sexta-feira, 19 de abril de 2024

Documentário: O Papa, a Crise Ambiental e os Líderes de Destaque (The Letter: Laudato Si' Film)


The Letter conta a história do apelo do Papa pelo cuidado com nosso planeta. Para obter informações ou versões traduzidas e para tomar uma atitude, visite TheLetter Film

Em 2015, o Papa Francisco escreveu Laudato Si’ (A Carta), uma epístola sobre a crise ambiental dirigida a cada uma das pessoas no mundo. Alguns anos depois, quatro vozes que não foram ouvidas em conversações globais foram convidadas para uma conversa sem precedentes com o Papa. Vindos do Senegal, Amazonas, Índia e Havaí, eles trazem as perspectivas e soluções dos pobres, dos povos originários, dos jovens e da vida selvagem para a conversa com o próprio Papa Francisco. Este documentário acompanha suas viagens a Roma e as extraordinárias experiências que lá ocorreram e é recheado com histórias pessoais impactantes e tocantes, ao lado das mais atualizadas informações sobre a crise planetária e o preço que a natureza e o povo estão pagando. Saiba mais sobre os protagonistas e como você pode se juntar à ação em TheLetter Film

Porque, nas palavras de Lorna Gold, a presidente o Movimento Laudato Si’, “uma vez que conhecemos, não conseguimos mais ignorar.”

quinta-feira, 18 de abril de 2024

Encontros Improváveis: Charles Baudelaire e Fraunhofer Diffraction


Spleen
Quando o cinzento céu, como pesada tampa,
Carrega sobre nós, e nossa alma atormenta,
E a sua fria cor sobre a terra se estampa,
O dia transformado em noite pardacenta;

Quando se muda a terra em húmida enxovia
D'onde a Esperança, qual morcego espavorido,
Foge, roçando ao muro a sua asa sombria,
Com a cabeça a dar no tecto apodrecido;

Quando a chuva, caindo a cântaros, parece
D'uma prisão enorme os sinistros varões,
E em nossa mente em frebre a aranha fia e tece,
Com paciente labor, fantásticas visões,

- Ouve-se o bimbalhar dos sinos retumbantes,
Lançando para os céus um brado furibundo,
Como os doridos ais de espíritos errantes
Que a chorrar e a carpir se arrastam pelo mundo;

Soturnos funerais deslizam tristemente
Em minh'alma sombria. A sucumbida Esp'rança,
Lamenta-se, chorando; e a Angústia, cruelmente,
Seu negro pavilhão sobre os meus ombros lança!

Charles Baudelaire, in "As Flores do Mal"

Mark Twain - Life is short


“Life is short, break the rules, forgive quickly, kiss slowly, love truly, laugh uncontrollably, and never regret anything that made you smile.”
― Mark Twain

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Parem de me seguir


Just STOP Oil


A minha opinião sobre transumanismo

O vídeo usa cenas do filme "In Time 2011"

Nunca fui muito adepto da tecnologia, a fé transumanista. Dizem eles que tudo pode ser resolvido com ciência (manipulada) e mais tecnologia. Mais do mesmo. Capitalismo é uma armadilha envenenada. Sou adepto sim de soluções baseadas na Natureza e um imperativo civilizacional de renaturalizar. Não sou primitivista, mas nada me consola que um bom livro, todo sublinhado, com notas pessoais. Detesto tablets. Não gosto da Icloud. Para quê? E a nossa privacidade, que o Metaverso utiliza para nos encharcar com anúncios, quase personalizados. Consumir, mais e mais recursos. Não dá. Há que desacelerar isto. Não tenho varinha de condão, mas o transumanismo é pernicioso e por vezes letal. 
Escolhi este trecho de um filme que nos alerta para um futuro que está aí à porta. Não augura nada de bom. Detesto transumanistas. Ponto.

terça-feira, 16 de abril de 2024

Luís Sepúlveda

Quarto-crescente - 14.04.2024
"E o meu irmão
sabe
muitas coisas.
Sabe, por exemplo,
que um grama de pólen
é como um grama de si mesmo,
docemente predestinado ao lodo germinal,
ao mistério daquilo que se erguerá vivo de ramos,
de frutos e de filhos, com a bela certeza das transformações,
do começo inevitável e do necessário final, porque o que é imutável
encerra o perigo do eterno, e só os deuses têm tempo para a eternidade."

Luís Sepúlveda

José Goulão – o sionismo explicado pelos sionistas. Como pensa e age a “raça pura”


Os árabes e muçulmanos… Sempre os árabes e muçulmanos culpados por tudo de mau que acontece aos judeus, a começar por quererem manter-se numa terra que não lhes pertence, uma vez que, voltando a citar o ex-primeiro-ministro israelita Naftali Bennet em 2022, «ainda vocês trepavam às árvores já nós tínhamos um Estado». Esta é uma das essências do sionismo e do seu racismo fundamentalista. Não é que existam formas benignas de racismo mas, tal como o regime de apartheid – cujo ideólogo, Cecil Rhodes, foi tão enaltecido pelo fundador do sionismo –, a teoria e prática em que assentam o Estado de Israel são um caso extremo e psicopata de racismo cultivado num ambiente doentio em que se cruzam aberrações teológicas, a crueldade mística e sádica emanando do Antigo Testamento, os mitos do «povo escolhido» e da «terra prometida» encarados como preceitos divinos a respeitar acima de quaisquer leis terrenas e das decisões tomadas pelos humanos não-judeus, que afinal existem «apenas para nos servir».
À resultante desta mistela de elucubrações tonificadas por uma ficção delirante na qual o ser humano que não seja «judeu» é a menor das preocupações do deus do sionismo, chama o Ocidente colectivo «a única democracia do Médio Oriente».
A função de Israel como um «polo da civilização no meio da barbárie», ou seja, o argumento que está na base do papel colonial e imperial geostratégico que o regime de Telavive continua a desempenhar, com a crueldade inerente, vem dos primórdios do sionismo; isto é, a componente mística e a nova cruzada na Palestina tiveram também no bojo os interesses económicos, financeiros e o controlo de rotas comerciais e matérias-primas dos poderes mundiais dominantes, na altura o Império Britânico. Não é por acaso que este assumiu o mandato internacional da Palestina, preparando o terreno para que o papel de colonizador transitasse para o sionismo.
Theodor Herzl especificou, no seu trabalho fundador, que um Estado judaico construído pelo sionismo será «um muro de defesa da Europa na Ásia, um posto avançado da civilização contra a barbárie (…) pelo que a Europa deverá garantir a nossa segurança». Herzl tinha, por certo, veia de «profeta», embora sem o mérito dos de antanho porque o desfecho era previsível perante um quadro de relação de forças tão definido como o da época, tal como o actual – embora este seja bem mais periclitante. Aliás, Joseph Biden parece ter herdado uma costela de Herzl: nos anos oitenta, quando ainda não era guiado pelos auriculares e pelo teleponto, dizia que «o Estado de Israel se não existisse teria de ser inventado».

Não é por acaso que o actual presidente dos Estados Unidos se define como «um cristão sionista». O sionismo assegura os interesses terrenos dominantes; a religião, que afinal pode não ser apenas a judaica, garante a mistificação da História e das realidades próprias do colonialismo, quando não do fascismo, independentemente das épocas. Um singelo exemplo doméstico: D.ª Lucinda Ribeiro Alves, uma fundadora do Chega, diz-se uma «evangélica cristã sionista», além de seguidora de Bolsonaro.
O sionismo é uma doutrina doentia, aberrante, oportunista e violenta que não pode, nem deve, ser confundida com o judaísmo e a cultura hebraica, muito menos com os povos semitas. O sionismo, seguindo a teoria e a prática dos seus mentores, é uma ideologia antissemita. David Ben Gurion, considerado o fundador do Estado de Israel, que se considerava laico e trabalhista, não deixou dúvidas quanto a isso ao afirmar que «as considerações sionistas prevalecem sobre os sentimentos judaicos e quando o digo não faço mais do que ter em conta os preceitos sionistas».
Os conceitos de «raça pura» e «povo escolhido» elevam, porém, o Estado de Israel para um patamar transcendente; são conceitos assustadores a todos os níveis e sob quaisquer perspectivas porque sustentam uma entidade supostamente dotada de imunidade, impunidade e de uma missão escatológica associada ao fim do mundo, o Armagedão, a luta final entre o bem e o mal biblicamente programada para o lugar de Meggido, por sinal no interior do território israelita. Não se creia que estamos apenas perante delírios místicos. Ariel Sharon, criminoso de guerra com o sangue dos mártires de Sabra e Chatila nas mãos e ex-primeiro ministro de Israel, garantiu numa entrevista ao jornal britânico Guardian que, em caso de confrontação limite no planeta, «temos capacidade para destruir o mundo e garanto que isso acontecerá antes de Israel se afundar».
Sharon nunca foi conhecido por ter muita garganta e ser um fanfarrão.

«Um projecto nacionalista, mais nada»
Sionismo e racismo são indissociáveis. Assentam na ficção mística e têm como objectivo terreno a expansão do poder judaico de origem europeia, dotado de um estatuto civilizacional e humanista de que o Ocidente colectivo se declarou proprietário, através de vastas zonas de influências económicas, estratégicas e, sobretudo, militares do Médio Oriente.
Pode dizer-se que o Estado de Israel é um pequeno território. Pode até acrescentar-se um desabafo da antiga primeira-ministra sionista Golda Meir: «A única coisa que tenho contra Moisés é ele ter andado 40 anos no deserto para nos conduzir ao único lugar no Médio Oriente que não tem petróleo. Se Moisés tivesse virado à direita em vez de ter virado à esquerda teríamos petróleo e os árabes areia».
O errado palpite geográfico de Moisés, no entanto, é uma coisa que se corrige. Segundo a mesma Golda Meir, «a fronteira de Israel é onde os judeus vivem, não onde existe uma linha no mapa».
Considerações afins já tinham sido proferidas por Ben Gurion vinte a trinta anos antes ao enunciar o dogma de que «a pedra de toque do sionismo é a verdadeira colonização conduzida por judeus em todas as regiões da Terra de Israel», um conceito que então ainda deixou em aberto. Posteriormente o primeiro primeiro-ministro de Israel avançou na especificação dessa ideia, embora sem desvendar ainda totalmente o jogo, ao declarar que «o Estado será apenas uma etapa na realização do sionismo e a sua tarefa é preparar a expansão; o Estado deverá preservar a ordem não apenas pregando a moralidade mas também com metralhadoras, se necessário».

Dito e feito. No «protocolo de governo» quando se tornou primeiro-ministro, em 1948, Ben Gurion estabeleceu que «devemos partir para a ofensiva com o objectivo de esmagar o Líbano, a Transjordânia (actualmente Jordânia) e a Síria». Citado pelo Times of Israel, o lendário dirigente sionista e israelita desvendou a sua estratégia militar: «quando bombardearmos Amã eliminaremos também a Cisjordânia e então a Síria cairá; sem qualquer esforço militar especial que ponha em perigo as outras frentes, apenas usando as tropas já designadas para essa tarefa, poderemos limpar a Galileia», no norte do território actual de Israel até à fronteira com o Líbano, o que implicou a expulsão de pelo menos 100 mil palestinianos. Ben Gurion «limpou» a Galileia, é certo, mas outras alíneas do programa continuam por cumprir – percebendo-se, no entanto, que não foram retiradas do pacote de ambições sionistas.
Num conselho ao então jovem oficial Ariel Sharon, dado no seguimento do massacre na aldeia de Qibya em 1953 – chacina de 70 pessoas, dois terços das quais eram mulheres e crianças, não faltaram mestres aos genocidas de agora em Gaza – Ben Gurion disse que «a única coisa que interessa é podermos existir aqui na terra dos nossos antepassados; e que mostremos aos árabes que há um alto preço a pagar pelo assassínio de judeus». «Existir» nesta terra, de acordo com o pensamento do primeiro chefe de um governo israelita, significa «que devemos aceitar as fronteiras de hoje, mas os limites das aspirações sionistas são uma questão do povo judaico e nenhum factor externo será capaz de limitá-lo». Palavras que são todo um inequívoco programa político-militar genocida, ignorando deliberadamente o direito internacional.

Música do BioTerra: The Raveonettes - I Wanna Be Adored

Isto é que se chama uma verdadeira versão. E tão aktual!!!
The Raveonettes are a Danish indie rock duo, consisting of Sune Rose Wagner on guitar, instruments and vocals, and Sharin Foo on bass, guitar and vocals.
  

I don't have to sell my soul
He's already in me
I don't need to sell my soul
He's already in me

I wanna be adored
I wanna be adored

I don't have to sell my soul
He's already in me
I don't need to sell my soul
He's already in me
I wanna be adored
I wanna be adored

Adored
I wanna be adored

You adore me
You adore me
You adore me
I wanna, I wanna
I wanna be adored

I wanna, I wanna
I gotta be adored
I wanna be adored

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Teresa Horta - Ser Rebelde

Sou tanto assim: 
“A teimar eu na liberdade e em privilegiar o pensamento e os versos, na tentativa de dominar e comandar o corpo que inutilmente me esforço por enganar nas suas exigências naturais, ao reconhecer o grande sossego que a frieza e a razão sempre trazem consigo, em detrimento do meu coração que na inquietude se esmera.”
― Maria Teresa Horta, As Luzes de Leonor


“I persist in freedom and in privileging thought and verse, in an attempt to dominate and command the body that I uselessly strive to deceive in its natural demands, in recognizing the great tranquility that coldness and reason always bring with them, in to the detriment of my heart, which strives in its restlessness.”

Haikai - Mulher

Haikai
"A Mulher é um eterna Primavera
Suave e pranto" - João Soares, 14.04.2024

Dia Inaugural da Árvore Indígena


O Dia Inaugural da Árvore Indígena criado pelo Grupo de Sementes de Árvores Africanas é no dia 15 de abril de 2024. 
Vamos continuar mudando a paisagem das nossas comunidades plantando árvores indígenas.
Site Oficial: Indigenous Tree Day

domingo, 14 de abril de 2024

Ted Trainer - A (Friendly) Critique of the Degrowth Movement

Over many years I have put forward a vision of The Simpler Way, and introduced visiting groups to it at Pigface Point.


The above video includes models of a typical suburb before and after such changes have been made.

The explosion of interest in degrowth since 2000 has seen the development of a large literature, international conferences, and many active groups spread around the world.

This is astounding, given that pioneers such as Georgescu-Roegen, Paul Ehrlich, Serge Latouche, and Herman Daly worked for decades to draw attention to the possibility that the pursuit of limitless growth and affluence might be problematic — and they were largely ignored. In the early 1970s, The Limits to Growth made quite an impact, but did not go into possible alternative social goals or forms. My book, Abandon Affluence and Growth (1985), summarized the case and argued that the only solution has to be transition to a Simpler Way. For the following 20 years these few works had almost no impact on mainstream thinking about the commitment to growth.

The recent spread of degrowth is encouraging — however, the movement is founded on a number of confusions and mistaken initiatives. This is understandable given its early stage, and can be regarded as a healthy exploring of possibilities. The literature welcomes ‘pluralism’, but we should be trying to find unifying directions.
The current focus of the degrowth movement

The focus within the degrowth movement has (understandably) been on why the pursuit of growth is a huge mistake, and little attention has been given to two crucial themes. One is strategy: this lack is recognised within the movement, and I discuss it at length in the current edition of Environmental Values. The other, which has received almost no attention, is the concept of simplicity. The defining principle of a society that has undergone degrowth to a sustainable and just state must be transition to far simpler lifestyles and systems.

First, the issue of definition; what is degrowth about, and what should it be about? The term is not a good descriptor for the movement that has emerged. The movement is asserting a wild variety of criticisms of and alternatives to the present globalized, industrialized, urbanized, financialized, neo-liberal, sexist, grotesquely unequal, extractivist, imperialist etc. world order. The expressed goals include all manner of social criticisms, ideals, and policies, ranging from mildly reformist to ultra radical. Many of these — such as monetary reform, making trade more equitable, housing justice, patriarchy, curbing advertising, fairer taxes, reducing debt, indigenous rights, and decolonization — actually have nothing to do with the reduction of economic growth, or could easily be implemented within an economy that continues to be about growth.

Degrowth should, instead, be seen in terms of a concern to reduce resource consumption and environmental impact, which means it is essentially about one thing, which is reducing GDP. It is in order for many sub-goals and domains to be seen as existing under this umbrella, as fields of endeavor relevant to the general quest or for which it has implications.

Thus the term degrowth has become ‘… a rag-bag of utopian dreams’. A more accurate title might be the ‘Finally Fed Up With Capitalism’ movement. All manner of ideals, dreams, alternate policies in a wide variety of fields have been put forward as degrowth proposals. This is highly desirable because it shows that discontent with consumer-capitalist society is finally boiling over. For 70 years its legitimacy and desirability have been largely unquestionable. But now the dominant paradigm is crumbling, evident in the weakening capacity of the rich countries to control the global geo-physical imperial system, the emergence of intractable resource scarcities and environmental problems, accelerating rates of inequality generating hardship and ‘cost of living’ difficulties, rising levels of debt etc. There is increasing realization that the system is causing the big global problems, notably climate change, that it can’t solve them and that it needs to be replaced.

Probably even more serious is the social situation, the loss of cohesion being caused by the inevitable march of capitalism, the deprivation and discontent accompanying rising inequality, and the decreasing capacity of governments to meet demands or provide for people. Large numbers in even the richest countries are poor or homeless. Thirty percent of Australians are reported to be going without sufficient food. The number one health problem in rich countries now is likely to be depression. The UK government recently established a ministry for loneliness. Large proportions of people are losing respect for ‘democracy’ and turning towards authoritarian and fascist options.

These many and varied discontents can be welcomed as undermining the complacency that characterized previous decades. But the scene is quite confused and chaotic, especially with respect to causes and solutions, and this is reflected within the degrowth movement. Even among degrowth advocates there is little realization that the multifactored global predicament cannot be resolved unless there is an extremely big and difficult revolution whereby most of the elements within our present economic, political, and cultural systems are scrapped and replaced by radically different systems. The crucial point here is that the new lifestyles and systems must be materially very simple. Little of the degrowth literature recognizes this, let alone focuses on it. Most of it proceeds as if we can all go on living more or less as we do now, with more or less the same kinds of ways and institutions that we have now, via reformed institutions and better policies. The degrowth movement does not recognize that the magnitude of the overshoot, the degree of unsustainability, of present society, totally prohibits that. To recognize this would decisively focus thinking about goals and strategies, and rule out many currently popular options.

The global situation
Most people do not grasp the extent to which this society has become unsustainable. We have far exceeded the limits to growth. There is no possibility that the per capita levels of resource consumption in rich countries can be kept up for long. Only a few of the world’s people have these ‘living standards’ and the rest can never rise to anything like them. This is the basic cause of the big global problems, including resource depletion, environmental damage, the deprivation of billions in the poor countries, and resource struggles.

There is a strong case that if we are to live in sustainable ways that all could share then rich world per capita rates of consumption must be reduced by 90 percent. The common response is the ‘tech-fix’ claim that technical advance will enable GDP growth to be ‘decoupled’ from resource and environmental impact. But there is now overwhelming evidence that apart from in some limited areas this is not happening and is not going to happen. (Haberle’s review examined over 800 studies.) If GDP is increased, impacts increase. It is not possible to solve the big problems if we are determined to maintain present levels of consumption and production — the solution can only be found on the demand side; that is, by greatly reducing production and consumption.

A major cause of our predicament is the fact that we have an economic system which must have growth and which allows the market and profit to determine what happens. As a result, what is produced, who gets it and what is developed, is determined by what is most profitable to the few who own most of the capital. The outcome is not determined by what is most needed. That is why the one percent now own about half the world’s wealth, and the poor countries have been ‘developed’ into a form which ships their resources out to enrich the corporations and rich world shoppers, while most people in even the richest countries struggle to get by.

The crucial point is that we have to try to shift to values and ways that enable all to live well on a very small fraction of the per capita resource and environmental impacts we in rich countries have now. We cannot achieve a sustainable way of life which all could share unless there is an enormous degrowth transition to far simpler lifestyles and systems. The magnitude of the required Degrowth is not sufficiently recognised within the movement. Nor are the implications for social change; because the over-shoot is so big that only change to extremely different lifestyles and systems can solve the big global problems.

Miguel Esteves Cardoso - A Mulher Portuguesa


A mulher portuguesa não é só Fada do Lar, como Bruxa do Ar, Senhora do Mar e Menina Absolutamente Impossível de Domar. É melhor que o Homem Português, não por ser mulher, mas por ser mais portuguesa. Trabalha mais, sabe mais, quer mais e pode mais. Faz tudo mais à excepção de poucas actividades de discutível contribuição nacional (beber e comer de mais, ir ao futebol, etc). Portugal (i.e., os homens portugueses) pagam-lhe este serviço, pagando-lhes menos, ou até nada.

O pior defeito do Homem português é achar-se melhor e mais capaz que a Mulher. A maior qualidade da Mulher Portuguesa é não ligar nada a essas crassas generalizações, sabendo perfeitamente que não é verdade. Eis a primeira grande diferença: o Português liga muito à dicotomia Homem/Mulher; a Portuguesa não. O Português diz «O Homem isto, enquanto a Mulher aquilo». A Portuguesa diz «Depende». A única distinção que faz a Mulher Portuguesa é dizer, regra geral, que gosta mais dos homens do que das mulheres. E, como gostos não se discutem, é essa a única generalização indiscutível.

A Mulher Portuguesa é o oposto do que o Homem Português pensa. Também nesta frase se confirma a ideia de que o Homem pensa e a Mulher é, o Homem acha e a Mulher julga, o Homem racionaliza e a Mulher raciocina. E mais: mesmo esta distinção básica é feita porque este artigo não foi escrito por uma Mulher.

Porque é que aquilo que o Homem pensa que a Mulher é, é o oposto daquilo que a Mulher é, se cada Homem conhece de perto pelo menos uma Mulher? Porque o Português, para mal dele, julga sempre que a Mulher «dele» é diferente de todas as outras mulheres (um pouco como também acha, e faz gala disso, que ele é igual a todos os homens). A Mulher dele é selvagem mas as outras são mansas. A Mulher dele é fogo, ciúme, argúcia, domínio, cuidado. As outras são todas mais tépidas, parvas, galinhas, boazinhas, compreensíveis.

Ora a Mulher Portuguesa é tudo menos «compreensiva». Ou por outra: compreende, compreende perfeitamente, mas não aceita. Se perdoa é porque começa a menosprezar, a perder as ilusões, e a paciência. Para ela, a reacção mais violenta não é a raiva nem o ódio – é a indiferença. Se não se vinga não é por ser «boazinha» – é porque acha que não vale a pena.

A Mulher Portuguesa, sobretudo, atura o Homem. E o Homem, casca grossa, não compreende o vexame enorme que é ser aturado, juntamente com as crianças, o clima e os animais domésticos. Aturar alguém é o mesmo que dizer «coitadinho, ele não passa disto…» No fundo não é mais do que um acto de compaixão. A Mulher Portuguesa tem um bocado de pena dos Homens. E nisto, convenhamos, tem um bocado de razão.

Música do BioTerra: Zeca Afonso - Em Terra de Trás-os-Montes


Este é o seu nono LP, com as colaborações de Cecília Barreira, Fausto, Fernando Gonzalez, José Luís Iglésias, José Niza, Júlio Pereira, Luís Duarte, Michel Delaporte, Quim Barreiros, Ramon Galarza e Vitorino.
[...Porque gravado em 76, reflecte as vivências desse período é um disco comprometido e datado, mas capaz de sobreviver às situações que lhe deram origem, verdadeiro exemplo da capacidade de intervir artisticamente, sem prejuízo dos valores estético-formais...]. (Viriato Teles)

Em terras de Trás-os-Montes
Entre Coelhoso e Parada
Uma história verdadeira
Foi ali mesmo contada

Algemado por dois pides
Na manhã de vinte e três
La vai Manuel Augusto sem mesmo saber porquê

Com ele vai Marcolino bufo dos Dominadores
Ide às minas da Ribeira
Vereis quem são os Senhores

Nesse lugar de trabalho
Nos confins da exploração
Diz o Marcolino aos pides
Apertem-me esse cabrão

Não contente com a prova
Do zelo que assim mostra
Àquele rapaz honrado
Esta fala então lhe dava:

Sabemos da tua vida amanhã por esta hora
Irás para o forte de Elvas
Diz adeus à vida boa

Também o José António
Foi na mesma interrogado assassino Marcolino
Foste o primeiro culpado

Entre Parada e Coelhoso
Ainda reina a opressão
Não deixem fugir o melro
Não quebrem vossa união