Mas porque é que a atuação de Portugal no estrangeiro é pessoal e está relacionada com o voto individual nas legislativas?
Há três razões fundamentais pelas quais a política externa deve importar no momento de votar, e cada uma delas ajuda a perceber como esta área governativa, tantas vezes invisível no debate público, tem impacto direto na nossa vida coletiva.
1. Porque define o que Portugal defende ou tolera em teu nome
Quando um país apresenta uma resolução ou decide como votar; quando silencia ou denuncia violações dos direitos humanos; e quando investe ou reduz as suas relações com países antidemocráticos, está essencialmente a falar em teu nome no palco mundial.
A diplomacia tem ao seu dispor várias ferramentas para comunicar os valores e as prioridades que o país define, e esse enquadramento diz mais sobre nós, como indivíduos e como país, do que imaginamos. Se nem tudo na política externa se altera consoante um governo mais à esquerda ou mais à direita, existem exemplos concretos do tipo de atuação externa que pode variar consoante os ciclos eleitorais: Há dois anos, Portugal associou-se à Comissão Europeia numa ação contra a Hungria por alegada violação dos valores fundamentais da União Europeia. Outras questões que podem oscilar incluem o Estado de Direito, as fronteiras e as migrações, o comércio e o investimento em defesa.
2. Porque molda o mundo em que vais viver — e deixar às próximas gerações
São exemplos disto as alterações climáticas, as sanções, a resposta às guerras, os fluxos migratórios, as novas pandemias — todos estes desafios resultam e são afetados pelas decisões externas do país, em estrita colaboração ou retaliação face a outros movimentos internacionais.
Ora, os partidos políticos não atribuem o mesmo valor e prioridade nem aos pilares da política externa em si, nem às soluções que se propõem apresentar. A falta de ambição ou de coerência na ação externa hoje pode significar instabilidade e insegurança amanhã.
3. Porque tens o direito e o dever de influenciar a nossa posição internacional
A política externa é política, e a política é feita de escolhas. Isto não acontece num vácuo — o comportamento dos Estados além fronteiras é, regra geral, uma extensão dos interesses, dos valores e, muitas vezes, das dinâmicas e prioridades eleitorais domésticas. A política externa é moldada por quem está no poder e por como esse poder interpreta o mundo e o papel que o país deve ter nele.
A política externa não é só para diplomatas. É feita por quem elegemos. Logo, é tua também.
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