-se a pagar por soluções, perdas e danos. Isso tem que parar.

O que precisamos é de cortes drásticos nas emissões na fonte. Mas é claro que apenas reduzir as emissões não é suficiente. Nossas emissões de gases de efeito estufa precisam parar. Para estabilizar em 1,5ºC, precisamos ser neutrais nas emissões de carbono. Apenas estabelecer datas distantes e dizer coisas que dão a impressão de que a ação está em andamento causará mais mal do que bem, porque as mudanças necessárias ainda não estão à vista. As políticas necessárias não existem hoje, apesar do que você possa ouvir dos líderes mundiais.

E ainda acredito que o maior perigo não é a inação. O verdadeiro perigo é quando políticos e diretores de empresas fazem parecer que uma ação real está acontecendo quando, na verdade, quase nada está sendo feito além de contabilidade inteligente e propagandas criativas.

Tive a sorte de poder viajar pelo mundo e, na minha experiência, a falta de consciência é a mesma em todos os lugares. Não menos presente entre os que foram eleitos para nos liderar. Nunca existe um senso de urgência. Nossos líderes não estão se comportando como se estivéssemos numa emergência.

Em caso de emergência, você muda seu comportamento.

Se houver uma criança parada no meio da estrada e os carros se aproximando com velocidade total, você não desviará o olhar porque é muito desconfortável. Você sai imediatamente e resgata a criança.

Sem esse senso de urgência, como podemos fazer as pessoas entender que estamos enfrentando uma crise real. E se as pessoas não estiverem totalmente conscientes do que está acontecendo, não pressionarão as pessoas no poder para agir.

E sem a pressão do povo, nossos líderes podem ficar impunes sem fazer basicamente nada, que é onde estamos agora. E isso acontece de novo e de novo.

Em apenas três semanas entraremos numa nova década. Uma década que definirá o nosso futuro. No momento, estamos desesperados por qualquer sinal de esperança.

Bem, estou lhe dizendo que há esperança. Eu já vi isso. Mas não vem dos governos ou corporações, vem do povo. As pessoas que desconheciam estão começando a acordar. E uma vez que tomamos consciência, mudamos. As pessoas podem mudar. E as pessoas estão prontas para a mudança. E essa é a esperança, porque temos democracia. E a democracia está acontecendo o tempo todo. Não apenas no dia das eleições, mas a cada segundo e a cada hora. É a opinião pública que governa o mundo livre. De fato, todas as grandes mudanças em nossa história vieram do povo. Não precisamos esperar. Podemos começar a mudança agora mesmo. Nós, as pessoas.

Obrigada.

Jørgen Randers - “Global development on a finite planet towards 2050”


Jorgen Randers (born 1945) is professor emeritus of climate strategy at the BI Norwegian Business School. He has always worked on issues of the future, especially related to sustainability, climate, and energy. Professor Randers lectures and provides advice all over the world, and increasingly in China.

He has spent one third of his life in academia, one third in business, and one third in the NGO world. He was president of BI Norwegian Business School 1981-89, and Deputy Director general of WWF International 1994-99. He has been the chair of three Norwegian banks, non-executive member of numerous corporate boards and the sustainability councils of three multi-nationals. He is a full member of the Club of Rome and is the founding chair of the Club of Rome China Association.

Professor Randers has written many papers and books, starting with co-authoring The Limits to Growth in 1972. His recent writings include 2052 – A Global Forecast for the Next Forty Years in 2012, Reinventing Prosperity with Graeme Maxton in 2016, and Transformation is feasible! with Johan Rockstrøm and others in 2018.

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

O Tratado de Lisboa em Poucas Palavras


O caminho até ao Tratado

Dois referendos negativos a um Tratado Constitucional, em 2005, dão origem ao processo que conduz ao Tratado de Lisboa. O Conselho Europeu aprova-o e assina-o a 13 de dezembro de 2007, com entrada em vigor a 1 de dezembro de 2009.

O que mudou, então, com o Tratado de Lisboa?
  • Presidência fixa do Conselho Europeu: o Tratado de Lisboa criou a figura do Presidente do Conselho Europeu, nomeado pelos dirigentes nacionais dos Estados-Membros, com mandato de dois anos e meio. Até então, a Presidência do Conselho Europeu era rotativa entre todos os Estados-Membros.
  • Presidência rotativa do Conselho da União Europeia: com uma organização por trios, o Conselho da UE é presidido rotativamente pelos Estados-Membros, por períodos de seis meses. A Presidência do Conselho da UE tem como função dirigir os trabalhos e organizar as reuniões do Conselho da UE.
  • Regra da maioria qualificada: para uma medida ser aprovada é necessária a concordância de 55% dos países da UE, percentagem essa que deve, também, representar 65% da população.
  • Redução do direito de veto: o direito de veto fica restringido em mais de 30 áreas.
  • Saída da União Europeia: foi o Tratado de Lisboa que introduziu a possibilidade de saída de um Estado-Membro da União Europeia.
  • Redução do número de eurodeputados: o Parlamento Europeu passou a ter 750 eurodeputados mais um (o seu Presidente). Com o Brexit o número de eurodeputados passou para 705.
  • Criação do cargo do Alto-Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança.
  • Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia: fica fora do âmbito do Tratado, mantendo todo o seu valor jurídico.
  • Iniciativa de Cidadania Europeia: o direito à petição é garantido quando se juntam um milhão de cidadãos e um número mínimo de sete Estados-Membros da União Europeia.
  • Personalidade jurídica própria da UE: a União passa a ter capacidade para aderir a organizações internacionais e os seus Estados-Membros só podem celebrar acordos internacionais que estejam em conformidade com o direito da UE.
  • Organização dos poderes da União Europeia em três tipos de competência: competência exclusiva, competência partilhada e competências de apoio.

O Tratado de Lisboa impulsionou uma nova dinâmica de transparência que pretende incentivar a proteção e a participação dos cidadãos e a responsabilidade democrática.

Documentos
Tratado de Lisboa - Parlamento

Video da semana : "Como os lobos mudam os rios" (Legendado)


A Natureza é um ser inconstante. Se uma coisa muda, pode afectar todo o ecossistema. Na verdade, não há lugar onde o efeito borboleta seja mais visível do que na Natureza.

Veja-se o Parque Nacional de Yellowstone nos Estados Unidos, por exemplo. Esta enorme reserva natural não foi o lar de lobos durante 70 anos, mas quando eles foram reintroduzidos, toda a paisagem do parque mudou radicalmente.

É incrível como uma matilha de lobos pode causar uma mudança tão drástica, mas isto é apenas a forma como a Natureza funciona. É exactamente por isso que precisamos pensar, criar e ter mais acções para explicar como as "nossas acções" afectam o meio ambiente. 

Uma pequena mudança é o suficiente para perturbar o equilíbrio de ecossistemas inteiros.

sábado, 7 de dezembro de 2019

Madrid ou a vergonha de Prometeu



Oque está a acontecer na COP 25 de Madrid é muito mais do que parece. Metaforicamente falando, poderíamos dizer que nas últimas quatro décadas confirmámos o que apenas uma elite de argutos observadores, com olhos de águia, havia percebido antes: não precisamos de temer o que vem do espaço. Nenhum asteroide constitui ameaça provável à existência da Terra. Na verdade, a única ameaça existencial à vida (ainda) exuberante no único planeta habitado conhecido do universo somos nós, a espécie humana. A COP 25 reproduz também outra figura da nossa iconografia ocidental. Pela 25.ª vez, Sísifo, desta vez corporizado pela imensa maquinaria da diplomacia ambiental, transportará a sua pedra penitencial até ao alto de mais uma cimeira, para a deixar rolar de novo, numa repetição ritual e aparentemente inútil.

Habitamos hoje numa sociedade desordenadamente global, que já não depende da política no sentido liberal clássico. A ideia de que o Estado democrático está revestido de um poder legítimo, que pode vencer ameaças existenciais e transformar a realidade para melhor, perde brilho em cada COP. Os grandes atores globais, o sistema financeiro mundial e as grandes multinacionais não estão sequer presentes à mesa das negociações. Limitam-se a passear pelos corredores. O motor do mundo contemporâneo reside numa inércia económica, autorizada pela capitulação cúmplice das políticas públicas, desde o início dos anos 1980. É esta inércia que constitui o novo e inexorável rosto do destino. Em Madrid, o imperativo da urgência face ao perigo ergue-se, para logo sucumbir à tragédia do inexorável fado do crescimento exponencial. Essa inércia que devora a Terra e todas as suas criaturas, tudo arrastando na sua voragem caudalosa.

A modernidade terminal em que estamos mergulhados nasceu sob o signo do humanismo confiante. Para alguns, a crença no homem tornou-se uma nova teologia. É verdade que tivemos alguns avisos. Pico della Mirandola alertava-nos em 1486: a liberdade humana tanto pode ascender à mais alta elevação do espírito como pode degradar-se abaixo das mais primitivas criaturas. Em 1881, Nietzsche advertia-nos para os enormes desafios deste tempo da "morte de Deus", temendo que acabássemos por sacrificar a liberdade recente à tutela de uma multidão de ídolos medíocres e cruéis. Acertou em cheio: o Prometeu emancipado cedo deu lugar ao Prometeu agrilhoado a novos ídolos: a nação, a raça, a história, o Estado, o mercado... Em 1945, com o Holocausto, pensávamos que o humanismo moderno havia batido no fundo. Contudo, o século XXI, dominado sem alternativa pelo ídolo do capital, o mais tenaz e virulento de todos, ameaça desaguar no colapso planetário, incluindo a extinção da nossa espécie. Se tal ocorrer, ninguém cá estará para testemunhar se algum deus verterá lágrimas pelo crepúsculo de Prometeu. Talvez o homem não seja mais do que um breve erro e uma frágil ilusão divina...