segunda-feira, 31 de maio de 2021

Workshop com Ernst Götsch - Plantio multi estratificado


Nesse início do mês de fevereiro de 2020, Ernst Götsch esteve em Portugal pra implantar as linhas de árvores de um sistema complexo que inclui macieiras, ameixas, mirtilo, uva, limão, amora, freixo, choupo, morangos e vegetais de ciclos mais curtos. Quando esquentar um pouquinho, cada faixa entre as árvores vai receber duas linhas duplas de pimentas picantes, entre outras que vão ajudar a ocupar e a nutrir todo o sistema. 
A iniciativa é da Mendes Gonçalves, conhecida pela marca Paladin, uma empresa que tem uma lista imensa de produtos e consegue absorver a grande variedade de espécies que estão a plantar. Um destaque desse desenho, e que é uma dúvida comum sobretudo pra plantios comerciais, é que os estratos das árvores foram distribuídos em linhas diferentes. 
Enquanto umas linhas concentram os estratos baixo e alto, outras recebem os medio e emergente. Isso facilita o manejo e a colheita. O objetivo principal é partir de uma área cujo histórico recente foi o de monocultivo de grãos e trabalhar para transformar esse pedaço de terra semi-urbano em um belo sistema biodiverso, estratificado, e que garanta colheitas sucessivas desde os primeiros ciclos.

English

At the beginning of February 2020, Ernst Götsch was in Portugal to implement the lines of trees in a complex system that includes apple trees, plums, blueberries, grapes, lemon, blackberry, ash, poplar, strawberries, and short-cycle vegetables. When it gets a little warmer, each strip between the trees will receive two double lines of chili peppers, among others that will help occupy and nourish the entire system. 
The initiative is from Mendes Gonçalves, known for the brand Paladin, a company that has an extensive list of products and manages to absorb the wide variety of species planted in the system. A highlight of this design, which is a common question, especially for commercial plantations, is that the strata of the trees were distributed in different lines. 
While some lines concentrate the low and canopy layers, others receive the medium and emergent. It facilitates management and harvesting. The main objective is to start from an area with a recent history grain monoculture and to transform this semi-urban land into a beautiful, stratified, biodiverse system that guarantees successive harvests since the first cycles.

domingo, 30 de maio de 2021

Retalhos da vida de um grande devedor

Por mais endividado que viva, Luís Filipe Vieira escapou sempre, entre reestruturações e favores, à convocação de um património que, sendo seu, no fundo, nunca lhe pertenceu. Vieira não é único, mas é um retrato acabado de uma economia ao serviço dos bancos e seus satélites. Por Mariana Mortágua.

Neste artigo, revisitam-se quatro episódios da história da dívida de Luís Filipe Vieira (LFV) e da sua íntima relação com o BES. Nesta história, os contribuintes são o protagonista final.

A dívida que deixou de o ser (I)

No início do milénio, LFV já detinha vastos terrenos na zona oriental de Lisboa, mas também uma substancial dívida ao BES. Em 2004, os interesses de ambos convergiram na criação do fundo imobiliário FIMES Oriente. Entre 2004 e 2007, o FIMES comprou a LFV os seus terrenos, num total de 144 milhões. Para financiar a compra, o FIMES emitiu unidades de participação. Metade do fundo era do BES, a outra metade de LFV, que para a adquirir recebeu do BES um novo empréstimo, de €87M. Com a operação, Vieira pagou dívidas antigas, contraiu novas, guardou mais-valias e passou de devedor a sócio do GES.

Os terrenos da Matinha, do FIMES, foram notícia quando o projeto de urbanização elaborado pelo atelier de Manuel Salgado foi aprovado, em 2011, com os votos do PS na Assembleia Municipal. O arquitecto era também vereador socialista e o processo está hoje sob investigação do Ministério Público(link is external)
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FRANCISCO LOUÇÃ

Em 2012, endividado em €283M, LFV vendeu a sua participação no FIMES, pela qual recebeu agora €126M, além de outros ativos, num encaixe total de €151M, livrando-se ainda da dívida associada àquelas empresas, no valor de €107M. A compradora foi… a seguradora BESVida, que fez desaparecer esta exposição do balanço do BES em produtos financeiros que emitiu. Esta foi mais uma das muitas reestruturações de uma dívida insustentável, embora Vieira afirme que foi um favor a Salgado. No fim, vai dar ao mesmo, já que o Dono Disto Tudo era o padrinho do império imobiliário de LFV.

Um devedor Ponzi

O negócio do FIMES não resolveu a insustentável situação financeira de LFV. Restava a solução de sempre: reestruturar. O empresário encaixava na designação de devedor Ponzi, proposta por Hyman Minsky, um devedor que depende de novos empréstimos para liquidar o serviço da dívida anterior. Foi assim que o BES permitiu que LFV evitasse incumprimentos e penhoras sobre o seu património.

Em 2009, o grupo de Vieira, a Promovalor, recebeu crédito para substituir dívidas antigas do grupo, para além de um financiamento adicional de €100M. Em 2011, já exposto em €388M, o BES adquire ainda €160M em obrigações, convertíveis em capital. Com parte da receita, LFV pagou dívidas antigas e, com a outra parte, alimentou os seus negócios, facilitados pela redução de todos os spreads para 3,5%.

A crise não impediu o BES de financiar ainda as aventuras da Promovalor em Moçambique e no Brasil, na companhia da Odebrecht. Rui Pinto afirma que o consórcio integrava também a Doyen, investigada por branqueamento de capitais. LFV nega a relação, mas documentos do BES indicam que a parceria foi, pelo menos, ponderada.

Apesar das sucessivas bóias lançadas pelo BES, muitas das empresas da Promovalor chegam a 2015 em falência técnica. É aí que o presidente do Novo Banco, Stock da Cunha, renova as dívidas e reduz os spreads para 0,5%. Mas nada dura para sempre com um devedor Ponzi.

A dívida que deixou de o ser (II)

Em 2016, a braços com as dívidas do grupo Promovalor, o Novo Banco aceita converter €140M dessa dívida numa participação num fundo. Mas há um aspeto inédito nessa decisão: a gestão do fundo é entregue ao autor da proposta, a empresa Capital Criativo. Por que haveria o Novo Banco de suspeitar da ideia? Afinal a Capital Criativo é nada menos que uma antiga participada pela Promovalor, de que o filho de LFV continua sócio e que é gerida pelo antigo vice-presidente do Benfica. Depois da constituição do fundo, a Promovalor ainda mantém €84M de dívida não convertida em participações. A lógica é que o dinheiro gerado pelos ativos sirva em primeiro lugar o pagamento da dívida, sendo depois distribuído pelos participantes do capital do fundo, a começar pelo Novo Banco, que se torna assim, mais uma vez, sócio de LFV.

A dívida que deixou de o ser (III)

Em 2021, o Novo Banco e LFV serão mais sócios do que nunca. Ainda se lembra dos €160M de obrigações adquiridas pelo BES em 2011? Pois elas vencem este ano, e como LFV não as pagou elas serão convertidas em capital. Em vez de dono de uma dívida, o Novo Banco tornar-se-á este ano, espante-se, acionista da Promovalor. Claro que haveria a hipótese de o fundo gerido pela Capital Criativo conseguir em alguns anos o que LFV não fez em décadas: pagar as dívidas acumuladas. Mas essa hipótese é remota, tanto mais que a Capital Criativo já pediu ao Novo Banco a revisão dos prazos de pagamento da dívida do fundo.

Friends will be friends

Em 2013, disputava-se a final da Champions no mítico estádio de Wembley, em Londres. Para o evento, Almerindo Duarte e o seu sócio, LFV, convidaram administradores do BES e representantes do governo do Rio de Janeiro. O programa era irrecusável, com voo privado, estadia no Hilton e box no estádio. No ano anterior, a Imosteps, de Vieira, tinha comprado a participação que o GES (através da Opway) tinha na OATA, tendo para isso beneficiado de um empréstimo do BES de €54M. A OATA detinha, através de uma estranha estrutura de offshores, dois terrenos para cemitério e um outro em plena reserva ambiental, no Rio de Janeiro. Vieira descreve a operação como um novo favor a Salgado e gaba-se de, junto das autoridades do Rio, ter conseguido trocar o terreno interdito por direitos de construção na Barra da Tijuca. Ora, de acordo com uma nota do Banco de Portugal, parte do empréstimo de €54M nunca chegou à OATA, sendo “alocado à transferência de determinados montantes para contas pessoais dos acionistas (... uma transferência de 8 milhões para LFV)”.


, Vieira foi incapaz de explicar o destino do dinheiro em falta. Certo é que, apesar de todo o investimento, os negócios não avançaram e a Imosteps não pagou a sua dívida ao BES, que transitou para o Novo Banco.

Em 2019, apareceram três compradores para este crédito, com preços entre os €4M oferecidos no âmbito da carteira NATAII e uns surpreendentes €10M oferecidos pela Iberis Samper. Por trás desta oferta estava José António dos Santos, sócio de LFV e acionista do Benfica. Por impressionante coincidência, na mesma altura, a Benfica SGPS lança uma generosa oferta de compra das ações da SAD do Benfica, que garantiria ao acionista da SAD José António dos Santos(link is external)
, nem o Fundo de Resolução permitiu a venda da dívida da Imosteps à Iberis. Foi o fundo Davidson Kampner que ficou com os €54M de dívidas por €4M, vendendo-o em seguida, com lucro, a... José António dos Santos. O acionista da SAD logo cancelou o aval pessoal de Vieira sobre aquela dívida. Assim se fazia e faz na economia de favores e socorros mútuos.

Muito mais que um palheiro

Por mais endividado que viva, LFV escapou sempre, entre reestruturações e favores, à convocação de um património que, sendo seu, no fundo, nunca lhe pertenceu. O próprio garante que o banco nunca quis avaliá-lo, mas que detém muito mais do que a “casa para palheiro” que lhe é atribuída como única propriedade nos documentos da Comissão de Acompanhamento do Novo Banco. Vieira não é único, mas é um retrato acabado de uma economia ao serviço dos bancos e seus satélites.

Artigo publicado no jornal “Público” a 16 de maio de 2021

Ainda os rankings das Escolas



Pelo Professor João Veloso, a propósito dos rankings de escolas:
"Acho que já passou tempo suficiente para eu poder falar disto em público.
Há mais de 10 anos, trabalhei com a Inspeção Geral de Educação num programa de avaliação de escolas. Conheci gente muito profissional com quem calcorreei dezenas e dezenas de escolas públicas em quase todos os distritos do Norte.
Nunca me esquecerei da primeira escola que visitei, a pouco mais de 50 km do Porto. Uma criança que só tomava banho nos dias das aulas de Educação Física. Tinha vergonha e o professor mandava-a para o balneário 10 minutos mais cedo para ela se lavar. Quem levava a roupa suja da criança e lha trazia lavada e passada no dia seguinte era uma contínua da escola.
Depois vieram outras histórias que fui amealhando. Meninos cuja única refeição quente era o almoço da cantina. Miúdos que à tarde levavam os restos do almoço escolar para casa para servirem de jantar para a família. Miúdos que ao fim de semana se alimentavam de bolachas Maria. Miúdos que aprenderam a gostar de ler na biblioteca da escola, que em casa nunca tinham visto um livro. Escolas que no inverno acabavam as aulas às 4 da tarde para que os pais das meninas não as vendessem por meia hora aos senhores dos Mercedes pretos parados à porta a coberto do escuro. Crianças alcoolizadas. Professores e funcionários à beira de uma exaustão horrível porque tinham de fazer de pais, mães, psicólogos, médicos, confidentes, assistentes sociais. Crianças que nunca tinham ido mais longe do que à vila lá da terra.
A merda dos rankings, a cloaca dos rankings, a vergonha dos rankings serve para quê? Qual é o espanto em constatar sadicamente que os miúdos de casas sem pão ficam em último e os das fábricas de notas em primeiro? Ponham-me a jogar à bola com o Ronaldo e não é preciso vir nenhum ranking dizer-me que nunca lá chegarei.
As escolas que se dão ao luxo de escolher à partida os seus alunos, que recebem os alunos que em casa comem e leem e viajam e falam inglês não têm grande trabalho a fazer. Todos nós, professores, sabemos que trabalhar com bons alunos é fácil. Difícil, desafiante (e apaixonante) é fazer dos fracos bons.
O resultado de uma escola não se mede só pelas notas a Inglês e a Biologia. Há escolas em que o sucesso é alimentar e lavar os miúdos e isso não passa no radar dos filhosdaputa (pardon my French, mas o vernáculo é para ocasiões destas) dos rankings, cuja única função é apontar ainda mais a dedo aqueles que já são estigmatizados, excluídos, ridicularizados todos os dias, e fazer publicidade enganosa aos colégios "do topo".
Conheço paizinhos com filhos problemáticos que acham que transformariam os seus filhos em génios se os inscrevessem de repente numa dessas escolas. Acreditam que há algo nessas escolas, uma varinha mágica impermeável ao resto, que fabrica génios. A ficha cai-lhes quando são os próprios colégios, em privado, a tirar-lhes o tapete. Nem sequer os admitem à entrevista. É bem feito.
Honestidade intelectual: vão buscar um desses meninos que não comem nem tomam banho em casa, ponham-no numa das "top five" (mas ponham mesmo, não façam de conta), não lhes mudem nada nas condições de vida, e vejam se é isso que os manda para o MIT."

Música do BioTerra - Philip Glass - Metamorphosis (complete)

sábado, 29 de maio de 2021

Curta-Metragem - Ballet Mecanique, 1924


Ballet Mécanique é um filme de arte pós-cubista dadaísta, concebido, escrito e co-dirigido pelo artista Fernand Léger em colaboração com o cineasta Dudley Murphy. Tem uma partitura musical do compositor americano George Antheil. Wikipedia (inglês)
Ver descrição original
Data de lançamento: 24 de setembro de 1924 (mundial)
Diretores: Dudley Murphy, Fernand Léger
Roteiro: Fernand Léger
Adaptação de: Ballet Mécanique
Música composta por: George Antheil

sexta-feira, 28 de maio de 2021

A eletricidade obtida a partir da queima de árvores nunca será verde!


A aposta política europeia na utilização da biomassa florestal primária para a produção de eletricidade, para além da crescente contestação social, enfrenta a oposição de um vasto número de cientistas.

A própria proposta de revisão da Diretiva das Energias Renováveis (Diretiva 2018/2001/EU, também identificada por RED II), que esteve em consulta pública até ao passado dia 9 de fevereiro, está em processo de reescrita, após críticas posteriores por parte do Conselho de Escrutínio Regulatório da Comissão Europeia, contestando o défice de avaliação dos riscos ambientais potenciais do acréscimo de uso de biomassa para energia.

São múltiplos os relatos de perda de coberto arbóreo decorrente da produção de eletricidade, quer dentro do espaço da União Europeia, quer da importação de material lenhoso proveniente dos Estados Unidos, do Canadá, da Rússia e do Brasil.

A alegada utilização de “resíduos” florestais, para queima em centrais termoelétricas ou no fabrico de pellets de madeira, cai por terra quando se colhem registos dos parques de receção de matéria-prima destas unidades. O facto é que neles predominam, quase exclusivamente, as seções de troncos de árvores (toros). Em todo o caso, os designados “resíduos”, na verdade são sobrantes da atividade silvícola, essenciais à manutenção do fundo de fertilidade dos solos, mais ainda em Portugal, um país de maioria de solos muito pobres em teor de matéria orgânica.

Os espaços arborizados em Portugal são, há décadas, vítimas de sobre-exploração. Os incêndios têm vindo a acentuar a escassez de matéria-prima para suprir a capacidade industrial já instalada, seja no setor silvo-industrial, como no energético (por cogeração, por utilização de biomassa florestal primária em queima em centrais termoelétricas e na produção de pellets de madeira). O crescente número de unidades licenciadas para a queima de biomassa ou do fabrico de pellets de madeira, ocorrida significativamente após 2016, tem feito aumentar ainda mais a pressão sobre os recursos arbóreos nacionais. Os impactes nos ecossistemas, sobre a biodiversidade, os solos e os recursos hídricos têm sido muito nefastos.

Aos impactes sobre os ecossistemas acrescem os riscos da significativa poluição atmosférica e sonora inerentes ao funcionamento das centrais de queima de arvoredo. Veja-se o caso da central do Fundão.

A queima de arvoredo para a produção de eletricidade não produz menos emissões, nem gera menos poluição do que a queima de combustíveis fósseis. Na verdade, a opção pela queima de madeira corresponde a um retrocesso civilizacional, a 1850, ao período pré-industrial.

Tem esta opção pela bioenergia impacto no problema dos incêndios florestais em Portugal? É duvidoso! O impacto tem-se mostrado neutro ou negativo. O facto é que a madeira ardida tem um preço e um teor de humidade mais convidativos ao uso para a produção de eletricidade.

Importa ter em conta que, sendo este investimento desprovido de racionalidade, o mesmo só é viável com forte subsidiação pública e com um considerável esforço financeiro por parte dos consumidores de eletricidade. Por outro lado, presta-se a intervenções especulativas, associadas à captação de fundos públicos, criados no âmbito da transição energética e da recuperação económica pós-pandemia.

Pelo exposto, as organizações signatárias apelam ao Governo português, à Presidência do Conselho Europeu e à Comissão Europeia para não viabilizarem o financiamento público à queima de árvores para a produção de eletricidade.

Lisboa, 25 de maio de 2021

As subscritoras,


Fonte: Acréscimo

Sem Agricultores a agricultura da Europa não tem futuro!

Num momento determinante para a agricultura europeia, uma vez que se ultimam as negociações da Política Agrícola Comum para a próxima década, a qual ditará as regras que balizarão a produção agrícola e o rendimento dos agricultores europeus, garantindo que continuaremos a produzir alimentos de qualidade, a um preço razoável e mantendo os mais elevados padrões de sustentabilidade social e ambiental realizou-se em Santarém o FFA2021 – Portugal.

No entanto nem todas as notícias são boas … e os exemplos de momentos francos de troca de opinião, construtiva e construtora, como este que aqui hoje está a decorrer, são escassos.

O principal risco deriva do posicionamento eco-fundamentalista do apparatchik europeu, que parece pretender levar a mais escrutinada, controlada e eficiente agricultura do mundo – responsável pela produção de uma parte importante dos alimentos que consumimos – para um caminho assente em verdades assumidas como adquiridas, sem qualquer preocupação do impacto das suas propostas e decisões no tecido produtivo, nos atores locais e na economia do mundo rural.

Sem agricultores a agricultura da Europa não tem futuro!

Sem a nossa participação, desestrutura-se o mundo rural e coloca-se em causa a sustentabilidade social e ambiental do território, num momento em que todas as previsões indiciam que o risco produtivo e ambiental aumentará, num quadro de evolução climática caracterizado por um aumento de temperatura e fenómenos climáticos mais extremos e mais frequentes.

Tentam passar um atestado de menoridade à maioria da sociedade e recorrendo a mensagens catastróficas e por vezes intimidatórias, onde as “fake news” são elemento recorrente. Têm um trabalho profissional e metódico que pretende impor comportamentos e atitudes, sem antecipar impactos nem prever qualquer mitigação.

O Green Deal e a Estratégia da Biodiversidade, que inclui a das Florestas, são boas iniciativas, com as quais concordamos nas grandes linhas orientadoras.

No entanto vão ferir de morte a agricultura europeia e o mundo rural se não repensarmos as metas e os métodos para as atingir:
  • Reforçando a Precaução, por opção à Proibição
  • Melhorando a Eficiência, combatendo a Imprudência
  • Apostando na Liberdade, lutando contra a Irracionalidade
  • Promovendo a Diversidade, como contrapartida à Obrigatoriedade

No uso de fitofármacos, a argumentação científica isenta tem que ser a base de um sistema com elevado grau de precaução em que a proibição, motivada por preocupações populistas e ideológicas, não seja a opção de serviço.

Na utilização de adubos e fertilizantes ou da água para rega, onde a eficiência que conseguimos é cada vez maior, resultado de uma agricultura de precisão e pressionada pela necessidade de racionalidade económica, as opções não podem ser cerceadas administrativamente, sem critério e sem olhar às especificidades das opções produtivas e das realidades regionais.

A opção cega na agricultura biológica, inviável em termos produtivos e destruidora em termos sociais – porque só poucos consumidores lhe poderão aceder – não pode ser uma orientação de sentido único, num tempo em que a diversidade e a liberdade individual de escolha parece querer ser transformada em propriedade de alguns.

A utilização de um discurso formatado, baseado em ideias benévolas, mas inconsequentes e perigosas, como as cadeias curtas ou os malefícios de uma suposta intensificação, não nos pode iludir.

Estas são as linhas vermelhas inultrapassáveis, que os ministros que nos defendem e os deputados que nos representam têm que respeitar e assegurar, sem vacilar, no diálogo com uma Comissão Europeia, arvorada defensora de um modelo de sociedade fundamentalista e pouco inclusivo, condicionador do mais básico direito dos cidadãos europeus – a liberdade de escolha.

Pelo que os media nos vão informando e as redes sociais replicam, de forma nem sempre representativa, as coisas não vão correr bem para o futuro da agricultura europeia.

E o nosso histórico posicionamento, de falar muito para dentro e muito pouco para a sociedade e para os cidadãos – de que a ELO é uma exceção exemplar – também não ajuda à nossa defesa.

Precisamos de reinventar no discurso, sobre dois prismas:
  • No combate positivo e construtivo, mas sem tréguas, às metas irracionais e irrazoáveis propostas pela Comissão Europeia, constantes do Green Deal e da Estratégia da Biodiversidade;
  • No modelo de comunicação, direcionando-o para a sociedade e para os cidadãos, com um fluxo de informação, constante e verdadeiro e uma forte presença nas redes sociais.

Consistentemente e sem desistir, temos que contrariar de forma incisiva a hostilidade da comunicação social e a desvalorização mediática da nossa mensagem, das nossas propostas e do seu valor como base de uma solução de futuro para os territórios rurais:

Uma agricultura e uma floresta diversa e inclusiva, que é uma mais-valia efetiva em termos económicos, sociais e ambientais. Só assim garantiremos melhores alimentos e mais ambiente.

Nós agricultores, que estamos habituados à dureza do clima e ao risco da aleatoriedade produtiva a céu aberto, temos que perceber que o enquadramento mudou e também que neste combate não podemos ficar sentados no conforto do sofá.

Temos que nos fazer à estrada, promover a mudança e lutar pelo objetivo pretendido:

Reforçar o papel da agricultura e dos agricultores europeus na produção mundial de alimentos, com um padrão superior de desempenho produtivo, social e ambiental, ao mesmo tempo que contribuímos para as metas climáticas e para a redistribuição de riqueza a nível global.

O que hoje assistimos faz parte deste trabalho, complementar à nossa atividade de produção e gestão do território, ao qual, tal como nas nossas explorações, teremos que nos dedicar nos próximos tempos, 24 horas por dia, 7 dias por semana.

Trabalho em que temos que mostrar inequivocamente, à sociedade e aos cidadãos:
  • Que somos mais amenizadores que condicionadores
  • Que todos os dias temos um agricultor à nossa mesa

Jonatam Balcombe - There Is So Much You Don’t Know About Being a Fly

By Jonathan Balcombe

To the thinkers of antiquity, a fly’s life had cryptic origins. With scant knowledge of how flies metamorphize from larvae into adults, some classical philosophers reasoned that the insects emerged through “spontaneous generation” out of fires, rotted meat, mucilage and other organic refuse; life springing forth from nonliving matter.

Such winged insects as these had no need of mates or parentage, the philosophers theorized, since they did not reproduce. Iota by iota, debris was thought to transmogrify into flies. And so, as a result, something of the inanimate realm clung to them still; a state of unfeeling, the sense that flies were less beings than things. Whatever speck of animacy danced inside a fly, it was imperfectly drawn from its lowly genesis in muck, or smoldering waste.

Naturalists have since detailed the true life cycle of the fly (its perpetual circuit: egg, maggot, pupa, midge), but the notion that flies are tiny automatons lingers on. Flies are said to drone or buzz, sounds that connote machines. En masse, we deem them a “cloud,” a presence as fickle (and sometimes as forceful) as weather. Watching flies wheel around a light bulb, like planets on an invisible orrery, the equilibrium of their motion might strike an idle mind as seeming preset, each flight path produced by some as yet unrecognized kinetic law, instead of being — as is the alternative — the upshot of a fly’s moment-to-moment decision making, a trajectory led by intent.

So it comes as something of a revelation, then, to learn by way of Jonathan Balcombe’s latest book, “Super Fly: The Unexpected Lives of the World’s Most Successful Insects,” that far from operating on autopilot, flies exhibit discerning social lives, idiosyncratic behavior and sensitivities to stimuli that are not dissimilar to our own.

Fly courtship, for instance, offers a remarkable panorama of romantic tension and strategy. There are flies that present potential mates with edible gifts, wrapped in silken bundles that scientists call “nuptial balloons.” Some flies emit an aphrodisiac perfume, dance or sing to attract attention (though they do it by vibrating their wings, not vocally). Flies kiss. Bone-skipper flies, competing for territory and sexual primacy, charge one another at lightning speeds, head-butting as bighorn rams do high up in the Rockies. Females of a different species puff their abdomens to emulate pregnancy; a semblance of fecundity, arousing to males, that Balcombe compares to “a fly bustle.” Copulating tsetse flies shake and squeeze their bodies in a synchronous pattern that is thought to be some kind of inward dialogue; fly dirty talk.

The littlest fly is the size of a flake of pepper. Among the largest is the robber fly, which can grow to nearly three inches and is capable of taking down a hummingbird, though its brain scarcely weighs a milligram. Flies have evolved to occupy some of the planet’s most extreme environments. One kind lives in pools of crude oil, another in the excretory organs of a land crab. Alkali flies dash across a lake’s topside, creating wavelets that then engulf them, encasing each fly in a silvery bubble that permits it to dive and feast on algae below.

Of flies that make their habitat on other animals — parasitizing skin or bodily tissue, feeding off blood — the rarest are those bonded to endangered animals. Today the rhinoceros-stomach botfly is winking out, having fewer rhinoceros stomachs to colonize, as rhino numbers plummet. Contra the mosquito, which too is a member of the fly family Diptera. The mosquito profits from an expanding domain of human skin. As Balcombe notes, these and other flesh flies have access to roughly 4,600 square miles of skin surface globally; and as our species thrives, their profusions do likewise.

“Super Fly” belongs within a subgenre of animal literature that sees frequent recourse to titles that begin: “The Secret Life of _____” (of bees, of cows, of wolves). But Balcombe’s book does more than unfold surprising facts about flies. The effect of being keyed into this miniature world is an uneasy feeling of double vision. Where once flies might have represented tedium or torment, “Super Fly” unveils an existence that is not necessarily simpler for merely being smaller.[NY Times]

Learning that fruit flies suffer from insomnia may well give us cause to reimagine just what that dot, dizzily circling the ceiling, is doing. Or thinking. Is a fly a torment to itself, despairing of sleep? Astonishing, that this intricacy should play out right under our noses (or over our heads). What else are we missing?

O que é agricultura biodinâmica?


A agricultura biodinâmica é um método de produção agrícola que relaciona fases da lua e signos do zodíaco.

A agricultura biodinâmica é um modelo de produção agrícola que não utiliza adubos químicos, herbicidas, sementes transgênicas, antibióticos ou hormônios. Por isso, é muito relacionada e confundida com a agricultura orgânica. O método, criado por Rudolf Steiner em 1924, pode ser entendido como um ramo da antroposofia que pretende entender de maneira mais profunda quais são as relações entre o ser humano, a terra e o cosmos.

A agricultura em si é uma atividade sempre impactante, em maior ou menor grau. Assim, Steiner propôs meios de se restabelecer os equilíbrios rompidos por meio da utilização de preparados biodinâmicos, de maneira que as atividades agrícolas não comprometam todo o sistema. Nesse modelo de agricultura, a propriedade agrícola é vista como um organismo vivo, cuja saúde depende das interações entre os seus elementos dentro e fora da propriedade. Dessa maneira, a biodinâmica procura manter um ciclo de produção que seja condizente com a sua área, as espécies utilizadas e seus ciclos naturais.

O termo “biodinâmico” é composto pelas palavras biológico e dinâmico. A primeira refere-se a uma agricultura inerente à natureza, que impulsiona os ciclos vitais pela adubação verde, compostagem, consórcios, rotações de culturas e integração das atividades agrícolas. A segunda, por sua vez, está relacionada à atuação de forças da natureza, o que, na prática agrícola, ocorre pelo uso de preparados biodinâmicos, do conhecimento dos ritmos astronómicos e da formação da paisagem agrícola.

Signos do zodíaco e fases da Lua
A agricultura biodinâmica relaciona signos do zodíaco e meios de cultivo por meio da utilização de um calendário celestial. De acordo com o biodinamismo, dependendo do signo da época, algumas plantas se desenvolvem melhor que outras. A divisão é feita em quatro elementos: água, terra, fogo e ar. Os signos de água são mais propícios para plantas em que o caule é utilizado. Os de terra, as raízes; já os de fogo, as frutas; e os de água, as folhas e as flores.

Além disso, as fases da Lua também são levadas em consideração no calendário da agricultura biodinâmica. Agricultores semeiam em lua nova, porque nesse momento a energia da semente está mais interiorizada. Na crescente, a semente começa a se desenvolver; na lua cheia, a planta está em plenitude e, na minguante, é quando eles não podem abusar da colheita.

Adubação biodinâmica
A adubação biodinâmica busca dar condições para que o solo mantenha a sua estrutura, permeabilidade, microbiologia e cobertura de proteção, estando também ligada a uma série de práticas que garantem eficiência da adubação.

Na agricultura biodinâmica, adubos naturais elaborados a partir de plantas medicinais, esterco e silício são preparados e enterrados no solo para serem submetidos às influências da Terra. Eles podem ser pulverizados no solo e nas plantas ou introduzidos em compostos ou em outras formas de adubos orgânicos.

Os preparados são numerados de 500 a 507, como uma forma de facilitar a comunicação internacional. O mais conhecido entre eles é o composto de número 500, que é responsável por auxiliar no desenvolvimento da planta. Segundo agricultores que praticam esse modelo, o preparado é sempre feito no solstício de inverno que é quando as forças de cristalização da terra estão mais acentuadas. Pega-se chifre de animais mortos e coloca-se esterco. Depois, a mistura é enterrada em um buraco para ser desenterrada no próximo solstício.

Segue-se a nomenclatura dos preparados:
500: chifre esterco;
501: chifre sílica;
502: flores de mil-folhas e bexiga de cervo macho;
503: flores de camomila e intestino delgado de bovino;
504: parte aérea de urtiga;
505: casca de carvalho e crânio de bovino;
506: flores de dente-de-leão e mesentério bovino;
507: suco fermentado de flores de valeriana.
Objetivos da agricultura biodinâmica

A agricultura biodinâmica possui diversos objetivos, como:
  • Produzir alimentos de alto valor biológico e nutricional, isentos de produtos tóxicos;
  • Preservar a qualidade do meio ambiente;
  • Elaborar insumos naturais e que não causem prejuízos ao meio ambiente;
  • Valorizar a influência de fenómenos astrológicos na agricultura;
  • Estimular a certificação de produtos biodinâmicos;
  • Contribuir para o bem-estar dos agricultores;
  • Promover a integração entre produtores e consumidores.
Por ser diretamente influenciada por fenómenos astrológicos, a agricultura biodinâmica sofre diversas críticas. No entanto, além de produzir alimentos saudáveis e contribuir para o bem-estar do agricultor, essa prática pode ser considerada sustentável, já que utiliza técnicas benéficas ao meio ambiente.

Referências bibliográficas:

O colapso socioambiental não é um evento, é o processo em curso


"Esse nível desastroso de aquecimento médio global, jamais experimentado por nossa espécie, não é o efeito de fatores adventícios e independentes de nossa vontade, mas está inscrito no modus operandi da economia capitalista globalizada. Se há ainda alguma incerteza sobre o ritmo e a magnitude futura do aquecimento global, isso se deve ao fato de que esse ritmo e essa magnitude ainda dependem substancialmente da capacidade das sociedades contemporâneas de operar uma drástica ruptura civilizacional com seu DNA termo-fóssil, seu paradigma alimentar destrutivo da biosfera e seu sistema político e econômico de tomadas de decisão, concentrado nas mãos de conglomerados corporativos e de burocracias dos Estados-Corporações", escreve Luiz Marques.

Publicado por EcoDebate

Luiz Marques, professor livre-docente do Departamento de História do IFCH/Unicamp, coordenador da coleção Palavra da Arte, dedicada às fontes da historiografia artística, e que participa com outros colegas do coletivo Crisálida, Crises SocioAmbientais Labor Interdisciplinar Debate & Atualização, em apresentação de artigo [1].
Eis o texto.

Publicado no início deste ano, o texto tenta sistematizar dados e reflexões sobre:

1. Como compreender, conceitualmente, o colapso socioambiental em curso.

2. Esse processo torna-se inequívoco, em especial com a aceleração recente do aquecimento global (+0,2 C entre 2015 e 2019) e com a inevitabilidade de aquecimentos sucessivos, mesmo sem ulteriores emissões de gases de efeito estufa, dado o atual desequilíbrio térmico do planeta.

3. Os horizontes de tempo projetados para aquecimentos médios globais (terrestre e marítimo combinados) de 1,5 grau Celsius e 2 graus Celsius acima do período pré-industrial, e os diferentes impactos decorrentes desses dois níveis de aquecimento, no que se refere às seguintes adversidades, intimamente associadas:

(a) maior recorrência e intensificação de ondas e picos de calor letais;

(b) incêndios e destruição das florestas, com liberação adicional de CO2;

(c) extinção em massa de espécies (80% das espécies terrestres têm seu habitat nas florestas);

(d) colapso da criosfera, com liberação adicional de CO2 e metano do leito marinho no Ártico e do permafrost;

(e) colapso da corrente do Golfo e demais mudanças adversas nas correntes marítimas;

(f) elevação do nível do mar combinada a mais intensos e recorrentes eventos meteorológicos extremos, provocando crescente destruição da infraestrutura (incluídas as usinas nucleares instaladas à beira-mar);

(g) riscos mais elevados para a agricultura e diminuição da produtividade agrícola, com sempre maior insegurança alimentar e hídrica;

(h) mais recorrentes, e possivelmente mais letais, pandemias e demais crises sanitárias.

4. As ameaças crescentes que esses fenômenos representam para a sobrevivência de nossas sociedades e, no limite, para nossa espécie, podem ser melhor entendidas através da mensuração de alguns dos impactos já sofridos no presente, com o aquecimento médio de 1,2 grau Celsius acima do período pré-industrial, atingido em 2019.

A proposta básica do artigo é chamar a atenção para o consenso científico, reiterado mais uma vez em 2018 pelo IPCC, segundo o qual nenhuma sociedade, por mais recursos materiais e tecnológicos que tenha, permanece minimamente funcional num planeta em média “apenas” 1 grau Celsius mais quente do que ele já está hoje (ou seja, 2,2 graus C acima do período pré-industrial).

Nas palavras de Sir Brian Hoskins, Diretor do Grantham Institute for Climate Change (Londres): “Não temos evidência de que um aquecimento de 1,9 grau Celsius é algo com que se possa lidar facilmente, e 2,1 graus Celsius é um desastre”. Esse nível desastroso de aquecimento médio global, jamais experimentado por nossa espécie, não é o efeito de fatores adventícios e independentes de nossa vontade, mas está inscrito no modus operandi da economia capitalista globalizada. Se há ainda alguma incerteza sobre o ritmo e a magnitude futura do aquecimento global, isso se deve ao fato de que esse ritmo e essa magnitude ainda dependem substancialmente da capacidade das sociedades contemporâneas de operar uma drástica ruptura civilizacional com seu DNA termo-fóssil, seu paradigma alimentar destrutivo da biosfera e seu sistema político e econômico de tomadas de decisão, concentrado nas mãos de conglomerados corporativos e de burocracias dos Estados-Corporações.

Posto que um aquecimento desastroso será atingido em algum momento do segundo quarto do século XXI, mais provavelmente nos anos 2030, o tempo dado às sociedades (após 40 anos de tergiversações) para se desviar dos piores cenários da atual trajetória do sistema climático e da aniquilação da biosfera conta-se agora em pouquíssimos anos. Na realidade, 2020 é a data limite para o início da diminuição das emissões de GEE no cenário mais favorável do IPCC (RCP 2,6 W/m2). A pandemia provocou essa diminuição, mas as emissões já estão aumentando novamente na China, com a retomada econômica, e no Brasil, por causa dos incêndios florestais.

A apresentação de uma plataforma política de sobrevivência para o nosso tempo, baseada na ciência, constitui o último item propositivo do artigo.

Cordialmente, Luiz Marques.

Nota:

[1] O artigo foi publicado no número inaugural da revista Rosa e pode ser conferido na íntegra aqui.
Fonte: Instituto Humanitas Unisinos

Iconotypes: A Compendium of Butterflies & Moths by Richard Vane-Wright

An enhanced facsimile published in partnership with Oxford University Museum of Natural History and sub-titled 'Jones's Icones Complete'. 

A key moment for natural history was the foundation of the Linnean Society of London in 1788. 

The Oxford Museum holds correspondence between William Jones and Sir James Smith discussing the founding of the society, reproduced here, and the Icones themselves, 13 paintings and sketches and almost 1,300 illustrations of butterflies and moths from the seven original volumes, all painted in exceptional detail in colour and at around life size. 

Far more than an Enlightenment curiosity, the paintings were used as the basis for the description of 231 new species in the third volume of the 1793 monograph Entomologia systematica. Fabricius was the leading entomology student of Linnaeus and this monograph greatly expanded the earlier accounts of Lepidoptera species. 

Icones constitutes part of the foundations of butterfly taxonomy and systematics. This early documentation of the global butterfly fauna also carries important messages for conservation biology at a time when repeated studies are showing that global insect abundance has declined by as much as 45% in half a century. In Europe alone, grassland butterflies have experienced a 40% decline in the past 30 years down to habitat loss and chemical pollution. 

Significantly, Icones documents a pre-industrial butterfly world and several of the species illustrated are extinct. The masterpiece is now available together with a reproduction of the original French frontispiece to volume two entitled 'Papiliones Helicon II'. 

We are taken back to those drawers of butterflies, moths and other insects pierced by a pin in large wooden display boxes in museums, but it is the sheer beauty of these botanical plates, page after page in full colour full page together with distribution maps, texts and explanation of the butterfly species from around the world from Africa to Vietnam which will delight. 

With full listing of Jones's Iconotypes, Index of Butterfly Species and To the Article. A Thames & Hudson quality 2021 first edition, satin pagemarker, truly heavyweight at over 2kg and 688 pages, 19 x 26.5cm.

quinta-feira, 27 de maio de 2021

Exclusão de raças autóctones dos apoios anunciados pelo Governo é “inaceitável”


A Federação Nacional das Associações das Raças Autóctones (Fera) considerou hoje “inaceitável” a “exclusão” dos bovinos e das raças autóctones da resolução governamental que aprovou medidas para promover a atividade agrícola e reduzir o risco de incêndio.

A posição pública da Fera, sediada em Guimarães e com 18 associados, foi remetida ao Governo e divulgada à comunicação social, e visa “defender as raças autóctones e o seu papel na gestão dos espaços rurais”.

Em comunicado, a federação realçou o “sinal positivo” da inclusão do projeto 2.2.1.7. “Promover a adoção do pastoreio extensivo com rebanhos” na orientação estratégica “Cuidar dos Espaços Rurais” do Programa Nacional de Ação (PNA) que concretiza, no território continental português, as opções estratégicas definidas no Plano Nacional de Gestão Integrada de Fogos Rurais (PNGIFR).

Este projeto, segundo a Fera, contemplava “a promoção do pastoreio extensivo, com rebanhos de raças autóctones, bovinas, caprinas e ovinas, como instrumento de redução do risco de incêndio (gestão de combustível) nas zonas rurais nos territórios vulneráveis, contribuindo para a valorização do território”.

Nas medidas preconizadas incluíam-se as de “criar e divulgar benefícios e apoios à implementação do pastoreio extensivo com rebanhos como forma de gestão de combustível em espaço rural” e “assegurar a manutenção das raças autóctones, com majoração do montante de apoio, para aquelas cujo pastoreio seja simultaneamente gestão de combustível”.

No entanto, foi com “muita apreensão” que a Fera disse ter constatado que a resolução de Conselho de Ministros n.º 21/2021 (04 de março), que “aprova medidas para os territórios vulneráveis que visam promover a atividade agrícola, o dinamismo dos territórios rurais e a criação de valor na inovação e na segurança alimentar”, apenas refere a “majoração dos apoios aos produtores de ovinos e caprinos, quando explorados em pastoreio extensivo”.

“Ora, pelo que constatamos, a intenção, definida no Programa Nacional de Ação do PNGIFR, não é acompanhada pela ação preconizada na resolução de Conselho de Ministros”, salientou a Fera.

A organização considerou que a “exclusão dos bovinos de raças autóctones que pastam comprovadamente ‘a monte’, bem como o facto destes apoios não serem direcionados, em exclusivo, a produtores de ovinos, caprinos e bovinos que fazem pastoreio extensivo, é inaceitável”.

Por isso mesmo, a Federação entende que “deve ser mantido” o teor da proposta na orientação estratégica “Cuidar dos Espaços Rurais” do Programa Nacional de Ação, que contempla a promoção do pastoreio extensivo, com rebanhos de raças autóctones, bovinas, caprinas e ovinas”.

Para a Fera, os “ruminantes autóctones são a forma tradicional e a mais eficiente de dar uso a estes imensos espaços de ‘monte’, hoje submetidos a ciclos curtos de fogos de verão de elevada intensidade”.

Pelo que, defendeu, “os apoios ao pastoreio extensivo justificam-se dos pontos de vista ecológico (sequestro de carbono no solo e incremento da diversidade de espécies e habitat), económico (produção de carne, fornecimento de água às terras baixas, paisagem) e de proteção civil (redução dos riscos para bens e pessoas).

Segundo a Federação, “o rendimento dos criadores em produção extensiva continua largamente dependente dos esquemas de apoio nacionais e comunitários” e os “criadores de gado são a derradeira presença humana em vastas áreas do território nacional”.

Portugal tem “um elevado número de raças autóctones de animais domésticos, 15 das quais bovinas”.

quarta-feira, 26 de maio de 2021

More Of Everything - A film about Swedish forestry


Subtítulos em Português (ir a definições)

Mamarrachos e ecoparolice


Desde há algum tempo alastrou a moda de construir passadiços, baloiços, pontes suspensas, teleféricos, miradouros e outros equipamentos de recreio sem qualquer critério e norma reguladora, espalhados por todo o território.

Independentemente do mau gosto (subjetivo) de muitas dessas intervenções, elas constituem, na generalidade, um atentado às paisagens, desvalorizando os territórios onde se inserem.

Podem, durante algum tempo, favorecer os negócios locais e atrair visitantes, mas não o farão com continuidade pois, como todas as modas, também esta passará, deixando o território mais degradado e os locais mais feios.

Estas intervenções estão a ser feitas, frequentemente com apoio de dinheiros públicos, sem obedecerem a qualquer quadro normativo, quer quanto aos impactos no território, quer quanto à segurança dos próprios equipamentos que, frequentemente, por desadequada instalação e falta de manutenção tornam-se perigosos e não respeitam, sequer, o Decreto-Lei n.º 309/2002 que regula a instalação e o financiamento dos recintos de divertimentos públicos, nem o Decreto-Lei n.º 379/97 que estabelece as condições de segurança dos espaços de jogo e recreio.

Ora o Decreto-Lei n.º 152-B/2017, de 11 de Dezembro que atualiza o regime jurídico da avaliação de impacte ambiental dos projetos públicos e privados suscetíveis de produzirem efeitos significativos no ambiente, transpondo a Diretiva n.º 2014/52/EU, determina, na leitura da FAPAS, que muitos desses projetos deveriam ser sujeitos a AIA (Avaliação do Impacte Ambiental), vejamos:
  • A lei define “«Impacte ambiental», [como o] conjunto das alterações favoráveis e desfavoráveis produzidas no ambiente, sobre determinados fatores, num determinado período de tempo e numa determinada área, resultantes da realização de um projeto, comparadas com a situação que ocorreria, nesse período de tempo e nessa área, se esse projeto não viesse a ter lugar;”
  • E mais determina a lei que são objetivos dos procedimentos de AIA “a) Identificar, descrever e avaliar, de forma integrada, em função de cada caso particular, os possíveis impactes ambientais significativos, diretos e indiretos, de um projeto e das alternativas apresentadas, tendo em vista suportar a decisão sobre a respetiva viabilidade ambiental, e ponderando nomeadamente os seus efeitos sobre: i) A população e a saúde humana; ii) A biodiversidade, em especial no que respeita às espécies e habitats protegidos nos termos do Decreto-Lei n.º 140/99, de 24 de abril, na sua redação atual; iii) O território, o solo, a água, o ar, o clima, incluindo as alterações climáticas; iv) Os bens materiais, o património cultural, arquitetónico e arqueológico e a paisagem; v) A interação entre os fatores mencionados, incluindo os efeitos decorrentes da vulnerabilidade do projeto perante os riscos de acidentes graves ou de catástrofes que sejam relevantes para o projeto em causa.”
Mas mesmo sem interpretações generalistas, reconduzindo a nossa argumentação ao texto da lei, os passadiços, baloiços e semelhantes integram-se no conceito de “Parques temáticos”, logo sujeitos obrigatoriamente a AIA se interferiram com mais de 10 hectares, ou 4 hectares em áreas sensíveis.

Ora qualquer quilómetro de passadiço interfere, no mínimo, com 4 hectares de território se consideramos (muito modestamente e com muitas variáveis) que o impacto da presença e do ruído dos visitantes alastra 20 m para cada lado do passadiço (20 m+20 m = 40 m x 1000 m = 40.000 m2 = 4 ha).
Tomemos como exemplo passadiços em Rede Natura 2000: os da Ria de Aveiro interferem com 30 hectares de território e os da Barrinha de Esmoriz com 32 hectares e, nem uns, nem outros, foram sujeitos a AIA.
É, pois, altura de exigir que se reveja o regime jurídico da avaliação de impacte ambiental, nele incluindo a obrigatoriedade de qualquer intervenção no território, de qualquer tipo e dimensão, ser sujeita a AIA, eventualmente num processo simplificado a criar. Deveria a lei, também, prever um prazo para legalização das (na sua maioria) desastrosas intervenções já feitas, sob pena de desativação e desmontagem.
Isto enquanto se vai a tempo de salvar um dos principais ativos de Portugal, a paisagem, diariamente agredida por inúteis passadiços, construídos onde frequentemente existem caminhos antigos, por baloiços sem sentido (e sem seguro!), ou pontes “maiores do mundo” que a todos nos deviam incomodar, quer por saírem dos nossos impostos, quer por hipotecarem o nosso futuro.

terça-feira, 25 de maio de 2021

Estudo revela que microplásticos podem ser absorvidos pelas raízes de plantas


Nada parece passar ileso na luta contra o plástico descartado na natureza. Nem parques, nem oceanos e, de acordo com novas descobertas, nem mesmo plantas. Em um estudo publicado na Nature Nanotechnology, cientistas afirmam que as plantas podem absorver pequenos pedaços de plástico através de suas raízes.

O grupo de pesquisadores analisou a capacidade das plantas de absorver plástico em um ambiente de laboratório. Eles expuseram diretamente a espécie de erva daninha Arabidopsis thaliana (agrião) a plásticos menores que 100 nanómetros. Para contextualizar, uma folha de papel tem 100.000 nanômetros de espessura, então estamos falando de pedaços extremamente pequenos de plástico. A equipe de pesquisadores avaliou a distância que o plástico viajou para as plantas, bem como seu impacto na biologia e genética do vegetal.

Para estudar a planta, os cientistas cultivaram o agrião em solo sujo e à base de ágar, que possui nutrientes semelhantes aos do solo, o que lhes permitiu estudar mais facilmente as raízes, pois separá-las poderia causar danos quando estão em solo regular. Em cada cenário, as plantas foram expostas a uma quantidade variável de nanoplástico, incluindo 10, 50 e 100 partes por milhão, bem como um grupo de controle sem plástico. Sob essas condições do solo, as plantas cresceram por 10 dias em uma câmara aquecida a cerca de 22 graus Celsius.

Apesar dos números parecerem complicados, o mais importante a saber é que as doses de plástico usadas pelos cientistas representam concentrações que são encontradas no meio ambiente.

O resultado mostrou que, por essas partículas serem tão pequenas, elas foram capazes de penetrar no tecido das raízes e pareciam impedir que elas absorvessem água adequadamente. Os autores também encontraram indícios de que os nanoplásticos impediram as plantas de crescerem de forma adequada, prejudicando o desenvolvimento das mudas.

Papa em apelo ao meio ambiente: Deus deu um jardim, não deixemos um deserto aos filhos


Em mensagem em vídeo de lançamento da Plataforma de Ação Laudato si’, Francisco renova o apelo à humanidade para agir em prol de uma ecologia integral em favor da natureza e do homem na sua totalidade porque “o egoísmo, a indiferença e os estilos irresponsáveis estão ameaçando o futuro dos jovens”. Existe esperança, insiste o Papa, para “preparar um amanhã melhor para todos. Das mãos de Deus recebemos um jardim; aos nossos filhos não podemos deixar um deserto”.

Durante o encerramento do Ano Especial do quinto aniversário da encíclica Laudato si’ do Papa Francisco, uma Plataforma de Ação que vai guiar as iniciativas por uma ecologia integral foi apresentada nesta terça-feira (25) em coletiva de imprensa no Vaticano com o lançamento oficial feito pelo próprio Pontífice. Através de uma mensagem em vídeo, o agradecimento especial do Papa ao Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral que organizou o Ano Laudato si’ e a todos que aderiram à proposta por “uma missão de reconstruir a nossa casa comum”.

A Plataforma de Ação Laudato si’

Assim, Francisco anunciou que o projeto vai se estender pelos próximos 7 anos com a Plataforma de Ação (Laudato si’ Action Platform) que pretende envolver 7 diferentes realidades para que as comunidades se tornem “totalmente sustentáveis, no espírito da ecologia integral”: famílias; paróquias e dioceses; escolas e universidades; hospitais; empresas comerciais e agrícolas; organizações, grupos e movimentos; e institutos religiosos.

Uma jornada que será guiada pelos 7 objetivos da Laudato si' para responder ao grito da Terra e ao grito dos pobres, por uma economia ecológica, através da adoção de um estilo de vida simples, por uma educação e espiritualidade ecológicas, além do engajamento comunitário. “Trabalhar juntos”, destaca o Papa no vídeo, para “criar o futuro que desejamos: um mundo mais inclusivo, fraterno, pacífico e sustentável”.

“Há esperança. Todos podemos colaborar, cada um com a própria cultura e experiência, cada um com as próprias iniciativas e capacidades, para que a nossa mãe Terra retorne à sua beleza original e a criação volte a brilhar novamente segundo o plano de Deus.”

O cuidado com a casa comum

O Papa, então, renova o convite para que todos cuidem da “nossa casa comum”, sobretudo com as consequências impostas pela pandemia de Covid-19 que amplificou o grito da natureza e o dos pobres, enaltecendo que “tudo está interligado e é interdependente e que a nossa saúde não está separada da saúde do meio ambiente em que vivemos”:

“Há muito tempo esta casa que nos hospeda sofre com feridas que causamos por causa de uma atitude predatória, que nos faz sentir como soberanos do planeta e dos seus recursos e nos autoriza a um uso irresponsável dos bens que Deus nos deu. Hoje, essas feridas se manifestam dramaticamente em uma crise ecológica sem precedentes, que afeta o solo, o ar, a água e, em geral, o ecossistema em que os seres humanos vivem.”

O apelo renovado do Papa

“Precisamos, portanto, de uma nova abordagem ecológica”, insiste Francisco na mensagem em vídeo, que seja direcionada à ecologia humana integral para envolver tanto questões ambientais como o homem na sua totalidade. Essa é a nossa grande responsabilidade diante das futuras gerações, conclui o Papa com um forte apelo e reflexão:

“Que mundo queremos deixar às nossas crianças e aos nossos jovens? O nosso egoísmo, a nossa indiferença e os nossos estilos irresponsáveis estão ameaçando o futuro dos nossos jovens! Assim, renovo o meu apelo: cuidemos da nossa mãe Terra, superemos a tentação do egoísmo que nos faz predadores de recursos, cultivemos o respeito pelos dons da Terra e da criação, inauguremos um estilo de vida e uma sociedade finalmente ecossustentável: temos a oportunidade de preparar um amanhã melhor para todos. Das mãos de Deus recebemos um jardim; aos nossos filhos não podemos deixar um deserto.”

segunda-feira, 24 de maio de 2021

Iisrael Exposed: Colonialism, War Crimes & The Global Far Right


From death in Gaza to racism in the West, Lowkey exposes a very dark side of Israel

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Israeli–Palestinian conflict


Sophia de Mello Breyner quis uma baleia em casa. É A História de um Sonho, por António Jorge Gonçalves



Quis um dia Sophia de Mello Breyner Andresen que um esqueleto de baleia encontrado na Praia do Paraíso, em Leça da Palmeira, fosse habitar a sua casa. O futuro encarregou-se de transformar a moradia dos Andresen na Galeria da Biodiversidade da Universidade do Porto e o famoso esqueleto acabou, de facto, por ir lá parar. É esta a história narrada, e desenhada, no vídeo A História de Um Sonho, criado por António Jorge Gonçalves para o Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto.

"Pediram-me que contasse a história da viagem do esqueleto da baleia de uma forma performativa", explica o ilustrador, que ao longo da sua carreira fez já "muitos espectáculos de desenho ao vivo". Partindo de "alguma documentação fotográfica" e usando ainda música instrumental portuguesa, o artista alicerçou-se na ilustração digital para contar a história. "A banda desenhada é a minha ostra. Gosto do convívio entre texto e imagem e de encontrar uma forma desafiante de alimentar a escrita", acrescenta.

"Há uma espécie de justiça poética na inclusão do esqueleto na casa porque o sonho de Sophia acaba por concretizar-se", desvenda o artista ao P3. O filme, que coloca a própria baleia a narrar a história, na voz de Leonel Alegre, representa a combinação da escrita da poeta portuense com o ambiente marinho tão característico das suas obras.

Mais do que uma história, António Jorge Gonçalves acredita que este é o exemplo perfeito da conjugação da arte com a ciência, "como uma metáfora ou uma alegoria": "Estamos unidos numa mesma perspectiva: a arte e a ciência são duas formas distintas de explicar o mundo", afirma. "São caminhos diferentes mas paralelos."

Texto editado por Amanda Ribeiro

Cartaz da Semana- 6 Atitudes que Exigem Zero de Talento


domingo, 23 de maio de 2021

Os extremos climáticos podem aumentar a morbilidade por AVC

Maio é considerado o mês do coração e sendo este a máquina que faz o nosso corpo funcionar é imprescindível estar atento aos seus sinais de fraqueza, pois quase sem se aperceber, é continuamente afetado e influenciado no seu dia-a-dia pelas condições climáticas, tornando-se vulnerável
O clima reflete-se significativamente no bem-estar do ser humano. De entre os vários elementos climáticos, a temperatura é, provavelmente, aquele que maior influência exerce no conforto do ser humano, sendo de salientar o grupo dos idosos, sobretudo o que experienciam situações de desfavorecimento económico e exclusão social, com pronunciada limitação no acesso aos cuidados de saúde.

De um leque diversificado de possibilidades de patologias, cuja ocorrência ou agravamento se poderá relacionar com o contexto climático, as doenças do foro cardiovascular têm sido objeto de estudo por diversos cientistas, o que não é despropositado, pois segundo a Organização Mundial da Saúde, nos países desenvolvidos uma das principais causas de morte são as doenças não transmissíveis, entre elas, as doenças cardiovasculares.
Proporção de óbitos por doenças cerebrovasculares, doença isquémica do coração e enfarte agudo do miocárdio, no país, 2009-2019. Fonte: INE

Em Portugal, o INE em 2019 fez um estudo complexo sobre as causas de morte, onde evidencia que as doenças do aparelho circulatório estão em primeiro lugar como causa de morte e, complicações como os acidentes vasculares cerebrais (AVC), a doença isquémica do coração e o enfarte agudo do miocárdio – o vulgarmente designado “ataque cardíaco” – representaram 3,8% da mortalidade total e quase 60% das mortes por doenças isquémicas do coração.

Este estudo refere também que as mulheres morreram mais de doenças cerebrovasculares, como o AVC, enquanto os homens foram as maiores vítimas das doenças do coração. E, conclui que geralmente estas complicações vitimam os idosos, sendo a média de idades superior a 81 anos.
Taxas brutas de mortalidade por 100 mil habitantes antes dos 65 anos, por grupo etário: doenças cerebrovasculares e doenças isquémicas do coração. Fonte: INE, 2019

Conforto bioclimático

Segundo vários autores, o corpo humano é um sistema termodinâmico que produz calor e interage continuamente com o ambiente para conseguir o balanço térmico indispensável para a vida. Esta exposição resulta da ocorrência da termorreceção, onde os diferentes níveis de energia térmica são percebidos pelo organismo humano, seguindo-se a sensação térmica que corresponde à consciencialização da mesma (se está frio ou se está calor); a satisfação (ou desagrado) com a referida ambiência é expressa em termos de conforto bioclimático.

O conforto térmico, sendo uma sensação humana, torna-se subjetivo, pois é um estado mental que expressa a satisfação do homem com o ambiente térmico que circundam e das características individuais, nomeadamente do sexo, da idade, da raça, dos hábitos alimentares, da altura, do peso, entre outras, sendo a temperatura do ar a principal variável do conforto térmico.

Os eventos térmicos extremos que tem ocorrido nos últimos anos, cada vez com mais frequência e intensidade, são já reconhecidos pelas autoridades mundiais e nacionais de saúde como geradores de impactes negativos para a saúde humana, e como causa, um aumento da mortalidade nesses períodos. Os impactes na saúde ocorrem especialmente nos grupos mais vulneráveis como os idosos e doentes crónicos.

Segundo um estudo realizado pela geógrafa Sofia Pinto, as temperaturas extremas (calor ou frio) influenciam e agravam a ocorrência de enfarte agudo do miocárdio nos idosos, devido principalmente à sua condição física e natural (ser-se um idoso) com a soma de outros determinantes de risco que, presenciando, um evento extremo de temperatura agrava a patologia.

Contudo, comparando os dois períodos (frio e calor) conclui que existe uma maior clareza de que é no frio intenso onde ocorre os maiores casos de morbilidade por enfarte do miocárdio, inclusive um maior registo de mortalidade face ao calor extremo.

A maioria das reações no calor extremo é a quebra de tensão ou desfalecimento que, por si só, não gera um “conflito” no funcionamento cardíaco como acontece no frio, onde o resfriamento e hipotermia são as reações mais comuns, já que para regularizar a temperatura corporal o coração tem um esforço acrescido em que pode criar stress e isso leva a um enfarte do miocárdio. Além de que, clinicamente, um indivíduo geneticamente com problemas cardíacos não deve expôr-se ao frio, pelos efeitos negativos e graves que resulta.