terça-feira, 8 de abril de 2025

Financiamento da conservação: É preciso “abrir os cordões à bolsa” para salvar a vida na Terra


Fazer as pazes com a natureza é a tarefa que determinará o século XXI”. Estas palavras foram proferidas por António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas, na abertura da cimeira global da biodiversidade (COP16), que decorreu no final de outubro, na Colômbia.

Um dos principais assuntos na agenda do encontro era o financiamento para a conservação, ou seja, impulsionar as contribuições financeiras dos Estados signatários da Convenção da Diversidade Biológica para ser possível cumprir as metas definidas pelo Acordo de Kunming-Montreal, que saiu da cimeira de 2022 e que tem como objetivo travar e reverter a perda de biodiversidade até 2030.

Em suma, pretende-se cessar a guerra humana contra a Natureza, um empreendimento urgente e de proporções dantescas, dada a história das relações da nossa espécie com o mundo natural. Um dos principais pilares do acordo é, claro, o financiamento. Sem dinheiro, pouco ou nada se conseguirá fazer. E as estimativas apontam que sejam precisos, pelo menos, 200 mil milhões de dólares por ano para os objetivos serem cumpridos.

Mas entre as palavras e a ação há todo um mundo de possibilidades. Na mais recente COP, os países juntaram-se em Cali para concretizar progressos, mas assistiu-se, ao invés, à falta de acordo entre as delegações dos vários Estados sobre como prosseguir no que toca ao financiamento da conservação. No dia 2 de novembro de 2024, já depois de a data oficial de encerramento da cimeira ter passado e de as negociações entre os países se terem arrastado durante quase meio-dia sem avanços significativos, a COP foi suspensa, sem que se tivesse chegado a qualquer acordo sobre como os Estados vão conseguir mobilizar o financiamento para tirar o Acordo de Kunming-Montreal do papel.

A Colômbia, país anfitrião da cimeira, decidiu suspender os trabalhos na manhã do dia 2 por não haver na sala delegações suficientes que permitissem adotar um acordo sobre o financiamento. A continuação das discussões foi adiada, ainda sem data e local definidos.

O fim abrupto da cimeira foi visto por alguns observadores como sinal do fracasso do encontro, apesar de alguns avanços relevantes noutras áreas, como, por exemplo, a criação do Fundo Cali para a partilha “justa e equitativa” de recursos económicos provenientes do uso de informação genética digital sobre a biodiversidade, um novo impulso para a proteção dos ecossistemas marinhos e o reconhecimento do papel central dos povos indígenas e comunidades locais na conservação da Natureza. Contudo, o principal, a questão do financiamento, ficou por decidir

A importância do setor privado

Em traços largos, o financiamento para a conservação é a mobilização e gestão de capital, não apenas público, mas de uma ampla variedade de fontes, para proteger e, em alguns casos, recuperar a biodiversidade.

Num artigo publicado em março de 2023 na revista Journal of Environmental Management, investigadores de Itália recordavam que os recursos alocados à biodiversidade nunca foram avultados e que “a maioria das áreas mais biodiversas do mundo estão em lugares ameaçados pela pobreza, corrupção, grande extração de recursos e desenvolvimento generalizado”, tudo fatores que põem em risco a biodiversidade.

Conseguir maior financiamento passa, por exemplo, por canalizar os apoios e subsídios considerados prejudiciais à Natureza (tais como para os combustíveis fósseis e atividades extrativas intensivas) para ações e estratégias que visem a sua proteção e conservação. Por isso, o dinheiro não pode apenas vir dos Estados, mas deve também ser mobilizado no setor privado, algo já reconhecido no Acordo de Kunming-Montreal, no qual os Estados signatários destacavam a importância de “encorajar o setor privado a investir na biodiversidade”.

Helena Freitas, Professora Catedrática da Universidade de Coimbra e um dos grandes nomes da Ecologia portuguesa, conta-nos, em entrevista, que nenhum país, Portugal incluído, será capaz de “enfrentar os desafios da conservação sem o envolvimento ativo do setor privado”.

Para a ecóloga, “a magnitude dessas questões ultrapassa a capacidade de ação exclusiva dos Estados” e “as parcerias público-privadas, consagradas na Agenda 2030 e no tratado da Kunming-Montreal, devem ser mais eficazes para acelerar a implementação de soluções que sejam tanto adequadas quanto justas”. Assim, aliar a capacidade de financiamento dos setores público e privado “permite mobilizar recursos, conhecimento e inovação de forma mais ágil e integrada, garantindo um impacto mais robusto na conservação e sustentabilidade”, sentencia.

A conservação da Natureza em Portugal

Tal como acontece um pouco por todo o mundo, o financiamento da conservação em Portugal tem também as suas fragilidades. Helena Freitas destaca que “o período mais positivo para a conservação da natureza” em Portugal “foi no essencial concluído no século passado”, resultando na criação de áreas protegidas e na concretização da Rede Natura 2000. Contudo, desde então, “o desinvestimento na conservação em Portugal tem sido notório”.

Para a docente universitária, nos últimos 20 anos tem-se tornado “evidente” uma falta de capacidade no país para “gerir as exigências emergentes”, a par de uma “escassez de recursos humanos nos territórios e a perda de capacidade técnica para planear e responder a solicitações, que se tornaram cada vez mais complexas e diversificadas”.

A ecóloga aponta que esses fatores têm “limitado a eficácia das políticas de conservação e a gestão sustentável dos ecossistemas” no país, recordando que, na última década, as prioridades têm recaído sobre a “prevenção e, sobretudo, combate aos incêndios florestais, menosprezando claramente a conservação da natureza”.

No passado mês de agosto, entrou em vigor a Lei do Restauro da Natureza, um instrumento legislativo no âmbito da União Europeia, que vai além da conservação e destaca a reversão dos danos causados. Essa lei define que os Estados-membros têm até 2030 para proteger legalmente, no mínimo, 20% de habitats terrestres e marinhos, e que até 2050 medidas de restauro devem estar a ser aplicadas em todos os ecossistemas que precisem de ser recuperados.

Claro que nada disto será possível sem o financiamento adequado. O atual Governo de coligação PSD/CDS-PP, liderado por Luís Montenegro, assumiu, no seu programa eleitoral, que “a perda de biodiversidade é um sério problema, pelo que devem ser criadas condições para um efetivo restauro ecológico de áreas degradadas”. Em junho, o Executivo votou a favor da Lei do Restauro e quatro meses depois anunciou a criação de um grupo de trabalho para criar o Plano Nacional de Restauro da Natureza, para concretizar as metas europeias e do Acordo de Kunming-Montreal.

Helena Freitas considera que “a Ministra do Ambiente [Maria da Graça Carvalho] assumiu com coragem a Lei de Restauro da Natureza”, esperando–se “uma rápida elaboração de um plano nacional que apoiará a respetiva implementação”. No entanto, não deixou de expressar algumas dúvidas sobre a efetiva concretização dos compromissos, uma vez que “a prática de baixo investimento que se instalou deixa-me pouco confiante na mudança de trajetória”, confessa a ecóloga, reconhecendo que teremos de esperar para ver.

Em Portugal, o financiamento da conservação da biodiversidade tem  padecido de “inconsistência e imprevisibilidade a longo-prazo”, destaca, acrescentando que projetos de conservação têm tido dificuldade em gerar resultados e impactos significativos, sustentáveis e duradouros porque acabam por ficar dependentes de “financiamento a curto-prazo”.

Para Helena Freitas, “a fragmentação das fontes de financiamento, sem uma coordenação eficaz entre fundos nacionais, europeus e internacionais, também leva à duplicação de esforços ou ao esquecimento de áreas prioritárias”.

A par disso, outro problema é identificado: a falta de valorização dos serviços de ecossistema, ou seja, dos benefícios que o mundo natural nos possibilita a custo zero, como, por exemplo, a polinização natural, entre muitos outros. A docente universitária acredita que por não serem quantificados, acaba por não ser possível mobilizar recursos para a proteção desses serviços, que são “essenciais para o bem-estar humano e para a economia”.

Além disso, apesar da importância que lhe é reconhecida na conservação, o envolvimento do setor privado nessa arena tem sido “limitado”, o que para Helena Freitas representa “uma oportunidade desperdiçada, dado o crescente interesse na responsabilidade social corporativa”.

Então, o que fazer? A ecóloga avança-nos algumas propostas: “é fundamental garantir um financiamento de longo-prazo, com mecanismos que assegurem a continuidade dos projetos”, “é necessário integrar a valorização dos serviços dos ecossistemas nas políticas públicas e incentivar o setor privado a colaborar mais ativamente” e “melhorar a coordenação intersectorial, implementando uma abordagem integrada que alinhe os interesses de vários setores (agricultura, turismo, urbanismo, etc.) com os objetivos de conservação”.

No campo das soluções, o grupo de reflexão português NaturaConnect.PT, coordenado pelo investigador Miguel Bastos Araújo, apresentou, em setembro último, uma série de propostas para ajudar Portugal a cumprir os compromissos internacionais assumidos no que toca à conservação da biodiversidade.

Entre as medidas propostas estão a revisão dos subsídios públicos que prejudicam a biodiversidade, o restauro das funções e processos naturais dos ecossistemas, a alavancagem de fundos europeus para a conservação e restauro e o reforço de fundos públicos para aquisição e gestão de propriedades em terrenos classificados. O documento sugere ainda a aplicação dos princípios de poluidor-pagador e utilizador-pagador, a aplicação dos fundos obtidos por essa via para financiar programas de protetores-recebedores, a criação de um mercado de créditos de biodiversidade, um maior investimento público na marca NATURAL.PT que promove a visitação de áreas protegidas e valoriza os produtos artesanais nelas produzidos, e equiparar os donativos para fins ambientais aos que se destinam a causas sociais.

O grupo NaturaConnect.PT considera que só com estes esforços e transformações Portugal conseguirá atingir as metas de conservação e restauro da biodiversidade com as quais se comprometeu, com Miguel Bastos Araújo a destacar que “tendo em conta a matriz territorial portuguesa, com cerca de 97% de propriedade privada, qualquer intervenção no sentido de promover a conservação da biodiversidade requer a identificação de soluções articuladas e suportadas por financiamentos públicos e privados, que impliquem compromissos de longo prazo”.

Os choques entre a Ciência e a Política

É frequente ouvirmos numa variedade de discursos públicos sobre Ambiente e Natureza, desde logo proferidos por políticos, que a Ciência é fundamental para informar os esforços de conservação da biodiversidade. No entanto, nem sempre os interesses políticos e os factos científicos se alinham uns com os outros.

Ainda que “os cientistas sejam frequentemente consultados, nem sempre as suas recomendações são totalmente integradas nas decisões e políticas finais”, reconhece Helena Freitas, de tal forma que acaba por existir “um desfasamento entre o que é sugerido pela ciência e o que é efetivamente implementado”, sobretudo, continua, “quando existem pressões económicas e políticas em jogo”.

O diálogo, ou falta dele por vezes, entre Política e Ciência está repleto de fricções e colisões, especialmente quando as medidas e ações propostas pelos cientistas são vistas como “inconvenientes ou contrárias aos interesses de curto-prazo de determinados grupos de interesse ou dos próprios decisores políticos, que muitas vezes enfrentam restrições orçamentais e preferem soluções menos dispendiosas”, diz a docente da Universidade de Coimbra.

Por isso, “o financiamento e a prioridade das medidas científicas propostas podem ser diminuídos ou adiados, comprometendo a eficácia das políticas de conservação em Portugal”, pelo que seria relevante criar “mecanismos ou plataformas formais que garantam um diálogo fluido e contínuo entre a comunidade científica e os decisores políticos”, propõe.

Um planeta com cada vez menos diversidade de vida

No passado dia 10 de outubro, o 15.º Relatório Planeta Vivo, elaborado pela organização WWF, veio, uma vez mais, confrontar-nos com a dimensão da perda de biodiversidade. No último meio século, o tamanho médio das populações de animais selvagens a nível mundial diminuiu 73%, considerado um “declínio catastrófico” da vida selvagem na Terra.

O documento alerta que “para garantir um planeta habitável e próspero” é preciso “uma mudança sísmica” para que o financiamento passe a fluir “na direção certa, deixando de prejudicar o planeta e passando a curá-lo”.

Apesar dos esforços e de irmos na 16.ª cimeira global da biodiversidade, a perda de espécies, habitats e ecossistemas continua a progredir com velocidade e intensidade estonteantes. Ainda que reconheça a importância das COP “na criação de acordos multilaterais que visam proteger o planeta”, Helena Freitas não deixa de apontar que “as negociações enfrentam muitas vezes entraves, pois estão condicionadas por interesses económicos e políticos de curto-prazo, especialmente de países mais desenvolvidos”.

Recentemente, um grupo de altas personalidades internacionais, entre elas o ex-Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, pediu uma reforma organizacional das COP das alterações climáticas, cuja estrutura atual consideram não ser capaz de “produzir a mudança a uma velocidade e escala exponenciais”, o que é “essencial” para assegurar o futuro da humanidade num planeta em crise climática. Talvez, da mesma forma, seja preciso refletir sobre a eficácia das cimeiras globais da biodiversidade.

O relatório da WWF avança que as maiores perdas de biodiversidade acontecem na América Latina, nas Caraíbas e em África, regiões onde se concentra parte significativa dessa diversidade biológica global e onde estão países fortemente afetados por grandes desigualdades socioeconómicas e dos mais vulneráveis às crises ambientais. Por essa razão, sociedade civil e cientistas têm apelado a um maior envolvimento e participação do chamado “Sul Global” nos processos de tomada de decisão política relativamente à conservação da biodiversidade.

Ecoando essas reivindicações, Helena Freitas acredita que “uma maior participação do ‘Sul Global’ é absolutamente imperiosa, não só porque estas regiões são as mais afetadas pela perda de biodiversidade e alterações climáticas, mas também porque possuem um vasto conhecimento local e tradicional que pode ser valioso nas negociações”.

Como tal, “uma abordagem mais inclusiva e equitativa, que considere as necessidades e vozes dessas nações, pode ajudar a garantir que os acordos globais sejam mais justos e eficazes, promovendo um caminho de desenvolvimento sustentável e de verdadeira proteção do planeta”, defende a especialista.

Será a Natureza alguma vez uma prioridade política?

Embora acredite que “a sociedade portuguesa está cada vez mais disposta a apoiar a conservação da natureza” e que “há uma atitude, de maneira geral, mais favorável por parte da sociedade e das empresas” em relação a esse tema, e que o reconhecimento dos impactos da inação sobre as vidas e negócios impulsionará “um maior empenho na conservação da biodiversidade”, Helena Freitas sublinha que a conservação da biodiversidade “está longe de constituir uma prioridade política efetiva e transversal”. Isto porque continua a ter de enfrentar “limitações orçamentais, competição com outras prioridades como a economia, a saúde e o emprego, e a pressão de setores como a agricultura, a construção e o turismo, que muitas vezes colidem com os objetivos de conservação”.

Para que se torne uma verdadeira prioridade política, é preciso que vários fatores se conjuguem e reforcem mutuamente, como, por exemplo, “a sensibilização da população e dos decisores políticos para a urgência da crise ecológica e para a relevância da biodiversidade na qualidade de vida e na economia” e “a inclusão de compromissos de conservação nos planos de recuperação económica”, bem como “a implementação de políticas de desenvolvimento sustentável que aliem a conservação ao crescimento económico”.

Mas mesmo isso poderá não ser suficiente. Para mudar o atual estado de coisas, a sociedade civil e a comunidade científica devem continuar a fazer pressão para que a mudança aconteça e para que os decisores políticos assumam compromisso de longo-prazo, porque a Natureza não se rege por ciclos de quatro ou cinco anos.

Uma vez mais, também o financiamento contínuo é crucial para tornar a conservação uma prioridade nacional, além da integração da biodiversidade “nas políticas setoriais de forma mais robusta, de modo a garantir que a preservação dos ecossistemas naturais seja uma parte intrínseca e inexorável do desenvolvimento do país”, salienta Helena Freitas.

Por sua vez, Miguel Bastos Araújo, do grupo NaturaConnect.PT, avisa-nos que “a biodiversidade não é apenas um bem natural a ser preservado, mas também uma componente fundamental do funcionamento dos ecossistemas, ajudando a criar barreiras naturais que minimizam o impacto de calamidades”. Por outras palavras, a biodiversidade é um aliado fundamental num planeta à beira do colapso ecológico e climático do qual não devemos, nem podemos, prescindir ou desvalorizar.

*Artigo originalmente publicado na revista de dezembro de 2024

segunda-feira, 7 de abril de 2025

200 anos de estreia da sinfonia Heroica, de Beethoven


Marco histórico na evolução do género sinfónico, a "Heroica" de Beethoven foi eleita, por centena e meia de maestros, como a melhor sinfonia de todos os tempos, num inquérito realizado pela revista BBC Music Magazine em 2016.
A revolucionária partitura, composta entre 1803 e 1804, causou um enorme choque aquando da estreia, em Viena, e definiu a transição do período clássico para o Romantismo, dela sobressaindo aspetos invulgares para a época, como a longa duração, a intensidade dramática, a profundidade emocional, a variedade expressiva e a inovação estrutural.
É celebre a história de que Beethoven terá riscado, do frontispício da obra, o nome de Napoleão Bonaparte, ao saber que este se tinha autoproclamado Imperador.


Violência, alienação e o império dos ecrãs


No início da semana passada, fomos confrontados com a hedionda notícia da ampla e desenfreada circulação, pelas redes sociais, de imagens de uma jovem de 16 anos a ser, neste país de alegados brandos costumes, na zona de Loures, constrangida e sujeita a abusos sexuais de várias ordens – tendo mesmo a Polícia Judiciária falado de violação agravada – por parte de, pelo menos, três outros jovens, pouco mais velhos do que ela e descritos e apresentados como “influencers”, com muitos milhares de seguidores.

Tendo a jovem apresentado queixa às autoridades alguns dias após os factos, veio a saber-se que, afinal, as referidas imagens já tinham sido visualizadas por milhares de pessoas, sem que uma única delas tivesse tomado a atitude de as denunciar como o miserável e absolutamente inaceitável abuso que são, fosse publicamente, fosse, e ainda menos, às ditas autoridades.

Naturalmente que os factos em causa deverão agora ser devida e cabalmente investigados no âmbito do respectivo processo-crime. Mas, independentemente do que neste se vier a apurar, nomeadamente em termos da referida violação, a verdade é que a sujeição de alguém em inferioridade de número, de capacidade física e de suporte emocional, em estado de nudez, relativamente aos que, em grupo, a colocaram nessa situação, é um acto de todo indigno, repugnante e cobarde. E a sua filmagem, assim como a subsequente e generalizada divulgação das respectivas imagens, é outra absoluta repugnância, que não pode deixar de merecer a nossa mais firme reprovação. Mas a verdade também é que todos aqueles que viram as referidas imagens e, assim, souberam o que se passara e que, ou viraram a cara para o lado, ou, pior ainda, se satisfizeram com aquele degradante espectáculo, não podem, também, deixar de merecer essa mesma veemente reprovação.

Acontece que, já semanas antes, outro “influencer”, perante os seus milhares de seguidores e com a prestimosa ajuda das gargalhadas amigas de um pseudo-entrevistador, se gabara alarvemente da “proeza” – que se veio a apurar ser verídica – de, por vir distraído com o telemóvel, ter atropelado violentamente, numa passadeira, uma mulher, e depois ter fugido apressadamente do local sem prestar assistência à vítima. Entretanto, na manhã do passado domingo, um condutor que circulava a alta velocidade na Estrada Marginal, junto à Praia da Torre, atropelou violentamente três ciclistas (dois dos quais ficaram em estado bastante grave e tiveram de ser internados no hospital) e fugiu do local, sem querer saber do estado das vítimas que causara e sem lhes prestar qualquer auxílio. Na tarde do mesmo dia, um condutor de motociclo atropelou violentamente, na Amadora, junto ao Bairro Casal da Mira, uma criança de 10 anos (que também teve de ser conduzida de urgência ao hospital) e igualmente fugiu do local, sem prestar qualquer assistência à jovem vítima.

Todos estes comportamentos, a comprovarem-se pelos meios e no local adequados – ou seja, no processo-crime respectivo e no julgamento e condenação em Tribunal – constituem crimes de particular gravidade, que denotam não apenas um perturbantemente elevado grau de intencionalidade, como também, e sobretudo, uma estarrecedora frieza ou ausência de sentimentos e de consideração pelo outro. E, sendo devidamente provados, devem ser punidos com a severidade que a natureza e as circunstâncias destes crimes justificam. Sobretudo quando os seus autores, nem na altura dos factos, nem posteriormente, manifestem qualquer espécie de espontâneo arrependimento ou remorso pela barbaridade que praticaram. E sobretudo quando, segundo as estatísticas da própria PSP, nos últimos dois anos, 22% dos condutores envolvidos em acidentes mortais ou com feridos graves fugiram do local! 

Mas tão importante como essa reprovação jurídico-penal tem de ser também o juízo ético, firmemente crítico, e a afirmação da inaceitabilidade social deste tipo de comportamentos, pois que quem assim actua está a levar à sua expressão máxima os sentimentos mais negativos e mais baixos, bem como uma completa ausência de valores e de princípios. Tudo isto numa postura que, como bem sabemos, já vimos, e por diversas vezes, ser adoptada na própria atividade política, tal como sucedeu quando conhecidos nazis comentaram publicamente que a prostituição forçada e colectiva, “tipo arrastão”, era o destino adequado para as mulheres de esquerda, ou quando outros, estejam eles no Parlamento ou numa claque de futebol, se permitem apelidar de “vacas” as deputadas de outras forças políticas ou dirigir ruídos como mugidos ou gritos de macacos aos seus adversários… E é precisamente por isso que a nossa atenção e reflexão têm de ir bem mais longe do que a (nestes casos, mais que merecida) condenação penal, a qual estará, porém, sempre no “fim da linha”. Sob pena de estarmos, afinal, e de forma cada vez menos eficaz, a querer tratar dos problemas da podridão das águas de um rio na sua foz e não na sua nascente.

Assim, e antes de mais, há todo um debate político e ideológico a travar acerca do ideário próprio do capitalismo, em particular na sua fase actual (a do capital financeiro e imperialista), que assenta desde logo no desprezo pelo colectivo e pelo comunitário e na contínua pregação do individualismo, ou seja, da ilusão de que será por soluções individuais (como as dos discursos e técnicas ditas motivacionais…) que a grande maioria dos membros das sociedades actuais conseguirá sair da vida miserável que leva e resolver os seus problemas essenciais: de emprego, de subsistência, de habitação, de saúde e de educação dos filhos, etc. Temos assim, e coerentemente, o uso “científico” do medo e a permanente inculcação da ideia de que “o outro” (o diferente, o deficiente, o velho, o cigano, o negro, o estrangeiro, o muçulmano, o colega de carteira ou de empresa) é um adversário, e mais do que isso, um inimigo, que nos prejudica e ameaça, e que por isso importa eliminar, seja de que forma for.

O dinheiro, o poder ou o sucesso são então apresentados como os objectivos a alcançar, seja a que custo for. E, obviamente, a lógica maquiavélica – desenvolvida e teorizada por todas as organizações e sociedades ditatoriais – de que os fins justificam os meios, por mais ilegítimos, indignos ou brutais que eles sejam, e de que vale tudo para atingir tais fins e alcançar tais objectivos, transformou-se nos valores e princípios permanentemente divulgados, praticados e instruídos por toda a sociedade nas fábricas e empresas, nas escolas, na administração e também nas próprias famílias.

As maravilhosas inovações tecnológicas, em particular as da era digital, em vez de servirem para, aumentando exponencialmente a produtividade do trabalho humano, aliviar a nossa relação com este, diminuir as pesadíssimas cargas e ritmos de actividade, dar emprego a mais pessoas e propiciar a realização pessoal e social de quem trabalha, de quem estuda e de quem já trabalhou uma vida inteira, foram, afinal, expropriadas por uma pequeníssima minoria (os 1% da população mundial que arrecada mais de 50% de toda a riqueza) e transformadas num instrumento privilegiado  de aumento dos tempos e ritmos de trabalho, de precarização e proletarização dos trabalhadores mais qualificados, e de repartição do seu saber por tarefas decompostas e simplificadas, a cargo de trabalhadores mais precários e até de máquinas, com a imposição de um crescente “taylorismo digital” e de uma absoluta desumanização das relações sociais de trabalho.

E é assim que a reivindicação histórica das 8 horas máximas de trabalho por dia, pela qual, no século XIX, tanto sangue, suor e lágrimas derramaram os trabalhadores de então, volta a ter, num número crescente de sectores e de países, um carácter absolutamente revolucionário. Pois, entretanto, em nome da “flexibilidade”, do “combate à crise” (seja ela qual for) e da necessidade de se salvarem as empresas, ou seja, os lucros dos seus donos, se generalizou a lógica e a prática de jornadas de 10, 12, 14 e até mais horas de trabalho, com ritmos cada vez mais infernais. Ou no mesmo emprego, ou até em dois, que quem trabalha é obrigado a arranjar para, devido à exiguidade dos salários, conseguir sobreviver.

O resultado desta forma de organização social é a propositada criação de uma multidão de autênticos “zombies”, absolutamente esgotados por exigentes, extenuantes e abusivas jornadas de trabalho e enormes tempos de deslocação entre o trabalho e as respectivas casas, cada vez mais longínquas e precárias devido aos preços da habitação, sem capacidade reivindicativa ou de organização, sem tempo para se cultivarem, se dedicarem ao desporto, ao teatro, à música ou à actividade cívica. E, claro, sem tempo nem disposição para dar a atenção que os filhos querem e de que precisam como pão para a boca.

A imposição duma sociedade injusta como esta resulta na anestesia e o “acarneiramento” das populações. E isso implica que o espírito crítico, a capacidade de raciocínio, o gosto pelo conhecimento, o desenvolvimento das chamadas funções cognitivas superiores, as leituras, a reflexão, tudo isso seja desvalorizado e banido, sendo, afinal, substituído pelo “deus Mulloch” do lucro e da busca incessante pelo seu máximo.

E é por isso que, para completar este mesmo “edifício social”, surge o desprezo pelo livro, pela escrita, pela aprendizagem da língua, sendo tudo isso substituído pelo reinado dos ecrãs, onde o usuário do telemóvel ou do iPad tem o pouco esforço e a facilidade de consumir, acrítica e passivamente, (apenas) aquilo que os algoritmos para tal programados lhes servem. E onde praticamente tudo é reduzido à lógica binária do “0” e do “1”, a uma linguagem e a um vocabulário de uma pobreza aterradora, ultra-simplificados, que entorpecem o raciocínio, condicionam e impossibilitam a formação do espírito e, logo, o próprio desenvolvimento humano.

Nada disto sucede por acaso ou pela simples inépcia de alguns. É que, na organização social do capitalismo, não há, para quem trabalha, tempo nem lugar para a cultura, para as artes, para o Centro de Convívio ou para a Sociedade Recreativa e Cultural (cada vez mais condenados à asfixia e ao encerramento); como não há tempo nem espaço para o são convívio humano, para o exercício da cidadania e da solidariedade social, para a prática das actividades em que nos realizamos, sejam elas a cultura, a investigação, o desporto ou a música, por exemplo, ou até o simples lazer.

Imperam ainda os grandes órgãos de comunicação de massa, encarregues de nos rezar, em todos os momentos possíveis, a “missa hipnótica” dos já referidos valores supremos da sociedade capitalista e de nos afogar com doses maciças de pretensa informação (como os telejornais de horas a fio, pejados de comentadores do pensamento dominante) e de real alienação (como os “Big Brother” e programas similares).

O extremo isolamento e solidão provocados pela pressão e pela alienação das condições de trabalho ultra-precárias e ultra-desumanas, e pelas longas e extenuantes jornadas de trabalho, conduzem, assim, a formas virtuais e inverídicas de comunicação e de pretensa vida em comunidade, que são produzidas e alimentadas pelo uso, tão permanente quanto acrítico, e até tornado cada vez mais compulsivo, dos meios de acesso às redes sociais e, logo, aos modelos e valores por estas continuamente divulgados e propagandeados, com vista a criar uma multidão de dóceis e acríticos servos. 

A permissividade com a violência, o fascínio pelo momentâneo e a crença de que ofensas virtuais, a coberto do anonimato, não têm consequências, e de que o que importa não é ter a atitude correcta, mas sim fazer o que se sabe ser errado e depois conseguir ter a “habilidade” ou o “sucesso” de não ser apanhado, a imposição da lógica e da lei da alcateia e do gangue, podem então desenvolver-se a uma escala que, muitas vezes, só é revelada quando, enfim, termina em tragédia…

É, pois, este o terreno fértil para o frenético crescimento da boçalidade, do “vale tudo”, do poder ou do sucesso a todo o custo, com base exclusiva, ou quase – porque o resto é como se não existisse de todo… – nos “exemplos” e nos “influenciadores” multiplicados à exaustão nas redes sociais e cada vez mais instalados, tolerados, aceites e até incentivados nos nossos próprios meios profissionais, políticos e até pessoais.

A violência gratuita, o ódio primário, a baixeza moral e a negação dos valores essenciais como a solidariedade, o respeito pelas diferenças e a dignidade da pessoa humana – tudo isso é, afinal, o que a sociedade capitalista do século XXI, os interesses que sustenta e os valores que pratica nos têm para oferecer. Devemos criticar com firmeza e não nos surpreender quando essas formas duras e boçais se manifestam, pois é a elas que conduz, em linha recta, a desvalorização e escravização do ser humano, o embotamento do juízo crítico e a vulgarização e banalização do mal mais odioso.

E a essência do problema não está nas novas tecnologias, que são um enorme e magnífico progresso científico e técnico, que devemos conhecer, apreciar, dominar e, sobretudo, saber usar em prol de toda a Humanidade. O nó górdio da questão está, sim, nas relações sociais que entorpecem e desvirtuam esse mesmo progresso, e que possibilitam e eternizam a sua expropriação em benefício de apenas alguns. 

Como seres humanos inteiros e completos, devemos ousar ser, não escravos, mas sim donos dos nossos próprios destinos. E por isso, a grande tarefa que se nos impõe é, cada vez mais, a de demolir esse tipo de sociedade, profundamente decrépita e essencialmente violenta e injusta, e construir um mundo mais justo e mais fraterno!

António Garcia Pereira

domingo, 6 de abril de 2025

Camilo ou Eça?


É uma gafe para a história das gafes da imprensa portuguesa: em março, o JL, baluarte das letras, artes e ideias, fez um número dedicado aos 200 anos do Camilo e pôs na capa um retrato do Eça. Tudo é mais gritante, claro, por se tratar desta publicação em particular, mas o caso leva-me a pensar numas palavrinhas sobre o estado da arte na imprensa. Vimos de anos e anos de cortes, retalhos, falências, desinvestimentos e vigarices. de "emagrecimento" de equipas, entre jornalistas, gráficos, revisores. mesmo para quem não trabalha na área, percebe-se que está tudo no osso, e o osso sofre de osteoporose. Não sei quem edita o JL, quem fecha a edição, a capa; sei que a equipa é muito curta, à semelhança do que se passa nas outras publicações da "Trust in News", nome que o obscuro Luís Delgado trouxe à ilharga quando, digamos, comprou os títulos, ao serviço não sabemos de quem nem do quê. Há meses que vão saindo notícias sobre os salários em atraso, os subsídios não pagos aos trabalhadores deste grupo, que tem vivido no sufoco do horizonte sem emprego e com o dia a dia marcado por dificuldades financeiras. e no entanto, o trabalho continua - creio que não houve revistas por sair em banca. Já em relação aos assinantes, não se passa o mesmo. a Visão já ficou por entregar porque a "Trust in News" não paga a tempo aos correios. Diria que pode haver uma correlação entre esta débacle nas condições laborais, as vidas num caco e o mau serviço prestado, mas também pode não haver, que sais je? O que sei é que há gente a trabalhar ali que não é exatamente ignorante. a troca do Camilo pelo Eça é cómica, mas também trágica. Os tempos não estão fáceis para quase ninguém, conselheiros acácios e calistos elóis incluídos, para a imprensa estão ainda piores. cuidado com o futuro, gente.

A visão de Vieira Resurrected é a que surge retratada no livro de Rui Frias sobre a evolução recente dos jornais portugueses (um daqueles pequeninos do Pingo Doce, como lhe chamo).

A Terra está a morrer com Alfredo Cunhal Sendim

sábado, 5 de abril de 2025

Nem ilhas desabitadas fogem às tarifas de Trump. Um país “que ninguém conhece” é o mais afetado



“Nenhum lugar do mundo está isento” da vingança da nova administração dos EUA. Do arquipélago dos imortais às ilhas desabitadas da Austrália e Noruega: os pequenos territórios não escaparam ao “Dia da Libertação”.

Esta quarta-feira Donald Trump puniu os países que acusa de abusarem da bondade dos Estados Unidos e das suas políticas comerciais dos últimos anos, com novas tarifas “recíprocas” que afetam cerca de 185 locais por todo o mundo. E os “piores infratores” são os mais castigados, disse a Casa Branca.

Um dos grandes objetivos das tarifas, segundo Trump, é proteger os empregos americanos da concorrência estrangeira desleal, mas entre as regiões afetadas estão algumas onde há mais pinguins do que humanos.

É o exemplo das ilhas Heard e McDonald, territórios australianos no Oceano Índico mais conhecidos pelas suas populações de pinguins do que por qualquer atividade económica humana, uma vez que são ilhas totalmente desabitadas; ou Tokelau, perto da Nova Zelândia, onde vivem menos de 2.000 pessoas; ou Norfolk, no Pacífico Sul.

Falamos também das ilhas norueguesas de Svalbard, com apenas 3.000 pessoas, e de Jan Mayen, no Oceano Ártico, onde moram apenas 18 pessoas, todos trabalhadores temporários; ou o Território Britânico do Oceano Índico, que só tem uma base militar conjunta do Reino Unido… com os EUA.

Todos estes territórios serão atingidos pela tarifa mínima de 10%, confirma a Casa Branca ao Politico, porque estão sob a jurisdição da Austrália e Noruega, que estão sujeitos às novas tarifas.

“Não tenho a certeza de que a Ilha Norfolk seja um concorrente comercial da economia gigante dos Estados Unidos, mas isto só mostra que nenhum lugar do mundo está isento” das tarifas, desabafou o primeiro-ministro australiano Anthony Albanese.

Nesta novela, o país mais afetado pelas tarifas é um de que “nunca ninguém ouviu falar”, como descreveu o próprio Trump no seu primeiro discurso ao Congresso dos EUA, em que prometeu cortar a ajuda ao Lesoto. O pequeno país africano conhecido como o “Reino no Céu” foi atingido por uma tarifa de 50%, devido às suas próprias políticas tarifárias de 99%.

As tarifas entram em vigor este sábado, 5 de abril. A União Europeia rapidamente começou a prometer uma resposta às tarifas de 20% aplicadas pela administração Trump.

sexta-feira, 4 de abril de 2025

"Tenta ser o arco-íris da nuvem de outra pessoa."


Grupo de Artes "Peripécia" - Benagouro, Vila Real

Palavras escritas por Maya Angelou, escritora, poetisa e ativista, nascida neste dia 4 de abril de 1928. 

Amar, por Agostinho Silva


“Quem ama verdadeiramente ama o que lhe aparece, tal como é, e, ao mesmo tempo, o que será aquele mesmo ser desenvolvendo-se, como Deus o quer, em plena liberdade. Amar alguém ou alguma coisa é primacialmente instalá-lo num clima de plena liberdade, com todos os riscos que a liberdade comporta: desejar é limitar na liberdade, a nós e aos outros. Mas quando verdadeiramente amor existe, então realizamos na terra o que há de mais belo e de mais raro: porque todo o amor que ama o eterno é o amor de Deus amando-se a si próprio.”
 Agostinho da Silva

terça-feira, 1 de abril de 2025

Globalmente, um terço de todas as espécies de elasmobrânquios estão ameaçadas de extinção

Globalmente, um terço de todas as espécies de elasmobrânquios estão ameaçadas de extinção e as populações de tubarões oceânicos diminuíram 71% ao longo do último meio século.
Muitas pessoas pensam que o finning (o corte de barbatanas e descarte do corto em alto mar) é o maior responsável por estes declínios...
Pois, embora seja verdade que o finning tem sido um factor de destruição enorme, muitas pessoas não se apercebem que a captura acidental de tubarões em pescarias comerciais que visam uma espécie completamente diferente é, na verdade, também uma das maiores ameaças aos tubarões e às raias em todo o mundo!
Então porque ocorre esta "captura acidental"?
O que podemos fazer para evitar que isso aconteça?
Lê o artigo da nossa cientista Sophie A. Maycock, correspondente inglesa do Sharks Educational Institute e autora do SharkSpeak

segunda-feira, 31 de março de 2025

Peritos internacionais pedem moratória de 10 a 15 anos para mineração em mar profundo


Um grupo de especialistas mandatado pelo Presidente francês recomenda uma moratória de 10 a 15 anos para a exploração dos fundos marinhos, alertando que a incerteza sobre a mineração do mar profundo pode pôr em risco o planeta.

“Não é por ser um ecossistema remoto que [o fundo do oceano] não tem relação com o resto da Terra. Por isso concluímos por um princípio de precaução e recomendamos uma moratória de 10 a 15 anos como a única maneira de posteriormente tomar decisões informadas com base no conhecimento científico”, disse hoje o coordenador do grupo de trabalho.

Bruno David, ex-presidente do Museu Nacional de História Natural em França, apresentava as conclusões do trabalho que coordenou, a pedido do Presidente Emmanuel Macron, durante a iniciativa SOS Oceano, a decorrer em Paris até segunda-feira.

A comissão científica, co-coordenada pelo ex-ministro português Ricardo Serrão Santos, incluiu 18 membros de 15 países, de áreas científicas como história natural, geologia ou ciências naturais, mas também das ciências humanas.

Ao longo de oito meses, o grupo estudou o potencial da exploração dos fundos marinhos tendo em conta a necessidade de recorrer à extração mineral para promover a transição energética, como forma de combater as alterações climáticas.

“Estamos a tentar resolver um problema que conhecemos bem, as alterações climáticas, mas talvez estejamos a saltar para outro problema, que é a exploração do fundo do mar, (…) e talvez o segundo problema possa ser pior do que o primeiro”, disse Bruno David perante dezenas de personalidades ligadas ao oceano, incluindo cientistas, decisores políticos e ambientalistas.

A Comissão analisou questões económicas, relacionadas com a biodiversidade, com os equilíbrios bioquímicos do planeta, questões sociológicas, relacionadas com a lei internacional e com a redistribuição equitativa de benefícios.

“Todas essas questões têm de ser cuidadosamente consideradas no contexto da exploração dos recursos do mar profundo, porque até agora só temos exploração científica e não exploração económica”, afirmou.

A conclusão dos peritos é que “as incertezas sobre os potenciais efeitos colaterais da mineração em águas profundas podem levar-nos a territórios desconhecidos”, pelo que deve aplicar-se o princípio da precaução.

“Não é porque o mar profundo está longe de nós que não tem consequências sobre nós”, afirmou Bruno David, sublinhando que “a ciência é que deve guiar as escolhas, e não a pressa e a urgência”.

“O lucro imediato é sem dúvida importante, mas lançar ações sem considerar todas as consequências pode revelar-se desastroso”, acrescentou.

Bruno David apelou por isso à humildade de reconhecer que o ser humano não sabe tudo e a humanidade é muito pequena, quando comparada com o oceano, que evoluiu ao longo de centenas de milhões de anos.

“A humanidade deve proteger e preservar o oceano profundo pelo seu valor intrínseco, só isso”, concluiu.

Organizado pela França e pela Fundação Oceano Azul, com a colaboração da Bloomberg Philantropies, o SOS Ocean pretende lançar a Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, prevista para junho em Nice, e responde a um apelo do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, que no verão passado, em Tonga, lançou um ‘SOS’ para os oceanos.

domingo, 30 de março de 2025

Grande Reportagem - Rewilding Portugal e Grande Vale do Côa


O rewilding apresentado como uma ferramenta poderosa para permitir que a natureza se regenere por si própria, com intervenções humanas mínimas e estratégicas, acelerando assim a recuperação de ecossistemas e trazer de volta espécies-chave que desempenham papéis vitais no equilíbrio ecológico.

Mais do que voltar ao passado, olhamos é sempre para um futuro de paisagens biodiversas e funcionais, reagindo finalmente de forma prática e efetiva à degradação que a inação nos tem levado. E estamos todos os dias a fazê-lo no terreno, em proximidade, junto das comunidades e trazendo-lhes também benefícios sociais e económicos deste trabalho conjunto.

sábado, 29 de março de 2025

Reportagem: "O paradoxo da energia verde"


Será que todas as fontes de produção de eletricidade assumida como renovável podem ser associadas a descarbonização e redução da poluição?

A queima de biomassa florestal para produzir electricidade cresceu devido ao facto de esta fonte ter sido tolerada como neutra em carbono pelas Nações Unidas.

Este enquadramento político permite às nações queimar biomassa florestal em vez de carvão e não contabilizar as emissões para as ajudar a cumprir as metas de carbono do Acordo Climático de Paris.

A ciência atual identifica a queima de biomassa florestal como mais prejudicial do que a queima de carvão, e que uma das melhores formas de travar as alterações climáticas e sequestrar carbono é permitir que as florestas continuem a crescer. As designações de neutralidade carbónica da União Europeia para a biomassa florestal estão erradas, afirmam os cientistas que defendem uma mudança na política global.

Documentário produzido pela Acréscimo, com o apoio da Biofuelwatch.

segunda-feira, 17 de março de 2025

O vínculo amargo




Esta curta-metragem de animação, chamada "The Bitter Bond, foi lançada pela Born Free Foundation e denuncia a criação de leões em cativeiro na África do Sul. Porque existem reservas privadas onde são criados para que quem quiser e puder pagar possa ir e disparar.
Não há maior hipocrisia do que a do ser humano.

domingo, 16 de março de 2025

Cidadania


"Liberdade, igualdade, fraternidade, mutualismo, solidariedade: tudo isso é uma coisa linda. Mas quando nos impingem a cidadania, a coisa complica-se… O que é o cidadão? Para mim, não é só ter direitos e deveres: é ter que servir".
Gonçalo Ribeiro Telles

quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

Tal como os cães, os cangurus também conseguem comunicar com os humanos


Os animais de estimação são animais que ao serem domesticados, interagem com os seres humanos e passam a ser a sua companhia. No entanto, ao contrário do que se pensava, estes não são os únicos que conseguem comunicar connosco.

Um estudo da Universidade de Roehampton, no Reino Unido, e da Universidade de Sydney, na Austrália, revela que os cangurus e outros animais não domesticados também conseguem comunicar com o Homem.

A investigação indica que dez em onze cangurus, ao serem testados, procuraram comunicar através do olhar com o humano antes de abrir a caixa com comida. Dentro do mesmo grupo, nove trocaram vários olhares entre a caixa e a pessoa antes de agir.

“Através deste estudo conseguimos ver que a comunicação entre animais pode ser aprendida e que o comportamento de olhar para os humanos para ter acesso aos alimentos não está relacionado com a domesticação. Na verdade, os cangurus mostraram um padrão de comportamento muito semelhante ao que já vimos em cães, cavalos e até cabras quando submetidos ao mesmo teste”, explica Alan G. McElligott, autor do estudo, na Science.

O cientista afirma que esta descoberta demonstra que a comunicação intencional por parte dos animais, para com os humanos, foi totalmente subestimada. “Os cangurus são os primeiros marsupiais a serem estudados desta maneira e os resultados positivos devem levar a mais investigações cognitivas além das espécies domésticas comuns”, conclui.

terça-feira, 7 de janeiro de 2025

A Rússia invadiu a Ucrânia e a torneira da Alemanha fechou-se. A crise é tal que até o regresso ao nuclear está em aberto

Manifestante com uma máscara do chanceler de saída, Olaf Scholz, segura um cartaz onde se lê "sustentável", num protesto contra os planos da Comissão Europeia para classificar o gás e o nuclear como amigos do ambiente 

Um tsunami no Japão originou um tremor de terra na Alemanha que, mais de 13 anos depois, continua a provocar ondas de choque no país. Na sombra do desastre de Fukushima, em março de 2011, a chancelaria de Angela Merkel em coligação com os liberais do FDP tomou a decisão de acabar com a produção de energia nuclear, ordenando o encerramento faseado de todos os reatores do país. 

A Alemanha gozava então de uma posição privilegiada no contexto europeu e mundial - a economia era sólida, o seu parque industrial estava longe da situação débil em que hoje se encontra, as empresas alemãs ainda davam cartas dentro e fora do continente e, energeticamente, o país era, em grande medida, movido a gás natural importado da Rússia. Mas mais de uma década depois, o paradigma alemão mudou radicalmente - a economia está em recessão há dois anos e, com a invasão em larga escala da Ucrânia, fechou-se a torneira russa da qual a Alemanha dependia.

O novo paradigma não travou a desnuclearização do país. Cerca de um ano depois da invasão da Ucrânia, em abril de 2023, a Alemanha assistiu ao fecho da última central nuclear ainda a operar - uma fonte que, no ano anterior, gerou entre 4 a 6% do total de eletricidade produzida pelo país. Na despedida, o ministro da Economia e do Ambiente, Robert Habeck, do partido minoritário Os Verdes, garantiu que "a segurança do abastecimento energético na Alemanha está e continua a estar garantida" e "permanece muito elevada" em comparação com o resto do mundo, lembrando que a decisão foi tomada em primeira instância pelos conservadores da CDU e os liberais do FDP.

A mensagem foi recebida com muito ceticismo, a começar pelo partido conservador de Friedrich Merz, o homem em rota para se tornar o próximo chanceler da Alemanha após o colapso da chancelaria Scholz esta segunda-feira e que - não é segredo - considera que a antecessora cometeu um erro grave ao ordenar o fim do nuclear. “Isto marca um dia negro para a proteção climática na Alemanha”, disse então o vice-líder da bancada parlamentar da CDU. “Este ministro d’Os Verdes", acusou Jens Spahn, "prefere deixar centrais elétricas a carvão a funcionar em vez de centrais nucleares neutras para o clima” e o Governo Scholz transformou-se numa “coligação do carvão”.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Travessas de plástico reciclado poderão tornar os caminhos-de-ferro ainda mais ecológicos


Parte das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) dos caminhos-de-ferro reside na energia utilizada para produzir e manter as infraestruturas necessárias. Investigadores finlandeses demonstraram a viabilidade da utilização de travessas de comboio mais ecológicas a partir de dois tipos de plástico reciclado, o cartão para embalagem de líquidos e o acrilonitrilo butadieno estireno. As emissões de carbono poupadas anualmente com a eliminação progressiva das travessas de betão e a sua substituição por este tipo de plástico reciclado poderiam equivaler ao aquecimento de 1200 habitações finlandesas.

Os caminhos-de-ferro, o meio de transporte mais amigo do ambiente a seguir aos autocarros de longo curso, vão desempenhar um papel importante na luta pelo zero líquido. Atualmente, as emissões totais do transporte ferroviário são de 31 gramas de equivalente de CO2 (CO2e) por passageiro-quilómetro, metade do valor dos veículos elétricos mais económicos.

Mas as emissões de carbono do tráfego ferroviário podem ser ainda mais reduzidas, revela um novo estudo publicado na revista Frontiers in Sustainability por autores finlandeses. Isto porque os materiais de construção típicos, como o aço e o betão, são energeticamente dispendiosos de produzir, transportar, manusear e manter. Mesmo nas linhas de comboio mais movimentadas, estes custos ascendem a 30% das emissões totais e esta percentagem aumenta acentuadamente à medida que o volume de tráfego diminui.

“Mostramos aqui que os plásticos reciclados podem ser utilizados como material para as travessas de caminho de ferro e que as emissões globais seriam reduzidas. A pegada de carbono é menor quando os fluxos de resíduos atualmente incinerados são utilizados como material”, afirma Heikki Luomala, primeiro autor do estudo e gestor de projeto na Universidade de Tampere.

“Estimamos que a redução de CO2 através da repulsão do fluxo de resíduos disponível na Finlândia poderia corresponder às emissões de aquecimento de 1200 casas, ou seja, 3 610 tCO2e (toneladas de equivalente de CO2) por ano”, acrescenta.

Dois tipos de plástico testados
Luomala e colegas estudaram a viabilidade e a redução das emissões de gases com efeito de estufa resultantes da eliminação gradual das travessas de madeira e de betão na Finlândia e da sua substituição por plástico reciclado. A vida útil de uma travessa é de 10 a 60 anos e diminui com o aumento da intensidade do tráfego, devido a danos mecânicos.

Uma importante fonte de resíduos de plástico é o sector das embalagens, que consome cerca de 40% da produção total de plástico. Neste sector, o chamado cartão para embalagem de líquidos (LPB) – uma mistura de polietileno, polipropileno, álcool vinílico de etileno e tereftalato de polietileno – é o produto que regista o crescimento mais rápido. Outra fonte importante de resíduos de plástico é o equipamento eletrónico e elétrico, que representa aproximadamente 6% da utilização total de plástico. O seu principal componente plástico é o acrilonitrilo butadieno estireno (ABS).

No passado, os resíduos de plástico eram frequentemente exportados da Finlândia para o Extremo Oriente, mas nos últimos anos foi lançada a iniciativa “ALL-IN for Plastics Recycling” (PLASTin) para tornar a Finlândia um líder na reciclagem de plásticos.

Luomala et al. produziram amostras de travessas de comboio (0,15 m de espessura, 0,25 m de largura e 2,6 m de comprimento) feitas de LPB e ABS e submeteram-nas a uma bateria de testes mecânicos. A sua intenção era testar se os protótipos confirmavam as normas internacionais para as indústrias de plásticos e ferroviárias.

A implementação no mundo real está a decorrer
Os espécimes feitos com ambos os tipos de plástico passaram nos testes de resistência e de flexão. Mas apenas o ABS reciclado foi capaz de suportar a temperatura máxima testada de 55°C sem amolecimento significativo durante os verões quentes.

“O ABS reciclado é muito mais adequado como material para travessas de caminho de ferro do que o LPB reciclado: as propriedades de resistência e rigidez do ABS são aproximadamente três vezes superiores e mais próximas das das travessas de madeira”, afirma Luomala.

As travessas de plástico para caminhos-de-ferro oferecem várias vantagens, por exemplo, fácil conformação, baixo custo, peso reduzido e resistência às condições ambientais. A utilização de plástico reciclado também permite uma maior flexibilidade na conceção da forma das travessas.

A Agência Finlandesa de Infraestruturas de Transportes já demonstrou interesse nas conclusões do estudo.

“Quando se trata da implementação de ABS reciclado para utilização como travessas de caminho de ferro, devem primeiro ser realizados mais testes à escala real. O seu comportamento a longo prazo, por exemplo, em termos de resistência aos raios UV, também deve ser testado”, adverte Luomala.

domingo, 5 de janeiro de 2025

Quando Encontrares Um Homem

«Quando encontrares um homem
Que transforme
Cada partícula tua
Em poesia,
Que faça de cada um dos teus cabelos
Um poema,
Quando encontrares um homem
Capaz,
Como eu,
De te lavar e adornar
Com poesia,
Hei-de implorar-te
Que o sigas sem hesitação
Pois o que importa
Não é que sejas minha ou dele
Mas sim da poesia.»

sábado, 4 de janeiro de 2025

Já há 22 ninhos artificiais para abutres-pretos nidificarem no Douro Internacional


A colónia transfronteiriça de abutre-preto (Aegypius monachus) do Douro Internacional, a mais isolada e uma das mais frágeis do país, conta agora com 14 novos ninhos artificiais, que se juntam aos oito anteriormente instalados, somando um total de 22. A instalação dos ninhos para esta espécie “Em Perigo” de extinção foi realizada no âmbito do projeto LIFE Aegypius Return – consolidação e expansão da população de abutre-preto em Portugal e no oeste de Espanha, foi divulgado em comunicado.

Segundo a mesma fonte, os ninhos artificiais foram colocados no terreno no mês de outubro, numa intervenção delicada e difícil realizada por uma equipa especializada do GIAM – Grupo de Intervención en Altura de los Agentes Forestales de la Comunidad de Madrid, de Espanha, juntamente com técnicos da Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural.

O objetivo principal desta ação é disponibilizar um maior número de ninhos para o abutre-preto nidificar e fixar-se no território, aumentando o recrutamento de indivíduos e consequentemente esta colónia que abrange o Parque Natural do Douro Internacional (PNDI) e o contíguo Parque Natural Arribes del Duero (PNAD), em Espanha.

Onde foram colocados os ninhos e de que são feitos?
A escolha dos locais e estrutura dos ninhos é feita de forma a mimetizar ao máximo o processo natural de nidificação da espécie. Ao contrário da maioria dos abutres, que nidifica em acantilados rochosos, o abutre-preto faz ninhos principalmente em árvores de grande porte.

Desta forma, os ninhos foram instalados em árvores como o zimbro, azinheira ou sobreiro. Os ninhos têm uma estrutura de metal que imita a forma do ninho natural e uma rede robusta que suporta o material utilizado para naturalizar o seu interior, composto por pequenos galhos de árvores e arbustos lenhosos e lã de ovelha para o tornar mais acolhedor e atrativo para a espécie-alvo.

Nidificar em árvores é uma peculiaridade deste abutre que acarreta riscos
Por nidificar em árvores, o abutre-preto corre um risco acrescido: é mais vulnerável e afetado pelos incêndios florestais. Exatamente por este motivo, uma outra linha de ação do projeto LIFE Aegypius Return é promover a gestão de habitats e aumentar a resiliência natural frente aos incêndios florestais nas áreas onde a espécie se reproduz. Em 2017, por exemplo, a colónia do PNDI foi afetada por um incêndio florestal que destruiu o único ninho da espécie existente nessa altura, matando a cria de abutre-preto.

Colónia transfronteiriça tem oito casais nidificantes
Atualmente, a colónia transfronteiriça do Douro Internacional tem oito casais nidificantes, cinco no PNDI e três no PNAD, o que já é um número bastante positivo, tendo em conta o contexto e evolução nos últimos anos. Contudo, destes casais, nesta época de reprodução, apenas cinco fizeram postura e só quatro crias (duas em cada país) sobreviveram até se tornarem independentes.

Devolução de abutres-pretos por soft release é outra estratégia para aumentar colónia
O abutre-preto só põe um ovo por época de reprodução/ano e a maturidade sexual da cria só é atingida aos cinco ou seis anos de vida, pelo que o seu sucesso reprodutor é muito limitado e condicionado. Qualquer incidente que cause a mortalidade da descendência tem um grande impacto geracional e populacional sobre esta espécie.

Por isso, além da construção de ninhos artificiais, o projeto vai potenciar, até 2027, o reforço do número de indivíduos desta colónia, através da devolução à natureza, nesta região, de 20 abutres-pretos provenientes de centros de recuperação de fauna silvestre, após passarem por um período de aclimatação (adaptação ao meio) e libertação faseada (soft release) na estrutura construída para esse efeito no PNDI. Até ao momento, já foram devolvidos à natureza quatro abutres-pretos por esta via.

Sobre o projeto
O projeto LIFE Aegypius return é cofinanciado pelo Programa LIFE da União Europeia e desenvolvido por um consórcio que integra as seguintes entidades: Vulture Conservation Foundation – organização coordenadora -, Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural (cofinanciada pela Viridia – Conservation in Action e MAVA – Foundation pour la Nature neste LIFE), Herdade da Contenda, Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, Liga para a Proteção da Natureza, Faia Brava – Associação de Conservação da Natureza), Fundación Naturaleza y Hombre, Guarda Nacional Republicana e Associação Nacional de Proprietários Rurais, Gestão Cinegética e Biodiversidade.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Reduzir o consumo de carne e laticínios é uma estratégia essencial para mitigar os impactos ambientais negativos

Reduzir o consumo de carne e laticínios é uma estratégia essencial para mitigar os impactos ambientais negativos associados aos sistemas alimentares, incluindo as alterações climáticas, a perda de biodiversidade devido às alterações no uso do solo e o consumo de água doce.

Um estudo apresenta uma avaliação de alternativas à carne e ao leite, integrando análises nutricionais, de saúde, ambientais e de custo, com foco em países de elevado rendimento.

A análise incluiu 24 alternativas à carne e ao leite, comparando-as com produtos de origem animal e com alimentos vegetais não processados. O número total de participantes nos estudos analisados foi de 10000, e a duração dos estudos variou entre 6 meses e 2 anos.

Foram avaliados alimentos como ervilhas, soja, feijão, hambúrgueres vegetais, tempeh e bebidas vegetais.

Resultados:

🥗Alimentos vegetais não processados (ex.: ervilhas, soja e feijão) apresentaram o melhor desempenho em todos os critérios avaliados, incluindo benefícios ambientais, nutricionais e económicos.

🥗Produtos processados à base de plantas (ex.: hambúrgueres vegetais e leites vegetais) ofereceram vantagens substanciais em comparação com produtos de origem animal, mas com menores benefícios ambientais e custos mais elevados em relação aos alimentos não processados.

🥗A substituição de carne e laticínios por alternativas vegetais reduziu o desequilíbrio nutricional e os riscos dietéticos, diminuindo também a mortalidade associada a doenças relacionadas com a dieta.

🥗As alternativas reduziram significativamente o uso de recursos naturais, como água doce, e a poluição associada à produção de alimentos de origem animal.

O estudo mostrou que a substituição de carne e laticínios por alternativas vegetais, especialmente alimentos não processados, oferece múltiplos benefícios ambientais, nutricionais e económicos. No entanto, os produtos processados continuam a ser uma alternativa válida, mas menos vantajosa em termos ambientais e económicos.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

Paz, Paz, Paz!

Paz en todos los hogares.
Paz en la tierra, en los cielos,
bajo el mar, sobre los mares.
Paz en la aurora, en el sueño.
Paz en la pasión del grande
y en la ilusión del pequeño.
Paz sin fin, paz verdadera.
Paz que al alba se levante
y a la noche no se muera.
¡Paz, paz, paz! Paz luminosa.
Una vida de armonía
sobre una tierra dichosa.