segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Música do BioTerra: Agnes Obel - The Curse


And the people went into their hide, ay-oh
From the start they didn't know exactly why, why
Winter came and made it so all look alike, look alike
Underneath the grass would grow, aiming at the sky

It was swift, it was just another wave of a miracle
But no one, nothing at all would go for the kill
If they called on every soul in the land, on the moon
Only then would they know a blessing in disguise

The curse ruled from the underground, down by the shore
And their hope grew with a hunger to live unlike before
The curse ruled from the underground, down by the shore
And their hope grew with a hunger to live unlike before

Tell me now of the very soul that look alike, look alike
Do you know the stranglehold covering their eyes?
If I call on every soul in the land, on the moon
Tell me if I'll ever know a blessing in disguise

The curse ruled from the underground, down by the shore
And their hope grew with a hunger to live unlike before
And the curse ruled from the underground, down by the shore
And their hope grew with a hunger to live unlike before

Página Oficial

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Livro do dia- "Vidas Vencidas"


Maria Ondina Braga (1922-2003) é talvez a escritora mais cosmopolita da literatura portuguesa do século XX.
«Lá em casa, em Braga, sempre as tisanas sobre os repastos. Meu pai, agora, a ler, pausadamente, entre cada golada, os nomes estranhos da lista do Brasil. Minha mãe, por seu lado, a encolher os ombros. A sua predilecção por nomes de santos e o seu senso prático: medo de possíveis complicações para a menina na escola, as demais crianças a amacacarem-lhe o chamamento. Nomes fáceis, familiares, afectivos, sim. Nomes das nossas gentes. Nomes da nossa terra. Agarrando, então, no “Petit Larousse”, o tio explicou o significado de Ondina: o génio do amor que vive nas águas. Sereia, uma sereia, mas não dos mares mortíferos, não, dos lagos transparentes e tranquilos. Uma gentil ninfa que, se um dia algum mortal a quisesse para esposa, ganharia mesmo alma como qualquer criatura de Cristo. Muito embora sem se opor, a mãe ainda de pé atrás. E que história era aquela de não ter alma a Ondina?»
Este é um extracto deste lindo livro. Uma obra que nos retrata de um modo romanceado a infância e a juventude da autora.

Maria Ondina Braga nasceu em Braga, a 13 de Janeiro de 1922, onde fez os estudos liceais e de onde partiu na década de cinquenta para estudar línguas em Paris e Londres, onde se licenciou em literatura Inglesa pela Royal Asiatic Society of Arts. Em 1959, rumou até Angola, Goa (onde esteve aquando da ocupação indiana) e, mais tarde, Macau, onde ensinou Português e Inglês até 1965, data do seu regresso a Portugal. Exerceu o cargo de Leitora de Português no Instituto de Línguas Estrangeiras de Pequim em 1982, ano em que redigiu as crónicas sofridas reunidas em “Angústia em Pequim” (1984). A convite da Fundação Oriente, Maria Ondina Braga regressou a Macau em 1991, tendo registado esse reencontro em algumas páginas da narrativa de viagens “Passagem do Cabo” (1994).
Incluindo na sua bibliografia a poesia e as crónicas de viagem, Maria Ondina Braga afirmou-se como ficcionista, sendo considerada um dos grandes nomes femininos da narrativa portuguesa contemporânea. Depois de ter vivido em Lisboa por muitos anos, voltou a Braga, onde morreu em 14 de Março de 2003 no lar Conde de Agrolongo.

Saber mais:

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Futuro da humanidade depende das árvores, a “verdadeira fábrica do solo”



Há mais de 40 anos, Jean-Philippe Beau-Douëzy, ecologista e engenheiro consultor na área do ambiente, iniciou-se naquela que viria a ser a sua luta pela conservação da natureza. Hoje, quer continuar a plantar árvores nativas porque diz serem o futuro da humanidade. Há 11 anos que trabalha na Fundação Yves Rocher, em França, onde é administrador do programa Plant for the Planet que consiste na plantação de 100 milhões de árvores em vários continentes com o objectivo de combater a erosão do solo, a perda de biodiversidade e recursos hídricos e para ajudar a agricultura local.

Philippe Beau-Douëzy, que esteve recentemente no Porto, já percorreu vários pontos do planeta. Passou pelo Sara, pelo Mediterrâneo, mas foi na Amazónia brasileira – onde chegou a ser baptizado por índios – que ganhou um novo pressuposto: o de lutar pela sua conservação. Em 1992, participou na Cimeira da Terra no Rio de Janeiro, mas, antes disso, em 1978, já organizava um dos primeiros simpósios com o tema Invenção Social e Ecologia Urbana, conceitos de que tanto se fala hoje em dia.

Toda a entrevista aqui

O Livro Negro do Comunismo


Originalmente publicada na França pela editora Robert Laffont, a obra foi lançada por ocasião dos 80 anos da Revolução Russa e se propõe a realizar um inventário da repressão política, execuções extra-judiciais, deportações, crimes de guerra e abusos de direitos humanos alegadamente perpetrados por regimes comunistas. 

A introdução, a cargo do editor Stéphane Courtois, declara que "…os regimes comunistas tornaram o crime em massa uma forma de governo". Usando estimativas não oficiais, apresenta um total de mortes que chega aos 94 milhões. A estimativa do número de mortes alegado por Courtois é a seguinte:
  • 20 milhões na União Soviética
  • 65 milhões na República Popular da China
  • 1 milhão no Vietname
  • 2 milhões na Coreia do Norte
  • 2 milhões no Camboja
  • 1 milhão nos Estados Comunistas do Leste Europeu
  • 150 mil na América Latina
  • 1,7 milhões na África
  • 1,5 milhões no Afeganistão
  • 10 000 mortes "resultantes das ações do movimento internacional comunista e de partidos comunistas fora do poder" 
O livro defende explicitamente que os regimes comunistas são responsáveis por um número maior de mortes do que qualquer outra ideologia ou movimento político, incluindo o fascismo. As estatísticas das vítimas incluem execuções, fomes intencionalmente provocadas, mortes resultantes de deportações, prisões e trabalhos forçados.

Uma lista parcial mais detalhada de alguns crimes cometidos na União Soviética durante os regimes de Lenin e Stalin descritos no livro inclui:
  • As execuções de dezenas de milhares de reféns e prisioneiros e de centenas de milhares de operários e camponeses rebeldes entre 1918 e 1922.
  • A grande fome russa de 1921, que causou a morte de 5 milhões de pessoas.
  • A deportação e o extermínio dos cossacos do Rio Don em 1920.
  • O extermínio de dezenas de milhares em campos de concentração no período entre 1918 e 1930.
  • O Grande Expurgo, que acabou com a vida de 690 000 pessoas.
  • A deportação dos chamados "kulaks" entre 1930 e 1932.
  • O genocídio de 10 milhões de ucranianos - conhecido como "Holodomor" - e de 2 milhões de outros durante a fome de 1932 e 1933.
  • As deportações de polacos, ucranianos, bálticos, moldavos e bessarábios entre 1939 e 1941 e entre 1944 e 1945.
  • A deportação dos alemães do Volga.
  • A deportação dos tártaros da Crimeia em 1943.
  • A deportação dos chechenos em 1944.
  • A deportação dos inguches em 1944.
Saber mais:

E-livro

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Palestra- "Ecocide crime: a crime of our time" por Polly Higgins


A carreira de Polly começou como advogada em Londres, antes de assumir o manto de um cliente, a Terra. Na última década, ela defendeu a lei Ecocídio, uma lei para proteger a Terra, para ficar ao lado dos crimes de atrocidade existentes. Seu foco atual é o ecocídio climático, examinando as evidências para estabelecer se tal crime existe.

Como protegemos nossa Terra? O recente IPCC relata que para obter um limite de 1,5ºC exigirá “mudanças rápidas, de longo alcance e sem precedentes”. A lei pode proteger nossa Terra? Polly falará sobre como um crime internacional de ecocídio climático enfrenta o desafio de nosso tempo, como todos podemos enfrentar o desafio e permanecer como protetores conscientes e, ao fazê-lo, agilizar uma lei que tenha a possibilidade de evitar o colapso climático.

Wasted Waste – a verdade sobre o desperdício alimentar [documentário completo]



Diariamente são desperdiçados 3,6 milhões de quilogramas de comida em todo o mundo, sendo que 870 milhões de pessoas poderiam ser alimentadas apenas com este desperdício. Cerca de 800 milhões de pessoas passam fome no nosso planeta.

1/3 dos alimentos produzidos mundialmente vão parar ao lixo, quando 198 mil hectares foram usados para produzir toda a comida desperdiçada.

Este documentário é sobre estilos de vida individuais com repercussões conscientes no coletivo. Porque do ponto de vista da Natureza não existe desperdício. É a simbiose da vida. Um todo constituído de variáveis interdependentes, cada uma com a sua causa e reação.

O freeganismo é um estilo de vida alternativo baseado no boicote ao capitalismo, com vista a diminuir o impacto causado no ambiente e rejeitando qualquer forma de exploração humana e animal. Fazem-no através do consumo limitado e consciente de recursos, bem como do resgate (aproveitamento) do desperdício. Não por necessidade, mas por acreditarem que a sociedade produz acima das suas necessidades e possibilidades, com vista a dar continuidade a uma sociedade de consumo e crescimento ilusório. 

“Para o consumidor comum, aquilo que mais aconselho do que aprendi, é a fazermos cada vez mais uma compra planeada. Sabermos o que precisamos realmente, não comprarmos acima das nossas possibilidades, comprarmos localmente, evitarmos grandes superfícies, tomarmos conhecimento de como, quem e de onde os nossos produtos vieram. E acima de tudo, consumir menos e reaproveitar mais. O mundo não suporta mais este estilo de vida baseado num crescimento ilusório à custa de recursos que são finitos. Pensarmos mais do ponto de vista da Natureza e menos do ponto de vista do capital” disse Pedro Serra, realizador de Wasted Waste, numa entrevista que deu ao UniPlanet.

Wasted Waste - Desperdício, desperdiçado
Realizado e produzido por Pedro Serra
84 minutos
2018

domingo, 16 de dezembro de 2018

Encontros Improváveis - António Ramos Rosa e Shipunova Irina


O Jardim
Consideremos o jardim, mundo de pequenas coisas,
calhaus, pétalas, folhas, dedos, línguas, sementes. 
Sequências de convergências e divergências, 
ordem e dispersões, transparência de estruturas, 
pausas de areia e de água, fábulas minúsculas.

Geometria que respira errante e ritmada,
varandas verdes, direcções de primavera,
ramos em que se regressa ao espaço azul,
curvas vagarosas, pulsações de uma ordem
composta pelo vento em sinuosas palmas.

Um murmúrio de omissões, um cântico do ócio.
Eu vou contigo, voz silenciosa, voz serena.
Sou uma pequena folha na felicidade do ar.
Durmo desperto, sigo estes meandros volúveis.
É aqui, é aqui que se renova a luz.

António Ramos Rosa, in "Volante Verde"
Pintura: Шипунова Ирина

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Música do BioTerra: The Velvet Underground and Nico "I'll Be Your Mirror" (Warhol film footage); Courtney Barnett (version) e Lou Reed (Spoken Word version)

I'll be your mirror
Reflect what you are, in case you don't know
I'll be the wind, the rain and the sunset
The light on your door to show that you're home

When you think the night has seen your mind
That inside you're twisted and unkind
Let me stand to show that you are blind
Please put down your hands
'Cause I see you  [1]

I find it hard to believe you don't know
The beauty you are
But if you don't, let me be your eyes
A hand to your darkness so you won't be afraid

[1]

I'll be your mirror (reflect what you are)

“A Base de um cérebro saudável é a BONDADE” – Richard Davidson


Foto e notícia aqui
Dr Richard Davidson, acredita na gentileza, na ternura e na bondade, mas temos que ser treinados para isso.

Nascido em Nova Iorque, atualmente reside em Madison, Wisconsin (EUA). Dr Richard é PhD em neuropsicologia e pesquisador na área de neurociência afetiva.

Atualmente é professor na Universidade de Winsconsin, onde ministra aulas de psicologia e psiquiatria.

Estava investigando os mecanismos cerebrais ligados à depressão e à ansiedade.
…E acabou fundando o Centro de Investigação de Mentes Saudáveis.

“Quando eu estava no meu segundo ano na Universidade de Harvard, a meditação cruzou o meu caminho e fui para a Índia investigar como treinar a minha mente. Obviamente, meus professores disseram que eu estava ficando louco, mas aquela viagem marcou meu futuro.”

…E assim que começam as grandes histórias.
Descobri que uma mente calma pode produzir bem-estar em qualquer tipo de situação. E quando me dediquei a investigar, por meio da neurociência, quais são as bases para as emoções, fiquei surpreso de ver como as estruturas do cérebro podem mudar em tão somente duas horas.

Em duas horas!
Hoje podemos medir com precisão. Levamos meditadores ao laboratório; e antes e depois da meditação, tiramos uma amostra de sangue deles para analisar a expressão dos genes.

E a expressão dos genes muda?
Sim. E vemos como as zonas com inflamação ou com tendência à inflamação tinham uma abrupta redução disso. Foram descobertas muito úteis para tratar a depressão. Contudo, em 1992, conheci o Dalai Lama e minha vida mudou.

Um homem muito encorajador.
“Admiro seu trabalho – ele me disse -, mas acho que você está muito centrado no estresse, na ansiedade e na depressão. Nunca pensou em focar suas pesquisas neurocientíficas na gentileza, na ternura e na compaixão?”.

Um enfoque sutil e radicalmente distinto.
Fiz a promessa ao Dalai Lama de que faria todo o possível para que a gentileza, a ternura e a compaixão estivessem no centro da pesquisa. Palavras jamais citadas em um estudo científico.

O que você descobriu?
Que há uma diferença substancial entre empatia e compaixão. A empatia é a capacidade de sentir o que sentem os demais. A compaixão é um estado superior. É ter o compromisso e as ferramentas para aliviar o sofrimento.

E o que isso tem a ver com o cérebro?
Os circuitos neurológicos que levam à empatia ou à compaixão são diferentes.

E a ternura?
Forma uma parte do circuito da compaixão. Umas das coisas mais importantes que descobri sobre a gentileza e a ternura é que se pode treiná-las em qualquer idade. Os estudos nos dizem que estimular a ternura em crianças e adolescentes, melhora os resultados acadêmicos, o bem-estar emocional e a saúde deles.

E como se treina isso?
Primeiro, levando a mente deles até uma pessoa próxima, que eles amam. Depois, pedimos que revivam um momento em que essa pessoa estava sofrendo e que cultivem o desejo de livrar essa pessoa do sofrimento. Logo, ampliamos o foco para pessoas não tão importantes e, por fim, para aquelas que os irritam. Estes exercícios reduzem substancialmente o bullying nas escolas.

Da meditação à ação há uma distância.
Umas das coisas mais interessantes que tenho visto nos circuitos neurais da compaixão é que a área motora do cérebro é ativada: a compaixão te capacita para agir, para aliviar o sofrimento.

Agora você pretende implementar no mundo o programa Healthy Minds (mentes saudáveis).
Esse foi outro desafio que o Dalai Lama me deu, e temos elaborado uma plataforma mundial para disseminá-lo. O programa tem quatro pilares: a atenção; o cuidado e a conexão com os outros; o contentamento de ser uma pessoa saudável (fechar-se nos próprios sentimentos e pensamentos é uma das causas da depressão)…

…É preciso estar aberto e exposto.
Sim. E, por último, ter um propósito na vida. Que é algo que está intrinsecamente relacionado ao bem-estar. Tenho visto que a base para um cérebro saudável é a bondade. E treinamos a bondade em um ambiente científico, algo que nunca tinha sido feito antes.

Como podemos aplicar esse treinamento em nível global?
Por meio de vários setores: educação, saúde, governo, empresas internacionais…

Por meio desses que têm potencializado este mundo de opressão em que vivemos?
Tem razão. Por isso, sou membro do conselho do Foro Económico Mundial de Davos. Para convencer os líderes de que é preciso levar às pessoas o que a ciência sabe sobre o bem-estar.

E como convencê-los?
Por meio de provas científicas. Tenho mostrado a eles, por exemplo, o resultado de uma pesquisa que temos realizado em diversas culturas diferentes: se interagirmos com um bebé de seis meses usando fantoches, sendo que um deles se comporta de forma egoísta e o outro de forma amável e generosa, 99% dos bebés prefere o boneco que coopera.

Cooperação e amabilidade são inatas.
Sim, mas são frágeis. Se não são cultivadas, se perdem. Por isso, eu, que viajo muitíssimo (o que é uma fonte de estresse), aproveito os aeroportos para enviar mentalmente bons desejos a todos com quem cruzo no caminho, e isso muda a qualidade da experiência. O cérebro do outro percebe isso.

Em apenas um segundo, seguem o seu exemplo.
A vida é só uma sequência de momentos. Se encadearmos essas sequências, a vida muda.

Hoje, mindfulness (atenção plena) tornou-se um negócio.
Cultivar a gentileza é muito mais efetivo do que se centrar em si mesmo. São circuitos cerebrais distintos. A meditação em si não interessa para mim. O que me importa é como acessar os circuitos neurais para mudar o seu dia-a-dia, e sabemos como fazer isso.

Ciência e Gentileza
A pesquisa de Richard Davidson está centrada nas bases neuronais da emoção e nos métodos para promover, por meio da ciência, o florescimento humano, incluindo a meditação e as práticas contemplativas. Ele fundou e preside o Centro de Investigação de Mentes Saudáveis na Universidade de Wisconsin-Madison, onde são realizadas pesquisas interdisciplinares com rigor científico sobre as qualidades positivas da mente, como a gentileza e a compaixão.

Richard Davidson já acumula prémios importantes e é considerado uma das cem pessoas mais influentes do mundo, segundo a revista Time. É autor de uma quantidade imensa de pesquisas e tem vários livros publicados. Ele conduziu um seminário para estudos contemplativos em Barcelona.

* Nota: As informações e sugestões contidas neste artigo têm caráter meramente informativo. Elas não substituem o aconselhamento e acompanhamentos de médicos, nutricionistas, psicólogos, profissionais de educação física e outros especialistas.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Cavaco Silva e Nelson Mandela


Fez em 5 de Dezembro, 10 anos do falecimento de Nelson Mandela, vencedor do Prémio Nobel da Paz de 1993 e pai da moderna nação sul-africana. 
Quero relembrar como a direita e pessoas com mentalidade de direita são geralmente conservadoras, imperialistas/ escravagistas e racistas.
Estávamos em 1987, e o mundo pressionava a África do Sul para libertar Nelson Mandela. Um homem que o Departamento de Estado norte-americano considerava "terrorista" e que Portugal não via com especial simpatia. Por essa altura, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou, com 129 votos a favor, uma resolução de solidariedade com a luta do ANC e dos sul-africanos, que incluía um apelo para a libertação incondicional de Mandela. Alguns, poucos, países estragaram a festa, faltando com o seu voto. Um deles foi os Estados Unidos, então presididos por Ronald Reagan. Outro foi o Reino Unido, que tinha ao leme a amante da democracia e da liberdade, Margaret Thatcher. E o outro foi Portugal, que tinha como primeiro-ministro o mesmíssimo Cavaco Silva que hoje se comove com as "verdadeiras lições de humanidade" do homem que, por pressão internacional, saiu, sem rancor, de 20 anos de cativeiro sem a ajuda de quem hoje tanto celebra o seu legado.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

COP24: a Grande Muralha Verde que deve atravessar a África


Há mais de uma década um projeto procura devolver a vida às paisagens degradadas da África numa escala sem precedentes. A ambição é construir um muro de árvores de 8 mil km que atravesse o continente de leste a oeste.

A chamada “Grande Muralha Verde” deve ir do Djibuti, um país que fica no nordeste da África até à cidade de Dakar, no Senegal. Quando completada, ela será a maior estrutura viva no planeta.

Muro

O muro ecológico está sendo implementado em mais de 20 países e mais de 8 biliões de dólares foram coletados ou prometidos em apoio ao projeto. A ideia é que o muro transforme as vidas de milhares de pessoas que sofrem com a desertificação e a mudança climática nas regiões do Sahel e do Saara.

De acordo com a ONU, a expectativa é de que ele possa ajuda na solução de muitas ameaças que castigam as comunidades da região, como a seca, a fome, os conflitos e a migração.

Visão

O cientista responsável pela Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação, Barron Joseph Orr, explicou que “a iniciativa representa uma visão que começou há algum tempo”. Nessa altura a questão era se seria possível tentar “lidar explicitamente com a área e mudar tudo, não em um ou dois lugares, mas em todo o horizonte.”

Orr participa da Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, COP24, na cidade de Katowice, na Polónia.

O cientista contou que a intensão inicial era transformar a área em “algo verde”, plantando árvores, mas na verdade o que o projeto tenta fazer é “criar um valor agregado para as pessoas que vivem nessas terras, não apenas plantando árvores, mas fazendo de uma forma ligada à economia que sirva para sustentar a subsistência delas e de futuras gerações."

Mudanças

No Senegal, em menos de uma década, já foram plantadas 12 milhões de árvores resistentes à seca. No Níger, nos 5 milhões de hectares de terra já recuperados são agora produzidas 500 mil toneladas de grãos por ano. Na Etiópia, 15 milhões de hectares de terras degradadas foram reabilitadas.

Para Orr, o “sentimento geral é de que que se está caminhando em direção à meta, que é muito grande, são 100 milhões de hectares de terra que estão sendo recuperados." De acordo com o cientista, a expectativa é de que o projeto esteja concluído até 2030 e que com ele, 10 milhões de empregos verdes sejam criados.

Parceria

A iniciativa, liderada pela União Africana, teve a colaboração de muitas organizações como o Banco Mundial, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, FAO, e a ONU Meio Ambiente.

Orr explicou também que além deste projeto no Sahel, a União Africana prevê expandir a iniciativa até o sul do continente e existem também outros projetos semelhantes ao redor do planeta, como um relacionado à Rota da Seda na China.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Dia de Clarice Lispector (nascida em 10 de Dezembro 1920)


"Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles.
Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles.
Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração.
Como eles admiravam estarem juntos!
Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos."

Conto "Por Não Estarem Distraídos" de Clarice Lispector retirei-o do livro "A Descoberta do mundo: crônicas." Rio de Janeiro, Ed. Nova Fronteira, 1984, p. 508.

Maior Banco de Sementes em Portugal preserva mais de 1/3 da Flora Portuguesa

Foto e notícia aqui
Fatores como as alterações climáticas, os desastres naturais, o aumento da poluição, a exploração excessiva dos solos e a interferência do homem no habitat natural, estão a mudar a flora a nível global e os seus padrões de distribuição, atingindo toda a Europa, inclusive a flora portuguesa que enfrenta atualmente muitas ameaças.
Existe em Portugal, um Banco de Sementes, que trabalha desde 2001 na conservação e proteção de várias espécies ameaçadas. 
O Banco de Sementes A.L. Belo é o maior e mais antigo banco de sementes de espécies autóctones em Portugal Continental. Neste banco os tesouros são as mais de 3700 amostras de sementes, que agregam mais de 1200 espécies e subespécies de plantas de Portugal. 
Estas espécies ficam guardadas num ‘cofre’ sob a forma de um frigorífico de quatro metros quadrados. Com temperaturas que podem atingir os 18 graus negativos, este frigorífico preserva mais de 1/3 da flora portuguesa e cerca de 60% das espécies protegidas de Portugal Continental. Este processo acontece sob a vigilância de vários técnicos que realizam os processos de identificaçãoanálise e preservação.
O Banco de sementes dispõe ainda de câmaras de germinação, onde quando é necessário, são colocadas sementes e se “imitam” as condições da natureza, como por exemplo: as horas de dia e da noite, a temperatura e a humidade que a planta precisa.
Este banco de sementes que é membro nacional do ENSCONET-The European Native Seed Conservation Network, consórcio europeu que reúne 30 bancos de sementes, aplica normas internacionais na recolha e conservação de sementes de forma a maximizar a qualidade, a longevidade e a diversidade genética.
Os técnicos afirmam que “milhares de sementes de uma só espécie podem manter-se vivas durante dezenas ou centenas de anos”.

Processo de preservação e conservação

Segundo Maria Manuela Sim-Sim, curadora deste banco de sementes, grande parte da flora portuguesa é dominada por plantas herbáceas e arbustos, estando as árvores em menor número.
As sementes chegam ao laboratório onde são limpas e sujeitas a um mês de secagem. Só depois é que as amostras são colocadas e guardadas em tubos de vidro tapados com algodão e sílica-gel, além do seu aprovisionamento com parafina. As sementes são divididas em três áreas: ortodoxas, intermédias e recalcitrantes.
As sementes ortodoxas retêm a sua viabilidade por um longo período de tempo, ou seja, com baixo conteúdo hídrico e temperaturas abaixo de zero.
As sementes recalcitrantes toleram apenas uma secagem parcial e nunca valores inferiores a 18-45% ou temperaturas muito abaixo dos 0 Cº.
As sementes intermédias podem tolerar baixos conteúdos hídricos, mas não suportam temperaturas negativas”.

Nos últimos anos, o Banco de Sementes deu prioridade à conservação de espécies ameaçadas contribuindo assim para o cumprimento em Portugal da meta 8 da Estratégia Global para a Conservação das Plantas que recomenda a conservação de 75% das espécies ameaçadas no país de origem até 2020.
Como parte dessa estratégia, foi estabelecido em 2008 um Protocolo de colaboração com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), que permite o planeamento e a conservação das espécies ameaçadas da Flora Portuguesa.
Para a curadora do banco, “a salvaguarda desta diversidade para o futuro a longo prazo é um desafio cada vez mais urgente para os portugueses”.
Portugal caracteriza-se pela diversidade da sua flora, onde coexistem espécies atlânticaseuropeias, mediterrânicas e africanas, mas Maria Manuela afirma que “a perda de biodiversidade é uma realidade” e que “existe uma significativa percentagem de espécies ameaçadas de extinção”. Conclui dizendo que “gostaria de chegar a 2020 com 75% da flora ameaçada salvaguardada”.
A conservação das espécies ameaçadas é uma prioridade e permite implementar em Portugal a Estratégia Global para a Conservação das Plantas. Esta coleção de sementes constitui assim, um seguro contra a extinção das plantas no seu habitat natural, disponibilizando sementes para a reabilitação de habitats e a reintrodução de espécies ou reforço das suas populações.

domingo, 9 de dezembro de 2018

Filme da Semana: Spotlight - Segredos Revelados


O filme conta a verdadeira e fascinante história da investigação, vencedora do Prémio Pulitzer, feita pelo jornal Boston Globe, que viria a abalar a cidade e causar uma crise, em uma das instituições mais antigas e confiáveis do mundo.

Quando a equipa de repórteres da tenaz Spotlight, mergulha nas alegações de abuso, na Igreja Católica, a investigação, de um ano, desvenda décadas de encobrimento, nos mais altos níveis dos estabelecimentos legais, religiosos e governamentais de Boston, desencadeando uma onda de revelações, à volta do mundo.

Saber mais aqui

Encontros Improváveis: Fernando Pessoa e René Magritte

Magritte, The Song of the Violet (1951)
"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos." ~ Fernando Pessoa

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental

Foto e notícia aqui


Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental’ ainda não está concluída, mas os resultados da avaliação preliminar feita até agora permitem perceber que mais de metade das plantas vasculares (espécies da flora com vasos que transportam seiva para alimentar as células) nativas do continente português estão em risco de desaparecerem. Das cerca de 630 plantas já catalogadas no projeto liderado pela Sociedade Portuguesa de Botânica, 381 estão em risco, um quinto das quais “criticamente em perigo”, e 24 já se extinguiram em solo português.

Nesta lista incluem-se flores, árvores, fetos ou arbustos. Entre as que estão à beira da extinção, os investigadores destacam a Onosma tricerosperma (ver foto) uma planta cujo único núcleo populacional português (com apenas 20 “indivíduos”) existe apenas num local na região de Beja, depois de um outro ter sido destruído recentemente devido à instalação de um pomar.

Aliás, “a expansão e intensificação agrícola é efetivamente uma das ameaças mais graves que recaem sobre a flora do nosso país, afetando quase um terço das plantas avaliadas no projeto”, sublinha a Sociedade Portuguesa de Botânica, apontando o dedo ao olival e a outras culturas intensivas de regadio que estão a invadir o Alentejo e o Algarve.

À intensificação agrícola, juntaram-se as alterações no uso do solo associadas à expansão urbanística num “cocktail” explosivo para a extinção das 24 espécies identificadas. Entre estas constam a Armeria neglecta e Armeria arcuata (um pequeno arbusto que habitava exclusivamente clareiras de matos do Baixo Alentejo), a Ononis hirta, ou a Epipactis palustris, uma orquídea que outrora habitava prados húmidos nas regiões do Douro e Beira Litoral. Ver mais aqui.

Outra das plantas em declínio acentuado é o feto aquático Marsilea quadrifolia, mais conhecido como trevo-de-quatro-folhas, cujo último núcleo populacional conhecido em Portugal estava localizado perto da foz do rio Corgo, em Trás-os-Montes, mas não é observado desde 2014. Este feto ainda não foi declarado extinto, mas poderá vir a sê-lo se continuar a não ser visto até 2027. Também criticamente em perigo está o Narcisus cavanillessii, uma espécie de narciso que perdeu 80% da população nacional.

REDESCOBERTA DA VIOLETA HIRTA

Mas não há só extinções, já que se descobriram plantas novas ou que já se julgavam extintas, como a Viola hirta, um tipo de violeta que não se via desde a década de 90 do século XX e que foi reencontrada em Trás-os-Montes.

O projeto conta também com a coordenação da Associação Portuguesa de Ciência da Vegetação (PHYTOS) e a parceria do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, e a colaboração de botânicos amadores.

O trabalho de levantamento da "Lista Vermelha das Plantas Vasculares" começou em 2016 e deverá estar concluído até junho de 2019. Na Europa, apenas Portugal, Macedónia e Montenegro não dispõem de Listas Vermelhas da Flora, quando os outros já vão na sua segunda ou terceira revisão.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

COP24 Virtual Panel: Food-Focused Climate Solutions


Erin Biehl from the Johns Hopkins Center for a Livable Future discusses how consumers can take a bite out of climate change as part of a virtual panel series for COP24 in Katowice, Poland. 

Learn more at these links: 

Saber mais

Genética sugere que nós e os neandertais nos reproduzimos várias vezes


Ainda falta saber muito sobre a relação da nossa espécie – Homo sapiens – com os neandertais, outro grupo de humanos. Ou melhor: ainda há muitos mistérios sobre as relações que os humanos modernos tiveram com os neandertais. Afinal, num estudo publicado na última edição da revista científica Nature Ecology & Evolution, dois cientistas dos Estados Unidos defendem que os neandertais e os humanos anatomicamente modernos se cruzaram – ou seja, reproduziram-se – várias vezes ao longo de dez mil anos.

Se hoje os humanos modernos estão praticamente em todo o planeta, há menos de 100 mil anos estavam confinados a África. Nessa altura, já os neandertais e os denisovanos (outros humanos) habitavam o Oeste e o Leste da Eurásia, respectivamente. “Quando grupos de humanos anatomicamente modernos começaram a espalhar-se para fora de África, todas essas populações se encontraram”, escreve Fabrizio Mafessoni – do Instituto Max Planck, na Alemanha, e que não fez parte do trabalho – num comentário também publicado na Nature Ecology & Evolution sobre este estudo.

As marcas desses encontros estão registadas no nosso ADN. Em 2010, depois de uma sequenciação com grande qualidade do genoma de uma mulher neandertal, revelou-se que os humanos modernos (de origem não africana) tinham entre 1% e 4% de ADN neandertal. Mais tarde, em 2017, publicou-se a sequenciação de um segundo genoma de outra mulher neandertal e essas percentagens foram actualizadas. Se antes desse estudo se tinha concluído que as populações não africanas actuais da nossa espécie tinham no genoma entre 1,5% e 2,1% de ADN neandertal, passou a saber-se que temos mais ADN neandertal do que pensávamos: será entre 1,8% e 2,6%.

Artigo completo aqui

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Estradas, uma ameaça à vida selvagem

Foto e notícia aqui


Todos os dias, biólogos da Universidade de Évora percorrem as estradas da região à procura de animais mortos na estrada. O projeto LifeLinesquer saber qual o impacto das rodovias na mortalidade dos animais selvagens e o que pode ser feito para a evitar.

Luís Sousa sintoniza o rádio da carrinha branca para ter companhia. Ao mesmo tempo despontam os primeiros raios de Sol sobre Évora. Às 07h00 de uma sexta-feira de Outubro, o biólogo de 30 anos prepara-se para mais um dia de trabalho no projecto LifeLines. O café da bomba de combustível, junto à rotunda do Raimundo, foi essencial.

Hoje vai fazer três trajectos à procura de animais selvagens que morreram atropelados. “Seria bom não encontrar nenhum”, desabafa.

A carrinha começa por percorrer a estrada que liga Évora a Estremoz, sempre pela berma, com os quatro piscas ligados e sem passar dos 20 km/h de velocidade.

A primeira vítima surge ao quilómetro 9. É uma pequena ave, já em estado avançado de decomposição. Luís Sousa sai do carro, observa o cadáver no chão e insere no tablet informação sobre o animal e o local onde se encontra. A tecnologia permite que aquelas notas se juntem à Base de Dados Nacional de Atropelamentos de Fauna onde, 365 dias por ano, um dos computadores da Unidade de Biologia da Conservação (UBC) da Universidade de Évora regista este tipo de informações.

O projeto LifeLines começou em Agosto de 2015 e terminará em Julho de 2020. O grande objectivo é “atenuar problemas para a preservação da biodiversidade que se colocam hoje em dia sobre estradas e que têm aumentado no último século”, explica António Mira, coordenador do projecto e professor na Universidade de Évora. O projeto avalia, experimenta e promove medidas para diminuir os efeitos negativos de infraestruturas lineares, como estradas, em várias espécies de aves, mamíferos, anfíbios e répteis, desde ginetas, corujas a cobras, ratinhos e pequenas aves. Outro dos objectivos é desenvolver uma infraestrutura verde para ajudar a conservar a biodiversidade da região.

Mas para isso é essencial o trabalho de campo de Luís Sousa. O biólogo está a fazer agora a estrada que liga Estremoz a Montemor-o-Novo.

Ao fim de 21,4 quilómetros avista o segundo animal morto. Trata-se de um rato-de-Cabrera. O cadáver do pequeno roedor é levado para junto da carrinha onde, com um pequeno bisturi, o biólogo retira duas pequenas amostras e coloca-as em dois tubos com uma solução de preservação, para mais tarde serem analisadas em laboratório. O corpo do animal é devolvido à natureza e Luís Sousa volta à carrinha, onde volta a inserir os dados no tablet.

“Sou um apaixonado pela natureza”, conta este biólogo. “Tive a sorte de ter crescido num ambiente rural, o que me proporcionou um contacto próximo com o campo e os animais.”

Luís Sousa sempre soube que queria ser biólogo. Após concluído o mestrado, surgiu a oportunidade de integrar o projeto LifeLines. “Apesar de ter que me confrontar com os animais mortos nas estradas, o que me motiva é o desenvolvimento e aplicação de medidas que ajudem na preservação das espécies.”

Apenas um quilómetro depois, Luís Sousa encontra uma pequena ave, outra vítima mortal. Ao aproximar-se, percebe que é uma fêmea de toutinegra-de-cabeça-preta. O pequeno corpo da ave está em perfeito estado e, à semelhança do anterior, é devolvido à natureza.


Estradas, barreiras físicas para muitos animais

O problema do atropelamento de animais selvagens foi debatido no início do ano na Assembleia da República, levando à aprovação de três projectos de Resolução com medidas para o solucionar, apresentados pelo BE, PEV e PAN. Estima-se que todos os anos morram em Portugal cerca de 120 animais em cada quilómetro de estrada, desde o lobo-ibérico à coruja-das-torres, segundo o deputado André Silva, do PAN.

As estradas são barreiras físicas para muitos animais e têm um impacto no isolamento populacional e genético de espécies. Além disso, fragmentam zonas importantes para a alimentação e reprodução de muitos animais selvagens.

Talvez tenha sido isso o que aconteceu a este chapim-azul juvenil que Luís Sousa encontra morto ao quilómetro 22,9.

O relógio marca agora 10h00. Estão percorridos 35 quilómetros e Luís Sousa faz uma pausa num café na berma da estrada perto de Arraiolos. É um lugar habitual de paragem. Luís Sousa vai à procura das suas “fantásticas empadas” e de um chá frio de limão. E de outro café que o ajudará a concluir o dia de trabalho.

Este terceiro percurso faz a ligação entre Montemor-o-Novo e Évora. O céu azul, limpo, conjuga-se com os campos onde dominam os tons castanhos, apenas ponteados de verde por algumas árvores e plantas.

O lixo amontoado pela berma da estrada às vezes leva a erros. Como uma casca de banana que obriga o biólogo a parar, desconfiado de que seria mais um animal morto na estrada.

É ao fim de 10 quilómetros que encontra o quinto animal morto. “Desta vez é uma cobra-de-ferradura, ainda juvenil, que tem este nome por causa de uma mancha escura em forma de ferradura depois da cabeça.”

O sol sente-se cada vez mais forte e o cansaço já pesa. São 12h15 quando Luís Sousa chega ao fim do terceiro e último percurso.

Luís Sousa percorreu três estradas nacionais, num total de 100.8 quilómetros em 4 horas 15 minutos. “Este foi um bom dia porque apanhámos apenas cinco animais mortos”, afirma Luís Sousa.

Amanhã será um novo dia. O mesmo trajeto será percorrido por outro biólogo, Tiago Pinto, que irá procurar os animais mortos por estas estradas do interior alentejano.

Saiba mais

O projecto LifeLines, com um orçamento total de 5.540,485 euros, é co-financiado pelo programa europeu LIFE.

São parceiros do projecto as Universidades de Évora, do Porto e de Aveiro, as Câmaras Municipais de Évora e Montemor-o-Novo, a Infraestruturas de Portugal e a Marca – Associação de Desenvolvimento Local.

100 Anos da História Ambiental de Portugal

A História Ambiental do país é breve e rica em conquistas. Conheça os marcos no ambientalismo de Portugal



São praticamente inexistentes os registos seculares de medidas de proteção do ambiente, ou de um sinal de preocupação ou uma consciência ambiental. Avançamos, então, até ao século XIII, à plantação do pinhal de Leiria.

Três reis tiveram um papel fundamental para a existência do pinhal: D. Sancho II, a quem se atribui a decisão de começar a plantar pinheiros, D. Afonso III, que efetivamente ordenou a plantação como forma de proteger a cidade, os terrenos agrícolas e travar a degradação das dunas, e ainda D. Dinis I, a quem o pinhal é associado.

Descobrimentos e Lei das Árvores
A altura dos Descobrimentos foi a época em que a floresta Portuguesa mais sofreu: era necessária matéria-prima para construir, e as árvores autóctones foram sendo abatidas. Apesar de tudo, os reis sempre tiveram alguma espécie de consciência de que era necessário repor as árvores abatidas.

O primeiro marco digno de nota remonta a 1516: foi proclamada a Lei das Árvores. Esta lei dizia “Que se prantem árvores para madeira.” e promovia a reflorestação de terrenos baldios com pinheiros, carvalhos e castanheiros.

Os Séculos Negros para a Floresta
Vem o século XVIII, e no reinado de D. João V – a quem é atribuída a criação da Mata dos Medos - vivemos a época de maior desarborização do país, com a expansão das culturas de cereal e das vinhas.

No século seguinte, figurava na Constituição  de  1822, o  dever  das  câmaras  municipais  em plantarem árvores em terrenos concelhios e em baldios. Em 1892, um decreto lei falava em sanções pela contaminação das águas.

Apesar das boas notícias, no ano de 1834 foram abolidas as áreas de proteção de florestas públicas, aumentando novamente a desflorestação. Apesar disto, os Serviços Florestais, nas décadas seguintes, reflorestaram gradualmente com pinheiro e eucalipto.

O Apelo de Um Poeta para a Proteção da Natureza
Durante os reinados seguintes, e até ao século XX, uma série de eventos europeus, nacionais e até ambientais foram destruindo cada vez mais a floresta portuguesa. Destruição esta que, apesar da criação em 1918 do Ministério da Agricultura que tratava dos assuntos do ambiente, se tentava colmatar com medidas de curta duração.

Porém, no ano de 1947, um poeta pedia socorro pela Mata de Solitários da Serra da Arrábida. Sebastião da Gama escreveu uma carta para a Direção-Geral dos Serviços Agrícolas, depois remetida para o Instituto Superior de Agronomia, a denunciar a iminente desmatação da Serra da Arrábida.

Devido a este apelo, no ano seguinte, em 1948, criou-se a Liga para a Proteção da Natureza (LPN). A LPN, nascida a 28 de julho, era a primeira organização dedicada à conservação da natureza de toda a Península Ibérica.

Este foi, em boa verdade, um evento que marcou o início da História Ambientalista de Portugal. Apesar da criação da LPN, a política ambiental ainda não era uma realidade em Portugal, e o governo da altura rejeitou a inclusão da educação ambiental nos currículos escolares.

As Épocas Prolíferas para o Ambientalismo
Os que amavam o ambiente, entre eles, a LPN, não desistiram e continuaram a tentar mudar mentalidades e incutir políticas ambientais no país. Ao mesmo tempo, a consciência ecológica crescia em todo o Mundo, especialmente nos EUA.

O ano de 1970 chegou e com ele muitas mudanças a nível mundial. Portugal não foi exceção. Aproveitando a classificação de “Ano Europeu da Conservação da Natureza”,  a LPN pressionou uma lei que regulasse a criação de áreas protegidas: a Lei de Conservação da Natureza.

Logo no ano seguinte, 1971, se nascia a primeira área protegida de Portugal: o Parque Nacional da Peneda-Gerês, a par da Comissão Nacional do Ambiente (CNA). Só cinco anos mais tarde Portugal teria a segunda área protegida, o Parque Natural da Serra da Arrábida, criado em 1976, e a terceira em 1979, o Parque Natural de Montesinho. O Dia Mundial do Ambiente, foi celebrado em Portugal, pela primeira vez, a 5 de junho de 1973, na primeira grande iniciativa da CNA.

Décadas de 80 e 90 e a Legislação
Os anos 1980 e 1990 foram de extrema importância para a legislação e criação de medidas de proteção da Natureza. Foi nestes vinte anos que se fizeram as primeiras Avaliações de Impacte Ambiental e os primeiros Planos de Ordenamento de Território. Criou-se ainda a Reserva Ecológica Nacional (REN) – com o objetivo de proteger os recursos naturais, como a água e o solo, fazer a gestão do território e conservar a natureza e a biodiversidade.

Em 1985 nascia em Braga a Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza, e em 1987 o Centro de Recuperação do Lobo Ibérico. Sem esquecer que em 1982 se formou o primeiro partido ecologista do país – Os Verdes. Ainda em 1987, surgiam dois diplomas fundamentais: a Lei de Bases  do  Ambiente  (Lei  n.º  11/87,  de  7  de  Abril)  e  a  Lei  das Associações  de  Defesa  do  Ambiente  (Lei  n.º  10/87,  de  4  de  Abril). O Ministério do Ambiente foi criado apenas em 1990, e quatro anos mais tarde nasceu o Plano Nacional da Política de Ambiente.

A Viragem do Milénio e a Proteção do Ambiente
Na passagem de 1999 para 2000, um relatório publicado pela Quercus dava a conhecer os piores factos ambientais de 1999. Entre eles estavam a baixa taxa de reciclagem de resíduos, a fraca qualidade de muita da água portuguesa, e a falta de proteção da floresta autóctone de sobreiros e azinheiras.

No entanto, os anos 2000 vieram trazer boas notícias a muitos níveis. Apesar dos altos e baixos, foram criadas novas leis e regulamentos relacionados com o ambiente e a sua proteção, e o termo “sustentabilidade” tornou-se usual no dia-a-dia.

Será que Portugal está no caminho da sustentabilidade?
Em 2007 criou-se a Associação Portuguesa do Ambiente e em 2012 o Instituto para Conservação da Natureza e Florestas. A nova consciência ecológica e ambiental, bem como os esforços para a conservação da fauna portuguesa, conseguiram trazer de volta o lince ibérico, que deixou de ser uma espécie em vias de extinção – apesar de o seu estatuto ainda ser de Ameaçado - assim como o lobo ibérico.

Mais recentemente ouvimos a expressão Carbon Neutral, e compromissos de redução da pegada de carbono. Em 2016, Portugal assinou o Acordo de Paris, um tratado no âmbito da Convenção Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (CQNUAC), que visa reduzir as emissões de gases de efeito de estufa e minimizar o aumento da temperatura média global.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Nesta escola portuguesa, tudo o que vem à rede é plástico que não vai para o oceano

Notícia e foto obtidas aqui


Por estes dias, quando olham para cima à entrada da Escola Básica de Manhente, em Barcelos, os alunos vêem uma rede gigante, que cobre todo o átrio interior. Está ali colocada para lhes mostrar como é ser um peixe no oceano. A rede, que para já está limpa, vai carregar todo o plástico que for encontrado no chão do recinto da escola. O objectivo é consciencializar os alunos “de uma forma mais visual” para o que acontece “ao lixo que atiram para o chão e vai parar ao mar". A iniciativa foi partilhada através de uma publicação no Facebook da escola e está a ser recebida com agrado, pelo que se lê nos comentários. 

Paula Ribeiro, professora bibliotecária e uma das impulsionadoras da acção, explica, ao telefone com o P3, que a ideia se insere no projecto Missão Possível 4.0, que abrange todo o agrupamento de escolas Alcaides de Faria. O objectivo passa por sensibilizar os alunos desde a primeira classe ao 9.º ano para questões relacionadas com o ambiente e com a solidariedade.

domingo, 2 de dezembro de 2018

A simplicidade é a maior ostentação da vida!

Foto e reflexão aqui

Poucas são as pessoas que podem dar-se o luxo de viverem – e serem felizes- na simplicidade. Não é para qualquer um.
Não é mesmo para qualquer um, viver sem dar tanta importância ao que estão falando de você. Sem precisar TER para SER. Sem precisar SER, o tempo todo, algo à mais do que verdadeiramente se é.

Não é para qualquer um assumir-se. Simplesmente assumir-se, e não ter a necessidade de impressionar ninguém.

Assumir as origens; As escolhas (incluindo as erradas); Assumir que é normal, certas vezes, não ter grandes planos e ambiciosos projetos. Assumir que não gosta de lagosta ou pratos franceses, que prefere uma pizza e uma boa omelete; Que não curte praias badaladíssimas e que não almeja ser CEO de lugar nenhum e nem comprar um carro importado nos próximos meses.

Ser feliz com o que se tem é um risco tremendo. A maioria de nós (me incluo nessa) está sempre de olho no que ainda falta. Uma espécie de falsa “motivação” para os dias monótonos. A gente não se permite estar em paz e satisfeito com o que temos, pois achamos que desse jeito estagnaremos por completo.

Cuidado! Se você disse que não quer fazer MBA no exterior e que não precisa de um apartamento de alto valor, será chamado de falso e hipócrita pelos “yupies” modernos. Essa geração que não se importa em vivenciar nada, de fato, que só se importa em ganhar, contra o próprio ego, a disputa de “ quem tem mais”. Onde o objetivo nunca foi ser realmente feliz, e sim, causar “Inveja” nos demais, para quem sabe dessa forma compensar suas frustrações pessoais.
A simplicidade é a maior ostentação dessa vida.

Não é todo mundo que conquista isso.

Quem descobrir o quão divino e delicioso pode ser um café da manhã em casa num domingo qualquer, com pão fresquinho, bolo caseiro e uma xícara de café, descobrirá a porta para a verdadeira felicidade.

E eu não estou falando de riqueza ou pobreza. Estou falando do luxo da singeleza. Do inestimável preço de alegrar-se com chuva na janela de manhã cedo.

Com um bichinho fazendo graça na rua… Com a alegria de escutar, várias vezes, a sua música predileta enquanto caminha pro trabalho.

Estou falando da magnificência que é, fazer o teu amor sorrir num dia conturbado. Em tomar um cappuccino bem quente num dia frio e nublado. Do entusiasmo ímpar de matar a vontade de um beijo apaixonado.

Troco todo o meu ouro por uma paixão fugaz! Porque da escassez do ouro a gente se refaz, de um amor perdido… Jamais.

Feliz não é quem acorda necessariamente num palácio em lençóis de seda, para mim, feliz é quem acorda a hora que quer e com quem se ama do lado.

Do que adianta ser escravo de um trabalho que te paga muito, mas que te cobra muito mais? Que te cobra TEMPO, o bem mais precioso aqui na Terra. Que te dá status e te faz perder a apresentação da tua filha no colégio. Que te dá “sucesso”, mas te tira o sono. Que te dá muito dinheiro e muita dor de cabeça; Que te dá conforto, mas que te leva a LIBERDADE?

Pompa mesmo é quem pode tomar uma água de coco, sem pressa, de chinelo, às 3 da tarde…

Nos vendemos por tão pouco. Somos tão baratos que só pensamos em dinheiro. Dispensamos aquilo que de tão valioso, não está à venda. Amor genuíno; Amizade de infância; Colo materno. Historinhas para as crianças, antes de dormir…

Ensinar o seu filho a fazer panquecas. A gente sobrevive a um colégio mediano e a roupas velhas, mas raramente nos refazemos de pais ausentes e caros presentes, sem ternura alguma. A gente vive bem sem ir a Paris 1 vez por ano, mas não se vive bem sem arroz, feijão e o pão nosso de cada dia. Aprendamos a agradecer por isso.

Conheço mansões sem capricho algum e sem parecer conter uma alma dentro, e já tive a sorte de estar em casas simplórias com muito esmero e que me acolheram, muito melhor que hotéis 5 estrelas.

Como é bom colher flores e colocar num vasinho, como é bom chegar cansado em casa e encontrar um bilhetinho. Como é fantástico chegar tarde e ver que alguém deixou o teu jantar pronto, separado e quentinho.

Cobrir quem amamos numa madrugada fria; Fazer planos com o teu melhor amigo da faculdade, para uma viagem que nem sabemos se ao menos faremos, um dia.

Como é bom acordar com o canto dos passarinhos! Regar o jardim! Sorrir para um bebê e vê-lo sorrir de volta. Como é bom saber que temos em casa alguém que nos ama, nos esperando para abrir a porta…

O esplendor da vida se dá na subtileza cotidiana de pequenos oásis tímidos, abscônditos em um mar de infinitas grandezas.

Ache os seus.

Bruna Stamato

Foto: Eduardo Viero (@eduviero) – Blog Eduardo e Mônica