Nem o diagnóstico, nem as soluções apresentadas, são novas, mas vale pela sistematização, um estudo recente (The Earth4all scenarios: human wellbeing on a finite planet towards 2100) elaborado por um grupo de cientistas e especialistas em economia sustentável, liderado pelo norueguês Per Espen Stoknes do Centro para Crescimento Sustentável, e publicado na revista Global Sustainability. Ai é exposto que o modelo económico dominante está a desestabilizar as sociedades e o planeta. O colapso não é inevitável, mas são necessárias mudanças ousadas para inverter o rumo. Não se trata apenas de ajustar políticas. Trata-se de repensar profundamente a forma como produzimos, consumimos, investimos e governamos.
O estudo, feito a partir do modelo Earth4All, combinação de ciência, modelos informáticos e cenários socioeconómicos e ambientais, parte de duas perguntas: o bem-estar humano pode melhorar sem aumentar a pressão sobre o planeta? Haverá tempo para uma transformação real num mundo assolado por crises? A conclusão é que o catastrofismo é evitável, desde que a “transformação económica mais rápida da história” seja acionada, promovendo algumas “mudanças excecionais” em relação aos índices de pobreza, desigualdade, empoderamento, energia e alimentação.
Dessa forma é possível “desviar a economia da sua trajetória atual, melhorar o bem-estar humano global e reduzir tensões sociais. No centro desta turbulência está um modelo económico que foi capaz de gerar crescimento em décadas passadas, mas agora está em erosão e a “corroer os alicerces da sociedade e do planeta.”
O estudo apresenta dois cenários. Continuar na trajetória atual — marcada por respostas tímidas face aos impasses — e enfrentar uma espiral de graves crises interligadas: ambientais, sociais, políticas e económicas. Ou ser capaz de um “grande salto”, uma transformação sistémica que pode travar o aquecimento global, reduzir desigualdades e promover uma prosperidade sustentável.
A escolha não é técnica, é política. E ignorar os sinais é perpetuar algo que favorece poucos e sacrifica muitos.
Os investigadores propõem um conjunto de mudanças simultâneas, como erradicar a pobreza com investimentos massivos e cancelamento de dívidas. Reduzir a desigualdade através de impostos progressivos e redistribuição de riqueza. Empoderamento das mulheres com acesso equitativo à saúde, educação e reforma. Alteração dos sistemas alimentares com produção sustentável e mudanças na dieta, ou revolucionar o sector energético com eficiência, eletrificação e energias limpas.
Não são utopias técnicas — são desafios políticos. E é aí que reside o obstáculo: a falta de vontade, visão e coragem para romper com a inércia. E não apenas ao nível dos governos. Os cidadãos precisam de exigir e pressionar mais. É a partir dessa conjugação de fatores que será possível reconfigurar radicalmente a economia, os sistemas energéticos e estilo de vida, de forma a beneficiar tanto as pessoas como o planeta.

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