quarta-feira, 31 de março de 2004

Filme Naqoyqatsi- A Guerra como Forma de Vida



Trata-se do 3º filme da trilogia QATSI. NAQOYQATSI é um documentário de imagens e música, que assenta nos contrastes entre as perfeitas criações da Mãe - Natureza e os sempre questionáveis produtos da mão humana. Tal como os filmes anteriores, NAQOYQATSI baseia-se em imagens de beleza inquestionável. De confusão calculada, de medos aleatórios e manipulados, enfim, do mundo criado pelo homem.



terça-feira, 30 de março de 2004

Blogues amigos do BioTerra

2+2=5
2 Dedos de Conversa
A Arte da Fuga
A Coluna Vertebral
A Fábrica
A Lei do Funil
A Origem das Espécies
Aberratio Ictus (José Paulino)
Abrasar
Abrupto
Acknowledge Yourself
Africa de Todos os Sonhos
Alexandre Soares Silva
Amelia´s Multiply Site
Ante et Post
Ao Longe o Barco das Flores (Amélia Pais)
Apenas um Pouco Tarde (Jorge Marmelo)
Apocalipse Ja
Apontamentos (João Vasconcelos Costa)
Arranha no Trapo
Arte por um Canudo
As Mãos
Atento (Manuel Gomes)
Balão de Ensaio
Bicho Carpinteiro
Bloco de Notas (João Vasconcelos Costa)
Blogue Cortes do Meio
Blogue do Bidé
Blogue do Quintal
Blogue dos Marretas
Blogue Social Português
Bloguítica
Boa Semana
Boca de Incêndio
Bonecos de Bolso
Caldo de Tipos (Paulo Vilmar)
Casa do Lago
Capuchinhas
Casinha de Brinquedo
Cegueira Lusa
Coexistencia Humorística
Cogir (José Manuel Dias)
Conexão Lisboa-Manaus
Correntes de Poentria
Criadores de Sorrisos
De Cabeça
Ditos e Contos
Desnorte
Deusas
Devaneios Desintéricos
Doc-Log
Do Tempo e da Luz (Teo Dias)
Druantia
Duas Rosas
Edições Pirata
El Gran Masturbador (Paulo Araújo)
Entra Mula
E-Pístolas (Avery)
Era Uma Vez um Girassol
Espaço Cultural S.Tomé e Príncipe
Espaço Cinzento
Estranho Estrangeiro
Exacto
Faveiro Formação
Ferrão Org
Fogotabrase
Forum Comunitário
Hop3
Ideias Soltas
Ilhas do Atlântico
Ilhas do Mar
Iusão da Visão (Nelson Peralta)
Incomunidade
Incontinentes Verbais
Indianmind
In Mente
Insignificante (AEloy)
Jardinagens
Jardim das Cores
Jasmim e Canela
Just a Feeling
Koselig
L´Amie du Peuple
Le Musicien
Letras São Papeis
Liberdade na Era Tecnológica?
Linha dos Nodos
Lua
Lusofonia
Luzitania
Malfadado o Contestatario
Manelinho de Évora
Manuel Bancaleiro
Macacos-Deuses (Nuno Jordão)
Macroscópio
Maquiavélico
Mar Adentro
Maracujá
Memorial do Convento
Mescrita
Molelos na Internet
Momentos de Luar
Momentos e Documentos
Moura Viva
Murcon (Júlio Machado Vaz)
Não Tenho Vida Para Isto
Natureza Naturada
Neon-Necropopulação (Adolfo Ruas)
Nocturno com Gatos
Nonato Nogueira
O Eremita
O Alquimista
O Céu sobre Lisboa
O Cheiro da Ilha
O Covil da Carmo
O Elogio da Sombra
O Gosto de Bem Comer
O Mocho II
O Observador
O Rabo do Gato
O Vazio (de Carlos Gil)
O Vizinho
Os Canhões de Navarone (Rui Araújo)
Os Tempos que Correm (Miguel Vale de Almeida)
Ombres de l´Ether
Ouriço Cacheiro
Outsider
Overlooka
Palavras e Imagens
Papeis Por Todo O Lado
Peão
Ponto de Exclamação
Profundezas
Programas Livres
Provérbios
Querido Leitor
Rapariga das Laranjas
Rascunhos
Riso Cor de Tejo
Rua da Judiaria
Rutilo
Semear Criatividade
Semente
Sentidos da Vida
Simon´s Blog
Simples Sopros
Só Verdades
Sobre o Tempo que Passa
Sorumbático
Sou Trilha da Lua
Spi'N'Ozas
Soukha
Substrato
Surf,sopas e descanso
Tá Difícil
Té la mà Maria - Reus
Trans-ferir (Vitor Oliveira Jorge)
Triângulo da Ramalha
Trocar
Um Olhar Crónico
Um Piano na Floresta
Uma Flor e Outras Coisas Simples
Uns e Outros
Webcedário
Welcome to Elsinore
White Tigger

segunda-feira, 29 de março de 2004

Marguerita Bornstein-Fahrer- uma cartoonista ecoconsciente



Marguerita Bornstein-Fahrer, conhecida melhor por seu primeiro nome, nasceu em Sydney, Austrália em 1950. Única criança de pais sobreviventes do holocausto, cresceu no Brasil, onde viveu desde 1954 e começou sua carreira como catoonista numa idade muito adiantada. Em 1970, voltou para a Austrália onde trabalhou para a televisão, em animação e estudou desenho. Seu trabalho apareceu nos jornais tais como O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde bem como em diversas revistas. Para a revista polaca Krakout criou a coluna “Zyg comic & Mea”.Em 1976  estabeleceu-se em Nova York.


Página Oficial: The Mind of Marguerite

domingo, 28 de março de 2004

BioConstrução

Jornadas Transfronteiriças de Bioconstrução e Arquitectura Tradicional em Trás-os-Montes - 28, 29 e 30 de Abril de 2004


Estas jornadas pretendem ser um encontro transfronteiriço entre arquitectos espanhóis e portugueses, entre arquitectos da cidade e da aldeia, entre a arquitectura de escola e a popular, para partilhar modos de fazer e experiências.

Para mais informações, consulte o sítio.

Bem a propósito existe um sítio excelente: Ecocasa

sábado, 27 de março de 2004

Declaracão INES


David Krieger

INES DECLARATION

Towards sustainable societies
An appeal to engineers and scientists

1. Sustainability
Sustainability is a value-based aim and process with environmental, technological, political, social, economic and institutional implications. Sustainability requires that we organize our societies so that they evolve in harmony with nature; dominance over nature is a failed option.

Sustainability calls for a significant reduction in use of global natural resources and a sharing of these resources between individuals, societies and generations so that a maximum of well being and dignity is achieved for all. It calls also for the creation of safe and peaceful living conditions and for respect for human, cultural and biological diversity.

2. The current situation
While encouraging initiatives and possibilities exist, the overall thrust of our economic systems, social structures and science and technology is working against sustainability; radical changes are required to preserve the options for future generations.

Human activities are producing unprecedented changes in the biosphere, degrading, for example, soil fertility, ground-water supply and biodiversity.

We are overusing natural resources, thus eroding our life-support basis; these resources are being used in an inefficient way, creating too little of value, too few jobs, and too much waste; further, there are growing inequalities, both on a national and on a global level, in the distribution of income, labour and wealth derived from the use of the resources; marginalization of individuals, societies and even whole regions has become a major threat to sustainability. In most countries, employment has become increasingly precarious and poverty is spreading. All these distortions diminish governability, give rise to insecurity and tensions that often result in excessive reliance on military force, and this reliance in turn exacerbates the problems referred to above.

3. A sustainable future
A positive alternative to the current situation is the development of new economic, technological and social structures and implementation of societal values, aiming at sustainable societies. Any process of development seeking sustainability should take the following criteria into account:
  1. protecting the integrity of the biosphere:
  2. practice sustainable agriculture and forestry;
  3. preserve marine resources and biodiversity;
  4. establish networks of nature protection.
  5. efficient use of resources:
  6. social innovation in production and product distribution and use;
  7. development of new technologies and designs to increase efficiency.
  8. self-reliance:
    enhancement of endogenous production capacity in the non industrialized countries using all opportunities available, adding value to the resources and creating jobs in the countries and communities of origin;
  9. participatory democracy:
    creation of structures that ensure access without discrimination of any sort including gender or income level to education, participation in civil and political life, health care, food and other resources, and means of production and labour opportunities; these structures should encourage people to bring their creativity into the political planning and decision process, and thus contribute new ideas and life styles to global sustainability;
  10. fair trade:
    establishment of fair trade patterns and regulatory mechanisms;
  11. peace and non-violence:
    creation of a culture of non-violence; establishment and strengthening of structures for peaceful resolution of conflicts; prohibition, elimination and verified safeguards against all weapons of mass destruction; severe restrictions on the development, transfer and use of all weaponry.

4. The role of science and engineering

Science and technology have become instrumental to the present patterns of development, and in many countries have evolved from mere instruments into autonomous driving forces; they are as much a part of the problem as they can be part of the solution. In some societies there is an impressive capacity for technical innovation; however, it is clearer than ever before that not every innovation can be considered as progress. Natural science draw their strength frequently from reductionist analysis, thus inherently favouring specialization and selective perception of problems. Consequently, the solutions proposed often fall short of an integrated approach.

A thorough reorientation of science and technology is necessary based on integrated system approaches and the acceptance that science can never claim to fully tackle all aspects of reality. Only through innovative reorganization and public accountability can the scientific and engineering communities meet their obligation to contribute to a sustainable future.

5. Appeal

We, the undersigned engineers and scientists, commit ourselves as professionals and citizens, to work for a sustainable society, and appeal to other colleagues to join us by undertaking the following actions:

We appeal to decision-makers from the scientific and engineering communities wherever possible to support and fund the integration of sustainable development in programs and projects;

emphasize a systematic interdisciplinary approach to the development of alternative technologies and the organization of their use.

We appeal to the scientific and engineering communities at large and to their institutions to:

be open for new, innovative contributions;

foster participation, freedom for and encouragement of innovative thinking and openness for ideas from inside and outside the academic community;

support integration of, rather than discriminating against, non-mainstream approaches;

investigate and promote all means by which deep inequalities between peoples and between countries can be reduced;

apply our insights to our own institutions, buildings, and ways of working.

We commit ourselves in our professional work to:

support the sustainability perspective in the way we develop and conduct projects, to foster systemic integration of different disciplines, schools of thought, and regional perspectives wherever possible;

uncover all available information about environmentally, socially or otherwise unsustainable developments.

For many scientists and engineers there is only limited scope for acting; nonetheless, other options apply:

to dedicate some of our time (5 to 10 percent) to active participation in citizens organizations;

to support personally, financially and scientifically engineers and scientists who are ill-treated or persecuted for having acted for sustainability in their professional work, or for equity and democracy in their country and in international relations.

Aria-Maria Cetto, Mexico;
David Krieger, USA;
Gerhard Rohde, Switzerland;
Joachim Spangenberg, Germany;
Hartwig Spitzer, Germany.

Visitar a Página Oficial ENGINEERS AND SCIENTISTS FOR GLOBAL RESPONSIBILITY

sexta-feira, 26 de março de 2004

Um Porto (+) natural depende do Parque Oriental

Ontem um grupo de 60 pessoas ( residentes e membros de várias Associações Cívicas e Ambientalistas) encontraram-se em S. Pedro de Campanhã e fizeram um percurso pedestre pela área que constitui o futuro Parque Oriental do Porto. Esta grande mancha verde, visível a partir da Circunvalação-Freixo, é surpreendente no seu interior e fez-me recordar muitas vezes o Parque Biológico de Gaia e as zonas rurais que o Porto e regiões limítrofes tinham há pouco mais de 20 anos. A área que nós percorremos é muito bucólica: prados amplos e muito férteis; um núcleo de casas possíveis de recuperação; muitos trilhos bordejados por vegetação autóctone; caminhos que se cruzam de vez em quando com o Rio Tinto ( infelizmente muito poluído a gritar SIM: que o despoluem e NÃO o entubem ) e pequenos bosques de carvalho, castanheiro, etc. A zona apresenta ainda patamares e pequenos declives, que retiram muita monotonia ao percurso.
No Público de hoje saiu uma notícia muito completa sobre a nossa visita e faz um ponto de situação do Parque Oriental.
Caro leitor, seguidamente proponho que me responda às seguintes questões:

1. Deseja realmente a importação de modelos urbanos “estereotipados”, banalizados e “estranhos”, contrários à memória ainda presente em muitos portuenses da existência de agro-ecossistemas, isto é, de quintas e hortas, que constituem também locais de preservação do património biológico?

2. Deseja a completa impermeabilização de solos, que constituem graves agressões ao solo, sobretudo onde há terrenos muito férteis?

3. Deseja mesmo o entubamento de rios na cidade , operação cosmética para camuflar deficiências graves no real combate à poluição aquática, no tratamentos de águas residuais e na falta de saneamento básico?

4. Muitas árvores presentes no Parque Oriental são antigas. Sabia que um pequeno bosque demora quase 50 anos a formar-se?

Apoie-nos a evitar qualquer construção de via rápida ou viaduto nesta região, que constitui um ferida mortal na integridade do Parque Oriental.
Apelo a todos os que tenham lido esta reflexão sobre a importância do Parque Oriental, que a divulguem, que entrem em contacto connosco e que participem nas nossas campanhas.
Contactos:
bioterra@iol.pt


CAMPOABERTO
Contacto: Nuno Quental 933753910, Bernardino Guimarães 919941582
Apartado 5052, 4018-001 Porto. Telefax 229759592.
campo_aberto@oninet.pt

TERRA VIVA
Contacto: José Paiva 967694816
Rua Afonso Martins Alho, 111-2.°. 4050-141 Porto. Telefone 222081948.
ou CAAS, Rua dos Caldeireiros, 213. 4050-141 Porto.

FAPAS
Contacto: Paulo Santos /Sílvia Mesquita 222002472
Rua Alexandre Herculano, 371-4.° Dto. 4000-055 Porto. Telefone 222002472
Fax 222087455. fapas@mail.esoterica.pt

APRIL
Contacto: Rui Oliveira / Carminda Moura 226161262 Fax 226107381
Rua António Nobre, 80. 4470-140 Maia www.april.org.pt

GAIA - Grupo de Acção e Intervenção Ambiental
Contacto: Pedro Gonçalves 965545519
Sede Nacional: GAIA - Grupo de Acção e Intervenção Ambiental. Faculdade de
Ciências e Tecnologia. 2829-516 Caparica. Telefax: 212949650.
http://gaia.org.pt gaia@gaia.org.pt

NDMALO
Contacto: Belmiro Cunha/ José Manuel Santos. Telefax 229520577.
Rua de Penoucos, 403. 4150-610 Porto. ndmalo@hotmail.com

OLHO VIVO
Contacto: António Soares da Luz 919920374
Rua Fonseca Cardoso, 39-4.° Ft, 4000-233 Porto olhovivoporto@mail.telepac.pt

QUERCUS
Contacto: Francisco Saraiva 966241832
Apartado 4005, 4001-001 Porto. quercus.porto@clix.pt (ou) cea@matosinhos@clix.pt

quarta-feira, 24 de março de 2004

Ética Ambiental por Prof. Timothy C. Weiskel




He is trained as an historian and social anthropologist. He completed his B.A. at Yale University (magna cum laude) in 1969 and undertook graduate work at the École Pratique des Hautes Études (VIe - Section) in Paris and at Balliol College, Oxford where he completed his doctorate (D.Phil) in 1977 as a Rhodes Scholar (New Hampshire, 1969). Mr. Weiskel has received research grants from the Danforth Foundation, the National Endowment for the Humanities, the Social Science Research Council, the Andrew W. Mellon Foundation, the Woodrow Wilson Foundation, the Lilly Foundation, the Henry Luce Foundation and the Rockefeller Foundation. He has taught African history, historical ecology, and ecological anthropology at Williams College, Yale University and Harvard University.


Dr. Weiskel has had field experience in Syria, Lebanon and throughout West Africa from Senegal to Gabon. In 1966-67 he worked as the West Africa Representative for the volunteer organization Operation Crossroads Africa, Inc. Since then he has returned to West Africa for field work among the Baule peoples of the central Ivory Coast. His field work and archival research on the history and anthropology of the Ivory Coast peoples led to the publication of French Colonial Rule and the Baule Peoples: Resistance and Collaboration, 1889-1911 (Oxford University Press, 1980). Since then he has published several broader articles on the ecological legacy of European colonialism and modern development strategies. Over the last several years he has worked on the environmental implications of public policy choices, and he is principal author of the recent work,Environmental Decline and Public Policy: Pattern, Trend and Prospect (1992), based upon testimony he presented to the United States Senate. Dr. Weiskel created and directed of the Environmental Ethics & Public Policy Program at the Harvard Divinity School from 1989 to 1999, where he taught courses in environmental ethics and religious perspectives on the environment. From 1992 until 2002 he was the founder and Director of the Harvard Seminar on Environmental Values, a university-wide program that invited members of all departments and graduate schools to reflect on environmental ethics in their respective fields. In addition he was the co-founder and he helps direct, the Working Group on Environmental Justice, of the W. E. B. Du Bois Institute for Afro-American Research. During the early 1990s Dr. Weiskel the Associate Director of the Pacific Basin Research Center of the Center for Science and International Affairs af the Kennedy School for Government at Harvard University. There he directed theInternational Trade and Environment Program. From 2001 to 2005 Dr. Weiskel was a Visiting Scholar at Emerson College's Institute for Liberal Arts and Interdisciplinary Studies. He currently teaches courses on Environmental Ethics, Environmental Justice and Global Climate Change at Emerson College and Harvard's Extension School.

Artigos publicados- pdf e artigos online


"Some Notes from Belshaz'zar's Feast," in The Greening of Faith: God, the Environment, and the Good Life Edited by John E. Carroll, Paul Brockelman and Mary Westfall (Hanover, London, University Press of New England, 1997), pp. 11-29.

Palestra
Selected Course Lectures -"Environmental Ethics and Land Management" (Harvard University Extension School - Fall Semester 2001).

terça-feira, 23 de março de 2004

Código de Ética da Federação Internacional de Jornalistas de Meio Ambiente

Juarez Tosi- entrevista

O Código de Ética da Federação Internacional de Jornalistas de Meio Ambiente foi aprovado no VI Congresso da IFEJ, de 19 a 23 de Outubro de 2003 em Colombo, no Sri Lanka. Particiciparam 78 profissionais de 43 países. O original foi escrito em inglês. 

CÓDIGO DE ÉTICA PARA JORNALISTAS AMBIENTAIS 
1. O direito a um ambiente limpo e a um desenvolvimento sustentável é fundamental e está intimamente ligado ao direito à vida, à saúde e ao bem estar de todos. O jornalista ambiental deve informar o público sobre as ameaças ao ambiente - se está no nível global, regional, nacional ou local. 

2. Frequentemente, a mídia é a única fonte da informação para as pessoas interessadas em meio-ambiente. É dever do jornalista aumentar a consciência destas pessoas nos noticiários que tratam do meio-ambiente. O jornalista deve esforçar-se para relatar diversos aspectos e assuntos relacionados com o meio-ambiente. 

3. Informando o público, o jornalista desempenha um papel vital, permitindo às pessoas recorrer à ação para proteger o meio-ambiente. O dever do jornalista está não somente em alertar as pessoas sobre os perigos que a cercam, mas também de acompanhar tais ameaças e em mantê-las informadas sobre as ações tomadas para resolver os problemas. Os jornalistas devem também tentar realizar reportagens que apresentem soluções possíveis aos problemas ambientais. 

4. O jornalista não deve ser influenciado por interesses comerciais, políticos, governamentais ou não governamental. O jornalista deve manter distância de tais interesses e não ser um aliado deles. Como regra geral, os jornalistas devem dar espaço para todos os lados envolvidos em todas as controvérsias ambientais que estiver cobrindo. 

5. O jornalista deve manter o máximo de isenção possível, citar as fontes da informação e evitar o comentário especulativo ou alarmista, bem como a reportagem tendenciosa. A verificação das informações das fontes devem ser feitas sempre através da técnica de cruzamento, seja ela uma fonte comercial, oficial ou não governamental. 

6. O jornalista do ambiente deve promover a igualdade no acesso à informação e ajudar organizações e indivíduos a recebê-la. A recuperação eletrônica dos dados é uma ferramenta útil e igualitária neste ponto. 

7. O jornalista deve respeitar o direito à privacidade dos indivíduos que foram afetados por catástrofes ambientais, por desastres naturais e também quando assim desejarem, em qualquer caso. 

8. O jornalista do ambiente não deve hesitar em corrigir uma informação que acreditava estar correta e na verdade estava errada, ou tentar mudar a opinião pública através de análises à luz de acontecimentos futuros.

segunda-feira, 22 de março de 2004

A ética das invasões biológicas: a ecologia e ética do colonialismo


Não conhecem leis nem fronteiras e causam, por todo o mundo, prejuízos superiores a cinco por cento do PIB global. As plantas invasoras estão a multiplicar-se cada vez mais depressa. Mas em Portugal já têm cadastro. Portugal está mais susceptível a invasões biológicas, com prejuízos graves para a economia e para a saúde. O alerta é das biólogas Helena Freitas, Elizabete Marchante e Hélia Marchante, autoras de um novo guia sobre as plantas que ameaçam o território continental. O "
Guia Prático para a Identificação de Plantas Invasoras de Portugal Continental" é lançado na próxima terça-feira, dia 28 de Abril de 2009, às 17 horas no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra (UC). A apresentação do livro, especialmente pensado para o público em geral, contará ainda com a presença de João Loureiro, do Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB), e de Jorge Paiva, do Departamento de Botânica da UC, que explicarão por que é que as invasões biológicas devem ser uma preocupação política e científica. 
Segundo Helena Freitas, presidente da Sociedade Portuguesa de Ecologia, Portugal está sob "grave risco" de invasões biológicas, com consequências para a economia nacional e para a saúde pública. De resto, um estudo publicado esta semana na revista Frontiers in Ecology and the Environment, citado pelo jornal Público, refere que só na Europa são gastos 10 mil milhões de euros no combate às espécies invasoras. Ao nível mundial, o Global Invasive Programme (GISP) estima que o prejuízo causado por estas plantas ascenda ao equivalente a 5 por cento do PIB global. "Entre as plantas invasoras que suscitam mais preocupação estão as acácias (a mimosa, por exemplo), o chorão-das-praias, a erva-das-pampas (ou penacho), a háquea-picante e o jacinto-de-água (na figura), mas há certamente mais", reconhece Elizabete Marchante, investigadora da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC. Para a bióloga, "uma das grandes dificuldades associada ao problema das invasões biológicas é que cada pessoa, não consciente do problema, pode contribuir para o agravar, quer introduzindo novas espécies (intencional ou acidentalmente), quer utilizando espécies invasoras nas suas actividades profissionais ou mesmo no seu jardim. É fundamental investir nesta divulgação, pois só reconhecendo as espécies invasoras é que se pode evitar a sua utilização". As plantas utilizadas na decoração são elas próprias, frequentemente, espécies de risco. "Estas espécies podem vir de qualquer local do mundo. Chegam acidentalmente, por exemplo através de sementes misturadas com mercadorias, mas também intencionalmente, por exemplo para o mercado ornamental", explica Elizabete Marchante. Nem todas as plantas exóticas são nocivas, sublinha Helena Freitas. Contudo, como explica o guia, algumas destas espécies "além de superarem as barreiras geográficas, conseguem superar barreiras bióticas e abióticas", podendo tornar-se numa "ameaça para os ecossistemas naturais, para a produção de alimentos e, mesmo, para a saúde humana e para a própria economia". 

  

 Lista de bibliografia compilada por Timothy C. Weiskel (mais detalhada aqui)
  1. Di Castri, Francesco; Goodall, David W.; Specht, Raymond Louis.1981Mediterranean-type shrublands,
  2. [Finanzkapital. English] Finance capital : a study of the latest phase of capitalist development,
  3. Long, John L. 1981 .Introduced birds of the world - The worldwide history, distribution and influence of birds introduced to new environments,
  4. Robinson, Ronald Edward; Gallagher, John.1981. Africa and the Victorians : the official mind of imperialism,
  5. Gallagher, John; Seal, Anil.; Robinson, Ronald Edward. 1982. The decline, revival, and fall of the British Empire : the Ford lectures and other essays,
  6. Day, J. A. 1983 .Mineral nutrients in mediterranean ecosystems : a report on a workshop meeting held at Hermanus, South Africa, September 1980,
  7. Druett, Joan. 1983. Exotic intruders : the introduction of plants and animals into New Zealand,
  8. Kruger, F. J.; Mitchell, Derek T.; Jarvis, Jennifer U. M.1983. Mediterranean-type ecosystems : the role of nutrients,
  9. Mooney, Harold A; Godron, Michel.1983. Disturbance and ecosystems : components of response,
  10. Crosby, Alfred W. 1986. Ecological imperialism : the biological expansion of Europe, 900-1900,
  11. Groves, R. H; Burdon, Jeremy James.1986. Ecology of biological invasions,
  12. Attenborough, David.1987. The first Eden : the Mediterranean world and man,
  13. Crosby, Alfred W.1987 The Columbian voyages, the Columbian exchange, and their historians,
  14. Green, Gary P.1987 Finance capital and uneven development,
  15. Ramenofsky, Ann F.1987 Vectors of death : the archaeology of European contact, 
  16. Robinson, Ronald Edward; Porter, Andrew.; Holland, R. F.1988 Theory and practice in the history of European expansion overseas : essays in honour of Ronald Robinson,
  17. Drake, James A.; Mooney, Harold A.1989Biological invasions : a global perspective,
  18. Howard, Michael Charles; King, John Edward 1989 A history of Marxian economics,
  19. Orshan, Gideon1989 Plant pheno-morphological studies in Mediterranean type ecosystems,
  20. Hobbs, R. J.; Mooney, Harold A. 1990 Remote sensing of biosphere functioning,
  21. Latymer, Hugo 1990 The Mediterranean gardener,
  22. Mooney, Harold A; Bernardi, Giorgio 1990 Introduction of genetically modified organisms into the environment,
  23. Hillel, Daniel 1991 Out of the earth : civilization and the life of the soil,
  24. Crosby, Alfred W. 1994 Germs, seeds and animals : studies in ecological history,
  25. Melville, Elinor G. K. 1994 A plague of sheep : environmental consequences of the conquest of Mexico,
  26. Moreno, Jose Manuel; Oechel, W. C. 1994The Role of fire in Mediterranean-type ecosystems,
  27. Winks, Robin W.1994 The imperial revolution : yesterday and tomorrow
  28. Cronk, Quentin C. B.; Fuller, Janice L. 1995 Plant invaders : the threat to natural ecosystems,
  29. Grove, Richard 1995 Green imperialism : colonial expansion, tropical island Edens, and the orgins of environmentalism, 1600-1860,
  30. Oram, Peter; Haan, C. de 1995 Technologies for rainfed agriculture in Mediterranean climates : a review of World Bank experiences,

sexta-feira, 19 de março de 2004

Powaqqatsi - Life in Transformation

Filme completo aqui -> Disclose.tv

Powaqqatsi: Life in transformation documentário lançado em 2002 dirigido por Godfrey Reggio com música do compositor Philip Glass.É o segundo filme da trilogia Qatsi.
O filme começa por imagens muito duras de uma centena de trabalhadores do terceiro mundo ao trabalho, céu aberto, sobre os seus costas em terreno escarpé dos sacos aparentemente pesados, sobre uma música ritmada e árida. O título do genérico défile então. O resto do filme vai oscilar em redor de três pólos recorrentes: A vida simples, mas harmoniosa de vários povos do mundo antes que estes estiverem ao contacto com a tecnologia: actividades tradicionais sob todas as latitudes, único ele adivinhados dadas forma por séculos ou milénios de prática. Imagens de sedução, maioritariamente de origem publicitária, elogiando alguns encantos da vida ao ocidental e que sobrepõem-se às estreias. Cenas que simbolizam a vida que resulta da transição em curso: algumas reflectem simplesmente a desigualdade ou os efeitos secundários penosa da industrialização (a imagem do jovem rapaz que desaparece nos fumos de escape de um veículo pesado constitui uma recordação à cena de liberação de poeira que marca o início da sequência "tecnológica" de Koyaanisqatsi), de outros simplesmente desespero, mas um desespero de uma outra natureza que o deste primeiro filme, porque fundamentado pela destruição de uma cultura e não o simples vazio das existências. Em conformidade com os princípios trilogie, o filme não se quer nem directamente político ao sentido tradicional do termo, nem moralisateur. Satisfaz-se de apresentar, evitando a caricatura (dos aspectos positivos da mudança são mostrados igualmente), o mundo visto pelos olhos dos directores, e deixam o espectador livre de efectuar a sua própria reflexão. Philip Glass tomou maior parte à realização que aquando do primeiro filme. Foi do mesmo modo para Godfrey Reggio, que mais se implicou neste segundo opus devido à grande variedade de culturas a representar: asiático, arabomuçulmana, africana, sud-américaine... A inspiração dos temas tradicionais é evidente, o toque final Philip Glass que confere-lhes uma unidade o tempo do filme.

Tradução por mim daqui


CD Música (resumo no próprio sítio de Philip Glass)

quinta-feira, 18 de março de 2004

Baraka





Baraka (1992) é um filme documentário experimental, dirigido por Ron Fricke, cinematografista de Koyaanisqatsi, o primeiro da trilogia Qatsi, de Godfrey Reggio.
Baraka é uma viagem pelos seis continentes, com escala em 24 países: Argentina, Austrália, Brasil, Camboja, China, Equador, Egito, França, Hong Kong, Índia, Indonésia, Irã, Israel, Itália, Japão, Quênia, Kuweit, Nepal, Polônia, Arábia Saudita, Tanzânia, Tailândia, Turquia e EUA. Baraka retrata a harmonia e o caos do planeta, as religiões, as guerras, a pobreza e a ligação do Homem à Natureza.

Ver também
Baraka
Espírito de Baraka


CD Musica (resumo)

quarta-feira, 17 de março de 2004

Koyaanisqatsi- Life Out of Balance


Koyaanisqatsi: Life out of balance é um documentário lançado em 1983 dirigido por Godfrey Reggio com música do compositor Philip Glass.

É o filme mais conhecido da trilogia Qatsi, que é composta juntamente com as sequências Powaqqatsi (1998) e Naqoyqatsi (2002).

A trilha sonora deste documentário possui grande importância pois o desenrolar tem a velocidade e o tom ditados por ela. Não existem diálogos e também não são feitas narrações durante todo o documentário.

São apresentadas cenas em paisagens naturais e urbanas, muitas delas com a velocidade de exibição alterada. Algumas cenas são passadas mais rapidamente e outras mais lentamente que o normal, criando juntamente com a trilha sonora uma idéia diferente da passagem do tempo. Vários dos efeitos apresentados se tornaram clichês usados em outros filmes e programas de televisão.

A palavra koyaanisqatsi tem origem na língua Hopi e quer dizer "vida desbalanceada", ou "vida louca". O significado é revelado ao final do documentário antes da apresentação dos créditos. No final do documentário são cantadas três profecias do povo Hopi em sua própria língua as quais também têm suas traduções apresentadas antes dos créditos.

O filme leva sua audiência a refletir sobre os aspectos da vida moderna que nos fazem viver sem harmonia com a natureza, bem como a pressão exercida pelas inovações tecnológicas que tornam o quotidiano cada vez mais rápido.

Ver também

terça-feira, 16 de março de 2004

Afonso Cautela- Publicidade

Um texto com 31 anos mas tão actual... RESISTIR À PUBLICIDADE Por Afonso Cautela Quando o aprendiz de Ecologia, enquanto consumidor, escolhe um produto, não deve preocupar-se apenas com as suas características superficiais, mas também com factores de qualidade, de segurança e de durabilidade. Um produto pouco publicitado pode muito provavelmente ser melhor do que outro muito publicitado. A sistemática instigação ao consumo leva a um desgaste de matérias-primas muito para além do indispensável. Sempre que se adquira um produto, deve-se pensar que as matérias-primas não são eternas e que o seu gasto contribui para o seu esgotamento. Prefira os produtos que têm evidentes possibilidades de maior durabilidade. Era um velho hábito de nossos pais e avós, que a loucura do consumismo (com seus reflexos no equilíbrio emocional) pôs de parte, ridicularizando, mas a que os ensinamentos básicos da Ecologia e da manutenção dos recursos nos deve fazer de novo regressar. Quando é impelido a comprar, o consumidor deve pensar que, regra geral, esse impulso pode ter sido criado artificialmente, e que não corresponde a uma verdadeira necessidade. Deve tentar encontrar a verdadeira razão que o leva a comprar, não se deixando iludir pelas que aparentemente o justificam. À torrente publicitária televisiva que não só, caro consumidor, lhe queima neurónios, sensibilidade e consciência crítica, como também o imbecializem doses crescentes, resista aguçando o espírito crítico e fazendo de vez emquanto greve ao seu pequeno écran. Não se cretinize por completo. Recupere lucidez. Não se deixe ir em cantigas. Você pode estar a ser manipulado nas profundezas do inconsciente, através da aplicação prática que a publicidade faz das descobertas de ponta das (chamadas) ciências humanas, antes mesmo destas aparecerem nos respeitáveis manuais. Resista às armadilhas da moda, que são as armadilhas do super-consumo, utilizando sempre que possível o que resiste mais tempo sem se “desactualizar”,pensando que, afinal, a moda é o bom gosto com que cada um sabe usar o que de bom gosto sabe comprar. Muitas vezes a moda opõe-se mesmo ao bom gosto e ao mínimo de exigência estética, o que é mais um motivo para resistir à moda. No caso de electrodomésticos e outros produtos baseados na tecnologia, deve o consumidor ter sempre presente que os modelos só diferem uns dos outros por pequenas características que pretendem tornar “ultrapassados” os anteriores e que promovam, portanto, o seu abandono em favor de novos. Nos produtos de uso pessoal, deve o consumidor ter presente que a publicidade apela muitas vezes para aspectos de atracção erótica ou agrado gustativo. Dentes brilhantes ou uma camisola justa ao corpo passam a ser, no discurso publicitário, as coisas mais importantes do mundo para uma pessoa. O engodo é quase sempre baseado em motivos de interesse frívolo, únicos que interessam a um sistema que existe para produzir e vender. Extracto da obra: CAUTELA, Afonso (1974) A Estratégia das Eco-tácticas: Greve Geral à Sociedadede Consumo. Paço de Arcos: Edições Frente Ecológica.

segunda-feira, 15 de março de 2004

Augusto César da Cunha Carneiro e a obra História do Ambientalismo






Fonte: Agir Azul



O livro A História do Ambientalismo é de autoria do Advogado Augusto César Cunha Carneiro, editado pela Editora Sagra Luzzatto. Com 126 páginas, traz prefácio do seu pupilo José Truda Palazzo Jr. Carneiro completa 81 anos em 31 de dezembro e vivenciou pessoalmente a maioria dos fatos narrados na publicação. Foi o maior divulgador da obra de José Lutzenberger. É presidente da PANGEA - Associação Ambientalista, que viabiliza o saite AgirAzul na Rede e EcoAgência de Notícias - em conjunto com o NEJ - Núcleo dos Ecojornalistas do RS.

Truda Palazzo descreve o Carneiro: formador de mentalidade de uma classe de militantes que vem atuando pelo Brasil afora desde a década de 70, e que têm como denominador comum abominar a conversa fiada e defender com unhas e dentes a conservação da Natureza, sem os adereços pseudo-sociais que hoje se alegam para permitir que siga destruindo em nome do combate à pobreza e outras bobajadas retóricas, o Carneiro nos ensinou cabalmente, e a história recente prova, que os depredadores ambientais não têm partido e nem ideologia.

domingo, 14 de março de 2004

Lutzenberger, pioneiro do ambientalismo brasileiro


Segundo John Maynard Keynes, as necessidades humanas podem parecer insaciáveis, sejam elas absolutas (aquelas que sentimos seja qual for a situação de existência), sejam elas relativas (aquelas que sentimos caso as satisfações nos impulsionem ou nos façam superiores a nossos amigos). Para ele, “as necessidades de segunda classe, aquelas que satisfazem ao desejo pela superioridade, podem certamente ser insaciáveis, desde o mais baixo até os níveis mais elevados”.

Em objeção a conceitos desta espécie, inculcados na sociedade consumista de nossos tempos, é que José Lutzenberger fará críticas sistemáticas através de artigos escritos e discursos e palestras proferidos. A polêmica criada por Lutzenberger tem origem na maneira como ele expunha os acontecimentos e suas conseqüências para o ambiente natural, visto que naquele momento não existiam estudos mais aprofundados sobre danos causados à natureza, assim como, pesquisas de opinião pública que denunciassem qualquer atitude predatória. Expressões hoje notoriamente habituais, ainda não eram conhecidas naquele período. Entre elas podemos citar: meio ambiente, ecossistema, desenvolvimento sustentável, Agenda 21, etc...

Inúmeros críticos do pensamento de Lutzenberger qualificaram-no como extremista e radical e, outros ainda, como um teórico da “síndrome do apocalipse”.

A década de 1970 caracterizou-se pelo chamado “Milagre Brasileiro”, onde o PIB cresceu à taxa média anual de 11,2% entre 1969 e 1973. Entretanto, este crescimento favorecia mais as classes média e alta, resultando numa injustiça social de grande monta e significativa concentração de renda na classe dominante. Foi um período de crescimento de nossa dívida externa, principalmente após o advento da crise do petróleo gerada pela Guerra do Yom Kippur. Vários mega-projetos foram iniciados, em detrimento dos programas sociais. Dentre esses projetos destacaram-se a hidrelétrica de Itaipú e a Transamazônica.

O governo Médici apostou no crescimento industrial dando ênfase à expansão da indústria automobilística, à concessão de maior crédito ao consumidor e ao incentivo às exportações. Para isso, tomou empréstimos externos valendo-se do bom momento que o mercado internacional usufruía.

Os movimentos sociais nesta época estavam extremamente acanhados, diante da perplexidade com as atitudes arbitrárias do governo militar.

A campanha eleitoral de 1978 demonstrou uma adesão mais veemente entre os dissimiles conjuntos da sociedade civil. Entidades antes amordaçadas diante da repressão, agora se expunham peremptoriamente para demonstrar a insatisfação de algumas camadas da sociedade com a situação vigente.

É neste contexto político, econômico e social da década de 1970 que um agrônomo nascido em Porto Alegre fundaria, em meados de 1971, juntamente com outros ativistas, a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural, AGAPAN. José Antonio Lutzenberger, graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, especializou-se em solos e agroquímica nos Estados Unidos. Iniciou sua vida profissional na Companhia Riograndense de Adubos e, em 1957, foi convidado a ingressar em uma indústria química suíça, depois de acompanhar um alto executivo da mesma como tradutor, em viagem pelo território brasileiro. Ocupou cargos de relevância na empresa, em países como Alemanha, Venezuela e Marrocos. Em 1971, por discordância das atitudes da empresa no tocante ao emprego de defensivos agrícolas em áreas nas quais julgava desnecessário seu uso, demitiu-se e retornou a Porto Alegre. Havia tomado uma decisão: trabalhar pela causa ecológica, no combate ao desperdício dos recursos naturais e contra quaisquer atitudes de depredação da natureza.

Em obra lançada no ano de 2002 sobre os precursores da ecologia, Bones & Hasse assim descrevem os primeiros passos do ambientalista:

“Graças a artigos publicados aos domingos no Correio do Povo, passou a receber convites para falar em cidades do interior. Visitou mais de 50 cidades do Rio Grande do Sul. Também viajou por quase todo o Brasil, no principio, para falar sobre agrotóxicos. Deu aulas sobre ecologia em cursos recém implantados em São Leopoldo e Porto Alegre e ministrou cursinhos de formação técnica em agrotóxicos para agrônomos e veterinários. Em suas conferências, combinando ensinamentos práticos sobre a natureza e denúncias contra os destruidores do equilíbrio ecológico, muitas vezes era aplaudido de pé. Mais convincente, mais sincero e mais entusiasmado do que a maioria dos ecologistas brasileiros que também faziam conferências, Lutzenberger sensibilizou milhares de pessoas sobre a delicada cadeia da vida que envolve a Terra, os crimes ambientais na Amazônia, o perigo dos agrotóxicos, os riscos da energia atômica, entre outros assuntos”.

O discurso ambientalista de Lutzenberger se destacou sempre pelo tom irônico com que desdenhava dos que se atreviam a contestar suas argumentações. Palestrante de grande poder de persuasão, recebia convites de várias entidades, não só para emitir pareceres e críticas ácidas aos atos dos poderes públicos como também propôr alternativas e soluções para problemas ambientais.

Os temas que mereceram destaque nas críticas de Lutzenberger são inúmeros. Porém, os mais significativos foram: a poda e o corte indiscriminado de árvores nas praças públicas e avenidas de Porto Alegre para dar lugar aos canteiros de concreto e viadutos que o progresso exigia, a campanha contra o uso de agrotóxicos nas lavouras, o despejo dos efluentes através do “emissário” nas águas do rio Guaíba, a religião do progresso com crescimento constante e o uso do PIB como índice de desenvolvimento, a explosão demográfica concorrendo para a exaustão dos recursos naturais e a energia nuclear como fator de poluição e negócio lucrativo das grandes potências.

Em 1990, foi convocado pelo presidente Collor de Melo, por sugestão do ex-ministro e deputado federal Carlos Chiarelli, para assumir o cargo de Secretário Especial do Meio Ambiente, mas não conseguiu resistir às controvérsias corriqueiras que costumam ser geradas no ambiente político. Seu afastamento do cargo foi questão de tempo. Conta ele, em entrevista a Bones & Hasse, como foi exonerado após uma viagem com a comitiva presidencial à Áustria:

“Um dia estávamos Collor e eu no gabinete do primeiro-ministro da Áustria. Naquela época era o Branitski. Aí, o Collor, naquele inglês todo enrolado dele, fez aquele discurso comum dos terceiro-mundistas: “Nós somos um país pobre. Estamos precisando da ajuda de vocês, países ricos”. Aí eu fiquei (sic) puto da vida, deixei eles falarem. Mas como ele sempre me dava a palavra depois, só olhei para trás para ver quem estava ali. Sempre tem uns caras do Itamarati junto. Tinham só dois deles que sabiam inglês, mas não sabiam alemão. Aí eu falei em alemão, e disse para o primeiro-ministro: “Olha, nós brasileiros temos um país incrivelmente rico. Vocês têm um território de 83 mil km2. O nosso território é de 8,5 milhões de km2, isto é, mais de 100 vezes maior que o de vocês. O território de vocês, (sic) metade é montanha gelada. Dá pra fazer ski e ganhar um pouco com o turismo. Aqueles lindos vales verdes de vocês são lindos, frutíferos, mas têm oito meses de vegetação por ano. A maior parte do Brasil, com exceção daqueles desertozinhos lá do Nordeste, têm doze meses de vegetação por ano. Nós temos um clima maravilhoso. Temos tudo quanto é recurso”. E o Collor só perguntando, não estava entendendo nada. E no fim eu disse: “Mas nós somos um país muito pobre. Incrivelmente pobre. Não se imagina como nós somos pobres em político decente”. Aí na saída, Collor me perguntou: “Lutz, por que o homem riu tanto?” Aí eu expliquei para ele o que tinha dito. O Collor deu uma risada amarela, e três semanas depois me mandou embora.”

Depois de se decepcionar com a experiência política vivida no governo Collor e com a incapacidade do poder público frente aos problemas concretos da destruição ambiental, Lutzenberger refugiou-se em seu sítio distante alguns quilômetros da capital gaúcha, no município de Pântano Grande. Ali procurou dedicar-se ao seu último grande projeto: a Fundação Gaia, que ainda hoje preserva sua memória e seus ensinamentos. O principal objetivo da fundação foi o apoio a agricultores interessados em desenvolver a agricultura ecológica.

Faleceu em 14 de maio de 2002, depois que várias crises de uma asma adquirida de maneira imprevisível, e que muitos creditam ao seu pouco cuidado com relação à saúde física, abreviaram sua vida.

Na produção literária era desorganizado, pois não possuía o hábito de reunir seus escritos para posterior publicação. Se atualmente existem obras suas publicadas, muito disso se deve a admiradores e colegas de militância que se preocuparam com a preservação de suas idéias; exceção feita ao “Fim do Futuro - Manifesto Ecológico Brasileiro” de 1976, com versão em espanhol pela Universidade de Los Andes na Venezuela em 1978, e que, segundo o autor, serviria de grito de alerta aos ecólogos, cientistas e pessoas preocupadas com os (sic) “iminentes perigos que a humanidade está para enfrentar”.

Um dos grandes responsáveis pela memória do trabalho de Lutzenberger, da AGAPAN e do movimento ambientalista surgido no sul do Brasil é o professor Augusto Cunha Carneiro. O incansável tesoureiro da antiga AGAPAN e ex-integrante do Partido Comunista, guarda na histórica rua da República, no centro de Porto Alegre, um verdadeiro tesouro em forma de biblioteca. Ali estão preservadas as raízes do movimento ambientalista que maior número de militantes mobilizou no país, desde seus primórdios.

Ao visitarmos as publicações do pensamento de Lutzenberger, além do “Manifesto Ecológico”, podemos destacar ainda: “Gaia – o Planeta Vivo” e “Ecologia – do Jardim ao Poder”. Estas duas últimas são coletâneas de artigos publicados em vários periódicos durante a vida do autor e compiladas por amigos e simpatizantes como Augusto Carneiro e a jornalista Lílian Dreyer.

Referências Bibliográficas:

BONES, Elmar, HASSE, Geraldo. Pioneiros da ecologia. Porto Alegre: Já Editores, 2002.CARNEIRO, Augusto Cunha, A historia do ambientalismo. Porto Alegre: Sagra Luzatto, 2003.
LUTZENBERGER, José Antonio, Do jardim ao poder, 11.ed. Porto Alegre: L&PM, 2001._______________, Fim do futuro? manifesto ecológico brasileiro. 5.ed. Porto Alegre: Movimento, 1980.
_______________, Gaia – o planeta vivo. 2.ed. Porto Alegre: L&PM, 1990.

sábado, 13 de março de 2004

Quem foi José Lutzemberger




José Lutzenberger
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. 
Ler também noutra postagem no BioTerra
José Antônio Lutzenberger (Porto Alegre, 17 de dezembro de 1926 - Porto Alegre, 14 de maio de 2002) foi um agrônomo e ecologista brasileiro e um combatente na luta pela conservação e preservação ambiental. Foi secretário-especial do Meio Ambiente da Presidência da República de 1990 a 1992.
Biografia
Formado em Agronomia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Lutzenberger trabalhou durante muito tempo para empresas que produzem adubos químicos, no Brasil e no exterior. Em 1971, depois de treze anos como executivo da Basf, abandonou a carreira para denunciar o uso indiscriminado de agrotóxicos nas lavouras do Rio Grande do Sul. A partir de então se dedicou à natureza e defendeu o desenvolvimento sustentável na agricultura e no uso dos recursos não renováveis, alertando para os perigos do modelo de globalização em vigor.
Participou de mais de oitenta encontros nacionais e mais de quarenta internacionais. Entre os quarenta prêmios que recebeu está o The Right Livelihood Award (Nobel Alternativo), 25 distinções e inúmeras homenagens especiais.
Participou da fundação da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (AGAPAN) - uma das entidades ambientalistas mais antigas do país - e criou a Fundação Gaia. Lutz, como era conhecido, escreveu diversos livros, dos quais um dos mais notáveis é Fim do futuro? - Manifesto Ecológico Brasileiro, de 1976. Coordenou também os estudos ecológicos do Plano Diretor do Delta do Jacuí (RS), entre outras atividades.
Em março de 1990, foi nomeado secretário-especial do Meio Ambiente da Presidência da República, em Brasília, durante o governo de Fernando Collor de Mello, onde permaneceu até 1992. Nesse período, teve papel decisivo na demarcação das terras indígenas, em especial a dos índios Yanomami, em Roraima, na decisão do Brasil de abandonar a bomba atômica, na assinatura do Tratado da Antártida, na Convenção das Baleias e na participação das conferências preparatórias da Conferência Mundial do Ambiente, a Rio-92.

Fundação Gaia
Localizada em Pantano Grande (RS), a fundação atua na área de educação ambiental e na promoção de tecnologias socialmente compatíveis, tais como a agricultura regenerativa (ecológica), manejo sustentável dos recursos naturais, medicina natural, produção descentralizada de energia e saneamento alternativo.
A sede rural leva o nome de Rincão Gaia, área de 30 hectares situada sobre uma antiga jazida de basalto, e que se tornou exemplo de recuperação de áreas degradadas. O lugar é habitado por diversas espécies silvestres, como a jaçanã, o martim-pescador, o ratão-do-banhado, a lontra, a coruja-das-torres, e outras espécies animais. Além disso, lá funciona o centro de educação ambiental e de divulgação da agricultura regenerativa.

Fonte

Ligações externas

quinta-feira, 11 de março de 2004

População e Meio Ambiente- vários artigos e estudos brasileiros



Fonte: Associação Brasileira de Estudos Populacionais
ST5 (MA) 
Justiça Sócio-Ambiental, Populações Excluídas e Movimentos Sociais Coordenador/Debatedor: Roberto Luiz do Carmo (UNICAMP/NEPO) 
Criando uma Cultura de Meio Ambiente. Existe alguma chance de transformação social a partir de uma idéia global desenvolvida em esfera local? Maria Gracinda C. Teixeira (UFRJ – Universidade Cândido Mendes) - Eliane da Silva Bessa (UFRJ) 
Os Movimentos Sociais em Comunidades Pesqueiras na Amazônia: um estudo na Ilha de Caratateua, Belém, PA Petrônio Lauro Teixeira Potiguar Júnior (MPEG) ST13 (MA) População, Meio Ambiente e Processos de Gestão Coordenadora/Debatedora: Marília Steinberg (UnB/NEUR) 
Agroindústria, População e Ambiente no Sudoeste de Goiás Roberto Luiz do Carmo (UNICAMP/NEPO) - Eduardo Guimarães (UFU) - Adalberto Mantovani Martiniano de Azevedo (UNICAMP/NEPO) 
População, Turismo e Urbanização: conflitos de uso e gestão ambiental Heloísa Soares de Moura Costa (UFMG/IGC) - Alexandre Magno de Oliveira (PMMG) - Marcelo Viana Ramos (UFOP) 
Regulação, Normas e Técnicas de Extração de Recursos Naturais em Áreas Comunitárias do Alto Jequitinhonha Eduardo Magalhães Ribeiro (UFLA/DAE) - Flávia Maria Galizoni (UNICAMP/IFCH) - Juliana Sena Calixto (UFLA) 
Agricultura Metropolitana e Sustentabilidade de Mário Campos - MG Ronan Silva Rodrigues (UFMG/IGC) - Maria Aparecida dos Santos Tubaldini (UFMG/IGC) 
ST21 (MA) Políticas Públicas e População: vulnerabilidade, adensamento e condições de habitabilidade Coordenadora/Debatedora: Heloísa Soares de Moura Costa (UFMG/IGC) 
Tamanho Populacional das Favelas Paulistanas. Ou os Grandes Números e a Falência do Debate sobre a Metrópole Haroldo da Gama Torres (CEBRAP/CEM) - Eduardo César Marques (CEBRAP/CEM) Aspectos da Dimensão Ambiental na Política de Distribuição de Densidades da População Intra-Urbana João Júlio Vitral Amaro (UFMG/Escola de Arquitetura - Depto. de Urbanismo) 
ST29 (MA) Políticas Públicas e Populações em Situação de Risco/Vulnerabilidade Sócio-Ambiental Coordenadora/Debatedora: Ignez Helena Oliva Perpétuo (UFMG/Cedeplar) População e Desmatamento no Vale do Ribeira: integração de dados censitários com dados de sensoriamento remoto dentro da estrutura de um sistema de informação geográfica (GIS) Humberto Prates da Fonseca Alves (UNICAMP/IFCH/NEPO) 
Índice de Sustentabilidade Local: uma avaliação da sustentabilidade dos municípios do entorno do Parque Estadual do Rio Doce (MG ) Tânia Moreira Braga (UFMG/Cedeplar) - Ana Paula Gonçalves de Freitas (UFMG/Cedeplar) 
Condições Ambientais e Crescimento Populacional: um estudo de caso João Stefani (UNI/BH) - Rafael Rangel (UFMG/IGC) 
Uma Avaliação dos Critérios de Classificação da População Urbana e Rural Maria das Graças Rodrigues Fossa (IDEMA/RN) - Mardone Cavalcante França (UFRN/Estatística) 
ST37 (MA) Políticas Públicas e Populações em Situação de Risco/Vulnerabilidade Sócio-Ambiental - II Coordenador/Debatedor: Henri Acselrad (UFRJ/IPPUR) 
Poluição Urbana do Ar por Queimadas na Amazônia Brasileira Marília Steinberger (UnB/NEUR) Itabira - Vulnerabilidade Ambiental: impactos e riscos socioambientais advindos da mineração em área urbana Maria das Graças Souza e Silva (FUNCESI/FACHI) - Maria do Rosário Guimarães Souza (FUNCESI/FACHI) 

quarta-feira, 10 de março de 2004

A relação meio ambiente-meio urbano: do global para o local

Por Marilia Steinberger (adaptado)



Remexendo velhos papéis para encontrar o gancho urbano-ambiental
Quando Lynch(1), há cerca de trinta anos, escreveu um artigo intitulado "A Cidade como Meio Ambiente", nos fez um convite que soou como um exercício de futurologia: imaginar que o crescimento da população e a evolução da tecnologia tivessem urbanizado todo o globo e que uma única imensa cidade cobrisse a superfície da Terra. Apresentou essa perspectiva como um pesadelo pois tal cidade seria monótona, impessoal, abstrata e sem contato com a natureza. Mas ele não parou por aí. Pediu que supuséssemos, estar nas nossas mãos, planejar um setor da hipotética cidade mundial para melhorar suas condições de vida. Argumentou que tínhamos meios para produzir uma atmosfera agradável no local onde vivemos nosso cotidiano. Ao mesmo tempo, constatou que já estávamos conscientes da feiúra e do desconforto que o colosso urbano impingia a seus habitantes. Nas suas palavras:
"Os meios e a consciência devem entrelaçar-se... A enormidade, complexidade, diversidade de funções e estilos de vida do colosso urbano nos causam...dúvida sobre nossa capacidade de controlar a qualidade do meio ambiente...É fácil criticar a cidade. O que não é tão óbvio são suas potencialidades para nos trazer...prazer, potencialidades que surgem não apenas como decorrência do...meio íntimo - a casa e o bairro - mas da forma da cidade em toda sua grandeza."

Alexander(2), poucos anos depois, ao esboçar seu livro "O Meio Ambiente", também nos fez uma proposta intrigante. Começou com uma questão: qual é o problema fundamental do desenho do meio ambiente? Respondeu que consistia em se criar um meio ambiente que fosse real e total. A partir daí, afirmou que as obras de arquitetura moderna e as cidades contemporâneas, não eram suficientemente reais. Sucederam-se novas indagações:
"Que é algo real? Algo que se aceita...e está consubstanciado com sua própria natureza. ...Como se poderá fazer para que todo o meio ambiente e todos os lugares onde vivemos sejam...reais? Uma cidade só pode chegar a ser real, se todos seus milhões de cidadãos estiverem embuídos do conceito de realidade. Como podem cooperar milhões de atos individuais de edificação de maneira que o meio ambiente por eles criado seja total e real?O...meio ambiente total é aquele que permite a seus participantes chegar a ser pessoas totais por meio de seus próprios esforços...

Todo meio ambiente...sempre se estabelece a partir de um sistema combinatorial de imagens, que denomino de linguagem de padrões... Quando as linguagens de padrões usadas pelos construtores de meio ambientes são privadas e fragmentárias, como o são atualmente, é inevitável que gerem entornos fragmentários. ...pode-se construir uma linguagem de padrões compartilhada."

Que há de comum entre esses dois artigos? Não apenas a contemporaneidade da década de 60. Ambos nos convidam a sentir o pulsar da relação meio ambiente-meio urbano com um enfoque que vai da "fantasia do grande para o pequeno". Grandes são os desafios da cidade mundial e do meio ambiente total. Pequenos nos achamos nós perante eles. Ambos nos intimam a sermos todos construtores do meio ambiente no meio urbano e do meio urbano sobre o meio ambiente. Ambos nos puxam para dentro do texto e nos convocam a participar do seu imaginário, que é também o nosso (.....)

II
Duas perspectivas de análise da relação urbana-ambienta

Do início dos anos 80 até nossos dias a relação meio ambiente-meio urbano vem se consolidando a tal ponto que, por vezes, chegamos a não distinguir quando se está falando de um ou de outro dos temas remanescentes. De fato, acreditamos ter ocorrido uma ampliação desse relacionamento que, agora, passa a ser visto com enfoques múltiplos que extrapolam aquele mais visível da poluição urbana. Por esse motivo, não podemos admitir que chamem os anos 80 de "década perdida", expressão muito ao gosto dos analistas econômicos. Hoje é notório o aumento da conscientização mundial sobre o meio ambiente. Além disso, novos atores tem papel relevante nas decisões afetas à questão ambiental: os movimentos sociais e as organizações não governamentais proliferam.

Onde, senão nas cidades, vem acontecendo essa revolução ambiental? Nesse ponto é importante esclarecer que a cidade não é só o "palco" dessa revolução, pois a relação meio ambiente-meio urbano é sinérgica. O meio ambiente, nesse período, ultrapassa a fronteira local para ganhar a estrada cósmica-global e, com ele, o urbano também. A globalização é, fundamentalmente, urbana.

Com essas idéias referenciais fomos ler alguns autores que, nos anos recentes, tem dado contribuições sobre o assunto. Quando fechamos os livros, a sensação era que, durante as leituras, tínhamos estado como que "brincando com um caleidoscópio": uma infinita combinação de imagens coloridas ia aparecendo diante dos nossos olhos. Cada uma era como um fragmento do Cosmo, do Planeta e do Globo que se refletia no espelho da nossa mente.
Paralelamente, a essa sensação se juntou um sentimento, porque não dizer, de um certo desalento pois, no momento em que tudo é cósmico, planetário e global, tudo está longe e fora do alcance das nossas mãos. As soluções propostas pelos autores consultados, na sua maioria, são institucionais e dependem do esforço conjunto em organizações como a ONU, dos Estados-Nações se aliarem em blocos regionais, das ONGs e etc. A humanidade, a sociedade industrial capitalista, o homem em geral, o urbano e o rural, o do norte e o do sul, o pobre e o rico, todos são predadores da natureza. Todos ajudamos a criar "problemas do tamanho do mundo." Problemas que transcendem a nossa natureza como seres viventes.

Nesse momento, com o nosso caleidoscópio imaginário entre as mãos, num exercício de abstração, percebemos que as reflexões dos autores tem adotado duas perspectivas distintas mas coexistentes:
- uma primeira considera que o meio ambiente é mais abrangente e trata o meio urbano como uma de suas expressões, ou seja, como um dos seus sub-sistemas que deve estar em busca de um permanente equilíbrio com o sistema maior. Nessa perspectiva, o meio urbano está em conflito com o meio ambiente. Percebe-se a cidade como foco de externalidades negativas que devem ser corrigidas para cumprir, eficientemente, o papel que lhe cabe no modelo capitalista internacionalizado. Aqui, as cidades assumem características de cidades mundiais. Vamos denominar essa perspectiva de "global";
- uma outra privilegia o meio urbano como um espaço que possui uma dinâmica ambiental própria e única, resultante de uma interação entre o ambiente natural e ambiente construído, cuja harmonia é intrínseca e não extrínseca. Isso não lhe confere autonomia nem isolamento, mas apenas especificidade. Nessa perspectiva não há cidades ideais e sem problemas, mas há cidades e cidadãos buscando soluções condizentes com a sua estrutura ambiental. Em suma, a cidade tem uma personalidade e cada cidade tem a sua personalidade. Em contraposição à primeira perspectiva, chamaremos esta de "local".

Os nomes que escolhemos para batizar as duas perspectivas, "global e local", não tem a pretensão de reforçar ou retomar a discussão apaixonada que tem se travado entre as correntes dos localistas e globalistas. Ao contrário, pretendemos mostrar que as duas convivem e que nenhuma é mais nem menos correta. Aqui, tão somente usamos esses termos como uma necessidade de visualizar o tamanho da lente com que a relação meio ambiente-meio urbano tem sido focada. Embora essa afirmação, à primeira vista, pareça estranha, vamos observar que quase todos autores consultados abordam ambas perspectivas. Para demonstrar voltemo-nos, agora, para recortar fragmentos de seus escritos. Na seleção, apenas um critério: identificar, nos textos, maneiras como a global(ização) e a local(ização) podem contribuir para mudar a qualidade do relacionamento meio ambiente-meio urbano.

Em Aguiar(7) é clara a presença das duas perspectivas. Por um lado ele explicita a relação meio ambiente-meio urbano no seu conceito de meio ambiente total a partir de uma visão sistêmica. Por outro lado, nos mostra o cidadão - ser humano e o cidadão - planetário. Além disso, vê a cidade, simultaneamente, como foco de problemas e geradora de potencialidades ambientais. Assim:
"A luta pela convivência harmônica com o meio ambiente é...missão de todos cidadãos...O cidadão originário era um habitante da cidade. Hoje a cidadania atinge outra dimensão...transcende a internacionalização e invade a planetarização. O conceito de meio ambiente é totalizador. Embora possamos falar em meio ambiente marinho, terrestre, urbano...essas facetas são partes de um todo sistemicamente organizado onde as partes... dependem umas das outras...No meio urbano, onde há maior concentração de população, os problemas tendem a se radicalizar, pois...pobreza, doença, falta de higiene... contribuem para a agressão...ao meio ambiente. A cidade...é a representação máxima do distanciamento entre homem e natureza...mas é também o lugar de decisões...de poder... É a praça onde ...são urdidos acordos e radicalizados confrontos... É na cidade que aparecem os movimentos sociais..."
Ortiz(8), ao discorrer sobre a existência de uma "cultura internacional-popular", nos traz uma abordagem que parece remeter para a imposição do global perante o local. De fato, ele nos diz que o local não está em contradição com o global mas, ao contrário, estão interligados, pois a globalização se realiza através da diferenciação. Embora ele não explicite a relação meio ambiente-meio urbano, referindo-se, em separado, à ecologia planetária e ao anonimato das grandes cidades, nos deixa pistas para construirmos essa relação quando sugere que a sociedade deve inventar novas instâncias para integração das pessoas e propõe a mídia e as empresas como tais instâncias. 

E aí nos perguntamos: não é a cidade o local privilegiado da ação de instâncias como essas e também sede dos movimentos sociais ecológicos? Vejamos:
"...movimento ecológico...uma espécie de movimento social da sociedade civil mundial...A preocupação ecológica não tem pátria, seu enraizamento é o planeta. ...mundialização percorre dois caminhos...a desterritorialização constituindo um tipo de espaço des-localizado. Porém...o espaço, categoria social...deve se localizar, preenchendo o vazio de sua existência com a presença de objetos mundializados. Com o advento da sociedade urbano-industrial, a noção de pessoa já não mais se encontra centrada na tradição. Os laços de solidariedade se rompem. O anonimato das grandes cidades e do capitalismo corporativo pulveriza relações sociais, deixando os indivíduos soltos na malha social. A sociedade deve inventar novas instâncias para a integração das pessoas. Uma cultura mundializada deixa raízes em todos os lugares...Sua totalidade transpassa os diversos espaços, embora...de maneira desigual."

Numa linha similar de abordagem, está Ribeiro(9) nos contando sua experiência com os denominados "bichos de obra", habitantes das pequenas aldeias do sistema mundial formadas nas cercanias canteiros de grandes obras, um ator social, segundo ele:
"...dominado por sua ocupação profissional, tendencialmente descarnado da especificidade e da profundidade de uma identidade cultural e étnica, e que vê a si mesmo como um cidadão do mundo, de um sistema mundial cada vez mais homogêneo..."
Ele conclui que há uma brecha para a reconstrução de uma nova identidade mesmo que seja às custas do que chamou de "interação-integração de segmentos populacionais heterogêneos."

Tomemos agora Santos que, numa entrevista recente(10), se declarou avesso às teorias que exaltam a globalização da sociedade moderna e partidário da riqueza da combinação urbana, com os seguintes argumentos:
"...o mundo inteiro é uma ficção. A...aldeia global não existe. ...desconfio de tudo que é apresentado como sendo global...falta sentido a esse conceito. Meu ponto de partida são os valores. Estes podem se tornar mundiais, mas o ponto de partida é local. ...o sentido verdadeiro das coisas é sempre produzido por valores locais que produzem cidadania...A cidade, ao contrário do campo, recusa o capital...Os homens são mais diversos e, portanto, a combinação urbana é mais rica. O futuro está aqui. ...a grande quantidade de gente pobre é uma fonte de sabedoria...O pobre é o agente menos acomodado que a classe média. O pobre se relaciona com a cidade como um lugar...que exige um deciframento permanente."
Aqui, as duas perspectivas estão presentes, por contraposição, na medida em que Santos usa o local para rechaçar o global. A relação meio ambiente-meio urbano aparece nas entrelinhas quando ele introduz na discussão as classes sociais e considera que a pobreza das cidades não é fonte de poluição, mas sim fonte de sabedoria.

Foi também num artigo de Santos(11) que encontramos uma frase das mais polêmicas sobre o assunto. Vamos a ela:
"...o lugar torna-se o mundo do veraz e da esperança e o global, mediatizado por uma organização perversa, o lugar da falsidade e do engodo. Se o lugar nos engana, é por conta do mundo. ..o que globaliza separa; é o local que permite a união."
Poderíamos nos contentar em reconhecer que, mais uma vez, Santos usou o local para contrapor o global ou dizer que, nessa frase, ele se mostrou o mais ardoroso defensor do local. Mas, seria pouco. Ficamos nos perguntando o significado do jogo de palavras entre o lugar e o mundo, o local e o global, o veraz e o falso, o que une e o que separa. Arriscamos dizer que representa a dialética de um processo uno e simultâneo, de global(ização) e de local(ização).
Dentre os autores que selecionamos, Sachs(12) reproduz com mais fidelidade o "mix" das nossas duas perspectivas, nos trazendo de volta algumas das posturas travestidas com roupagens novas, mas nos brindando com outras que introduzem mudanças qualitativas na relação meio ambiente-meio urbano.

Vejamos suas propostas para minimizar os conflitos meio ambiente-meio urbano baseadas na "novidade" do desenvolvimento sustentado. Ele nos diz que o planejamento do desenvolvimento deve considerar cinco dimensões de sustentabilidade: social, econômica, ecológica, cultural e espacial. Na última, destaca a necessidade de se obter:
"uma configuração rural-urbana mais equilibrada e uma melhor distribuição territorial dos assentamentos humanos e das atividades econômicas, com ênfase no que se segue: reduzir a concentração excessiva nas áreas metropolitanas; explorar o potencial da industrialização descentralizada..."

Ele também dedica uma parte do seu paper à outra "novidade", a explosão urbana, começando por frizar que:
"O tamanho da explosão urbana, aliada à lista de necessidades não atendidas, significa que a replicação no Sul de métodos utilizados no Norte aumentaria as desigualdades existentes, beneficiando uma minoria e marginalizando a maioria dos habitantes urbanos.
...a atual tendência...à transformação do nosso planeta em um arquipélago urbano deve ser considerada como uma fatalidade. O conceito de economias de aglomeração deve ser revisto à luz das oportunidades criadas para a especialização flexível e a industrialização descentralizada..."

Ao mesmo tempo, é também Sachs, com uma postura inovadora, quem mais enfatiza os avanços institucionais da sociedade civil e destaca a personalidade das cidades. Assim:
"O surgimento da sociedade civil como um terceiro sistema de poder, unindo-se ao Estado e aos poderes econômicos deve ser visto como um evento importante...Um dos desafios será reconhecer esta nova configuração política e trabalhar na institucionalização de uma democracia genuinamente participativa em todos os níveis: local(rural e urbano), nacional e global. As cidades são ecossistemas e, como tais, são fontes potenciais de recursos. ...As cidades são como pessoas: pertencem à espécie urbana, mas tem sua personalidade própria. A resposta ao desafio urbano deve levar em conta as configurações específicas dos fatores naturais, culturais e sócio-políticos, do passado histórico e das tradições de cada cidade. Em lugar de se propor soluções homogeneizadoras, a sua diversidade deve ser considerada como um valor cultural de grande importância.

Bibliografia

(1) Lynch, Kevin. The city as environment. In: Scientific American. september 1965, pp. 209-219
(2) Alexander, Christopher. El medio ambiente. Conferencia leída en el Second International Symposium on Regional Development, Tokyo, Sept 1968. Publicado in La Estructura del Medio Ambiente. Barcelona; Tusquets Editor, 1971
(7) Aguiar, Roberto A. Ramos de. Direito do meio ambiente e participação popular. Brasília, IBAMA, 1994, pp.20-54
(8) Ortiz, Renato. Mundialização e cultura. São Paulo, Ed. Brasiliense, 1994, pp.7-219
(9) Ribeiro, Gustavo Lins. Bichos de Obra - fragmentação e reconstrução de identidades. Revista Brasileira de Ciências Sociais, nº 18, fev de 1992
(10) Entrevista: Milton Almeida dos Santos. O Mundo não existe. Revista Veja, 16 de novembro, 1994
(11) Santos, Milton. A aceleração contemporânea :tempo mundo e espaço mundo. In: O Novo Mapa do Mundo - Fim de Século e Globalização. São Paulo. Ed. Hucitec - Anpur, 1993, pp.20-25
(12) Sachs, Ignacy. Estratégias de transição para o século XXI. In: Para pensar o desenvolvimento sustentável. Brasília, IBAMA/ENAP e São Paulo, Brasiliense, 1993, pp.38-41
(13) Douglas, Ian. The city as a ecossystem. In: Progress in Physical Geography, vol 5, number 3, september 1981