domingo, 26 de março de 2023

Há carros elétricos novos a serem enviados para a sucata

Há carros elétricos, praticamente novos, com poucos quilómetros, a serem abatidos após o seguro ter atribuído a perda total, mesmo em acidentes ligeiros. Esta situação poderá resultar em prémios de seguro mais caros e maior poluição com packs de baterias acumuladas. Então, onde para a sustentabilidade?


Afinal, onde está a sustentabilidade?
Para muitos veículos elétricos, não há forma de reparar ou avaliar a inviolabilidade do pack de bateria que sofreu um ligeiro dano após acidente. Como tal, a situação força as companhias de seguros a abater carros com poucos quilómetros - levando a prémios mais elevados e a ganhos menores com a passagem à eletricidade.

Existem já conjuntos de baterias a acumular-se em parques de sucata nalguns países onde a incidência de elétricos é maior. Este problema poderá pôr em causa a parte mais "económica" de usar um elétrico no dia a dia. E ninguém previu este cenário.

Esta informação foi partilhada pela Thatcham Research, uma empresa de análise de mercado para o setor das seguradoras.

"Estamos a comprar carros elétricos por razões de sustentabilidade. Mas um VE não é muito sustentável se tivermos de deitar fora a bateria após uma pequena colisão", disse Matthew Avery, diretor da empresa.

A questão de fundo é que as baterias podem custar dezenas de milhares de euros e representar até 50% do preço de um carro elétrico. Ora, este cenário colocado na balança de custos, poderá inviabilizar a substituição da própria bateria.

Não é fácil nem barato reparar a bateria...
Depende de cada fabricantes, não existe uma fórmula genérica, algo que seja transversal aos fabricantes. Por exemplo, fabricantes como a Ford, General Motors, entre outras têm políticas de fácil substituição e reparação, já no caso da Tesla, o caminho é o oposto.

Segundo refere a Reuters, citando a Thatcham, O Model Y da empresa de Elon Musk, construído no Texas, tem um novo conjunto de baterias estruturais. Este pacote foi descrito por especialistas como tendo "capacidade de reparação zero".

Nesse sentido, uma investigação da Reuters sobre as vendas de salvados elétricos nos EUA e Europa mostra uma grande quantidade carros da Tesla, Nissan, Hyundai, Stellantis, BMW, Renault, entre outros, com o mesmo problema. Carros relativamente novos, com poucos quilómetros sinalizados para abate.

Os elétricos constituem apenas uma fração dos veículos na estrada, tornando os dados de toda a indústria difíceis de obter, mas a tendência de carros com baixas emissões de emissões zero com danos menores está a crescer. A decisão de Tesla de tornar os pacotes de baterias "estruturais" - parte da carroçaria do carro - permitiu-lhe reduzir os custos de produção, mas corre o risco de empurrar estes custos de volta para os consumidores e seguradoras.

Seguros dos elétricos poderão ser mais caros?
Apesar do relatório indiciar este eventual custo acrescido dos prémios de seguro para quem tem um elétrico, a Tesla não se referiu a quaisquer problemas com as seguradoras que seguram os seus veículos. Contudo, em janeiro o CEO Elon Musk disse que os prémios das companhias de seguros de terceiros "em alguns casos eram excessivamente elevados".

Tal cenário, referem especialistas da indústria, pode ser agravado se a Tesla e outros fabricantes de automóveis não produzam packs de baterias mais fáceis de reparar e forneçam acesso de terceiros a dados de células de bateria. Os custos associados a estas perdas terão de ser passadas aos proprietários e iremos ver mais carros de baixa quilometragem em perda total e mais poluição resultante da acumulação das baterias avariadas.

Pobreza Energética em Portugal


Números

  • Calcula-se que haja entre 660 a 680 mil pessoas em situação de pobreza energética, mas o número pode ser bem maior: dois milhões.
  • Os países do Sul da Europa, como Portugal, Itália, Grécia, Malta e Chipre, apesar de terem invernos menos rigorosos quando comparados a países do Centro e Norte da Europa, têm taxas de excesso de mortalidade no inverno consideravelmente superiores a países nórdicos como a Finlândia e a Suécia. Embora 20% das habitações do país tenham direito a uma tarifa social para ajudar no pagamento das contas de eletricidade e do gás natural, o acesso é limitado e escasso. 

A maioria das nossas habitações não está preparada para o frio, mas a realidade é que o combate à pobreza energética pode trazer múltiplos benefícios, incluindo:
️◼️ menos gastos pelos governos na saúde;
◼️️ redução da poluição atmosférica e das emissões de CO2;
◼️️ maior conforto e bem-estar;
◼️️ melhoria dos orçamentos das famílias e aumento da atividade económica.

👉 Nesse sentido, a União Europeia tem vindo a apresentar uma série de ações de combate à pobreza energética, entre as quais:

- Pacote legislativo da União Europeia “Energia limpa para todos os europeus” (2019).
- Fundo de Transição Justa a acompanhar o Pacto Ecológico Europeu.
- Planos Nacionais de Energia e Clima (PNEC), como forma de avaliação da pobreza energética para cada país.
- Pacote Objetivo 55 que, além de identificar os principais fatores de riscos de pobreza energética para os consumidores, inclui ainda a revisão das Diretivas de Desempenho Energético dos Edifícios e a de Eficiência Energética.

👉 A nível nacional, destaca-se:

- Aprovação do Plano Nacional Energia e Clima 2021-2030 (PNEC 2030) como promoção de uma estratégia de longo prazo para o combate à pobreza energética.
- A aplicação do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR 2021-26) que integrou um conjunto de medidas dedicadas à pobreza energética.

Sabe mais 

Documentário - O Mundo Segundo Xi Jinping (2018)


Ler a entrevista: "Colapso do regime de Putin seria pesadelo para a China"

sábado, 25 de março de 2023

Isabel Alçada - Esconder ou alterar livros de Enid Blyton é "absurdo"

As versões originais de algumas das obras da autora dos famosos livros “Os Cinco” estão a ser armazenadas e substituídas por versões reescritas mais "atuais".


Isabel Alçada, autora de literatura infanto-juvenil que foi ministra da Educação, considera "absurda" a decisão tomada por bibliotecas britânicas de esconder livros de Enid Blyton por se considerar que a linguagem utilizada é "ofensiva" para os leitores e está “desatualizada”.

“Eu fiquei muito surpreendida, porque Inglaterra é um país que, geralmente, vemos como um país da liberdade e da aceitação", diz Isabel Alçada à Renascença.

Aludindo a "ideias novas que afetam, de facto, as mentes das pessoas e que levam a atitudes absurdas”, a co-autora da coleção “Uma Aventura” não deixa de “ter em conta que a linguagem muda, que a forma de tratamento das pessoas muda e que há um certo jargão numa época que acaba por cair em desuso”.
“Nós hoje temos dificuldade em aceitar que, no passado, as coisas eram diferentes e reconhecê-las como diferentes.”

Em Devon, em Inglaterra, as bibliotecas públicas estão a ocultar os livros Blyton, autora, entre outras, da coleção “Os Cinco”.

Em contrapartida, as bibliotecas estão agora a apresentar versões “atuais”, reescritas com linguagem intemporal e onde são substituídas diversas expressões da autora. Um dos exemplos é a troca da palavra “moreno”, escrito pela autora num dos livros, pela palavra “bronzeado”.

Segundo o jornal Daily Mail, a escritora, que nasceu em 1897, recorreu a termos como “queer” e “gay”, e também à palavra “castanho” em referência à cor da pele de uma personagem, para além de usar a expressão “cala a boca”.

Estas alterações foram reveladas nos documentos do conselho do condado de Devon. A Library Unlimited, que administra o serviço de bibliotecas do condado, audita regularmente os livros e posteriormente substitui-os por versões mais “atuais”.

As versões originais dos livros de Enid Blyton não foram removidas das biliotecas, mas estão agora armazenadas em espaços que não são acessíveis ao público.

Se os leitores quiserem ter acesso às versões originais terão de as solicitar especificamente aos bibliotecários -que, segundo o The Telegraph, vêm com um aviso a recordá-los da linguagem contida na versão original.

Estas decisões têm levantado uma onda de indignação entre fãs da escritora e também de algumas livrarias, como a Belfast Books, em Inglaterra, que publicou no Twitter uma imagem de vários livros da autora sob a legenda: “A maioria são originais de um tempo antes de os ‘leitores sensíveis’ nos dizerem o que podíamos ou não podíamos ler.”

“Versões alteradas nunca"
Isabel Alçada não concorda com a aposta em versões alteradas. “Versões alteradas nunca apoio. Acho que cada autor escreveu com a linguagem que achou que era adequada para a sua intenção. Há sempre escritores novos e não me parece correto estar a alterar livros antigos”, confessa à Renascença.

Já em 2021, segundo o The Washington Post, a instituição de caridade English Heritage, que desenvolveu um plano que visa instalar placas azuis em edifícios que já foram habitados ou local de trabalho de pessoas famosas, atualizou as informações associadas à placa icónica de Blyton, que está posicionada em frente da casa em que viveu entre 1920-1924.

“Tanto durante sua vida quanto depois, o trabalho de Blyton foi criticado por vários aspectos de seu conteúdo (…) Há um 'snobismo social', racismo e sexismo embutido nas histórias de Blyton”, pode-se ler no site.

As decisões sobre a alteração de expressões nos livros de Blyton fez ressurgir o tema da censura literária e da liberdade em contexto cultural.

Enid Blyton escreveu mais de 700 livros, incluindo títulos como a coleção “Os Cinco” e “Noddy”, desde o final dos anos 1930 até à sua morte, em 1968.

Saber mais:

Pesticide Giant Criticised for ‘Greenwashing’ Partnership with French Influencer



Bayer, the world’s second largest crop chemicals company, sponsored a French influencer to create and share pro-pesticides content with over 300,000 followers on her Instagram account, an investigation has revealed.

Jenny Letellier – one of France’s biggest YouTubers with nearly 4 million subscribers – has come under fire for the sponsored content, which was broadcasted via a series of videos from France’s leading agriculture fair last month. This content was produced in conjunction with Morgan Niquet, a YouTuber with 1.3 million subscribers.

French media outlet Vakita, which broke the story, obtained a copy of the contract between the German multinational and Letellier that specified how the social media campaign was tailored to meet clear PR objectives for the company.

These included “showing the general public that French agriculture is sustainable and respectful of the environment” and that “it takes into account the expectations of society and younger generations”.

France is the second largest market in the EU for pesticides, which have been found to harm biodiversity, soil health and human health.

Salomé Roynel from campaign group Pesticide Action Network Europe (PAN) called the PR partnership a “well-known tactic”. It comes at a time the pesticides lobby is currently heavily resisting green reforms in Europe that – if enacted – would drastically reduce agrochemical use in order to protect nature and wildlife.

A spokesperson from Bayer’s crop science division said: “Like all companies, Bayer may establish partnerships with influencers to promote information or events. The group complies with all current regulations related to partnerships, in particular rules of transparency“.
Backlash from Followers

Influencer advertising is increasingly popular among companies seeking to reach younger audiences. Global spending on this kind of marketing is expected to reach over $30 billion in 2023.

Many of Letellier’s Instagram followers took a dim view of the content she produced for Bayer, which sparked a torrent of incredulity and outrage online. One follower said on Instagram: “We are fighting to save this planet and you make those of your generation believe that Bayer takes care of it!”.

Vakita estimated that the going rate for such a deal was likely to be in the region of €6,000 ($7,200), which included a set of Instagram stories and a post on her feed. Letellier’s comedy Instagram reels routinely receive hundreds of thousands of views; one gained upwards of eight million.

Letellier stated in an Instagram post that she had been a “fool” and “naive”, and had deleted the content prior to Vakita’s investigation. She told Vakita that she was not aware of Bayer prior to the partnership, deeply regretted the agreement, and had refused payment.

A spokesperson for Niquet confirmed that he had also refused payment for the partnership. They said: “Going forward, we will take the necessary steps to ensure that our partnerships align with our values and commitment to environmental responsibility”.
Pro-Pesticide Messaging

Letellier’s videos were filmed at the Salon D’Agriculture in Paris, France’s main agriculture fair, which is visited by the French president each year.

In a series of clips, Letellier is shown repeating messages from a briefing provided by Bayer, which was obtained by Vakita journalists. In one video, Letellier states that “companies like Bayer […] support farmers to produce better with fewer resources”.

Bayer said that Letellier and Niquet had produced “informative and participatory content according to their vision, their codes and their editorial line” after a day of discussion at the fair.

Bayer also told Vakita that it “will continue to partner with personalities interested in the issues and the future of agriculture in France”.

Scientists and campaigners often contest the notion that Bayer’s products “produce better” because while they protect food crops, agrochemicals are toxic to insects and other life forms.

According to the Pesticides Action Network, over a third of Bayer’s sales derive from products that are highly hazardous to the environment, animal or human health. (The methodology for this classification is strongly disputed by Bayer on the grounds that it uses different criteria to internationally accepted rules).

Experts say that overuse of chemical pesticides is harming the future of food production. Biodiversity is in sharp decline across the world, and numbers of birds and pollinators are plummeting in Europe.

Bayer, which makes almost $10 billion in agrochemical sales every year, has also faced millions of dollars in lawsuits over health issues allegedly related to its products, including from farmers.

In December, Paul Francois won damages of over $11,600 from Bayer, following a 15-year legal battle in French courts. The farmer claimed that accidental inhalation of a weedkiller Lasso, which was legal in France until 2007, had caused him chronic neurological problems.

Bayer France told Reuters that Francois was awarded less than 1 percent of the compensation requested, and that the courts had not recognised any of the serious pathologies alleged.
Trying to ‘Turn Public Opinion’

Roynel from PAN accused Bayer of trying to “turn public opinion”, which she said currently favours reducing pesticide use. A petition to phase out pesticides in the EU received over a million signatures in 2021.

Bayer has consistently opposed proposed EU reforms which could see pesticide use slashed. Since 2020, along with other pesticide companies, the firm has repeatedly lobbied against targets to slash chemical use by 50 percent – a move that would cost the industry millions in lost sales.

The arguments frequently used by Bayer to lobby in defence of its business model include the idea that innovations such as “precision farming”, which aim to use pesticides more efficiently, are a better solution than legally-binding reduction targets.

These arguments were present in the briefing given to Letellier, who told her followers: “if we treat them [crops] well with treatment by giving them a good dose, in the right place, at the right time, we optimise production to have optimum performance”.

France is among a number of member states that has called for delays to the pesticide legislation. As the largest agricultural producer in the EU, it is considered one of the most powerful member states in the union on the matter.

Bayer also asked Letellier to “highlight the fact that [French agriculture] is already in full ecological transformation and that it has innovated and modernised”.

Letellier stated in her video: “Today in France, everything is very regulated and we cannot use pesticides for just anything. And so much the better for the plants and for us, because it allows us to feed ourselves”.

President Emmanuel Macron has pledged to end the use of glyphosate, Bayer’s best-selling pesticide, which is considered “probably carcinogenic to humans” by the World Health Organisation.

A 2022 study found the weedkiller – which earned Bayer $840 million in global sales in 2018 – is present in the urine of 99 percent of the French population.

The EU is expected to decide this year whether glyphosate should be approved for use in farming for the next decade.

Roynel said that influencing public opinion was part of Bayer’s “strategy […] to fight fiercely any sustainable transition which would harm its business”.
Wider Lobbying Efforts

Advertising is just one of the tactics used by Bayer to influence EU policy.

A recent investigation by DeSmog found that the pesticide industry had poured millions into resisting green farming reforms. The companies had held private meetings with legislators, funded academic research and launched widespread communications campaigns to delay laws to reduce pesticide use.

Bayer is not the only pesticide firm to have paid influencers for PR work in France, either. Vakita reports that in 2021, a manufacturer of pesticides paid an Instagrammer with 700,000 followers to defend a herbicide, which the EU was threatening to ban due to its risk to wildlife and the environment.

Letellier did not respond to DeSmog’s requests for comment.

Enquanto famílias sofrem, Banca alarga lucros e engrossa os bolsos

Os cinco maiores bancos a operar em Portugal tiveram lucros 2.583 milhões de euros em 2022, mais 1000 milhões de euros do que em 2021. Um contraste brutal face ao empobrecimento das famílias.


Termos como «comissões bancárias», «euribor» e «spread» têm sido aspectos com que as famílias estão confrontadas. Todos os dias o aumento do custo de vida tem sido debatido sem que isso seja acompanhado pela avaliação de quem ganha com tudo isto.

A realidade, no entanto, quando acompanhada pelos números poderá revelar quem tem ganho, e os números da Banca não fogem à regra. Segundo contas feitas pela Agência Lusa, os cinco maiores bancos que operam em Portugal obtiveram lucros agregados de 2.583 milhões de euros em 2022, mais 1.000 milhões de euros do que em 2021.

A Caixa Geral de Depósitos arrecadou lucros de 843 milhões de euros em 2022, mais 45% do que em 2021. O Santander Totta foi o segundo banco com melhores resultados positivos em 2022 de 606,7 milhões de euros, mais 90% do que no ano anterior e o melhor resultado da sua história. O Novo Banco triplicou os lucros e em 2022 esses ascenderam a 560,8 milhões de euros depois de em 2021 ter tido pela primeira vez resultados positivos, de 184,5 milhões de euros. Já o BCP subiram 50% para 207,5 milhões de euros e os do BPI cresceram 19% para 365 milhões de euros.

Enquanto os bancos lucram e distribuem dividendos, quem trabalha tem visto o seu salário perder cada vez mais valor real. A título de exemplo, o salário médio por trabalhador diminui 4,0% em termos reais em 2022. Esse mesmo ano viu a maior subida anual de preços de bens e serviços de consumo dos últimos 30 anos, reflectida numa inflação que se fixou nos 8,1%, já o Salário Mínimo Nacional em 2023 aumentou apenas 7,8%, fixando-se no 760 euros.

Bom bom é sermos pobres. Somos o 7.º país com menor PIB per capita da UE, muito longe da média europeia.

sexta-feira, 24 de março de 2023

Growth that benefits the rich

Por outras palavras: tráfico fiscal legalizado. Podíamos fazer o mesmo com as drogas


The top one per cent of the country's rich has not experienced much change in their earnings or amounts of wealth recently when compared to their status a year before, so says a recent study. In 2020, the country's richest pocketed 16.2 per cent of the gross national income and in 2021, their income remained at the same level. Similarly, their total wealth was 24.6 per cent of the total national wealth in 2020. In 2021, too, the ratio of their total wealth to that of the nation remained more or less the same. But what does this so-called 'world inequality report' published by the Paris School of Economics imply? Does it also mean that the national income and wealth that could not further fatten the country's rich have reached the poor making their life a bit more comfortable? Far from that. Because, from the study conducted by the Power and Participation Research Centre (PPRC) and the Brac Institute of Governance and Development (BIGD) early this year, it was found that the number of new poor in the country stood at 30.9 million which was 18.54 per cent of the total population. The same research group through a similar study done a year before found that the pandemic had then pushed 24.5 million people into poverty which was 14.75 per cent of the total population.

Evidently, the number of poor increased by 6.4 million in a year. But why should the number of the poor increase at a time when the economy had recovered from the pandemic shock and was supposed to be surging ahead with economic activities going on in full swing? In fact, the global rise in inflation due mainly to energy price hike has affected local economy driving up its consumer price index. And since the last mentioned study on poverty was done, the inflationary situation has far worsened during the recent months sending millions more into abject poverty. But during this time, the rich have not been impacted by the inflation in the way the poor have. For as the poor's income has not increased, they are compelled to buy less amount of food items and meet other expenses with the same amount of money that they earned before inflation. So, they got poorer and swelled the ranks of the new poor. But during the same period, a section of traders has been making windfall profits out of the rising consumer prices. They have obviously got richer than before.

Now if compared to the rest of the less fortunate majority, what the rich still have is simply out of proportion. Consider that the top one per cent of the rich control 16.2 per cent of nation's total income, whereas the lower 50 per cent population's share of total national income is a mere 17.1 per cent. When it comes to the shares of the total national wealth that these two groups of people possess, the comparison is quite unsettling. The one per cent rich controls 24.6 per cent or close to a quarter of the nation's entire wealth. But the half of the country's population in the lower income slab owns less than five per cent (4.8 per cent, to be precise) of the total national wealth.

The study further points to the fact that the wealth of the country's one per cent rich at the top has decreased in comparison to what it had nearly three decades ago in 1995. [The rich in question then (in 1995) owned 25.5 per cent of the total national wealth and enjoyed 16.7 per cent of the total national income.]But one must not miss the most important point here. It is that, according to an estimate, the nation's Gross Domestic Product (GDP), a measure of the national wealth, has increased more than seven times in the last two decades. In that case, though the wealth or income of the rich has remained more or less the same as a percentage of the national wealth over all these years, yet in absolute terms their wealth and income have actually increased at the same rate as that of the nation's. So, they are far richer (at least seven times more) than they were two decades back. Consider the extent to which income and wealth gap between the top rich and poor has widened.

In fact, the GDP, though it gives a total picture of a nation's economic growth, says little about how the wealth thus generated is distributed among the populace. The attempt to show the prosperity of a nation with the help of the per capita GDP is, therefore, a purely barren exercise as abstract figures say little about real life. Neither are the large infrastructures an indicator of the wealth of the common people. For the big money spent on infrastructure make the contractors and corrupt government officials richer. It may even prove to be wastage of national resources, if an infrastructure so built cannot serve the interest of the common people as expected. However, in cases where the national wealth is invested more in employment generation, in public health and in education, the public gets the benefits of the investment directly. In other words, the manner of investment determines where the nation's wealth finally goes. It is from this perspective that one needs to look at the last quarter century's economic growth.

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quinta-feira, 23 de março de 2023

É possível boicotar supermercados? Eles tentam todos os dias, mas não é fácil

Enquanto conversam sobre música e futebol, João Mendes faz as compras da semana ao Sr. José, do Pomar Coutinho. Começou a visitar com mais frequência o pequeno supermercado local, no centro da Trofa, há seis anos, quando decidiu evitar ao máximo entrar em grandes cadeias de supermercados.


Reportagem Público
O copywriter freelancer de 38 anos virou as costas quando se apercebeu que “os legumes e a fruta que comprava nas grandes superfícies duravam pouquíssimo tempo” em comparação com os produtos que chegavam de familiares e amigos que tinham hortas. Pouco depois, reparou que no minimercado da sua rua os preços estavam muito abaixo do que via no hipermercado onde costumava comprar. Produto a produto, foi fazendo comparações e reparou que lhe compensava mais comprar no pequeno comércio.

João não é único a trocar as grandes superfícies, empurrado pelo que classifica de “preços e lucros excessivos”. Outros apontam como razões a preocupação com a sustentabilidade ambiental ou com a sobrevivência dos negócios locais. E há quem questione se um boicote generalizado, mesmo sabendo o quão difícil é mudar rotinas e encontrar alternativas equiparáveis, ajudaria a baixar os preços galopantes e a passar uma mensagem de descontentamento perante irregularidades detectadas pela ASAE e denunciadas por consumidores.

“Existe sempre um produto que me obriga a voltar”

Hoje, 90% das compras de João são feitas entre o Pomar de José Coutinho, o mercado semanal da Trofa e um talho que fica a dois minutos de casa. No entanto, por vezes, ainda se vê obrigado a ir comprar aos grandes: “Existe sempre um produto mais complexo que me obriga a ir a uma grande superfície como um creme, umas bolachas que o meu filho quer muito, uma garrafa de vinho e pouco mais.”

Quando começou a comprar mais regularmente no minimercado da sua rua, João Mendes decidiu comparar o preço de vários produtos com os praticados numa grande cadeia de hipermercados de um grupo nacional.

A primeira diferença que encontrou foi no café. A mesma caixa de quarenta cápsulas era 2,39 euros mais barata no minimercado. Mas rápido percebeu que gastava menos em muitos outros produtos. Em alguns casos, como o do gel de banho, o preço caiu para metade (menos 119%, calculou).

Ana Machado, 35 anos, gerente de um estúdio de fotografia no Porto, já há algumas semanas que evita por princípio fazer compras em grandes superfícies. Costumava visitar o supermercado três vezes por semana, agora vai duas a três por mês: “Neste momento, incomoda-me gastar dinheiro num supermercado. Do ponto de vista ideológico também já não se aceita. Não se justifica.”

A preocupação em ser mais sustentável também levou Stefanie Silva a reduzir as idas aos supermercados. Sendo vegetariana, a enfermeira de Viseu diz que não compra quase nenhuma da comida que consome em grandes superfícies. Porém, não vive sozinha. Normalmente, recorre a hipermercados para comprar comida para os animais, “alimentos processados” e outros que a granel sejam mais difíceis de encontrar.

A viver longe do centro da cidade, reconhece que nem sempre é fácil fazer as compras em locais mais sustentáveis. ​“Procurando ser sustentável a todos os níveis, tenho de me organizar quando me desloco ao centro da cidade para fazer tudo aquilo que preciso. Organizar muito bem, não só as compras mas também a deslocação”, diz.

Há mais de 30 anos que os alimentos não eram tão caros

Rosa Silva, trabalhadora independente de 55 anos, costumava fazer as compras sempre no mesmo hipermercado. No final de 2022, quando a subida dos preços se tornou “um abuso”, procurou alternativas. Agora, opta por mercados locais (onde, diz, a especulação também existe) e mercearias.

“Eu sou muito básica nas compras, não me estico muito. São sempre as mesmas coisas há anos e sou fiel às mesmas marcas. Portanto, há aqui um referencial muito claro quando as coisas aumentam de uma forma absurda”, conta. A título de exemplo, refere o caso da manteiga dos Açores, que costumava usar: “Passou de 1,69 euros para 2,30.”

Nos mercados, os preços nem sempre são mais baixos. Rosa Silva, costuma dirigir-se ao mercado de São João da Madeira e já percebeu que os preços flutuam ao longo do dia. Com o contacto certo, porém, pode-se poupar: “Sei que os preços são mais caros durante o dia. Mas já encontrei, ao ir às sete da manhã, a pessoa certa que tem produtos muito mais baratos, bons e frescos.”

Desde que começou a comprar mais fora de supermercados, Ana Machado já reparou que gasta menos: “Este mês nem gastei o plafond todo do cartão de alimentação.”

Supermercados - roubo organizado


O governo anunciou ontem um plano para conseguir regular os preços dos alimentos, que apesar de a taxa de inflação em fevereiro ter recuado para 8,2% continuam a aumentar. Uma das ações passa por intensificar a fiscalização por parte da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), de forma a perceber "o que está na génese da diferença de preços", explicou ontem o ministro da Economia e do Mar, em conferência de imprensa. António Costa Silva referiu que podem estar em causa "práticas abusivas" e que, a existirem, "têm de ser sancionadas".

"O setor da distribuição e retalho está sempre do lado da solução e não engana os consumidores", garantiu, em reação, a associação que representa o setor, lamentando não ter sido escutada nem sequer ter sido informada da existência do relatório da ASAE. E assegura que o problema está no preço com que os produtos chegam a esta fase da comercialização, rejeitando a ideia de especulação na distribuição.

A acompanhar o ministro da Economia esteve o inspetor-geral da ASAE, Pedro Portugal Gaspar, que apresentou um relatório em que se revela que, desde 2022 e até fevereiro deste ano, o cabaz de bens essenciais subiu cerca de 29%, passando dos 74,9 euros em janeiro de 2022, para 96,44 euros no mês passado.

A ASAE começou a fiscalizar os preços de bens alimentares em súper e hipermercados em setembro do ano passado, levando a cabo operações que envolvem 38 brigadas e 80 inspetores. Desde o início das ações e até ontem, 9 de março, foram instaurados 68 processos-crime de especulação e 105 processos de contraordenação a 960 operadores económicos.

A tomada de posição do Executivo merece o aplauso da DECO Proteste, embora a associação não deixe de lamentar o facto de acontecer quando os preços da alimentação já pesam em demasia nos bolsos dos portugueses. "A monitorização que a DECO Proteste faz tem vindo a mostrar a situação que hoje é vista pelo senhor ministro", acusa Rita Rodrigues. A diretora de Comunicação e Relações Institucionais da associação diz que a iniciativa governamental é importante, mas "fiscalizar, monitorizar preços, reforçar a ASAE e conversar com o setor dos operadores é tudo aquilo que já deveria estar a ser feito há meses".

Rita Rodrigues apela ainda a uma intervenção da Autoridade da Concorrência, já que considera existir "um problema de transparência nos preços". "Este é um setor em que, em toda a cadeia, não há transparência", reforça, assumindo que apesar de a associação não ter uma solução que possa ajudar a baixar os preços rapidamente, "deveria ter existido um ritmo de fiscalização que permitisse não ter chegado a este ponto". E remete para a última análise da DECO Proteste a um cabaz com 63 produtos alimentares essenciais, que ontem valia 230,76 euros. A mesma cesta, a 9 de março de 2022, levava uma subida de 25,66%, ou seja, mais 47,12 euros. É o preço mais elevado desde que se começou a monitorizar este cabaz, a 5 de janeiro de 2022.

Durante a apresentação da estratégia do Executivo para combater a especulação nos preços, assente em seis pontos, António Costa Silva indicou ainda que o governo vai reunir com os operadores de forma a ouvir as suas explicações e verificar se existem discrepâncias que possam configurar práticas abusivas que, a confirmarem-se, terão uma resposta "inflexível" por parte do governo, sublinhou o ministro.

Ao mesmo tempo, o governo diz que vai analisar toda a cadeia de alterações de preços dos alimentos, começando na produção e passando pela distribuição, até quando finalmente os produtos são colocados na prateleira. A PARCA - Plataforma de Acompanhamento nas Relações na Cadeia Agroalimentar vai também ser convocada.

APED garante que setor está a "absorver custos"
Em comunicado, a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) lamentou "que a ASAE tenha produzido um relatório do qual o setor não tem conhecimento nem foi convidado a dar contributo", embora tenha colaborado sempre com a agência. E diz que, perante as informações prestadas pelo ministro da Economia, "é preciso falar verdade aos portugueses e explicar com clareza todos os fatores que levam ao aumento de preços dos alimentos". A associação revela que esteve reunida com o governo na quarta-feira, tendo explicado o motivo da subida e o que se passa em toda a cadeia de valor.

Na conferência de imprensa de ontem, Pedro Portugal Gaspar disse que é necessário saber se existem indícios de prática de especulação porque, de acordo com os dados revelados pela ASAE, a margem média de lucro bruto da cebola, por exemplo, subiu mais de 50% e a dos ovos, laranjas, cenouras e febras de porco aumentou entre 40% e 50%.

A APED garante que a distribuição está a comprar os produtos cada vez mais caros aos fornecedores (indústria e produção) e que estes aumentos, no início da cadeia, "refletem a subida dos custos dos fatores de produção decorrentes dos aumentos do preço dos fertilizantes, rações e outros custos relevantes". A título de exemplo: o leite "está 75% mais caro nas lojas, precisamente o aumento que os fornecedores passaram para a distribuição" - sendo este um produto com margens mínimas. O ministro da Economia havia revelado que os custos com fertilizantes, combustíveis e eletricidade baixaram, não se podendo imputar a subida dos alimentos a estes fatores.

A APED reitera: "O setor da distribuição e retalho está sempre do lado da solução e não engana os consumidores", e que o negócio da distribuição alimentar se centra no volume e não na margem. A margem média do setor do retalho alimentar é, em todo o mundo, na ordem dos 2 a 3%, que compara com margens da indústria na ordem dos 15 a 20%, adianta. A associação assegura que o retalho alimentar não aumentou as margens de comercialização, tendo, ao invés, conseguido reinventar-se para "absorver o acréscimo generalizado dos custos operacionais, evitando que o ónus da inflação em geral para o consumidor fosse muito superior".

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quarta-feira, 22 de março de 2023