sexta-feira, 7 de julho de 2023

Matemática, Ciências Sociais e Biologia


Muito bem e em parte. Vemos nos advogados com mais de 50 anos que se recusam a usar o PC que não seja só os textos Word. O resto (plataformas, burocracias digitais) isso é para o/a estagiária. Falta a biologia no seu texto. A Biologia já é a ciência do séc. XXI. Milhares de seres vivos já estão editados genéticamente. O que fazer com esses dados? Tentador! Além disso a Comissão Europeia anunciou em 5 de julho (2023) a sua proposta legislativa para a nova geração de Organismos Geneticamente Modificados. Também chamados organismos de edição genética ou «novas técnicas genómicas», são organismos sintéticos patenteados que, com esta proposta, fogem ao Princípio de Precaução e ao escrutínio público. Não haverá avaliação de risco ou do impacto na saúde e no ambiente. Não haverá rotulagem, nem rastreabilidade, nem sequer monitorização. A proposta representa um desrespeito completo pelos consumidores, pelos agricultores, pela indústria não OGM e pela deliberação do Tribunal Europeu de Justiça que, em 2018, determinou que os «Novos OGM» devem ser abrangidos pelo regime legal atual dos OGM. No mesmo dia em que divulgou esta proposta de lei, a Comissão Europeia também apresentou o seu regulamento para a produção e comercialização de sementes, que vai restringir drasticamente o direito a usar, trocar ou vender sementes tradicionais, ignorando e desconsiderando deliberadamente as boas práticas oferecidas pela agricultura biológica e pela agroecologia. Finalmente, os jovens nascidos em 1997-99. Nativos digitais. Afectou-lhes algumas (muitas) competências que conseguiu retratar e estamos de acordo. Exemplos não faltam: Sebastião Bugalho, Rita Matias, Gaspar Macedo e Gonçalo Sousa.

Sobre a matematização das questões sociais um leitor deixou-me este comentário: "A palavra matemática tem origem na palavra grega “mathema”, que significa ciência, conhecimento, aprendizagem. Um matemático é, na sua essência, um pensador, um filósofo. Não somos engenheiros tecnocratas".
Deixe-me agradecer e responder algumas notas.
Em geral a ciência foi toda ela transformada numa técnica, espartilhada da vida social. É funcional ao mercado. Com a automação e a IA os desejos delirantes de que a sociedade se pode explicar por algoritmos levam a uma crise que deixa a nu as situações mais ridículas, como as que vimos na pandemia, em que se faziam as mesma contas para a Quinta da Marinha e a Amadora, nem percebendo que 25% dos internamentos no Amadora Sintra de pessoas com Covid eram pessoas sem problemas, não tinham casa onde isolar-se. Apenas isso. Isto resulta da perigosa desvalorização das ciências sociais, aliás recentemente sobre França apressaram-se a responder-me que a França tem um bom Estado social, pelo que os jovens nada têm do que se queixar. É só contas, recebem para comer? Está bem.
Não, tão importante quanto a sobrevivência é a perspetiva de futuro, e aqui entra a psicanálise e a filosofia do trabalho.
O inverso também é verdade. Há imensa gente que acredita que os cientistas sociais podem ter umas vagas noções de "matemática aplicada às ciências sociais" quando deixaram de ter matemática com 14 anos. Trabalho muito com estatística, e sei criticá-la, acho que com algum saber, mas não me passa pela cabeça achar que posso fazer contas ou dados. Os meus colegas de matemática ficam loucos com as parvoíces que ouvem, e estão cheios de razão. O que se tem que fazer é pensar junto - e isso a Universidade e o Mercado obstaculizam, porque a avaliação é individual e a concorrência é total.
As épocas de maior progresso científico e artísticos são as revoluções sociais, porque se pensa junto. Andamos há décadas com os mesmos tratamentos de cancro, os mesmo motores, o que temos é uma sucessão de aplicações novas, desde a II Guerra estamos muito mais parados porque estamos em concorrência e não em cooperação.
Nós não podemos deixar de ter matemática, filosofia, português e história aos 14 anos, é um absurdo. Até ao 12º pelo menos estas disciplinas têm que ser exigentes e obrigatórias para todos.
Dito isto há um problema de fundo. Uma batalha minha. Ler, ler os clássicos, ou seja, conhecer a teoria e não apenas a técnica. Por isso a mãe de todas as ciências é a filosofia e a história, porque elas nos ensinam como pensaram antes de nós. As pessoas se querem dar saltos de compreensão da realidade têm que voltar a estudar a sério não o que se aplica, faz, constrói mas como se pensa. É preciso não fazer só o caminho mas conhecer o caminho e não rejeitar os gigantes antes de nós.
Sou filha de dois Engenheiros, na minha casa debatia-se história, filosofia e literatura tanto ou mais do que engenharia florestal. Há uma geração ou duas que acha que não tem que ler, conhecer e compreender profundamente a sociedade para opinar. Se for física quântica calam-se mas de ciências sociais dizem qualquer coisa. E isso foi passado pelos governos que aligeiraram os saberes e convenceram a sociedade que economia é contas, que história são só factos, que filosofia é impenetrável, que a literatura é um hobby. O resultado é a disseminação da ignorância. 
Mais, ninguém tem, a começar pelos dirigentes políticos, vergonha de falar do que não sabe, não lê, não conhece, e quando se diz que são ignorantes ficam ofendidos, não ficam ofendidos com serem ignorantes e com as políticas educativas e com a sociedade que temos.

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