quinta-feira, 15 de junho de 2023

Minas são usadas em 'quantidades surpreendentes’ na Ucrânia, que pode ter 30% de seu território contaminado



Simples, mortais e eficientes: as minas explosivas são usadas em "quantidades surpreendentes" na Ucrânia, incluindo alguns tipos proibidos por tratados internacionais, tornando o país um dos maiores campos minados do mundo, segundo especialistas.Contexto: Minas terrestres fazem mais de 5 mil vítimas por ano no mundo

Cerca de 30% do território ucraniano poderia estar contaminado com minas, mas é "impossível contá-las e cartografá-las" num país em guerra, admitiu Baptiste Chapuis, organização não governamental Handicap International, após uma visita à Ucrânia.

Do ponto de vista militar, a guerra na Ucrânia marca o grande retorno do uso de minas — disse Stéphane Audrand, especialista em riscos internacionais, observando que elas são usadas em "quantidades surpreendentes" no conflito iniciado em fevereiro do ano passado.

As minas terrestres convencionais direcionadas a veículos inimigos são permitidas, mas dispositivos antipessoal que buscam mutilar ou matar humanos são proibidos pelo Tratado de Ottawa, assinado em 1997 por mais de 160 países. A Ucrânia é signatária da convenção, mas grandes potências como Rússia, China e Estados Unidos não.

Munição proibida
Minas são um componente chave da linha defensiva russa. De acordo com um relatório recente do centro de estudos Rusi, com sede em Londres, “a Rússia espalhou extensivamente minas antitanque e antipessoal. Estas últimas são frequentemente colocadas com múltiplos mecanismos de ativação para evitar que [tropas inimigas] cruzem" as linhas de defesa.

Em conformidade com a convenção de Ottawa, a Ucrânia começou a destruir suas minas antipessoal, mas suspendeu o processo em 2014, no início da guerra no Donbass, quando a Rússia anexou à força a península da Crimeia.


As minas antipessoal foram usadas por todos [na guerra russo-ucraniana], mas não em proporções comparáveis — disse à AFP uma fonte humanitária sob condição de anonimato.

As minas podem matar ou ser projetadas para, principalmente, mutilar, arrancando extremidades do corpo ou atingindo o abdômen. E mesmo após o fim de um conflito armado, esses artefatos podem permanecer enterrados, com enorme risco para a população civil.

As minas “prejudicam civis há décadas e põem em risco o retorno da vida econômica e social por muito tempo”, explicou Chapuis.

Especialistas acreditam que a desminagem na Ucrânia pode levar décadas, complicada pelas inundações causadas pela recente ruptura da barragem de Kakhovka.

Antes disso, "sabíamos onde estavam os perigos", disse Erik Tollefsen, chefe da Unidade de Contaminação com Armas do Comitê Internacional da Cruz Vermelha.

Agora não sabemos. Esta é uma grande preocupação porque vai afetar não só a população mas também quem vem ajudar — acrescentou. — As partes no conflito não divulgaram o número de minas, sabemos apenas que são enormes.

Diversidade preocupante
Algo "específico do conflito ucraniano é a excepcional diversidade nos tipos de munição utilizados", disse Chapuis. Além das minas antitanque e antipessoal, os grupos de monitoramento documentaram o uso extensivo de bombas de fragmentação, que dispersam minibombas em uma área mais ampla.

As minibombas não detonadas com o impacto permanecem no solo como minas e são uma ameaça letal — esses artefatos podem permanecer sem explodir em 15% a 30% dos casos. Isso motivou a elaboração da convenção de Oslo de 2008 contra seu uso, mas Rússia e Ucrânia não são signatárias e ambas as teriam usado durante a guerra, de acordo com a ONG Coalizão Contra as Bombas de Fragmentação.

As forças russas são conhecidas por esconder dispositivos explosivos improvisados, plantando-os em animais ou carcaças, além de criar armadilhas elaboradas em estradas, campos e florestas.

Mesmo no mar, as minas são amplamente utilizadas.
No início do conflito, os ucranianos possivelmente impediram que os navios russos chegassem às suas costas com minas no Mar Negro — disse Audrand, acrescentando que essas minas são "muito eficazes, baratas e, em termos de impedir o acesso, funcionam", mas, ao mesmo tempo, representam um grande risco para o tráfego naval.

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