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domingo, 31 de julho de 2016

7 Medidas Contra o Desperdício Alimentar

Neste blogue, com alguns dos mais destacados profissionais na área da nutrição em Portugal, dou voz a Duarte Torres. Que nos fala sobre o impacto ambiental do consumo alimentar, nomeadamente, do desperdício alimentar e do que podemos fazer individualmente para combater este grave problema.

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Dossiês Bioterra relacionados com este assunto:
Agricultura
Agua
Alterações Climáticas
Oceanos
Pesticidas
Transgénicos(OGM)

sábado, 30 de julho de 2016

There are many ways to live on this planet. It´s all of a question of perspective

Survival For Tribal Peoples
Temos o direito de ser diferentes e livres

This video from Survival International features the difference how people live in different environments and cultures. Although we all may live differently, we are all bonded by the same instinct of survival.

Mais informação

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Filme: Garbage Warrior (Guerreiro do lixo)




Garbage Warrior (Guerreiro do lixo)
Garbage Warrior é um documentário sobre a figura de Mike Reynolds, atípico arquitecto que nos anos 70 começou a projectar e a construir no deserto do Novo México casas feitas de materiais reciclados (pneus usados, garrafas de plástico e latas de cerveja), completamente auto-suficientes no que diz respeito a energia, a água e a esgotos. As casas de Mike Reynolds, chamadas Earthships (naves-terra) baseiam-se em princípios tão simples e do bom-senso: colheita da água pluvial em tanques, inércia térmica e estufas para armazenar o calor, painéis solares e espaços apropriados para plantar a própria horta. Reynolds tem uma forma inovadora e criativa de pensar novos modos de habitar. Autónomas e auto-suficientes no que diz respeito a energia, aquecimento e comida, as casas idealizadas por Reynolds criam as condições necessárias para vivermos mais autónomos do sistema e da obrigação do trabalho.

Ao mesmo tempo, as casas de Reynolds não nascem perfeitas. Adaptando-se as condições ambientais em que são construídas, estas casas nunca são iguais a si mesmas. O arquitecto americano parte do principio que cada progresso e melhoria parte dos erros. É só a partir das falhas que as suas construções experimentais podem tornar-se eficientes. Mas a sua visão da arquitectura, como pode imaginar-se, não alcançou a simpatia dos Arquitectos. Por isso, a ordem profissional dos arquitectos do Novo México tirou-lhe a sua licença de arquitecto por motivos de violação das regras de construção.

O documentário de Oliver Hodge conta a batalha legal de Reynolds para legalizar as suas construções experimentais no Novo México. Rejeitada a sua proposta, Reynolds decidiu começar a viajar para ensinar a construção das suas Naves-terra nas áreas do mundo afectadas por catástrofes naturais, como as ilhas Andamão na Índia afectadas pelo Tsunami ou o México afectado pelo furacão Katrina.

Graças à sua obra na Índia e a este documentário, por fim o trabalho de Reynolds começa a ter um reconhecimento oficial.

O documentário já participou e ganhou vários festivais de cinema ambientalista.
Site do Filme: Garbage Warrior


EN

What do beer cans, car tires and water bottles have in common? Not much unless you're renegade architect Michael Reynolds, in which case they are tools of choice for producing thermal mass and energy-independent housing. For 30 years New Mexico-based Reynolds and his green disciples have devoted their time to advancing the art of "Earthship Biotecture" by building self-sufficient, off-the-grid communities where design and function converge in eco-harmony. However, these experimental structures that defy state standards create conflict between Reynolds and the authorities, who are backed by big business. Frustrated by antiquated legislation, Reynolds lobbies for the right to create a sustainable living test site. While politicians hum and ha, Mother Nature strikes, leaving communities devastated by tsunamis and hurricanes. Reynolds and his crew seize the opportunity to lend their pioneering skills to those who need it most. Shot over three years and in four countries, Garbage Warrior is a timely portrait of a determined visionary, a hero of the 21st century.

terça-feira, 26 de julho de 2016

Italianos criam telha que já vem com placas solares

A invenção é uma alternativa aos painéis fotovoltaicos tradicionais, que são grandes e pesados. [Fonte: Casa da Sustentabilidade, 2015]


As empresas italianas Area Industrie Ceramiche e REM desenvolveram a Tegola Solare, uma telha cerâmica com células fotovoltaicas integradas. É uma alternativa sustentável que não atrapalha a estética original das telhas, como acontece muitas vezes com os painéis fotovoltaicos tradicionais, que são grandes e pesados.
Cada telha tem quatro células que transformam a luz solar em energia elétrica, e a fiação fica logo embaixo do telhado. A invenção pode gerar cerca de 3 kW de energia em uma área instalada de 40 m², o que já seria capaz de suprir as necessidades energéticas da residência.
As telhas fotovoltaicas são mais caras do que as placas convencionais, mas sua instalação é feita como a de qualquer outro telhado.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Entenda como as árvores ajudam a combater as ilhas de calor nas cidades

As ilhas de calor acontecem devido à falta de áreas verdes, ao excesso de construções, asfalto e poluição extrema.

   Foto: Ciclo Vivo

Ilha de calor é um termo usado para se referir ao aumento da temperatura em áreas urbanas.

Em geral, isso acontece devido à falta de áreas verdes, ao excesso de construções, asfalto e poluição extrema. A forma mais eficaz de combater este efeito é com o plantio de árvores.
A primeira maneira de uma árvore contribuir para o combate às ilhas de calor é o fato de fornecerem sombras. De acordo com a Agência de Proteção Ambiental dos EUA, uma área sombreada pode ser até sete graus mais fresca do que áreas expostas ao sol.

Amenizando o calor, ameniza-se também a quantidade de energia gasta para a refrigeração de ambientes, o que, consequentemente, também diminui a emissão de gases de efeito estufa na atmosfera.

As árvores ainda realizam naturalmente um processo de evapotranspiração, que é a transpiração das plantas. Isso acontece de maneira muito semelhante aos humanos. Durante este processo, as árvores libertam vapor de água na atmosfera, ajudando a refrescar naturalmente o ambiente.

O terceiro ponto, e de extrema importância, é a influência das plantas na manutenção do ar. As árvores têm poder para limpar os poluentes atmosféricos. Elas conseguem absorver óxido e dióxido de azoto, dióxido sulfúrico e outros poluentes que costumam elevar a temperatura local. Enquanto isso, ela aspira oxigénio, gás totalmente necessário para a nossa própria existência.

Outro benefício oferecido pelas árvores é a purificação da água. Ao envolver o solo, as plantas funcionam como um filtro natural e retentor de águas. Quanto mais árvores presentes nas cidades, melhor é o escoamento de água durante as tempestades e mais limpo o recurso será.
Ter uma ou mais árvores perto de casa é um jeito simples de obter muitos benefícios pessoais e ambientais.

Mais informações:
Características das ilhas de calor urbano, com sitiografia e bibliografia

Dossiê Bioterra para os amantes das árvores:
Botânica e Floresta

sábado, 23 de julho de 2016

Poema da Semana: Canção da Paz, por João Soares


Canção da Paz
Três letras na nossa língua
Palavra rápida, simples e sonora e feminina
Transparente e inicial

Para além da terra e pó e sangue e genes
És a rainha do silêncio puro, nirvana
Habitação sem dor, sem pranto e de eterna vigília
E eu vi-te ressurgida várias vezes
E eu vi-te ou desmembrada ou esquecida ou devastada
E foi pela luz que te reconheci
Irmã limpa
Sempre perdoa

E tece suave como o linho a concórdia entre os povoados
Emerge sobre todos e todas
E quando vivida dentro de mim, dentro de ti, dentro de vós
integra e participa
ama e eleva

Por Joao Soares, 23 de Julho de 2016


Dossier Bioterra relacionado
Pela Paz e Não Violência

sexta-feira, 22 de julho de 2016

EcoPoema da Semana - Daniel Jonas

Aster Endy - I'm wainting and it's cold outside, 2015
ESTOU PARADO

Estou parado
tentando não causar dano
com nenhuma das minhas acções.

Quando parado
sei que há menos possibilidades
de alguma coisa acontecer.

Por isso estou parado
revolvendo os olhos e a cor
como um cavalo-marinho

levitando

como o camaleão
que a própria espera altera
e reveste de cor reagente.



Não me mexerei
até que a inquietude de outros
envie Hermes a minha casa.

Daniel Jonas


quarta-feira, 20 de julho de 2016

Richard Sidey - Expedition Photography


A nature infused cinematographic reel presenting some of the more spectacular moments from the past couple of years, in which I have worked in Expedition Photography. 
Locations include South Georgia, Falkland Islands, Antarctica, Svalbard, Greenland, Iceland and New Zealand. 
Photography and Editing | Richard Sidey. 
Music by Ludovico Einaudi - "Divenire"

terça-feira, 19 de julho de 2016

Microescultura- Os insectos foram microesculturados

Mantis-fly – Mantispa sp. (Neuroptera, Mantispidae). by Levon Biss


Reportagem  completa aqui (com mais imagens)
Microsculpture
Formed at scales too tiny for us to perceive and with astonishing complexity, the true structure and beauty of insects remains mostly hidden. Their intricate shapes, colours and microsculpture are dizzying in their variety, but it takes the power of an optical microscope or camera lens to experience insects at their own scale.
At high magnification the surface of even the plainest looking beetle or fly is completely transformed as details of their microsculpture become visible: ridges, pits or engraved meshes all combine at different spatial scales in a breath-taking intricacy. It is thought that these microscopic structures alter the properties of the insect’s surface in different ways, reflecting sunlight, shedding water, or trapping air.
Alongside these elements are minute hairs adapted for many purposes. They can help insects grip smooth surfaces, carry pollen, or detect movements in the air, to name but a few. The shape of these hairs is sometimes modified into flattened scales – structures so small they appear like dust to the naked eye. In some insects, such as butterflies and beetles, these scales scatter and reflect light, creating some of the most vibrant and intense colours seen in nature.
The evolutionary process of natural selection should account for all this wonderful diversity of microstructures, but for many species their specific adaptive function is still unknown. By observing insects in the wild, studying museum collections, and developing new imaging techniques we will surely learn more about these fascinating creatures and close the gaps in our current understanding.
Dr James Hogan
Life Collections, Oxford University Museum of Natural History

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Os 300 geossítios mais importantes de Portugal estão reunidos num portal

Vestígios da locomoção de trilobites no parque icnológico de Penha Garcia 
Há sítios para todos os gostos: pegadas de dinossauros, falésias que mais parecem mil-folhas, com estratos por cima de estratos acumulados há milhões de anos, paisagens graníticas ou minas. São 300 os geossítios reunidos num novo portal que resultam do projecto.
Identificação, caracterização e conservação do património geológico: uma estratégia de conservação para Portugal, representando as paisagens geológicas portuguesas de maior importância.

“O que fizemos foi olhar para a biblioteca toda que é o nosso território, com todas as ocorrências naturais que temos, e seleccionar quais são aqueles locais devem ser sujeitos a medidas especiais de protecção”, explica José Brilha, professor da Universidade do Minho e coordenador do projecto, que envolveu investigadores das outras universidades portuguesas, da Associação Portuguesa de Geomorfólogos e do Museu Nacional de História Natural e da Ciência de Lisboa.

O resultado, que envolveu trabalho de 70 cientistas da área da geologia, é o mais completo inventário de geossítios e pode ser visto aqui. “São locais onde os minerais, as rochas, os fósseis ou as geoformas possuem características próprias que nos permitem conhecer a história geológica do nosso planeta”, explica um artigo de 2013, assinado por José Brilha e outros três investigadores.

Agora, o primeiro nível de acção é que “as autoridades nacionais tomem conta deste património, que é de todos nós”, refere José Brilha, num ficheiro áudio distribuído pela Universidade do Minho.

No site, podem procurar-se os geossítios a partir das regiões, dos municípios portugueses, mas também pelos fenómenos geológicos que representam. Desta última forma, é possível fazer uma viagem ao passado geológico da Terra, que deixou marcas no perfil dos rios, na costa portuguesa e em muitos outros aspectos.

Cada geossítio, além de ter uma avaliação do grau de importância científico, tem também uma avaliação da vulnerabilidade. Entre os sítios incluídos estão os blocos erráticos de Valdevez (Gerês), o granito de Lavadores (Gaia), os fósseis de trilobites da Pedreira do Valério (Arouca), as pegadas de dinossauros da Pedreira do Galinha (Serra de Aire), o pico de Ana Ferreira (Porto Santo), o algar do Carvão (ilha Terceira), a cascata do Pulo do Lobo (Mértola), o monumento das Portas de Ródão (Vila Velha de Ródão) ou o parque icnológico de Penha Garcia (Idanha-a-Nova) com rastos de trilobites. 
Fonte: Publico

domingo, 17 de julho de 2016

Documentário "Califa" e o Golpe na Túrquia


O "Califa", título original "The Caliph - The story of over 1.300 years of Islamic history" é um documentário muito interessante da Aljazeera acerca do Califado, da sua origem em 632 até 1924 (período durante o qual obviamente sofreu várias mutações). Muito pertinente para perceber melhor o mundo em que vivemos. Dividido em 3 partes, o último episódio está previsto para 29 de Julho.

Episódio 1
 
Episódio 2
Episódio 3

sábado, 16 de julho de 2016

Bangalô ecológico inspirado na estrutura das árvores

A Single Pole House do jovem designer e estudante de arquitetura Konrad Wójcik.
A Single Pole House [Fonte]
Inspirado na estrutura das árvores nas florestas Dinamarquesas, o jovem designer e estudante de arquitetura Konrad Wójcik, desenvolveu um novo conceito de residência ecológica. A Single Pole House é uma moradia sustentável para famílias de duas a quatro pessoas que desejam viver em sintonia com a natureza.

Seu design orgânico tem como objetivo proporcionar aos moradores da casa um contato próximo com o ambiente natural, sem comprometer sua biodiversidade e paisagem. Para isso, a casa é suspensa sobre um pilar inspirado em um tronco de uma árvore que sustenta inteiramente a casa na parte de cima, reduzindo sua pegada no solo. Além disso, sua arquitetura foi pensada para que a casa fique camuflada em qualquer ambiente de floresta. “Estudar a natureza me permitiu avançar com ideias e soluções para criar uma construção completamente auto-suficiente. ” diz o designer.

Contudo, apesar do design inovador da Single Pole, o ponto mais interessante do projeto é o propósito para que foi concebido. Segundo Konrad, a construção de uma comunidade dessas casas ecológicas em paisagens naturais, pode fazer com que se impeça o desmatamento desses locais, contribuindo para a sua manutenção e proteção.

” Para a maioria dos animais , as árvores são os melhores abrigos contra predadores naturais , umidade e tempo ” conta o designer, que se inspirou nas árvores para criar abrigos para os seres humanos protegê-las deles mesmos.

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Poema da Semana: Canção do Girassol, por João Soares


Canção do Girassol

Eis o girassol, príncipe dos campos
Como se fosse meu irmão

Determinado em amar o Sol
O meu corpo transluzente
O meu ser cristalino ama como o girassol

Inocente e sedento de luz
Com sementes impolutas
Triunfantes e oleosas

Exigem partir e incubar
Entre água e chão
Não pedem muito mais
Não incomodam

Só sentimos uma manhã de dois sois
Um trepando às montanhas
O outro seguindo a estrela

Dossier Bioterra relacionado

Plataformas mapeiam árvores frutíferas nas ruas do Brasil e do mundo


Abacateiro, goiabeira, mangueira, amoreira, pitangueira. Pensar nesse conjunto de árvores frutíferas nos remete diretamente a um ambiente rural em algum lugar no interior do Brasil. Essas cinco espécies e outras 15, porém, estão espalhadas pelas ruas, vielas e avenidas de São Paulo, a maior metrópole da América do Sul.
Isso significa que as quase 12 milhões de pessoas que habitam a capital paulista têm a oportunidade de, ao caminhar pelas ruas, observar a imensidão de uma jaqueira, chupar uma manga caída ou colher amoras.

árvores-sp
Árvores mapeadas na cidade de São Paulo

Desde 2009, o mapa virtual e colaborativo Inventário das Árvores cataloga as principais árvores existentes em São Paulo – frutíferas, exóticas, de tempero, entre outras. As centenas de espécies encontradas certamente são um alento para aqueles que prezam por uma relação mais estreita e saudável com a natureza que nos cerca, mas o levantamento também evidencia que as regiões periféricas da cidade contam com uma presença muito menor dessas árvores.
O mapa, que também chegou à cidades como Brasília e Rio de Janeiro, mostra ainda detalhes sobre a quantidade e a qualidade das frutas, a condição das árvores e o tamanho das copas. O “Inventário”, aliás, aceita novas colaborações. Contribua!

Na Europa
Ideia semelhante já acontece na Europa. Além da plataforma Fruit City em Londres, na Alemanha o site Mundraub conta com a participação da população berlinense para mapear as árvores frutíferas da capital alemã. A plataforma já identificou mais de 1600 árvores frutíferas na região. Em toda a Europa, o Mundraub já catalogou mais de 20 mil espécies.

A presença de árvores frutíferas em ambientes urbanos, para muito além de embelezá-los, aumenta a biodiversidade, já que, de acordo com texto de Ricardo Cardim no site Árvores de São Paulo, “atraem pássaros e outros animais de ambientes naturais, ajudando a reequilibrar o meio ambiente urbano através do controle de pragas e o plantio de novas árvores trazidas de suas refeições nas matas”.
Cardim prossegue: “outro aspecto importante é a humanização das cidades. Árvores frutíferas reconectam a população com prazeres simples como colher frutas silvestres no pé e a descoberta de novos sabores, incentivam o uso de espaços públicos e estimulam as crianças a subirem e brincarem com as árvores.”

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Há esperança para a Humanidade. A bondade é "contagiosa"

Cientistas descobriram onde se localiza a bondade no cérebro humano e como funciona. O neurocirurgião João Lobo Antunes concorda, mas atira: "Sim a bondade é contagiosa, o problema é haver tanta gente vacinada contra ela!"

Fonte: Expresso 04.06.2015

A bondade já tem um “sítio” – foi localizada no cérebro, assim como o sentimento que lhe é associado quando essa área regista atividade: “elevação moral”. Além disso, percebeu-se que esta é “contagiosa” – ou seja, ao assistirmos a atos de bondade, somos impelidos a fazer o mesmo –e ajudar. 

Publicado na revista “Biological Psychiatry”, um estudo levado a cabo pela psicóloga Sarina Saturn, da universidade de State Oregon (EUA), mediu a atividade cerebral e o ritmo cardíaco de estudantes universitários enquanto assistiam a vídeos com imagens de atos heróicos ou humorísticos.

Quando viam as imagens heróicas, os sistemas nervosos simpático e parassimpático dos estudantes atingia um pico, o que constitui “um padrão muito invulgar” segundo a psicóloga. “Os dois sistemas são recrutados para uma só emoção” – e isso é incomum, porque combinam uma reação de luta, e outra, posterior, de acalmia. 

Isto pode explicar-se assim: assistir a um ato de compaixão implica testemunhar o sofrimento de outra pessoa – o que desencadeia uma resposta de stresse, e ativa o sistema nervoso simpático. Depois, ao vermos esse sofrimento aliviado acalmamos, e o sistema parassimpático é ativado. Na zona média do córtex pré-frontal (a área relacionada com a empatia), também  foi registada atividade. E é nessa área precisamente que o neurocirurgião João Lobo Antunes julga poder residir o cerne da questão.

“É possível que a capacidade de responder positivamente aos bons exemplos, como a generosidade ou altruísmo, conduzindo ao que alguns chamam 'elevação moral', dependa também da porção mais 'social' do cérebro humano, particularmente o córtex pré-frontal (como tem sido proposto por vários neurocientistas, entre os quais António Damásio)”, defende. O professor recorda que, em termos muito simples, “as experiências emocionais são apreciadas por áreas anteriores do lobo frontal, particularmente no córtex pré-frontal (o sítio que Egas Moniz elegeu como alvo no tratamento de certas doenças mentais); mas também na hipófise, que permite reconhecer os vários tipos de expressão facial, amigável ou não”, e acaba por ser muito importante no relacionamento social entre pessoas.

“Muito mais complexa é a questão do juízo moral, que é estudado através dos modelos experimentais, como o célebre ‘caso das linhas de comboio e do homem gordo’”. Lobo Antunes explica “estes dois dilemas”. No primeiro, um comboio percorre um trajeto que depois se bifurca – num sentido irá atropelar uma pessoa, no outro três pessoas. Nós temos a capacidade de mudar o trajeto por meio de uma alavanca (“agulha”). Conseguiríamos causar a morte de uma, para salvar três? 

No segundo dilema, a vida de três pessoas seria salva se empurrássemos para a linha um homem gordo que se encontra na ponte sob a qual passa o comboio. Seríamos capazes de o fazer? De facto, a maior parte de nós não teria hesitação em manejar a “agulha”, mas já não seria capaz de empurrar o homem gordo, e as áreas cerebrais envolvidas nesta decisão não são idênticas”.

“Curiosamente, as áreas envolvidas em juízos morais são também áreas integradoras das emoções”, continua Lobo Antunes. “Esta teoria tem sido particularmente defendida por Haidt, que considera que o juízo moral é primariamente intuitivo ou emocional. Ele distingue dois sistemas, um antigo, rápido, automático, que instintivamente nos faz julgar se um ato é “bom” ou “mau” - e neste caso, inspira-nos “repugnância”. A este sistema antigo, com mais de 5 a 7 milhões de anos, junta-se outro mais recente (100.000 anos), mais lento e que implica um juízo mais deliberado”. O médico conclui que “sim, a bondade é contagiosa – o problema é haver tanta gente vacinada contra ela…”

Mais Leituras
Entrevista Marina Lencastre- A senhora que descobriu a origem da bondade 

Gaia Vince - In search of water in a drier age


A vida humana depende da água. Mas à medida que a vida e a atividade humana moldam e mudam o nosso planeta a um ritmo cada vez mais rápido, estamos a colocar em risco o acesso à água doce. Gaia viajou pelo mundo para descobrir algumas das soluções engenhosas para encontrar, armazenar e aceder à água numa era mais seca.

Gaia Vince é escritora e radialista especializada em ciência e meio ambiente. Ela foi editora principal da revista Nature Climate Change, editora de notícias da Nature e editora online da New Scientist. Ela também elabora e apresenta programas científicos para a rádio BBC. Seu primeiro livro, Adventures In The Anthropocene: A trip to the heart of the planet we made, ganhou o Royal Society Winton Prize for Science Books em 2015.

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Quando Deus é o mercado e a religião é o dinheiro


Carl Levin Milton, advogado e ex-senador pelo Michigan, foi curto e grosso sobre o Goldman Sachs, quando o identificou como “um ninho financeiro de cobras, repleto de ganância, conflitos de interesses e delitos”. O Libération foi fino quando opinou que Durão Barroso fez um simples manguito à Europa.  Eu parafraseio ambos para acrescentar que tudo converge. Se há talento que Durão Barroso sempre teve foi para aproveitar as oportunidades e fazer manguitos à ética e à moral. Foi assim quando desertou do Governo; foi assim quando cooperou com o crime do Iraque; é assim, agora, quando regressa aonde sempre esteve, isto é, para junto dos que promovem fortunas obscenas e calcam os mais fracos. A sua ignóbil conduta faz-me pensar nos valores que a educação instila nos jovens.  

A educação é pautada pela doutrina da sociedade de consumo. Os alunos são orientados para os desejos que a orgia da publicidade fomenta. Paulatinamente, muitos professores foram-se transformando em peões de um sistema sem humanidade. Paulatinamente, aceitaram desincentivar os seus alunos de questionar e discutir causas e razões.  Teoricamente livres, usamos a nossa liberdade para permitirmos que nos condicionem. Tudo é mercadoria, educação inclusa. Preferimos estar sujeitos a mecanismos de controlo social a criar mecanismos de oposição ao sistema e de desenvolvimento de outro tipo de desejos: o desejo de visitar a vida, de cooperar com os outros.  

Os sistemas de educação deixam as nossas crianças sem tempo para serem crianças. Porque lhes definimos rotinas e obrigações segundo um modelo de adestramento que ignora funções vitais de crescimento. O ritmo de vida das crianças é brutalmente acelerado segundo o figurino errado de vida que a sociedade utilitarista projecta para elas. Queremos que elas cresçam depressa. A pressa marca tudo e produz ansiedade em todos. Não lhes damos tempo para errar e aprender com os erros, quando o erro e a reflexão sobre ele é essencial para o desenvolvimento dos jovens. É a ditadura duma sociedade eminentemente competitiva e utilitária, mas pobre porque esqueceu a necessidade de formar os seus, também, pelas artes, pela estética e pela música.  

Muitos dizem que temos a geração mais preparada de sempre. Mas será que temos? Ou será que temos, tão-só, uma geração com uma relação elevada entre o número dos seus elementos e os graus académicos que obtiveram? E preparada para quê? Para responder ao “mercado” ou para responder às pessoas? É que há uma diferença grande entre qualificar e certificar, preparar e diplomar.  Quantos pais e quantos políticos se preocuparão hoje com o desconhecimento dos jovens acerca de disciplinas essenciais para a compreensão da natureza humana? Refiro-me, entre outras, à filosofia, à literatura, à história, à antropologia, à religião, à arte. Obliterados que estão todos com a economia e as finanças, enviesada que é a sua forma de definir a qualidade de vida das sociedades, sempre medida pelo crescimento do PIB mas nunca pela forma como ele é dividido, dão um contributo fortíssimo para apagar a visão personalista da educação e promover a visão utilitarista e imediatista, que acaba comprometendo a própria democracia. Porque troca o pensamento questionante pela aceitação obediente, de que os mercados carecem. Este minguar do conceito de educação vem transformando a sua natureza pluridimensional numa via única, autoritária, geradora do homem mercantil e do jovem tecnológico, de exigências curtas. E não se conclua daqui que desvalorizo o progresso tecnológico, mas tão-só que rejeito o enfoque único nessa via, para que tendemos mais e mais, como referência dominante da decisão política. Provavelmente porque é bem mais fácil manipular o tecnólogo que o artista, o tecnocrata que o livre-pensador.  

A universidade é talvez o mais evidente espelho do que afirmo. Tem a sua natureza cada vez mais corrompida por conceitos de mercado, que vão condicionando o conhecimento gerado pelos seus investigadores. Com efeito, os programas de financiamento da investigação estão marcados pela natureza dos resultados previstos. Hoje procura-se mais a utilidade do conhecimento. Antes partia-se para a procura da verdade, mesmo que essa verdade não tivesse utilização mercantil ou não gerasse lucro imediato. O professor universitário, como intelectual puro, passou de moda. Antes, a missão dos universitários era pensar. Agora é produzir.  A valorização da cultura universal cedeu passo a múltiplos nichos de cultura utilitarista. Houve, por parte dos interesses económicos e empresariais como que uma expropriação do trabalho académico de outros tempos. A utilização da inteligência está canalizada, preferencialmente, para a inovação que interessa às empresas e que elas vão, depois, utilizar, tendo lucros. A universidade, que oferecia conhecimento, vai virando universidade que oferece serviços. A pressão para que os docentes produzam e sejam avaliados por rankings é o reflexo desta nova filosofia, onde Deus é o mercado e a religião é o dinheiro.

In “Público” de 13.7.16

terça-feira, 12 de julho de 2016

Simplicidade voluntária, por Filipe Duarte Santos



Mais postagens de Filipe Duarte Santos e sua biografia.

É interessante observar e refletir sobre a capacidade de a humanidade reformular e expressar de modo diferente, sob o impulso de novas situações e razões, conceitos que caracterizam a essência do seu comportamento milenar. Em 1936, o filósofo americano Richard Gregg (1885-1974) introduziu o conceito de “simplicidade voluntária” num artigo publicado na revista indiana Visva-Bharati Quaterly. Para o autor, a simplicidade voluntária era uma forma de reagir ao consumismo então emergente nos EUA, contrariando a ideia de Henry Ford de que a civilização progride por meio do aumento do número dos desejos das pessoas e da sua satisfação. Nas suas próprias palavras, a simplicidade voluntária significa “unicidade de objetivos, sinceridade e honestidade interior e evitar a desordem exterior associada à acumulação de possessões irrelevantes para o objetivo principal da vida”. Gregg não defende o ascetismo como finalidade, mas uma forma de vida simples, sem procurar acumular bens materiais, embora compatível com o mundo moderno.

A essência destes propósitos é muito antiga, com exemplos tanto no domínio secular como religioso, mas as razões que os motivam são agora novas. Sócrates, condenado por Atenas a beber cicuta, deu-nos provavelmente o primeiro registo do exemplo de uma vida simples, sem bens materiais, do controlo de si próprio e da dedicação ao conhecimento e à sabedoria. Diógenes de Sinope, a figura central dos filósofos cínicos, levou a doutrina ao seu limite vivendo em Atenas como um mendigo em pobreza extrema, o que, segundo Diógenes Laércio, levou Platão a dizer que era um “Sócrates louco”.

No domínio religioso, a vida simples ou o ascetismo foram defendidos e praticados pelos fundadores das principias religiões, tanto na Era Axial, entre 800 a.C. e 200 a.C. – Sidarta Gautama (o Buda), Zaratustra, Lau Zi e Confúcio –, como no período que se seguiu – Jesus Cristo. No Cristianismo, a simplicidade, a pobreza, o desprendimento dos bens materiais, a ascese, têm sido preocupações recorrentes, num contexto dinâmico de avanços e recuos, embora reconhecendo sempre que a ascese não deve obliterar todo o desejo, porque este é o motor da vida. O movimento dos Padres do Deserto, no Egito, a partir do século III, liderado por São Paulo de Tebas e Santo Antão do Deserto, que serviu de modelo ao monasticismo cristão, e a Ordem dos Franciscanos, fundada por São Francisco de Assis, no século XIII, são dois dos exemplos mais notáveis.

Depois da Revolução Industrial, Henry David Thoreau (1817-1862) defendeu, antes de Gregg, uma vida simples e sustentável no seu célebre livro Walden or Life in the Woods (1854), onde descreve as suas experiências ao viver cerca de dois anos numa cabana construída por ele numa floresta do Massachusetts, à beira do lago Walden, propriedade do seu amigo e mentor Ralph Waldo Emerson. Thoreau advoga abrandar o ritmo da vida até estarmos plenamente disponíveis para usufruir o valor existencial da consciência plena de cada momento e libertar o pensamento, sem limites de tempo. O objetivo não é o ascetismo, mas a otimização da possibilidade de florescimento humano por meio de uma vida simples, com as necessidades básicas asseguradas e voltada para o que é verdadeiramente essencial.

Há razões plenamente justificadas para nos preocuparmos com o atual paradigma de desenvolvimento, baseado na aceleração da tecnologia e no consumismo, gerador de desigualdades crescentes, escassez de recursos naturais, acumulação de resíduos e degradação ambiental. Foi nos EUA, depois da Segunda Guerra Mundial, que se inventou a economia movida pelo consumismo massificado descrito eloquentemente por Lizabeth Cohen no seu livro Consumers’ Republic. Os seus promotores tinham a convicção de que ela geraria uma sociedade mais próspera, mais equitativa e mais democrática. O modelo teve um sucesso enorme, tornou-se global e criou mais prosperidade e bem-estar, mas também mais desigualdades e insustentabilidade.

A tecnologia alicerçada num conhecimento científico em expansão contínua é actualmente, para a humanidade, um veículo não só imprescindível como incontrolável. Por um lado, é o motor dos nossos sonhos mais arrojados e o único verdadeiro mito que ainda nos resta e, por outro, é o agente de profundas transformações sociais e económicas que lança para o desemprego ou para salários desvalorizados centenas de milhões de trabalhadores que se tornam progressivamente desnecessários para a economia.

sexta-feira, 8 de julho de 2016

quinta-feira, 7 de julho de 2016

O legado do grande pensador franciscano Éloi Leclerc

Frei Éloi Leclerc, um dos melhores pensadores franciscanos de nosso tempo, sobrevivente dos campos de extermínio nazista de Buchenwald e muito conhecido entre nós por seus dois livros – “A sabedoria de um pobre” e “O Sol nasce em Assis” -, que alimentaram a vida espiritual de muitos cristãos de todas as gerações, faleceu no dia 13 de maio último, na Casa de Repouso das Pequenas Irmãs dos Pobres, em Saint Malo, com 95 anos.

Éloi Leclerc nasceu em 1921 em Landernau, localidade da Bretanha francesa, de uma família formada por 11 irmãos. Ingressou no Noviciado franciscano de Amiens em 1939, o ano em que se iniciou a segunda Guerra Mundial na Europa. Em 1943, trabalhando com milhares de jovens franceses na Alemanha, foi considerado ‘sujeito suspeito’ e deportado em 1944 para um campo de concentração em Buchenwald. Com a derrota nazi, regressou à França e, entre 1951 e 1983, foi lecionar Filosofia, época em que escreveu um dos maiores clássicos da espiritualidade: “A Sabedoria de um Pobre” (1959). Foi ordenado sacerdote em julho de 1948, em Poissy.

“As circunstâncias de minha vida, principalmente a prova dos campos nazis de Buchenwald e de Dachau, durante a última Guerra Mundial, levaram-me à pergunta sobre as possibilidades de uma verdadeira fraternidade entre as pessoas. Será que somos votados a dilacerar-nos sem fim, da maneira mais trágica? Será que é possível uma comunidade humana sem exclusão, sem tirania e sem desprezo? Não seria isto apenas um sonho? Nas minhas dúvidas, voltei-me para Francisco de Assis que me parecia o protótipo do ser humano fraternal, e cujo carisma foi em seu tempo ‘converter toda hostilidade em tensão fraterna, dentro de uma unidade de criação’ (P. Ricoeur)”, escreveu Leclerc no livro “O Sol Nasce em Assis”, um dos seus maiores sucessos no Brasil, lançado em 1999 e publicado pela Editora Vozes em 2000.

Neste livro, Leclerc conta que em abril de 1943, ele foi inesperadamente recrutado pelo Serviço de Trabalho Obrigatório (STO) na Alemanha (a França foi invadida pela Alemanha em 1940). Naquela ocasião eu era estudante de filosofia em Carrières-sous-Poissy, na residência de Champfleury, para onde se havia retirado o escolasticado franciscano. Éramos uns doze jovens religiosos”, conta Éloi. “Numa manhã de 1944, a Gestapo fez uma vasta batida policial nos acampamentos de jovens. Fomos presos mais de sessenta: padres, religiosos, seminaristas, jocistas, escoteiros… Todos acusados de propaganda antinazi e considerados indivíduos perigosos”, acrescenta o frade escritor, preso em Brauweiler, onde os jovens foram submetidos a interrogatórios violentos e até torturados. A Gestapo queria que confessassem que escondiam armas. Depois dos interrogatórios, foram enviados para o campo de concentração de Buchenwald, perto de Weimar, na Turíngia, onde um de seus confrades faleceu.

Para Leclerc, foi “a descida aos infernos”. Segundo ele, não havia passado um mês no campo e já contavam vários mortos em suas fileiras. “Aos olhos dos nossos carrascos não éramos mais homens: o objetivo deles era fazer-nos tomar consciência de que não tínhamos mais nenhuma dignidade humana e, por conseguinte, nenhum direito ao mínimo respeito, nem mesmo à vida”, relata Frei Éloi.

Dois momentos na vida de Leclerc: o campo de concentração em Buchenwald e São Francisco de Assis

Éloi foi libertado em 29 de abril de 1945 pelas tropas americanas, no campo de Dachau. “Iria passar alguns meses de repouso e de restabelecimento na Bretanha, junto com minha família”, escreve. Segundo o escritor, tudo convidava à alegria: pais, irmãos, a casa onde moravam, o jardim, o campo. O vale do Elorn se tornou mais belo. “Nossa casa estava situada no lugar chamado ‘La Fontaine blanche’. Um nome evocador, cheio de sonhos”, conta. Mas nada era como antes. “Não existia mais a inocente alegria de viver, feita de despreocupação e livre de toda desconfiança e de todo medo. O medo do homem não me largava. De noite, acordava sobressaltado, o suor escorrendo e a alma tomada de pavor. Elas sempre voltavam, aquelas imagens do horror. Elas me perseguiam. E não podia apagá-las”, confessava.

É com esses sentimentos que Éloi encontra em Francisco de Assis um bálsamo para sua alma. “Se seu ‘Cântico do Sol’ tem o esplendor da manhã, é precisamente porque ele surge no fim da noite. Se ele é o canto de todas as criaturas, é porque também foi o canto da maior solidão. E se é o canto de todos os humanos, é porque foi mais forte que todos os silêncios e que todas as violências: é o canto de todos os perdões”, refletia. Foi assim que nasceu “O Sol nasce em Assis”.

Segundo o escritor, no seu primeiro livro, “A Sabedoria de um Pobre”, pode-se ver em filigrana a grande pergunta que me atormentava depois da volta dos campos de extermínio: a fraternidade humana é possível? Nos anos sessenta, ainda publicaria “Exílio e ternura” (62) e “O Cântico das criaturas ou os Símbolos da união” (63). Sua produção cresceria nos anos 70 até se retirar para uma ermida de Bellefontaine, na Normandia. Ali também continuou escrevendo. Em 1981 publicou “Francisco de Assis, encontro do Evangelho e da história”, uma interessante obra que situa Francisco dentro do contexto económico, social e político de sua época, importante para compreender suas inquietações e aspirações, e as características da Ordem que fundou. Depois vieram as obras: “Mathias Grünewald, a noite é a minha luz” (1984), “O Reino Escondido” (1987), “Deus maior” (1990), “Caminho da contemplação” (1995), o “O Mestre do desejo” (1998) e finalmente o pequeno livro sobre Jeanne Jugan, o “Deserto e a Rosa”, que evoca a experiência espiritual da fundadora das Pequenas Irmãs dos Pobres. Um livro sobre o silêncio de Deus, especialmente na sociedade de hoje. “Ao descobrir a tragédia humana, eu mesmo estava confuso sobre o silêncio de Deus como alguns pretendem traduzir como ausência de Deus. Mas na Bíblia, a presença de Deus é muitas vezes silenciosa.  Seu silêncio não é uma distância, pelo contrário … ele está incrivelmente perto”, disse em uma entrevista a Laurence Monroe.

Frei Leclerc destaca que entre as poucas coisas que se podem escapar da destruição do homem são a pureza e inocência. Esta ideia faz parte do prefácio da “Sabedoria de um pobre”, onde lamenta que o mais terrível do nosso tempo é que “nós perdemos a ingenuidade”. Nos seus livros, ele expressou claramente e poeticamente suas reflexões filosóficas sobre a fé. Toda a sua obra é marcada por uma espiritualidade tirada de uma situação que o obrigou a escolher entre esquecer sua alma no abismo, ou se embrenhar nas próprias entranhas da fé para conhecer o mistério de Deus. “A presença franciscana no mundo é ‘converter toda a hostilidade em tensão fraterna dentro da unidade de criação’, nas palavras de Paul Ricoeur. As tensões sempre existirão. Mas a tensão é frutífera. É necessário avançar e criar”, disse na mesma entrevista a Laurence Monroe.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Guia de Sobrevivência? Mais de 1000 plantas comestíveis em Portugal

Existem registos de “comestibilidade” para pelo menos 25% das cerca de 4000 espécies de plantas em Portugal. Ou seja, em alguma parte do mundo onde a mesma espécie existe, alguma parte da planta (raíz, folhas, fruto, etc.) é, ou já foi, consumido, quotidiana ou excepcionalmente, como em alturas de privação de outros alimentos.
Determinei este número através de uma busca sistemática de cada espécie da flora portuguesa em 3 bases de dados de Etnobotânica: Plants for a Future (PFAF), Famine Foods e Food Plants International. A imagem seguinte mostra o aspecto do topo da tabela resultante dessa análise, com as espécies de maior qualidade como alimento humano (segundo a avaliação da Plants for a Future).

Clica para ampliares
A tabela inclui as seguintes colunas:1. Nome da espécie;
2. Link para a ficha na base de dados “PFAF”;
3. Nota para o uso alimentar da PFAF (0-5);
4. Nota para uso medicinal da PFAF (0-5);
5. Presença na (e link para) base de dados “Famine Foods“;
6. Presença na base de dados “Food Plants International“;
7. Nome comum.

Este é um tema que me é muito caro. Estou convencido de que a valorização comercial de algumas destas espécies pode ser importante para a sua conservação. Se algum leitor tiver interesse em saber mais a este respeito, contacte-me pelo Alfarrobista

segunda-feira, 4 de julho de 2016

O curioso ciclo de vida das coalhadas /pútegas- Cytinus hypocistis (planta parasita)

Cytinus hypocistis por Jan Jansen
O Cytinus hypocistis é uma planta parasita. Especificamente, elas são chamadas holoparasitas também parasita inteiro ou parasita completo. Entre eles se compreende parasitas vegetais, que já não são capazes de realizar a fotossíntese por falta de clorofila. Eles se referem todos os nutrientes necessários através haustoria das raízes de seu hospedeiro. Este organismo parasita vive abaixo do solo sobre as espécies esteva (Cistus). A parte subterrânea pode ser de vários metros de comprimento e corre como um micélio, as raízes da planta hospedeira.
A planta aparece acima do solo apenas no tempo de floração. As folhas são, na verdade, apenas as brácteas de inflorescências e não há folhas verdadeiras. São aplicados aos caules folhas escala estreitamente ovalada, com cores de amarelo basal, ou laranja de cima para escarlate.
As plantas são monóicas (pés masculinos e feminino separadamente) As flores são cinco para décimo densamente tufos na extremidade do eixo do ramo. Estes são cercados por duas brácteas. O perianto consiste de um tubo fundido quatro sépalas. Vê-se a partir do tubo do cálice de quatro salientes lóbulos, pétalas ausentes. As flores masculinas oito estames estão unidos numa coluna. As flores femininas têm um ovário inferior. Como polinizadores podem ser especificados formigas e pássaros. São formadas bagas com muitas sementes pequenas (menos do que 0,5 mm). As bagas são comidas por escaravelhos (Coleoptera) e assim as sementes se espalham por endozoocoria (ingestão e posterior libertação do diásporo). As sementes são engolidas por certos animais, atraídos a ele por um testa (revestimento de semente), um fruto da consistência carnuda ou algum outro isco. Os frutos e as sementes estão preparados para isso. Recompensa com que tanto atraem os seus agentes disseminadores. 

Distribuição
Um pouco por todo o País, contudo mais abundante na Serra da Estrela e Algarve

Ecologia
Matos xerofílicos, pinhais e bosques abertos.

Usos
As plantas jovens de C. hypocistis são cozinhadas como substituto de espargos, e um seu extracto tem uso como tratamento de disenteria, tumores da garganta e como adstringente

domingo, 3 de julho de 2016

Dia Internacional sem Sacos

Foto- Miguel Lacerda

O Dia Internacional Sem Sacos de Plástico ocorre a 3 de Julho.
O objetivo da data é chamar a atenção para a produção e para o consumo excessivo de sacos plásticos a nível mundial, propondo-se alternativas para resolver este sério problema ambiental.
Sacos plásticos e problemas ambientais

Estima-se que um cidadão na Europa consome cerca de 500 sacos plástico por ano, que acabam no lixo ao fim de meia hora de utilização ou então no meio-ambiente, criando-se vastas ilhas de lixo plástico nos oceanos (80% da poluição marinha). Como os animais confundem o plástico com alimentos, eles acabam por morrer pela ingestão de plástico.

Os sacos de plástico são constituídos por resinas tóxicas oriundas do petróleo e levam cerca de 500 anos a decompor-se. Apesar da gravidade da situação, apenas 2% da população recicla sacos plásticos.

O que fazer com os sacos plásticos?
O Dia Internacional Sem Sacos Plásticos apela à mudança de comportamento de todas as pessoas do mundo relativamente ao uso dos sacos plásticos. Cada um de nós deve fazer um esforço para preservar o meio-ambiente, levando sempre o mesmo saco plástico para as compras, reciclando os sacos plástico ou utilizando sacos de papel.

Veja as diferentes formas de reutilizar sacos plásticos. Se quiser ser mais proactivo pode juntar-se aos eventos do International Plastic Bag Free Day no site oficial da data.

sábado, 2 de julho de 2016

Guia Ilustrado para saber o que comem estas 10 Borboletas

Uma lagarta de borboleta é uma máquina de comer. A sua função é armazenar energias para conseguir ganhar asas e voar. E se há lagartas que não são esquisitas, há outras que têm um menu limitado a uma única planta. Patrícia Garcia-Pereira apresentou-nos 10 espécies e Jeanne Waltz desenhou-as.

Não se mexem muito, a visão é fraca e os sentidos não estão muito apurados. Para as lagartas de borboleta, a sua missão é comer e não ser comido.
Estas 10 espécies que ocorrem em Portugal foram escolhidas por Patrícia Garcia-Pereira, do Centro para a Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (Ce3C) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, por serem especiais. Cada espécie só se alimenta de uma única planta (chamadas de monófagas), o que significa desafios ecológicos maiores.

Axadrezada-mediterrânica (Sloperia proto):


Planta: Marioila (Phlomis purpurea)
Esta é uma espécie claramente do Sul, estando presente no Norte de África e no Sul da Europa. Em Portugal ocupa a metade meridional.
Época de voo: fins de Abril até Outubro (mais frequente no Verão)

Borboleta-carnaval (Zerynthia rumina):


Planta: Erva-bicha (Aristolochia paucinervis)
Esta é outra espécie mediterrânica da fauna portuguesa. No território continental está presente em quase todo o país, mais comum no Sul.
Época de voo: de Fevereiro a Maio

Ponta-laranja-do-Douro (Anthocharis euphenoides):


Planta: Biscutella valentina
Esta espécie só sobrevive em locais muito quentes, preferindo os vales mediterrânicos do Douro interior. Pode considerar-se uma espécie rara no nosso país, com uma distribuição localizada e com poucos registos de observações.
Época de voo: Abril a Junho

Lucina (Hamearis lucina):


Planta: Prímula ou rosa-da-páscoa (Primula acaulis)

Já a lucina é um bicho do Norte. Está presente na Europa Central e Meridional estendendo a sua distribuição até à Rússia. Em Portugal ocupa apenas as florestas de carvalhos da região norte.
Época de voo: Maio e Junho

Borboleta-azul-das-turfeiras (Phengaris alcon): 


Planta: Genciana-de-turfeiras (Genciana pneumonanthe)
Espécie europeia com uma distribuição localizada em todos os países. Em Portugal está presente nos lameiros de altitude da região Norte, tendo populações abundantes e saudáveis especialmente no Alvão e Montemuro.
Época de voo: Julho e Agosto

Verdinha-da-primavera (Tomares ballus):


Planta: Alfavaca-dos-montes ou alfavaca-silvestre (Erophaca baetica)
Espécie mediterrânica, presente no Norte de África, na Península Ibérica e no Sudoeste de França. Em Portugal é mais abundante no Sul.
Época de voo: Fevereiro a Abril

Aricia-Do-Nordeste (Eumedonia eumedon):


Planta: Gerânio-sanguíneo (Geranium sanguineum)
Esta é uma borboleta do Norte. Em Portugal só é conhecida do Parque Natural de Montesinho, em florestas de carvalho-negral.
Época de voo: Junho

Borboleta-do-medronheiro (Charaxes jasius):


Planta: Medronheiro (Arbutus unedo)
É a maior diurna da Europa. De origem africana, encontra-se dispersa pela região mediterrânica, sempre que hajam matos com abundantes medronheiros. Em Portugal só não ocupa a faixa litoral Norte. É particularmente abundante no Alentejo e Algarve.
Época de voo: Março a Outubro

Fritilária-mediterrânica (Euphydryas desfontainii):


Planta: Cardo-penteador (Dipsacus comosus)
Esta espécie ocorre no Norte de África, metade meridional da Península e Sul de França. Em Portugal só está no barlavento algarvio e sudoeste alentejano. Talvez seja a espécie mais ameaçada do nosso país pela destruição dos seus habitats preferenciais, especialmente a conversão de baldios e prados húmidos em áreas de produção de eucalipto.
Época de voo: Abril e Maio

Nariguda (Libythea celtis):


Planta: Lódão (Celtis australis)
Esta espécie – que vive na Argélia, Sul da Europa e Ásia – é relativamente comum no nordeste de Portugal. É uma espécie que passa o período desfavorável na fase adulta. Deste modo, nos dias quentes e solarengos dos meses de Inverno é possível observar os indivíduos que estiveram a hibernar.
Época de voo: Junho a Setembro

Fonte: Wilder