terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

40 dias sem usar plástico. Aceita o desafio? (assista o video da campanha europeia)

A Quercus está a desafiar todos os portugueses a desistirem dos produtos descartáveis durante 40 dias, no âmbito de uma iniciativa europeia de sensibilização contra o problema do plástico- Break Free From Plastic
O plástico é um grave problema pois é um material que permanece na natureza durante centenas de anos.

Estudos recentes mostram que em Portugal são consumidos anualmente:

259 milhões de copos de café;
10 biliões de beatas de cigarros;
40 milhões de embalagens de take-away;
1 bilião de palhinhas de plástico;
721 milhões de garrafas descartáveis.


A campanha intitulada de 40 Dias Sem Plástico, já está a decorrer durante todo o período da Quaresma (40 dias) e termina a 25 de Março, uma semana antes da Páscoa. 


Plastic - all you need to know in 3 minutes


O mesmo video legendado em Português aqui no Facebook.

Fontes: MetamagEuropean CommissionQuercus, Noctula, Uniplanet

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Todos conhecem e falam dos benefícios de tomar banho...por John Muir

Foto: Shinto- Sierra Clube
"Todos conhecem e falam dos benefícios de tomar banho...no mar. Mas respirar e "tomar banho" numa floresta bem preservada faz o mesmo efeito ao corpo e mente".~ John Muir


domingo, 25 de fevereiro de 2018

Carlos Neto: “A brincadeira pode ser a resposta para a maioria dos males”



Carlos Neto, Investigador da Faculdade de Motricidade Humana, em Lisboa, explica por que razão é brincar é a melhor prescrição para um desenvolvimento saudável das crianças. Até porque não queremos adultos infantis, doentes e com falta de iniciativa.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) já considera a obesidade infantil uma epidemia e um problema de saúde pública. Segundo dados desta entidade do ano passado, existem no mundo cerca de 200 milhões de crianças com excesso de peso e a Diabetes tipo 2 afeta faixas etárias cada vez mais jovens.

As principais causas? A má alimentação e a falta de exercício. 90% das crianças portuguesas consome fast food e 57% das que moram perto da escola deslocam-se de carro. Aliás, em 2014, Portugal era dos países da Europa que tinha mais crianças obesas (5%), logo atrás da Grécia (6,5%), Macedónia (5,8%), Eslovénia (5,5%) e Croácia (5,1%) de acordo com a OMS. Por outro lado, há cada vez mais petizes diagnosticados o síndrome de Défice de Atenção e Hiperatividade.

“Todos os estudos apontam para que as crianças ativas tenham mais capacidade de aprendizagem de concentração, além de, a longo prazo, maior probabilidade de terem sucesso”

O que estará a acontecer? São os miúdos sedentários ou elétricos ao ponto de quem os rodeia entrar em parafuso Pode ser só falta de brincadeira e de uma alimentação mais equilibrada. Quem o afirma é Carlos Neto, Professor da Faculdade de Motricidade da Universidade de Lisboa, que trabalha com os mais jovens há cerca de cinco décadas: “Estamos a criar uma geração de crianças doentes, afastadas da sua fisicalidade, da realidade e que dificilmente serão adultos empreendedores”.

O Delas.pt falou com o especialista e procurou saber que medidas podem e devem os pais e a sociedade tomar para tornar as nossas crianças mais saudáveis, expeditas, interventivas, ativas e equilibradas, pelo menos no que diz respeito aos tempos livres. A escola, como veremos, terá um papel fundamental. Porque para Carlos Neto, de entre todos os segredos pedagógicos, “a brincadeira e o tempo a ela consagrado é fundamental. Pode ser a resposta para a maioria dos males”.

Há uma frase sua que li há algum tempo e me marcou: “Passeamos mais os cães do que as crianças…”
(Risos) Não será tanto assim, mas de facto neste país quem tem um cão leva-o a passear e a brincar pelo menos duas vezes por dia, faça chuva ou sol. O mesmo já não acontece com as crianças. Basta estar um pouco mais frio que coitadinhas, correm o risco de apanhar uma constipação! Ficam em casa agarradas às consolas – não é que tenha algo contra as novas tecnologias – e não se mexem durante horas, não interagem, não brincam uns com outros e nem desenvolvem competências sociais…

Brincar parece uma palavra um pouco perdida no léxico contemporâneo.
Sim, a partir do momento em que vão para a escola, as crianças perdem o tempo que tinham para brincar. Os intervalos são curtos, por vezes de apenas 15 minutos para quase 5 horas de estudo na sala de aula, quando nem um adulto trabalha tanto tempo seguido. E todos os estudos apontam para que as crianças ativas tenham mais capacidade de aprendizagem de concentração, além de, a longo prazo, maior probabilidade de terem sucesso.

Então é altura de rever a importância da brincadeira e da duração e qualidade dos intervalos escolares?
Claro. Brincar permite adquirir instrumentos fundamentais para a resolução de problemas, tomada de decisões e permite também e desenvolvimento de uma capacidade percetiva em relação ao espaço físico e em relação aos outros. Além de que muitos estudos evidenciam que, quanto mais tempo a criança tem de atividade lúdica e física no recreio, maior capacidade de concentração tem na sala de aula. Já para não dizer que manter o corpo ativo é uma forma de combater o flagelo dos nossos tempos que é o sedentarismo.

Que contribui para doenças tão graves como a obesidade e até a Diabetes tipo 2?
Para não falar nas questões psicológicas. Há uns tempos eu defendia que as crianças saudáveis eram aquelas que tinham os joelhos esfolados. Hoje penso que elas têm é a cabeça esfolada.

Porquê?
Porque brincar não é só manipular brinquedos, é estar em confronto com a natureza, com o risco, com o imprevisível e com a aventura. E uma criança que não o faz, dificilmente no futuro assumirá riscos, enfrentará adversidades com segurança…
“Estamos a criar totós, dependentes, inseguros e sem qualquer cultura motora”

A falta da brincadeira não as torna menos sensíveis aos riscos? Recordo-me que quando era pequena não nos atirávamos a um poço, muito menos se não soubéssemos nadar. Tínhamos noção do risco…
Exato. As crianças aprendem através de situações inesperadas. Ainda há pouco num jardim assisti a duas situações distintas: um pai lia o jornal descansado enquanto o filho trepava uma árvore, descia, subia e às vezes caía. O outro estava sempre a controlar o pequeno e a dizer-lhe “não faças isto, cuidado com aquilo…”. Ora o miúdo nem conseguiu descer…

O que se vai refletir no futuro.
Estamos a criar totós, dependentes, inseguros e sem qualquer cultura motora. Vemos crianças de 3 anos que, ao fim de dez minutos de brincadeira dizem que estão cansadas, outras de 5 e 6 anos que não sabem saltar ao pé-coxinho. Já as de 7 não sabem saltar à corda e algumas de 8 anos não conseguem atar os sapatos. É o que chamo de iliteracia motora.

Estamos a falar de sedentarismo, ileteracia motora, mas então porque se discute tanto a hiperatividade?
Na realidade, os currículos hoje estão a ser demasiado exigentes quanto ao número de horas em que as crianças têm de estar sentadas. Devemos ter um plano para tornar a sala de aula mais ativa. Já estamos a preparar, com o Ministério da Educação, programas alternativos que passam, por exemplo, pela colocação distinta das mesas escolares de forma a tornar a aula mais ativa. É inaceitável que 220 mil crianças estejam medicadas em Portugal. Temos crianças de 8 anos que não sabem atar os sapatos…

Esta super proteção não será consequência da baixa de natalidade? Se só temos um filho há que o preservar… Já os nossos avós tinham 5, 7 ou mais…
Talvez. Mas é sobretudo cultural. Sabemos que famílias com poucas crianças são mais protetoras, mas de forma geral todas as crianças têm poucas oportunidades para desenvolver a sua identidade territorial. Instalaram-se medos nas cabeças dos adultos. Medos das crianças serem autónomas. Há uma relação muito direta entre risco e segurança. Quanto mais risco, mais segurança e quanto mais risco, menos acidentes.

Devemos, então, ser pais mais duros?
Sim e não. Todos os estudos têm vindo a demonstrar que na infância, até aos 10/12 anos de idade, é absolutamente essencial brincar para desenvolver a capacidade adaptativa. E hoje não é isso que estamos a fazer. Estamos a dar tudo pronto, tudo feito, e não a confrontar as crianças com problemas que elas têm de resolver. Sejam eles com a natureza; sejam eles com os outros. Os pais necessitam desenvolver empatia com os filhos, mostrar autoridade, mas fazê-las sentirem-se seguras.

O risco tem de ser um ritual de passagem, então?
Claro. A ciência demonstra que, no ciclo da vida humana, o pico maior, onde há mais dispêndio de energia, é entre os cinco e os oito anos. Temos de ter muito respeito por isso. Não podemos confundir tudo e achar que essas energias são anormais. São naturais e por isso temos de olhar para elas como naturais e não patológicas e medicá-las.
Uma boa alimentação e o exercício físico apenas resolvem o problema da iliteracia motora ou o excesso de gordura.

Então qual deverá deverá ser o papel dos pais?
Na verdade, existe muito pouca harmonização do tempo de família. E é preciso perceber que as crianças não devem brincar apenas entre elas; precisam de tempo para experimentar e brincar com os pais também. Assim sentem-se mais seguras.

Mas os pais podem pensar: o meu filho anda no ténis, e no futebol e na natação, pratica muito desporto…

Isso não resolve nada. Uma boa alimentação e o exercício físico apenas resolvem o problema da iliteracia motora ou o excesso de gordura.

Os nossos horários não facilitam. Em algumas empresas o último a sair é o primeiro a ser promovido.
Pois, tem que haver coragem política para mudar este estado de coisas. Em países como a Holanda ou a Austrália entra-se no trabalho às 8h e sai-se às 16. Os pais vão buscar os miúdos de bicicleta e depois brincam no parque ou em casa.

Cá encaminham-se os pequenos para os ATL ou similares…
É por isso que digo que a escola tem de ajudar, proporcionar a brincadeira enquanto a sociedade como um todo não mudar. Neste momento, com a rua em vias de extinção, os recreios são a única alternativa que as crianças têm. E os ATL não têm que ser necessariamente negativos. Só não se pode pedir que essas horas sejam passadas a fazer os trabalhos de casa. E então os jogos, o teatro, a dança, a música?

Não será outro tipo de sobrecarga, tantas atividades extracurriculares?
Não, desde que sejam encaradas de forma lúdica e não como complemento à formação escolar, do género “o meu filho vai ser o melhor violinista, a minha filha a melhor bailarina…” Há que reorganizar as escolas, os recreios e as atividades extracurriculares.

Além de brincar, não é importante o espaço para a contemplação? Ver as nuvens a passar, os rios a correr, os pingos da chuva a cair?
Olhe nunca tinha pensado nisso, mas as palavras são como as cerejas. E, pensando, bem, é a dinâmica da sobrevivência. Tão importante quanto a ação. O tempo para refletir e usufruir, estarmos connosco e com o mundo…

Eija Temiseva


Admiro imenso os trabalhos de Eija Temiseva.
Aqui num vídeo "Homenagem ao Sol"


Homage to Sun from Eija Temisevä on Vimeo.

This video is Homage to Sun. Without sun we literally would die. Sun also symbolize wholeness, hope, light, consciousness, life, friendship and being together. These days those things are more important than ever. The original video Sunrise Time Lapse is made by Jeffrey Beach. I have edited it and added footages where I myself performed "a ritual" to sun.


Entrevista a Eija Temiseva

sábado, 24 de fevereiro de 2018

Origem do conceito Saúde Única


O Brasil segue a linha de muitos países que já tomaram medidas para reduzir o uso de antibióticos em animais destinados a produção de alimentos, como é o caso da União Europeia (EU), que já em janeiro de 2006 proibiu o uso de antibióticos promotores de crescimento (Gaggia et al., 2010).

A suinicultura nacional está em sintonia com as políticas internacionais sendo que estas restrições se enquadram em uma tendência global e, ao fazê-lo, a Suinicultura Brasileira fica alinhada com as políticas apoiadas pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e Organização Mundial de Saúde (OMS).

Na outra ponta da cadeia estão os consumidores, os quais vem aumentando a demanda por proteínas animais produzidas sem ou com uso restrito de antibióticos, e é devido isso que grandes players mundiais no setor de alimentação estão adotando a política de “ausência de antibióticos” para seus suprimentos de carne em suas redes de supermercados e/ou fastfood.

A RESISTÊNCIA AOS ANTIMICROBIANOS

Os Antimicrobianos têm sido utilizados na produção animal para tratamento, prevenção de doenças e como promotor do crescimento por mais de 50 anos e o impacto disso sobre o tratamento de doenças em humanos está sendo amplamente debatido.


A resistência aos antimicrobianos não é um fenómeno novo. Inicialmente, foi reconhecido como uma curiosidade científica e, em seguida, como uma ameaça à eficácia dos tratamentos.

No entanto, com o desenvolvimento de novas famílias antimicrobianas nas décadas de 1950 e 1960 e as modificações dessas moléculas nas décadas de 1970 e 1980 criaram uma falsa sensação de segurança e a crença de que sempre poderíamos nos antecipar aos patógenos.

No entanto, hoje essa complacência nos está custando muito caro pois, a geração de novas moléculas está cessando.

Uma das principais causas do aparecimento de resistência é o próprio uso dos antimicrobianos, pois a pressão seletiva surge da combinação de três fatores, a saber do uso excessivo, que se observa em muitas partes do mundo especialmente nos casos de infecções sem importância, do uso incorreto, por falta de acesso a diagnóstico apropriado e do uso em subdosagens (OIE).

Uma metanálise publicada em 2017 na revista The Lancet Planetary Health mostrou que as intervenções restringindo o uso de antibióticos em animais de produção reduziram as bactérias resistentes a antibióticos em até 39%.

De fato, qualquer uso inadequado de antimicrobianos (uso desnecessário, uso contra microrganismos não suscetíveis, subdosagem, etc.) aumenta o risco de desenvolvimento de resistência.

ONE WORLD, ONE HEALTH

O novo conceito, “Um mundo, uma saúde”, surgiu recentemente, demonstrando a preocupação da correlação entre doenças dos animais e humanos, logo um problema de saúde pública.

Em maio de 2015, a 68ª Assembleia Mundial de Saúde reconheceu a importância do problema de saúde pública da resistência antimicrobiana e adotou um Plano de Ação Global que propõe intervenções para controlar tal resistência e, em particular, reduzir o uso desnecessário de antimicrobianos em humanos e animais.

Estas novas recomendações da OMS visam preservar a eficácia dos antibióticos importantes para a medicina humana, reduzindo seu uso desnecessário. A saber:
  •  Redução geral no uso de todas as classes de antimicrobianos de importância médica em animais destinados de produção.
  • Restrição completa ao uso de todas as classes de antimicrobianos de importância na medicina humana para uso como promotor de crescimento em animais de
  • produção.
  • Restrição completa ao uso de todas as classes de antimicrobianos de importância na medicina humana para uso como tratamentos preventivos (sem diagnóstico clínico) em animais de produção, podendo somente serem utilizados os antimicrobianos em animais saudáveis para prevenir uma doença se ela tiver sido diagnosticada em outros animais na mesma granja/instalação.
  • Recomenda-se que os antimicrobianos considerados críticos à medicina humana não sejam utilizados para controle da disseminação de doenças clinicamente diagnosticadas em grupos de animais de produção.
Segundo a OMS, tais medidas se fazem necessárias, porque o uso excessivo e indevido de antibióticos em animais e em seres humanos está contribuindo para uma crescente ameaça de resistência aos antibióticos, o que faz com que muitos tratamentos existentes deixem de ser eficazes.

CONCLUSÕES
Segundo a OIE, todos temos um papel importante a desempenhar para preservar a eficácia dos antimicrobianos os quais são essenciais para a saúde e o bem-estar dos animais e humanos.

A Organização Mundial de Saúde Animal (OMS) lançou uma campanha mundial de conscientização do uso racional de antibióticos para tratamento de infecções em animais.
A campanha Only Five (Somente cinco) aborda as regras para o uso de antimicrobianos e é voltada tanto para médicos veterinários e sociedade, regras estas que resumem que foi abordado anteriormente. Segundo a OIE, todos temos um papel importante a desempenhar para preservar a eficácia dos antimicrobianos os quais são essenciais para a saúde e o bem-estar dos animais e humanos.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GAGGÌA, F.; MATTARELLI, P.; BIAVATI, B. Probiotics an prebiotics in animal feeding for food production. Review. International Journal of Food Microbiology, v.141, p.S15-S28, 2010.

Nações Unidas avisam que Amazónia está próxima do ponto de "não retorno"

Biólogos assinalam que deflorestação da selva sul-americana está nos 17%. Se um quinto da vegetação for destruída, chegaremos ao abismo climático.

Maraba (Amazónia - Brasil). Reuters

A floresta da Amazónia aproxima-se perigosamente de um ponto de “não retorno” se a desflorestação ultrapassar os 20% da sua área original, segundo biólogos da Fundação das Nações Unidas.

Num editorial publicado na revista Science Advances, os investigadores norte-americano Thomas Lovejoy e brasileiro Carlos Nobre asseguram que a desflorestação da Amazónia alcançou cerca de 17% da sua vegetação nos últimos 50 anos e advertem que, chegar ao limite de 20%, seria chegar ao abismo climático.

A área amazónica produz aproximadamente metade da sua própria precipitação pluvial ao reciclar a humidade à medida que o ar se move desde o Oceano Atlântico, através da América do Sul, até ao oeste.

Esta humidade é importante para alimentar o ciclo de água da Terra de forma mais ampla, e afeta o bem-estar humano, a agricultura, as estações secas e o comportamento da chuva em muitos países da América do Sul, advertem os especialistas.

Recentemente, fatores como as mudanças climatéricas, a desflorestação e o uso generalizado do fogo, influirão no ciclo natural da água nesta região, referem os biólogos.

Os estudos feitos até esta data, apontam para o facto de que interações negativas entre estes fatores significam que o sistema amazónico se alterará.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

The Fungi In Your Future - Os Fungos no seu Futuro (com video)

A MycoWorks é uma start-up baseado em San Francisco, que produz produtos e vestuário sustentáveis a partir dos fungos. A empresa foi fundada em 2013 e produz materiais resistentes à intempérie usando fungos encontrados nas raízes de cogumelos usados em calçados, baterias e automóveis.
Couro feito de cogumelos
A MycoWorks produz seus produtos através de um processo que envolve a recolha de fungos obtidos a partir de tecidos de micélios e armazená-los em um frasco. Em três a sete dias, a mistura  expande-se e  formam-se em grumos de material, que é usado para criar produtos como bolsas de mão, bolsas, etc. De acordo com o co-fundador Phil Ross, a produção deste material é semelhante à criação de ravioli a partir do zero, e o produto final é mais resiliente do que o cimento.

Fonte: Sciencefriday

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Entenda a diferença entre o upcycle e a reciclagem


Na busca por soluções que evitem ou, pelo menos, reduzam a degradação ambiental, muitos termos e conceitos vão surgindo. É o caso do upcycle, que surgiu em 1990 e está cada vez mais presente no dia a dia das pessoas.

Ao contrário da reciclagem, que prevê a criação de um novo ciclo para o material descartado, o upcycle visa a valorização do ciclo. De acordo com William McDonough e Michael Braungart, no livro Cradle to Cradle: Remaking the Way We Make Things, upcycle é “evitar desperdício de materiais potencialmente úteis, fazendo uso dos já existentes”.

Os autores afirmam, ainda, que ao reduzir o uso de novas matérias-primas, há uma redução no consumo de energia, poluição do ar, poluição da água e até as emissões de gases de efeito estufa.

Ainda não entendeu? Funciona assim: os produtos que não têm mais uso e iriam para o lixo, devem ser utilizados como são, mas para outros fins. De forma que seu produto final agregue valor ao material utilizado.

Dessa forma, o que estaria no fim da vida útil se transformaria em algo novo e valorizado. É uma espécie de reinserção do produto nos processos produtivos.

O processo vem ganhando muitos adeptos. Isso porque, além de ser ecologicamente correto, o custo é bastante reduzido, o colocando em posição de destaque no mercado e sendo a opção preferida de artesãos adeptos da reutilização. Dessa forma, o upcycle está cada vez mais presente na moda, na decoração e em outras áreas.
Garfos podem virar ganchos para pendurar casacos, roupas, etc. Foto: frugalligence
A exemplo disso, algumas empresas transformam embalagens em matéria-prima para confeccionar bolsas, mochilas, estojos e cadernos. Alguns artesãos criam armários, mesas e cadeiras, a partir de fita adesiva, CDs e fitas cassetes.

Entre as vantagens do processo estão a substituição do uso de matérias-primas ‘virgens’ na criação de novos produtos e a diminuição de lixo no aterro sanitário e nas ruas.
Mas, e a reciclagem?

A reciclagem ainda desempenha papel importante na sociedade. No entanto, quando o resíduo passa pelo processo, perde valor e acaba se tornando uma matéria-prima de segunda mão.

O upcycle vem para inovar os processos de reutilização e reaproveitamento de materiais já desgastados e não para invalidar a reciclagem.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Os direitos da Mãe Terra e sua dignidade, por Leonardo Boff


Leonardo Boff, 18/11/2017

Anteriormente escrevemos sobre os direitos dos animais. Agora cabe discorrer sobre os direitos da Mãe Terra e de sua alta dignidade. O tema é relativamente novo, pois dignidade e direitos eram reservados somente aos seres humanos, portadores de consciência e de inteligência como o fez Kant em sua ética. Predominava ainda a visão antropocêntrica como se nós exclusivamente fôssemos portadores de dignidade. Esquecemos que somos parte de um todo maior. Como dizem renomados cosmólogos, se o espírito está em nós é sinal que ele estava antes no universo do qual somos fruto e parte.

Há uma tradição da mais alta ancetralidade que sempre entendeu a Terra com a Grande Mãe que gerou todos os seres que nela existem. As ciências da Terra e da vida, por via científica, nos confirmaram esta visão. A Terra é um superorganismo vivo, Gaia (Lovelock), que se autoregula para ser sempre apta para manter a vida no planeta.

A própria biosfera é um produto biológico pois se origina da sinergia dos organismos vivos com todos os demais elementos da Terra e do cosmos. Criaram o habitat adequado para a vida, a biosfera. Ela como tal não pre-existia. Foi criada pelo próprio sistema-vida para poder sobreviver e se reproduzir. Portanto, não há apenas vida sobre a Terra. A Terra mesma é viva e como tal possui um valor intrínseco e deve ser respeitada e cuidada como todo ser vivo. Este é um dos títulos de sua dignidade e a base real de seu direito de existir e de ser respeitada.

Os astronautas nos deixaram este legado: vista de fora, Terra e Humanidade fundam uma única entidade; não podem ser separadas. A Terra é um momento da evolução do cosmos; a vida é um momento da evolução da Terra; e a vida humana, um momento da evolução da vida. Por isso podemos, com razão dizer, o ser humano é aquela porção da Terra em que ela começou a tomar consciência, a sentir, a pensar e a amar. Somos sua porção consciente e inteligente.

Se os seres humanos possuem dignidade e direitos, como é consenso dos povos, e se Terra e seres humanos constituem uma unidade indivisível, então podemos dizer que a Terra participa da dignidade e dos direitos dos seres humanos e vice-versa.

Por isso, não pode sofrer sistemática agressão, exploração e depredação por um projeto de civilização que apenas a vê como algo sem inteligência e por isso a trata sem qualquer respeito, negando-lhe valor intrínseco em função da acumulação de bens materiais.

É uma ofensa à sua dignidade e uma violação de seus direitos de poder continuar íntegra, limpa e com capacidade de reprodução e de regeneração. Por isso, está em discussão um projeto na ONU de um Tribunal da Terra que pune quem viola sua dignidade, desfloresta e contamina seus oceanos e destrói seus ecossistemas, vitais para a manutenção dos climas e do ciclo da vida.

Por fim, há um último argumento que se deriva de uma visão quântica da realidade. Esta constata, seguindo Einstein, Bohr e Heisenberg, que tudo, no fundo, é energia em distintos graus de densidade. A própria matéria é energia altamente interativa. A matéria, desde os hádrions e os topquarks, não possui apenas massa e energia. Todos os seres são portadores também de informação, fruto da interação entre eles,

Cada ser se relaciona com os outros do seu jeito de tal forma que se pode falar que surge níveis de subjetividade e de história. A Terra na sua longa história de 4.500 milhões de anos guarda esta memória ancestral de sua trajetória evolucionária. Ela tem sujetividade e história. Logicamente ela é diferente da subjetividade e da história humana. Mas a diferença não é de princípio (todos estão conectados entre si) mas de grau (cada um à sua maneira).

Uma razão a mais para entender, com os dados da ciência cosmológica mais avançada, que a Terra possui dignidade e por isso é portadora de direitos, o que corresponde de nossa parte, deveres de cuidá-la, amá-la e mantê-la saudável para continuar a nos gerar e nos oferecer os bens e serviços que nos presta.

Essa é uma das mensagens centrais da encíclica do Papa Francisco “sobre o cuidado da Casa Comum”(2015). Na mesma linha vai a Carta da Terra, um dos documentos axiais da nova visão da realidade (2000) e dos valores que importa assumir para garantir sua vitalidade. O sonho coletivo que propõe não é o “desenvolvimento sustentável”, fruto da economia política dominante, anti-ecológica. Mas “um modo de vida sustentável” que resulta do cuidado para com a vida e com a Terra. Este sonho supõe entender “a humanidade como parte de um vasto universo em evolução” e a “Terra como nosso lar e viva”; implica também “viver o espírito de parentesco com toda a vida”, “com reverência o mistério da existência, com gratidão, o dom da vida e com humildade, nosso lugar na natureza”(Preâmbulo).

A Carta da Terra propõe uma ética do cuidado que utiliza racionalmente os bens escassos para não prejudicar o capital natural nem as gerações futuras; elas também têm direito a um Planeta sustentável e com boa qualidade de vida. Isso somente ocorrerá se respeitarmos a dignidade da Terra e os direitos que ela tem de ser cuidada e guardada para todos os seres, também os futuros.

Agora pode começar o tempo de uma biocivilização, na qual Terra e Humanidade, dignas e com direitos, reconhecem a recíproca pertença, de origem e de destino comum.

Leonardo Boff é articulista do JB on line, eco-teólogo e escritor.

Sem dinheiro, casal constrói casa com pneus velhos e latas de alumínio usadas


Seguindo a linha de Michael Reynolds, arquitecto famoso por utilizar ‘lixo’ para construir casas, um casal Português resolveu colocar a mão na massa e levantar a sua residência a partir de terra, pneus velhos e latas de alumínio. Além de dar nova utilidade para utensílios que iriam para os aterros sanitários, a casa ficou 50% mais barata que o previsto.

Com aproximadamente 9 mil latas e 700 pneus, a casa poupou 70% do cimento necessário para construções civis “normais”. Madeira, portas, janelas e toda a mobília também têm o carácter de upcycle cultivado pelo casal.

O projeto, que nasceu do desejo de baixar os custos, também é contemplado com um telhado verde, painéis solares e cisterna. Assim, espera-se que durante o ano haja oscilação na temperatura interna de, no máximo, 3ºC.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Subscrevam e partilhem a petição para criar Núcleo Museológico no Pejão

As minas do Pejão encerraram no último dia do ano de 1994. Desde então o seu património tem estado a degradar-se.
Petição MINAS do PEJÃO - Resgate da Memória
Subscrevam a petição neste link. Assinem e partilhem 

Em menos de uma semana uma petição para que seja criado um núcleo museológico das Minas do Pejão atraiu o apoio de centenas de cidadãos – até às 16h desta quarta-feira mais de 860 pessoas tinham já assinado o documento lançado pelo MIRA FORUM, no Porto. São precisas quatro mil assinaturas para que o documento seja apreciado no plenário da Assembleia da República.

A ideia surgiu durante a preparação da montagem da exposição Carvão de Aço, do fotojornalista do PÚBLICO Adriano Miranda. Foi nas conversas em torno das imagens captadas há mais de 25 anos nas Minas do Pejão que Manuela Matos Monteiro tomou consciência do património material e imaterial que estava a desaparecer aos poucos.

A petição lançada na noite de 13 de Fevereiro é dirigida ao Presidente da República, ao presidente da Assembleia da República e ao primeiro-ministro apelando-se a que as Minas do Pejão cheguem ao Parlamento, permitindo que “o assunto seja analisado e debatido no sentido da constituição de um núcleo museológico e que sejam encontradas soluções de modo a combinar-se a memória do lugar e da actividade mineira com o inegável interesse turístico para a região”.

No texto recorda-se que as minas, geridas pela Empresa Carbonífera do Douro, estiveram em actividade durante 77 anos, até encerrarem em 1994, e que o seu “precioso” património material sofre de “uma progressiva degradação”. Além disso, refere-se no mesmo documento, “há todo um património imaterial – as experiências e vivências dos mineiros, testemunhos únicos e irrepetíveis que é preciso registar”. Os peticionários, com Manuela Matos Monteiro, do MIRA, como primeira signatária, avisam que “o desaparecimento destes protagonistas [os mineiros] implica o desaparecimento deste património”.

A exposição Carvão de Aço no MIRA, em Campanhã, inicialmente prevista até 24 de Fevereiro, vai ser prolongada até 21 de Abril e até essa data será possível subscrever a petição, também disponível na internet. Manuela Matos Monteiro diz que não sabe se o documento irá alcançar as quatro mil assinaturas que permitem o agendamento do tema para o plenário da Assembleia da República, mas diz que parte do que o MIRA pretendia alcançar, já está feito.

“O tema não é fácil, mas por isso também quisemos avançar com isto. É uma forma de consciencialização, um trabalho de pedagogia e já temos um ganho fundamental: os mineiros perceberem que se está a dar importância à vida deles”, diz. Contudo, nota, os signatários querem "mais" e estão já em conversações com outras entidades ligadas à preservação do património mineiro para "mostrar que é possível" fazer o que pedem.

Fontes: Publico e Mira Forum

domingo, 18 de fevereiro de 2018

Em 1971, o filósofo Lanza del Vasto conversou com dois jovens de Quebec


Pontos abordados: O papel dos jovens na invenção de novas formas de expressão de antigos valores humanos. Sua própria experiência de pesquisa. O lugar da tecnologia na libertação do homem e o significado do regresso à vida simples. A prática e o significado da não violência na civilização atual.

Poema- Reiner Maria Reike

Parque Nacional Peneda-Gerês

“Se nos rendêssemos à inteligência da Terra poderíamos erguer-nos enraizados, como árvores”~ Rainer Maria Rilke.

"If we surrendered to Earth's intelligence, we would rise up rooted, like trees."~ Rainer Maria Rilke.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Poema da Semana - Poema del Ábol, por Antonio Machado

"As árvores só falam para nós se tivermos a lucidez para as escutar" - João Soares

Paul Cezanne- Large Pine and Red Earth.c.1896 

Árbol, buen árbol, que tras la borrasca
te erguiste en desnudez y desaliento,
sobre una gran alfombra de hojarasca
que removía indiferente el viento...


Hoy he visto en tus ramas la primera
hoja verde, mojada de rocío,
como un regalo de la primavera,
buen árbol del estío.


Y en esa verde punta
que está brotando en ti de no sé dónde,
hay algo que en silencio me pregunta
o silenciosamente me responde.


Sí, buen árbol; ya he visto como truecas
el fango en flor, y sé lo que me dices;
ya sé que con tus propias hojas secas
se han nutrido de nuevo tus raíces.

Y así también un día,
este amor que murió calladamente,
renacerá de mi melancolía
en otro amor, igual y diferente.

No; tu augurio risueño,
tu instinto vegetal no se equivoca:
Soñaré en otra almohada el mismo sueño,
y daré el mismo beso en otra boca.

Y, en cordial semejanza,
buen árbol, quizá pronto te recuerde,
cuando brote en mi vida una esperanza
que se parezca un poco a tu hoja verde...

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Não force nunca, por Agostinho da Silva


George Agostinho Baptista da Silva (Porto, 13 de Fevereiro de 1906 — Lisboa, 3 de Abril de 1994) foi um filósofo, poeta e ensaísta português. O seu pensamento combina elementos de panteísmo, milenarismo e ética da renúncia, afirmando a Liberdade como a mais importante qualidade do ser humano. Agostinho da Silva pode ser considerado um filósofo prático empenhado, através da sua vida e obra, na mudança da sociedade.

Recomendo vivamente este documentário do João Rodrigo, neto do professor Agostinho da Silva.
Mais informações, biografia, obras publicadas e sites encontram-se nesta postagem de 2010.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Sem lentidão não há paladar. (...) por José Tolentino Mendonça

Foto de autor- Ruta da Samieira, Galiza


"Sem lentidão não há paladar. (...) Os nossos estilos de vida parecem irremediavelmente contaminados por uma pressão que não dominamos; não há tempo a perder; queremos alcançar as metas o mais rapidamente que formos capazes; os processos desgastam-nos, as perguntas atrasam-nos, os sentimentos são um puro desperdício: dizem-nos que temos de valorizar resultados, apenas resultados. À conta disso, os ritmos de actividade tornam-se impiedosamente antinaturais." ~ José Tolentino Mendonça in "A mística do instante"

domingo, 11 de fevereiro de 2018

Documentário: "Semente- a História por Contar" (Seed - The Untold Story)

"Semente- a História por Contar" (Seed The Untold Story). 


PT
No documentário, "Seeds - History Untold", é desvendado que as sementes tiveram um papel fundamental na história da alimentação e que a sua protecção é fulcral para o futuro da sobrevivência humana. Vitais desde o início da Humanidade, este documentário menciona o papel daqueles que protegeram este legado alimentar e cultivaram-no em terrenos férteis desde o início da história da agricultura. No século passado, entre 70 a 90% das variedades de sementes desapareceram, não esquecendo a grande maioria, ainda não descoberta pelo Homem devido à perda de habitats. Hoje, à medida que as empresas de biotecnologia controlam a maioria das sementes, agricultores e cientistas, travam uma luta para defender parte do futuro da alimentação humana.
Poucas coisas na Terra são tão milagrosas e vitais como as sementes. Elas são tesouros, e adoradas desde o início da humanidade. 'Semente: A História por Contar', segue guardiões de sementes apaixonados que protegem nosso legado alimentar de 12 mil anos. Como a maioria das empresas químicas de biotecnologia hoje tentam controlar a maior parte das nossas sementes, fazendeiros, cientistas, advogados e guardiões de sementes indígenas travam uma batalha entre David e Golias para defender o futuro da nossa comida. Numa história angustiante e encorajadora, esses heróis relutantes reacendem uma conexão perdida com nosso recurso mais precioso e resgatam toda uma cultura ligada à semente.

EN
A film about the importance of heirloom seeds to the agriculture of the world, focusing on seed keepers and activists from around the world. 

Realizado por Raon Betz (co-director) e Taggart Siegel (co-director). 2016
Entre muitos conta com testemunhos de Vandana Shiva, Andrew Kimbrelle e Jane Goodall


quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Em 1989, o perigo era o McDonald's. Agora é a Amazon


"Essa ideia de a Amazon de entregar comida com drones vai acabar com todos os pequenos negócios. É um desastre!" É o que pensa o jornalista italiano Carlo Petrini, fundador do Slow Food, um movimento que luta para impedir o desaparecimento das tradições e das culturas alimentares locais. Ele conversou com a NEGÓCIOS durante o "FRUTO - Diálogos do Alimento", evento realizado em São Paulo pelos chefs Alex Atala e Felipe Ribenboim, com a chancela do Instituto ATÁ.

O movimento nasceu após uma manifestação contra a construção de um McDonald’s na praça Piazza di Spagna, no coração de Roma. Para Petrini, a nova estratégia da Amazon é uma grande ameaça aos produtores, comércios e turismo das pequenas cidades. "Se não existirem mais os pequenos negócios, essas cidades vão se transformar em dormitórios. Não terão mais nenhum atrativo, nada típico. Será um desastre."

O que levou o senhor a criar o Slow Food?
O Slow Food nasceu em 1989 como reação contra o fast-food, em defesa da biodiversidade e da cozinha. Essa é a filosofia: um movimento pela cultura da alimentação e também pelos direitos dos pequenos camponeses e pescadores. Com o passar dos anos, o movimento se concentrou particularmente na biodiversidade e se espalhou por 160 países. Essa rede trabalha por uma comida boa, limpa e justa. Boa pela qualidade e o prazer da alimentação. Limpa porque o meio ambiente é muito importante. E justa porque os direitos do trabalhador no campo também são importantes.

Qual o papel desse movimento nos dias de hoje?
O mais importante, neste momento, é a criação de alianças, porque o poder do setor de alimentação se concentra em poucas mãos. Há multinacionais que têm propriedade de sementes, médicos e fertilizantes. Essa concentração [de poder] é uma loucura, um desastre. Todas essas organizações trabalham apenas pelo seu próprio objetivo. O momento é de construir alianças verdadeiras. Não somos uma ONG. Não somos uma agência. Não somos uma indústria. Precisamos criar alianças com o chef, com a indústria, com toda a gente e movimentos que lutam contra esse tipo de alimentação.

O senhor se envolveu em uma batalha contra o McDonald's quando a rede queria instalar uma lanchonete no centro histórico de Roma. Como é enfrentar essas grandes empresas?
Isso foi no início. Neste momento, o McDonald's não é o grande problema. Mas sim a Amazon, que é uma empresa que não produz nada, funciona apenas como uma máquina que move capital. Precisamos reconstruir uma relação direta entre os cidadãos e os produtores. O cidadão não é passivo, ele quer ser coprodutor e precisa de informação. Precisamos saber a proveniência da matéria-prima, como são produzidos e como se transformam. Comer é um ato agrícola. Se eu como alimentos feitos com produção de sementes geneticamente modificadas, vou favorecer esse tipo de agricultura. Se eu como alimentos de uma agricultura local, que respeita o meio ambiente, ajudo esse tipo de agricultura.

Cada vez mais vemos pessoas buscando alimentos orgânicos. Isso é uma tendência mundial? 
A prática orgânica é uma boa prática. Mas antes de orgânica, tem de ser local. Tem muita gente que compra alimentos orgânicos de outros continentes. Isso não é sustentável. Prefira o local, depois o orgânico. Aqui em São Paulo há uma região com agricultura muito próxima, muito ética. Precisamos incentivar isso — ajudar esses camponeses.

Quando o senhor cita produção local, refere-se apenas aos pequenos agricultores ou acredita também que as pessoas deveriam produzir seus próprios alimentos em casa?
Isso é outra coisa. É uma prática muito positiva. Eu creio que muitos restaurantes precisarão ter sua própria horta. Se um restaurante não puder ter uma horta sozinho, diferentes restaurantes vão ter uma horta juntos. A produção direta é uma forma de resiliência. É contra o sistema. Os cidadãos também podem fazer isso. Produzir uma horta é um ato revolucionário. Você come o que você produz, tem um contato direto com a mãe terra e com a natureza. Isso é importante também para quem vive em uma metrópole. Há prédios com hortas orgânicas fantásticas. É preciso reconstruir o contato direto com a horta.

Temos exemplos de startups que estão trazendo hortas para as grandes cidades. Qual a importância dessas empresas que pensam no lucro, mas também tem um propósito como esse?
A tendência é positiva. Mas é preciso saber quem é o dono dessas empresas. É uma cooperativa? São cidadãos juntos? Depende também do que o dono dessa empresa pensa.

Mas é possível pensar tanto no lucro quanto no benefício das pessoas?
Eu creio que sim. Um equilíbrio lucrativo e ético pode existir. Só lucrativo ou só ético, não. É preciso ter um equilíbrio. Isso se trata de alianças e respeito. Se há uma empresa que quer produzir com respeito à natureza e com contato direto com o cidadão, isso é possível.

Existem muitas iniciativas desse tipo sendo realizadas na Itália?
Não só na Itália, mas no mundo. O Slow Food vai fazer 10 mil hortas na África. Isso é fantástico, pois cada horta vai proporcionar comida para 1,2 mil estudantes ou pequenos vilarejos. A África é o continente mais violentado por empresas estrangeiras. Construir uma horta para 1,2 mil estudantes ou pequenos vilarejos lá é muito positivo.

Desde que o senhor fundou o movimento em 1989, o que mudou? Estamos falando mais sobre alimentação?
Mudou totalmente a situação por três razões que em 1989 não existiam. A política é um desastre em todo o mundo. O poder em poucas mãos é uma realidade, como no caso da Monsanto, Cargill, Nestlé, Syngenta. O terceiro, é essa ideia da Amazon de entregar comida com drones. Isso vai acabar com todas as pequenas lojas. É um desastre! Em 1989, o perigo era o McDonald's. Agora é a Amazon. Por isso, precisamos de alianças. Separados não podemos ganhar.

O senhor acha que, com esse cenário, os pequenos negócios vão desaparecer?
Acho que sim. As pessoas precisam de amizade, de relacionamento social. Quando o Slow Food nasceu, muita gente dizia que não seria possível defender a diversidade, agora isso se realizou. Penso que é mais importante o fenômeno de resiliência. Se não existirem mais os pequenos negócios nas pequenas cidades, essas cidades vão ser apenas lugares para dormir. Não terão mais nenhum atrativo, nada típico. Isso será um desastre.

O que você acha de leis que proíbem usar o nome de um produto fora da região em que é produzido. Isso é benéfico?
É benéfico, porque valoriza o território. O queijo tem seu nome por sua qualidade e por seu território. Estamos em um país onde a qualidade dos pequenos produtores artesanais de queijo não é respeitada. Se um produtor de Minas Gerais vai vender fora do seu estado, não é permitido. É considerado clandestino. Há alguns meses, uma importante cozinheira que se chama Roberta Sudbrack teve queijos e linguiças apreendidos e destruídos [durante o Rock In Rio]. Ela pediu para não destruir, pois poderia doar aqueles alimentos. Mas não permitiram e jogaram fora toda a comida. Isso não é só violência, é crime. Um crime permitido pela lei. Nenhum político tem sabedoria sobre alimentação, nenhum!

Os restaurantes por aqui também enfrentam dificuldades para doar a comida que sobra ao fim do dia, por questões de leis relacionadas à segurança alimentar. O que o senhor acha disso?
Mas a Nestlé vai vender no Amazonas com barco para os pobres. Para a Nestlé, tudo é permitido. Para os chefs brasileiros, não. É sanitário. A Nestlé vende comida, muita comida que gera obesidade. Essa é a realidade. Precisamos defender os humildes, os pequenos produtores, os chefs que trabalham bem, a aliança entre o grande chef e os pequenos produtores. Essa é a nova revolução de verdade.

O prefeito de São Paulo tentou implementar um programa que iria distribuir em escolas um granulado alimentar feito com produtos próximos ao vencimento. O que o senhor pensa sobre isso? 
Por favor. Eu pergunto a você: o prefeito come a farinata?
Acredito que não.
E por que os pobres tem de comer a farinata? Os pobres tem o mesmo direito do prefeito. Um pobre não precisa de farinata por ser pobre. Todas as pessoas têm direito a uma boa alimentação. Não é justo: ao mesmo tempo em que temos a farinata, temos uma tonelada de comida boa destruída no Rio de Janeiro. Essa é a realidade.