"A neve repousa sobre o mundo,
uma capa branca que tudo guarda.
Folhas caídas dormem entre os cristais,
como barcos de silêncio
a flutuar sobre o tempo.
Sob a superfície branca,
o pequeno e o invisível respiram.
Ramos quebrados, pegadas quase apagadas,
o sussurro de animais que passam despercebidos
—cada gesto, um fio
que liga gelo, vida e ar.
Eu caminho, discreto,
mas cada passo é sentido
por raízes e por ventos,
pelas sombras que escorrem
pelos troncos, pelas pedras,
e pelos olhos atentos da vida selvagem
—tudo é respiração,
um mesmo instante cósmico
onde o mundo se reconhece inteiro.
E eu,
só por estar aqui,
já me torno parte do acordo primordial:
um instante de respiração branca,
um nome
no silêncio luminoso da paisagem."
João Soares, 08.12.2025

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