sexta-feira, 21 de novembro de 2025

A expressão “ideologia de género” não é um conceito científico

Ler artigo aqui


Circula pelas redes sociais uma petição "Fim à Ideologia de Género" promovida pela Maria Helena Costa do Gabinete de Estudos do CHEGA e que já foi presidente de uma concelhia do mesmo partido, é também presidente da Associação Família Conservadora. Como mãe chegou a ser acusada pelo próprio filho Miguel Salazar de o ter sujeitado as chamadas "Terapias de Conversão" e de o ter feito passar por um inferno por ser homossexual!

Ora  expressão “ideologia de género” não é um conceito científico, e é por isso que não aparece na literatura académica em biologia, psicologia ou ciências sociais como uma teoria validada.

Aqui está o que é importante entender:
✅ 1. O que existe cientificamente
Em ciência existem conceitos como:
  1. identidade de género
  2. expressão de género
  3. papéis de género
  4. estudos de género
  5. variação biológica do sexo
Estes são estudados de forma científica por áreas como biologia, neurociência, psicologia do desenvolvimento, antropologia e sociologia.

❌ 2. O que não existe como conceito científico
O termo “ideologia de género” não é usado pela ciência.
É uma expressão criada em contextos políticos, culturais e religiosos, especialmente a partir dos anos 1990–2000, para criticar políticas de igualdade de género, educação sexual, direitos LGBTQIA+ ou estudos académicos sobre género.

Ou seja:
👉 É um rótulo político, não um termo técnico.

📌 3. Porque é que há confusão?

Porque:

  • alguns grupos usam a expressão para descrever qualquer abordagem moderna sobre género,

  • enquanto a comunidade científica usa conceitos diferentes, baseados em dados, não em ideologias.

🧭 Em resumo

Do ponto de vista científico, “ideologia de género” não é uma categoria, teoria ou disciplina.
O que existe são estudos de género e pesquisa sobre identidade e expressão de género, que seguem métodos científicos.

✅ Origem do termo “ideologia de género”

📌 1. Surge nos anos 1990 em contextos religiosos, não científicos

O termo nasce no final dos anos 1990, principalmente em documentos e discursos ligados a sectores da Igreja Católica. A expressão é uma tradução de “gender ideology”, usada inicialmente para criticar:

  1. as políticas internacionais de igualdade de género,
  2. o reconhecimento de direitos LGBTQIA+,
  3. e a introdução do conceito de género (como diferente de sexo biológico) em debates públicos.

O ponto decisivo foi a IV Conferência Mundial sobre a Mulher da ONU (Pequim, 1995), quando a palavra gender começou a ser adoptada amplamente nas políticas globais de direitos humanos. Alguns grupos interpretaram isso como uma tentativa de “relativizar” a diferença sexual.

Daí surgiu a reação: rotular esses avanços como “ideologia de género”.

📌 2. Ganha força nos anos 2000 através de movimentos políticos conservadores

A partir dos anos 2000, o termo espalhou-se por:

  1. movimentos anti-direitos LGBTQIA+
  2. sectores conservadores na Europa, América Latina e EUA
  3. discursos populistas que se opõem à educação sexual e às políticas de igualdade

É frequentemente usado como estratégia retórica para criar medo ou confusão, apresentando qualquer estudo sobre género como uma “ideologia imposta”.

📌 3. Não é reconhecido pela ciência ou pela academia

Nenhuma área científica — biologia, psicologia, sociologia, antropologia — usa o termo.

O que a ciência estuda é:

  1. género como construção social,
  2. identidade de género,
  3. papéis de género,
  4. diversidade sexual e de género.

Ou seja, “ideologia de género” é um conceito político-cultural, religioso e não académico.

Sem comentários: