terça-feira, 8 de janeiro de 2019

O que faz uma bióloga num barco de pesca?

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Até 2020, a SPEA implementa o projecto MedAves Pesca, para descobrir qual o impacto das actividades de pesca nas populações de aves marinhas das Zonas de Protecção Especial portuguesas. Nas Berlengas, Elisabete Silva trabalha com a comunidade de pescadores para desenvolver e testar medidas de mitigação da captura acidental de aves.

“Peixe, peixe!”, anuncia o mestre Pedro Jorge, bem cedo nesta manhã de Novembro. A embarcação a motor branca Dois Filhos está à pesca de robalos e douradas em redor da ilha Berlenga, a sete milhas náuticas (cerca de 13 quilómetros) de Peniche.

Ao fundo do barco com sete metros de comprimento, em que se pesca com aparelho de linhas e anzóis, Pedro Santos e Zé Manel recolhem as linhas largadas ao mar no dia anterior. A experiência e a força destes homens disfarçam a dureza da tarefa. Numa coreografia sincronizada e em silêncio cúmplice, os dois pescadores retiram da água dezenas de anzóis em poucos minutos. “É um robalo dos grandes”, regozija o mestre.

Ao lado do mestre junto à proa, Elisabete Silva, 26 anos, regista as observações num caderno de campo. É bióloga e técnica de conservação marinha na Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) e trabalha há mais de dois anos nas Berlengas. Atualmente participa no projecto MedAves Pesca que, até 2020, estudará o impacto da atividade piscatória nas populações de aves marinhas. Elisabete faz observações em quatro embarcações diferentes, para monitorizar interações e testar medidas que possam reduzir as capturas acidentais de aves marinhas nas várias artes de pesca.

Hoje está a bordo do Dois Filhos. Anota as espécies de peixe retiradas do

mar e, de 15 em 15 minutos, regista as interacções de aves marinhas: número, espécie, localização e direção do voo. Com estes dados espera caracterizar as populações e compreender o impacto das atividades de pesca nas comunidades de aves marinhas.

Todos os anos, cerca de 200 mil aves são capturadas acidentalmente em águas europeias, segundo a organização Birdlife International. Nas Berlengas, as espécies mais afetadas por capturas acidentais são o alcatraz ou ganso-patola (Morus bassanus), a cagarra (Calonectris borealis), a torda-mergulheira (Alca torda), a galheta (Phalacrocorax aristotelis) e a pardela-balear (Puffinus mauretanicus), a espécie de ave mais ameaçada da Europa e que pode ser avistada durante todo o ano ao largo da costa portuguesa.

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