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domingo, 31 de março de 2024

Kyrie, de José Carlos Ary dos Santos


Em nome dos que choram,
Dos que sofrem,
Dos que acendem na noite o facho da revolta
E que de noite morrem,
Com a esperança nos olhos e arames em volta.

Em nome dos que sonham com palavras
De amor e paz que nunca foram ditas,
Em nome dos que rezam em silêncio
E falam em silêncio
E estendem em silêncio as duas mãos aflitas.

Em nome dos que pedem em segredo
A esmola que os humilha e destrói
E devoram as lágrimas e o medo
Quando a fome lhes dói.

Em nome dos que dormem ao relento
Numa cama de chuva com lençóis de vento
O sono da miséria, terrível e profundo.

Em nome dos teus filhos que esqueceste,
Filho de Deus que nunca mais nasceste,
Volta outra vez ao mundo!

Uma Boa Páscoa com Bach


Sublime. O que mais me emociona neste flashmob é que o ensemble mostra como esta música Pascoal vem do meio da nossa sociedade: não numa caixa de vidro celestial, mas de sapatilhas e com uma garrafa de refrigerante na mão. Podemos concluir que Bach, Mozart, Verdi ou qualquer outro compositor “clássico” escrevia a música pop não só da sua época, como pode ser tocada e cantada por jovens de hoje.

sábado, 30 de março de 2024

Canibalismo era um ritual fúnebre comum na Europa há 15 mil anos, segundo estudo

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Sítio fúnebre de Herxheim, Alemanha

O canibalismo era uma prática funerária rotineira na Europa há cerca de 15 mil anos, quando as pessoas comiam os seus mortos não por necessidade, mas sim como parte da sua cultura, de acordo com um novo estudo.

Embora os pesquisadores tenham encontrado anteriormente ossos roídos e crânios humanos que foram transformados em taças na caverna de Gough, na Inglaterra, um estudo publicado na revista Quaternary Science Reviews sugere que este não foi um incidente isolado.

A pesquisa se concentrou no período Magdaleniano do final do Paleolítico Superior. Os magdalenianos viveram há cerca de 11 mil a 17 mil anos.

Especialistas do Museu de História Natural de Londres analisaram a literatura para identificar 59 sítios magdalenianos que contêm restos humanos. A maioria estava na França, mas há sítios também na Alemanha, Espanha, Rússia, Reino Unido, Bélgica, Polónia, República Checa e Portugal.

Eles foram capazes de interpretar os comportamentos funerários em 25 sítios. Quinze mostraram evidências de restos humanos com marcas de mordidas, ossos de crânio com marcas de corte e ossos quebrados propositalmente em um padrão associado à extração de medula óssea em busca de nutrientes, indicando que o canibalismo era praticado.

Também houve evidências que sugerem que, em alguns casos, restos mortais humanos foram misturados com restos de animais.

A manipulação ritualística de restos mortais humanos e a sua ocorrência frequente em locais do norte e oeste da Europa sugerem que o canibalismo era uma prática funerária – e não um complemento à dieta – difundida na cultura magdaleniana, disseram os pesquisadores.

“[É] inegável que a frequência de casos de canibalismo entre os sítios magdalenianos excede qualquer incidência desse comportamento entre grupos de hominídeos anteriores ou posteriores, e sugere que o canibalismo mortuário era um método que o povo magdaleniano usava para se livrar de seus falecidos”, disse o estudo.

“Em vez de enterrar seus mortos, essas pessoas os comiam”, disse a coautora do estudo Silvia Bello, paleoantropóloga e pesquisadora principal do Museu de História Natural, em um comunicado à imprensa.

Ela acrescentou que o canibalismo “não era praticado simplesmente por necessidade”. “Isso por si só é interessante, porque é a evidência mais antiga de canibalismo como prática funerária conhecida até agora”, acrescentou Bello.

Comportamento funerário associado à ancestralidade genética
Os pesquisadores também conseguiram obter informações genéticas de oito sítios e combiná-las com evidências arqueológicas para identificar uma relação entre o comportamento funerário e a ancestralidade genética.

Eles descobriram que havia dois grupos ancestrais distintos presentes na região durante esse período – um da cultura magdaleniana e outro chamado epigravetiano, uma cultura humana europeia diferente e geograficamente distinta.

Os pesquisadores descobriram que aqueles pertencentes à cultura magdaleniana no noroeste da Europa preferiam comer os seus mortos, enquanto os humanos da cultura epigravetiana preferiam enterrar os seus mortos sem canibalismo.

“Houve uma mudança no sentido de as pessoas enterrarem os seus mortos, um comportamento amplamente observado em todo o centro-sul da Europa e atribuído a uma segunda cultura distinta, conhecida como Epigravetiana”, disse o Museu de História Natural no comunicado.

A presença de sepultamentos regulares durante o Magdaleniano Superior deveu-se à migração de indivíduos com ascendência relacionada com o Epigravetiano para áreas anteriormente habitadas por pessoas com ascendência relacionada com o Magdaleniano que praticavam o canibalismo funerário, sugeriu o estudo.

“Acreditamos que a mudança no comportamento funerário aqui identificada é um exemplo de difusão dêmica onde essencialmente uma população entra e substitui outra população e isso provoca uma mudança de comportamento”, disse William Marsh, pesquisador de pós-doutorado do museu, no comunicado à imprensa.

Estes são resultados preliminares e é necessária uma análise mais aprofundada dos resultados em maior escala para examinar completamente as descobertas, disseram os autores do estudo.

Thomas Booth, cientista sénior de pesquisa de laboratório do Instituto Francis Crick que não esteve envolvido no estudo, disse à CNN: “Estamos sentindo falta dos restos mortais da maioria das pessoas que viveram na Europa durante o Paleolítico e por isso pode sempre ser complicado ter certeza do que as pessoas faziam com os seus mortos”.

“No entanto, este estudo fornece evidências bastante convincentes de que o canibalismo ritual funerário era praticado por pessoas em toda a Europa há 20 mil – 14 mil anos atrás”.

sexta-feira, 29 de março de 2024

Encontros Improváveis: Miguel Torga e Bach


Páscoa
Um dia de poemas na lembrança
(Também meus)
Que o passado inspirou.
A natureza inteira a florir
No mais prosaico verso. 

Foguetes e folares,
Sinos a repicar
E a carícia lasciva e paternal
Do sol progenitor
Da primavera.

Ah, quem pudera
Ser de novo
Um dos felizes
Desta aleluia!
Sentir no corpo a ressurreição.

O coração,
Milagre do milagre da energia,
A irradiar saúde e alegria
Em cada pulsação.

Diário XVI

A Menina e o Corvo


Na solidão da vasta planície,
Onde o vento sussurra canções antigas,
Uma menina caminha com a sua tristeza
Envolta em sombras e melancolia.

Os seus olhos refletem a noite escura,
Onde estrelas cintilam em prata pura,
Mas no seu coração, um eco profundo,
Reside uma dor que a consome sem fundo.

E na árvore solitária, ali de pé,
Um corvo negro, a observar, a ver,
Com olhos penetrantes, como a noite,
E um chamado que ecoa sem açoite.

O corvo grasna, como se contasse,
Histórias de tempos além do espaço,
E a menina escuta, com olhos abertos,
Aprendendo a sua linguagem.

Dia após dia, os dois se encontram,
A menina e o corvo, no seu bosque encantado,
E juntos eles descobrem segredos antigos,
Que só os corações puros podem desvendar.

Nesta jornada singular, descobrem a magia,
Que une o ser humano à natureza inteira.
E assim seguem, lado a lado, coração a coração,
A menina e o corvo, em perfeita comunhão.

João Soares, 29.03.2024

quinta-feira, 28 de março de 2024

O contributo tecnológico que uma árvore pode ter para o planeta


Parece um processo altamente tecnológico, mas apenas envolve… plantas. As espécies vegetais absorvem e retêm carbono conforme o seu tamanho, fase de crescimento e ciclo de vida. É através da fotossíntese que plantas, como árvores, absorvem CO2 e emitem oxigénio. A existência de florestas – naturais ou bem geridas – contribui por isso para o arrefecimento de áreas urbanas, para o enriquecimento de áreas agrícolas e para sustentabilidade do planeta.

As mudanças climáticas estão na ordem do dia pelas piores razões: o aumento da temperatura e dos fenómenos climáticos extremos está a espalhar-se por todo o mundo.

No mês em que se comemorou o Dia Internacional das Florestas, a 21 de março, importa lembrar a importância das árvores no sequestro de CO2 e no armazenamento feito pelos produtos gerados a partir da madeira, caso seja essa a sua finalidade.

O relatório Emissions Gap Report 2023: Broken Record – Temperatures hit new highs, yet world fails to cut emissions (again) confirma que as temperaturas no mundo estão a aumentar relativamente aos níveis pré-industriais. E o papel das florestas é mais importante do que nunca. Estima-se, de acordo com o site florestas.pt, que o CO2 removido pela floresta à escala global tenha rondado os 15,6 mil milhões de toneladas (gigatoneladas ou Gt) de CO2 por ano, entre 2001 e 2019. À escala global, as florestas armazenam entre 662 e 861 gigatoneladas de carbono.

quarta-feira, 27 de março de 2024

Um quinto dos alimentos produzidos pelo mundo em 2022 foi desperdiçado


O mundo desperdiçou cerca de um quinto dos alimentos produzidos globalmente em 2022, ou seja, 1.050 milhões de toneladas de comida, avançou hoje um relatório das Nações Unidas, referindo que 60% deste desperdício foi feito por famílias.

De acordo com o Relatório do Índice de Desperdício Alimentar do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUMA), cada pessoa desperdiçou 79 quilos de alimentos naquele ano.

O número significa que, do total de alimentos desperdiçados, 60% (631 milhões de toneladas) provieram de famílias, enquanto 28% foram da responsabilidade de serviços alimentares e 12% do retalho, sublinhou o documento hoje divulgado.

“Num ano em que um terço da humanidade enfrentou insegurança alimentar, cada lar deitou fora o equivalente a mil milhões de refeições por dia, ou seja, 1,3 refeições diárias para pessoas afetadas pela fome no mundo”, apontou a análise.

O desperdício alimentar, alerta o PNUMA, gera entre 8% e 10% das emissões globais de gases com efeito de estufa, o que é quase cinco vezes mais do que as emissões totais do setor da aviação.

A situação continua a prejudicar a economia global e a alimentar as alterações climáticas, além de representar um grave prejuízo para a natureza e um aumento da poluição.

“O desperdício alimentar é uma tragédia global. Milhões de pessoas passam fome devido ao desperdício alimentar em todo o mundo”, afirmou a diretora-executiva do PNUMA, Inger Andersen, na apresentação do relatório.

Um problema que, lembram os investigadores, não é apenas dos países ricos.

“É um problema global”, defendeu o coautor do relatório e diretor da organização britânica de resíduos WRAP, Richard Swannel.

Os autores do relatório garantiram que as diferenças no desperdício alimentar ‘per capita’ dos agregados familiares entre países de rendimento elevado e países de rendimento mais baixo eram surpreendentemente pequenas.

“Os dados são realmente claros neste ponto: este é um problema mundial que todos nós poderíamos resolver amanhã, seja para poupar dinheiro ou para reduzir o impacto ambiental”, sublinhou ainda Swannel.

A análise das Nações Unidas, publicada numa altura em que as crises alimentares se aprofundam em várias regiões, como na Faixa de Gaza ou Sudão, visa acompanhar o progresso dos países para atingir o objetivo de reduzir para metade o desperdício alimentar até 2030.

De acordo com os investigadores, atualmente apenas quatro países do G20 (as 20 economias mais ricas e emergentes) – Austrália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos, além da União Europeia (UE) – têm possibilidade de cumprir o objetivo até daqui a seis anos.

No último relatório publicado, referente a 2021, o PNUMA concluía que se tinha desperdiçado 17% dos alimentos produzidos nesse ano em todo o mundo, ou seja, 1.030 milhões de toneladas de comida.

No entanto, os autores do estudo alertaram que as comparações não devem ser feitas diretamente entre valores dos dois anos, já que o número de países que reportaram dados quase duplicou.

A pandemia dos eucaliptos


Portugal, um país de curiosos recordes mundiais. A maior feijoada, o maior pão com chouriço ou os maiores chifres de um bode são alguns dos feitos registados no Guinness. O país é igualmente recordista mundial no uso de uma planta que vem do lado oposto do globo terrestre. Eucalyptus globulus. São perto de um milhão de hectares cobertos somente por esta espécie. Quase 30% daquilo a que chamamos floresta portuguesa.

“Se viajarmos de norte a sul do país, são assustadoras as áreas de monocultura de eucalipto pegadas umas às outras. A paisagem está completamente destruída. Daí se chamarem desertos verdes”, observa o biólogo e especialista em agrofloresta José Mateus.

“Ter um distrito inteiro em que a única floresta que existe são plantações, seja aqui, seja as palmeiras para óleo de palma, é desastroso”, anui Paulo Pereira, biólogo e co-autor da Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental. Publicada no início do outono, este projeto avaliou perto de 400 espécies de árvores e plantas nativas que estão hoje ameaçadas de extinção em Portugal, devido sobretudo à intensificação agrícola, às barragens, aos incêndios e às espécies invasoras.

Em 2017, um estudo internacional em que participou a Universidade de Coimbra concluíra: "os eucaliptais geram autênticos 'desertos' à sua volta, provocando uma dramática redução da biodiversidade do território". Em 2019, outro estudo realizado por investigadores de seis instituições de ensino superior e coordenado por Ernesto de Deus mostrou várias evidências do potencial invasor do eucalipto.

No verão passado, investigadores da Universidade Técnica de Munique e da Universidade de Zurique detetaram através de imagens de satélite 15 territórios da rede Natura 2000 afetados por eucaliptos, nove dos quais “fortemente afetados”. “Estes ecossistemas são únicos e albergam várias espécies ameaçadas”, lembraram ao jornal Público. Consideraram os eucaliptos uma das maiores ameaças ambientais, pois “substituem a vegetação existente e atuam como combustível para potenciais incêndios florestais futuros”. Um ciclo que, face às alterações climáticas, preveem cada vez mais recorrente em Portugal.

Monchique é um exemplo revelador. Há 17 anos que é considerado Zona de Proteção Especial da rede Natura 2000, com 50 espécies naturais entre as mais valiosas e ameaçadas do continente europeu. Já então o ICNF, Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, identificara as principais ameaças: a atividade de florestação intensiva com espécies exóticas, os incêndios florestais e a destruição da vegetação autóctone. Em 2018, Monchique ardeu brutalmente. Quem habita a serra tem visto com incredulidade e revolta o regressar dos eucaliptais industriais sobre as áreas ardidas, e o brotar descontrolado de eucaliptos no pós-fogo, espalhando-se para novos terrenos.

Após os trágicos incêndios de 2017, o governo alterou a famigerada “Lei do Eucalipto Livre”. Hoje, é apenas permitido plantar eucaliptos em áreas de eucaliptal já existentes, ou numa nova área se se arrancar uma área de eucalipto equivalente. Entretanto, nos meses entre o anúncio da nova lei e a sua entrada em vigor, a ganância que mora na sombra dos eucaliptais teve o seu apogeu. Os viveiros industriais, de onde nas últimas décadas saíram mais de um bilião destas árvores, esgotaram para responder à frenética corrida ao eucalipto. Números facultados pelo ICNF revelam a cumplicidade do instituto: as autorizações para alastrar eucalipto a novas áreas tiveram nesse ano de 2017 o seu pico, com mais de 2200 hectares aprovados.

De acordo com o Público, em 2009 o ICNF elaborara uma proposta para classificar o eucalipto como espécie invasora – proposta que terá desaparecido sem explicação.

Procurámos saber a posição do instituto hoje. Sediado na aparentemente impenetrável floresta de betão da Avenida da República, em Lisboa, o ICNF responde apenas por email. E a resposta é taxativa. “Facilmente se infere que o eucalipto não é uma espécie invasora”, lê-se, “porque não é suscetível de ocupar naturalmente o território de uma forma excessiva, provocando uma modificação significativa nos ecossistemas.” O instituto explica: o raio de dispersão das sementes é limitado, o vigor dos eucaliptos que brotam espontaneamente é inferior ao dos obtidos em viveiro, sendo eliminados precocemente e dominados pelos arbustos e árvores pré-existentes.

No mesmo email, defende que a análise dos incêndios não faz “qualquer referência a situações de ‘elevada inflamabilidade’ relacionados com qualquer espécie”. E aprova a reflorestação pós-fogo com novos eucaliptos. “A reflorestação com qualquer espécie florestal não provoca o seu aumento territorial e é fundamental como medida de contenção e minimização dos impactos no solo e biodiversidade após os incêndios florestais.”

O instituto cuja missão é a proteção da nossa floresta não avista qualquer relação entre eucaliptais e incêndios, nem o perigo de esta espécie se tornar dominante. Uma visão que, se não cola propriamente com a das populações ou da academia, cola perfeitamente com a da indústria do papel, de empresas como a Altri e a Navigator. De resto, recorda o ICNF, “a Estratégia Nacional para as Florestas em Portugal reconhece a necessidade de garantir resposta à procura de matérias-primas das principais fileiras silvo-industriais”.

Uma floresta ligada à máquina
Em apenas duas gerações, a floresta em Portugal passou de ser o sustento da vida nas aldeias, com base numa convivência quotidiana e ancestral, a um cobiçado recurso para a indústria. Primeiro com a intervenção autoritária do Estado Novo, e o Fundo de Fomento Florestal nos anos 50, depois com a intervenção autoritária do mercado, marcada pela entrada na CEE e pelo Projeto Florestal Português financiado pelo Banco Mundial, nos anos 80. E o interior do país, enquanto se encheu de monoculturas florestais de pinhal e o eucalipto, esvaziou-se de pessoas.

“Houve um grande crescimento de tudo o que é floresta artificial, por vezes completamente estranha à ecologia de cada lugar”, observa Paulo Pereira. Para o biólogo, o advento da engenharia agronómica trouxe consigo uma certa presunção do ser humano achar que controla todos os processos. “Em qualquer tipo de sistema agrícola intensivo, há aquela ideia de que a única coisa que nos interessa é o que temos a produzir. Tudo o resto é concorrência a eliminar. Isto é como ligar a nossa produção à máquina. Como se tivéssemos um doente de Covid ligado ao respirador. Só com a água a pingar, adubos, tratores, pulverização de inseticidas e herbicidas todo o ano se consegue manter a cultura. Estamos a criar um zombie, que não tem qualquer autonomia fora do cuidado humano.”

terça-feira, 26 de março de 2024

Green Life World - aumenta já a eficiência energética da tua casa com estas pequenas melhorias


Descobre algumas melhorias que podes implementar para aumentar a eficiência energética da tua casa e poupar centenas de euros por ano.

As maiores poupanças que se podem fazer começam dentro de casa. E uma casa poupada é, sem dúvida, uma habitação na qual existe eficiência energética. Seja avançando com algumas obras ou apenas com pequenas mudanças, é possível eliminar fugas de calor e evitar gastos extra no orçamento familiar para aquecer ou arrefecer as divisões. Além disso, as energias renováveis são já muito expressivas em Portugal. Fica a saber como aumentar a eficiência energética da tua casa.

Em que consiste a eficiência energética?
A eficiência energética consiste em utilizar racionalmente a energia de forma a gerar o menor gasto possível. Neste sentido, as energias renováveis são as mais eficientes, tanto a nível do aquecimento das águas como de climatização. A instalação de painéis solares em casa pode-te ajudar a alcançar uma redução de 60% no consumo de energia para aquecimento de águas sanitárias.

Porém, o investimento inicial em painéis solares normalmente é avultado, obrigando os consumidores com maiores preocupações ambientais a desembolsarem, de uma só vez, uma grande quantidade de dinheiro para poderem ter este tipo de instalação em casa. Contudo, este tipo de investimento pode ser faseado em prestações mensais, se financiares o investimento com um empréstimo especializado para energias renováveis.

Ainda assim, para auxiliar os proprietários a aumentarem a eficiência energética das suas habitações, a 13 de abril de 2018 o Governo lançou o programa Casa Eficiente 2020, que visa conceder empréstimos para o efeito.

Que obras são necessárias para melhorar a eficiência energética?
Para além da instalação de painéis solares, já referida como solução, existem outras melhorias que podem ser levadas a cabo numa habitação para que esta se torne mais eficiente energeticamente.

Isolamento térmico
Desde logo, a aplicação de isolamento térmico nas paredes, pavimentos e cobertura é essencial para aumentar a eficiência energética de uma casa, visto que minimiza a fuga de calor do interior para o exterior. O isolamento é feito com materiais termicamente muito resistentes, o que faz com que haja menor perda de energia do interior para o exterior no inverno e sobreaquecimento no verão.

Quanto melhor for o isolamento de uma casa, mais será possível evitar o investimento em aquecimento central e/ou ar condicionado para aquecer ou arrefecer as divisões. Isto traduz-se numa grande redução de consumos e, consequentemente, em poupança na fatura da luz.

Atualmente, os tipos de isolamento térmico que existem são vários: lã de vidro, lã de rocha, espuma de poliuretano, poliestireno expandido, poliestireno extrudido e aglomerado de cortiça.

Substituição de janelas
E se o isolamento nas paredes, cobertura e pavimento é essencial, também é necessário pensares num dos fatores que mais pode contribuir para a perda de calor: as janelas. Estas devem ter caixilharia em PVC para que se mantenha o ambiente isolado e se evitem perdas de calor, que levam a gastos acrescidos no aquecimento.

Além disso, o ideal é teres vidros duplos, porque, para além de atenuarem o ruído exterior, permitem controlar a temperatura dentro de casa.

Eletrodomésticos com baixo consumo
Normalmente, quanto mais antigo for um eletrodoméstico, mais elevado será o seu consumo energético. Para gastar o mínimo possível em energia, o ideal é recorrer a eletrodomésticos com classificação energética A. Hoje em dia, todos os eletrodomésticos possuem esta certificação.

Lâmpadas LED
Substituir as lâmpadas incandescentes por LED é também fundamental – para além de durarem muito mais, gastam menos eletricidade. Mesmo que não substituas todas as lâmpadas por estas, basta trocares uma parte para poupar.

Existem outras soluções para aumentares a eficiência energética de uma casa – controlar a temperatura do esquentador, por exemplo -, para além de que pequenas obras para colocação de isolamento ou substituição de caixilharias podem fazer toda a diferença na poupança e, por conseguinte, no orçamento mensal de uma família. Com um financiamento para obras, é possível fazeres as mudanças necessárias em casa e pagares, todos os meses, uma prestação acessível.

Em 2023, de acordo com um comunicado da REN (Redes Energéticas Renováveis), a produção renovável abasteceu 61% do consumo de energia elétrica em Portugal. Pequenas mudanças, grandes resultados.

segunda-feira, 25 de março de 2024

Investigação: Do Pinhal à Central


A Biofuelwatch e a ZERO acabam de lançar uma investigação em vídeo sobre o fornecimento de madeira pela fábrica de pellets Pinewells, no centro de Portugal, cujo maior cliente é a Drax.

A Pinewells, que pertence ao Grupo Português Visabeira, utiliza grandes quantidades de madeira em troncos de pinheiro maduro. O vídeo apresenta provas de que a Pinewells obteve parte da madeira de cortes rasos na reserva natural montanhosa da Serra da Lousã e no sítio Natura 2000.

O vídeo também analisa os impactos mais amplos da utilização em larga escala de madeira de pinho para pellets de madeira nas florestas de pinheiros e nas indústrias de produtos de madeira em Portugal. Segundo dados da associação da indústria da madeira de pinheiro Centro PINUS, Portugal perdeu 27% da sua área florestal de pinheiro e 35% em termos de produtividade dos pinhais em 15 anos. 20% de toda a madeira de pinho vai para pellets de madeira, sendo o segundo maior consumidor de pinho do país.

Exportamos o nosso "petróleo" verde, (árvores autóctones) aquele que ainda assegura o equilíbrio de diversas espécies de fauna e flora.
Derivado da sua componente eficientíssima do ponto de vista resinoso e convertido em kW/h.
Para a indústria das celuloses estas acções só poderiam ser positivas, pois aqueles milhares de hectares vão dar espaço ao eucalipto, e porquê? Porque o argumento vai ser este: "Não podemos estar muito tempo sem árvores nestes espaços carecas, onde a erosão e outros riscos de catástrofes naturais é pior que o eucalipto!"
O desfecho será óbvio!

Música do BioTerra: Flesh - Schwarze Sonne (Sol Negro)


"Sometimes the best map will not guide you, you can’t see what’s round the bend. Sometimes the road leads through dark places, sometimes the darkness is your friend." ~ Bruce Cockburn, 1996

História do Sol Negro
Explicação pelo Antropólogo Arith Härger

domingo, 24 de março de 2024

Desilusão: nas asas do destino

Por Helena Freitas
A desilusão é um estado emocional complexo, muitas vezes difícil de expressar, que se instala quando a realidade se distancia da ilusão que acalentávamos. Constitui um ponto de viragem na jornada de cada um, um momento de confronto com a realidade que pode abalar, perturbar, e até mesmo desencorajar. É uma condição da alma que pode ser tanto superficial quanto profunda, efémera ou duradoura, mas que invariavelmente deixa marcas nas nossas vidas e escolhas futuras.
É importante reconhecer que a desilusão também pode ser um catalisador pessoal. Obriga-nos a refletir sobre nossas escolhas e a amadurecer diante das circunstâncias que nos rodeiam. As cicatrizes que deixa, mesmo que momentâneas, podem ser transformadoras, impulsionando-nos a reavaliar os nossos caminhos e a buscar novos destinos. A desilusão, paradoxalmente, pode abrir portas.
Por que não encarar a desilusão como uma oportunidade para um novo começo? Em vez de do fim de um sonho, pode ser o início de uma jornada diferente, repleta de possibilidades. É nesses momentos desafiadores que descobrimos a nossa verdadeira força e capacidade de adaptação. Então, sim, por que não transformar a desilusão numa porta aberta para um novo caminho?

Por João Soares
Muito optimista essa visão. O problema é quando há/chegamos a crise económica familiar. A crise transforma-se em casos de violência doméstica, filhos contra pais, pais contra filhos. Há um sombra diáfana por detrás disto: a pobreza por causa de uma austeridade provocada pelos ultra-ricos que decidem o destinos das nossas vidas. No fio desta reflexão chegamos ao conceito de citizenwahing.

Ponto de situação da Energia Nuclear no Mundo


Europa, EUA e China
Numa cimeira internacional sobre energia nuclear que decorreu durante um dia em Bruxelas, na Bélgica, 34 nações apoiaram uma declaração de apoio à energia nuclear. Os países apelam aos reguladores para que desbloqueiem totalmente o potencial da energia nuclear, numa declaração que tinha como principal objetivo atrair o apoio dos bancos de desenvolvimento para financiar a sua instalação e manutenção. Além de se comprometerem com a construção de novas centrais nucleares em geral, a declaração também defende a rápida implantação de reatores avançados, incluindo pequenos reatores modulares, em todo o mundo. No entanto, acrescenta que, na Europa, ainda existem alguns países, como a Alemanha e a Áustria, que se opõem ao nuclear e querem que o investimento em energia com baixo teor de carbono se concentre nas energias renováveis. Fontes: AP, Euronews e Reuters.

Alemanha
Um estudo encomendado pelo Serviço Federal Alemão para a Segurança da Gestão dos Resíduos Nucleares, examinou os vários tipos de reatores nucleares em desenvolvimento no mundo, analisando a sua economia, segurança e potencial de resíduos radioativos e conclui que os problemas conhecidos da tecnologia nuclear não são susceptíveis de serem resolvidos pelos novos tipos de reatores. No entanto, políticos dos partidos União Democrata-Cristã da Alemanha (CDU) e Partido Democrata Livre (FDP) propuseram recentemente o relançamento da energia nuclear. Martin Schlak, Der Spiegel.

Austrália
O Dr. Alan Finkel, presidente do Centro de Excelência ARC para a Biotecnologia Quântica da Universidade de Queensland e antigo cientista-chefe da Austrália, explica que, apesar das recentes posturas políticas na Austrália, o país não está prestes a assistir a um aumento dramático da energia nuclear. "Embora a energia nuclear possa ressurgir a nível mundial e vir a ter um papel na Austrália, neste momento, por muita intenção que haja de ativar uma indústria de energia nuclear, é difícil de prever antes de 2040", afirma. Finkel atribui esta situação aos custos elevados e aos prazos longos, salientando que a Austrália é a única nação do G20 a ter uma proibição legislativa da energia nuclear, que teria de ser levantada antes de se poderem construir reatores. A nação também estaria a começar do zero e é "improvável que a Austrália passe de retardatária a líder", salienta. Finkel afirma que a energia eólica e solar devem ser a prioridade na Austrália e que "qualquer apelo para passar diretamente do carvão para o nuclear é efetivamente um apelo para atrasar a descarbonização do nosso sistema de eletricidade em 20 anos".

Música do BioTerra: Chelsea Wolfe - Everything Turns Blue


I've been living without you here and it's alright
I'd been looking for a way out a long time
I've been living without you here and I can fight
I've been living softly my whole life

To smoke, to dance, to fly
To breathe into the night
It falls and everything turns blue
To fuck, to feel the same in the end
To hurt, to steal
You were so unreal

I've been thinking about you, heavy on my mind
I've been losing days here, do you know what that's like?
I've been thinking about you, fucked me up in my dreams
What do I have to do to heal you out of me?

You were, you were so unreal
You were, you were, you were so unreal

sábado, 23 de março de 2024

Lua Cheia de Março 2024 - Lua da Minhoca


Porque neste mês as minhocas começam a aparecer no solo que finalmente aquece depois do frio do inverno. Aliás, as minhocas atraem tordos e outras aves, que são realmente o sinal da primavera!

sexta-feira, 22 de março de 2024

Música do BioTerra: Billy Morrison - Drowning


Let me paint the picture for all to see
You got a head full of lies, we all agree
The information don't make sense
Another motherfucker just sitting on the fence
Losing lives, would you throw in high-fives?
Please advise, don't compromise
Lay it down, for once, for real
Gotta get off of this spinning wheel
It's your atrocity

Drowning, I'm drowning
Look into my eyes
Feel the weight inside
Drowning, I'm drowning
Now I'm breathing all your lies

Another invitation to fuck things up
And now I'm sipping sheepish from a plastic cup
I got a 911 and I'm reeling
I don't understand this feeling
Gotta keep it going, baby, never stop
I gotta make my way to the highest rooftop
Another day with a different face
Yeah, I'm a fucking disgrace
It's your atrocity
My sweet monotony

Drowning, I'm drowning
Look into my eyes
Feel the weight inside
Drowning, I'm drowning
I'm going under

Drowning, I'm drowning
Look into my eyes
Feel the weight inside
Drowning, I'm drowning
Welcome to the masquerade
Let's have a big parade
I'm gonna drown again
We're gonna see the end
We're gonna drown again

A Revolution in American Foreign Policy


A sad fact about the politics of Washington is that some of the most important issues facing the United States and the world are rarely debated in a serious manner. Nowhere is that more true than in the area of foreign policy. For many decades, there has been a “bipartisan consensus” on foreign affairs. Tragically, that consensus has almost always been wrong. Whether it has been the wars in Vietnam, Afghanistan, and Iraq, the overthrow of democratic governments throughout the world, or disastrous moves on trade, such as entering the North American Free Trade Agreement and establishing permanent normal trade relations with China, the results have often damaged the United States’ standing in the world, undermined the country’s professed values, and been disastrous for the American working class.

This pattern continues today. After spending billions of dollars to support the Israeli military, the United States, virtually alone in the world, is defending Prime Minister Benjamin Netanyahu’s right-wing extremist government, which is waging a campaign of total war and destruction against the Palestinian people, resulting in the deaths of tens of thousands—including thousands of children—and the starvation of hundreds of thousands more in the Gaza Strip. Meanwhile, in fear-mongering around the threat posed by China and in the continued growth of the military industrial complex, it’s easy to see that the rhetoric and decisions of leaders in both major parties are frequently guided not by respect for democracy or human rights but militarism, groupthink, and the greed and power of corporate interests. As a result, the United States is increasingly isolated not just from poorer countries in the developing world but from many of its long-standing allies in the industrialized world, as well.

Given these failures, it is long past time to fundamentally reorient American foreign policy. Doing so starts with acknowledging the failures of the post–World War II bipartisan consensus and charting a new vision that centers human rights, multilateralism, and global solidarity.

A shameful track record 
Dating back to the Cold War, politicians in both major parties have used fear and outright lies to entangle the United States in disastrous and unwinnable foreign military conflicts. Presidents Johnson and Nixon sent nearly three million Americans to Vietnam to prop up an anticommunist dictator in a Vietnamese civil war under the so-called domino theory—the idea that if one country fell to communism the surrounding countries would fall as well. The theory was wrong, and the war was an abject failure. Up to three million Vietnamese were killed, as were 58,000 American troops.

The destruction of Vietnam was not quite enough for Nixon and his Secretary of State Henry Kissinger. They expanded the war into Cambodia with an immense bombing campaign that killed hundreds of thousands more people and fueled the rise of the dictator Pol Pot, whose subsequent genocide killed up to two million Cambodians. In the end, despite suffering enormous casualties and spending huge amounts of money, the United States lost a war that never should have been fought. In the process, the country severely damaged its credibility abroad and at home.

Washington’s record in the rest of the world was not much better during this era. In the name of combating communism and the Soviet Union, the U.S. government supported military coups in Iran, Guatemala, the Democratic Republic of Congo, the Dominican Republic, Brazil, Chile, and other countries. These interventions were often in support of authoritarian regimes that brutally repressed their own people and exacerbated corruption, violence, and poverty. Washington is still dealing with the fallout from such meddling today, confronting deep suspicion and hostility in many of these countries, which complicates U.S. foreign policy and undermines American interests.

A generation later, after the 9/11 terrorist attacks in 2001, Washington repeated many of these same mistakes. President George W. Bush committed nearly two million U.S. troops and over $8 trillion to a “global war on terror” and catastrophic wars in Afghanistan and Iraq. The Iraq war, much like Vietnam, was built on an outright lie. “We cannot wait for the final proof—the smoking gun that could come in the form of a mushroom cloud,” Bush infamously warned. But there was no mushroom cloud and there was no smoking gun, because the Iraqi dictator Saddam Hussein didn’t have any weapons of mass destruction. The war was opposed by many U.S. allies, and the Bush administration’s unilateral, go-it-alone approach in the run-up to the war severely undermined American credibility and eroded trust in Washington around the world. Despite this, supermajorities in both chambers of Congress voted to authorize the 2003 invasion.

The Iraq war was not an aberration. In the name of the global war on terror, the United States carried out torture, illegal detention, and “extraordinary renditions,” snatching suspects around the world and holding them for long periods at the Guantánamo Bay prison in Cuba and CIA “black sites” around the world. The U.S. government implemented the Patriot Act, which resulted in mass surveillance domestically and internationally. The two decades of fighting in Afghanistan left thousands of U.S. troops dead or wounded and caused many hundreds of thousands of Afghan civilian casualties. Today, despite all that suffering and expenditure, the Taliban is back in power.

Dia Mundial da Poesia

David Sylvian/Isabelle Adjani - There's One Word Missing/Il Manque Un Mot 


A Poesia "está no ar, nos olhos, na palavra dita e por dizer", lê-se na mensagem da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) a propósito do Dia Mundial da Poesia, que hoje se celebra.

"A Poesia não carece em absoluto de forma escrita: está no ar, nos olhos, na palavra dita e por dizer, na sensação e no sentimento do que amamos ou combatemos", lê-se na mensagem de autoria do escritor João de Melo.

Melo realça as diferentes facetas do poema, que é "escuridão e luz perpétua da claridade".

O autor afirma que "o poema é ao mesmo tempo dor e canção, desamparo e amor, solidão e solidariedade, desespero e esperança, escuridão e luz perpétua da nossa claridade".

"A Poesia é uma forma de linguagem para a beleza; uma imaginação verbal no seu estado mais puro. Apetece-me fazer-lhe o elogio como se ela fosse algo que estivesse ao mesmo tempo no centro (na essência) e muito para além de toda a Literatura", lê-se na mesma mensagem.

No texto, João de Melo sublinha a forte ligação da Poesia à Música.

"O que mais eu amo no poema é a sua proximidade ao sentimento e à música", assim abre a sua mensagem João de Melo, afirmando que "alguém inventou o poema para ser cantado".

"Criou-o como forma superior de pranto e oração aos deuses da Música, do Silêncio, do Sonho e da grande Melancolia que atravessa todos os séculos do Homem".

"Mas o que existe de tão luminoso na escrita dos poetas? E que pode haver de poético na linguagem dos prosadores? O poema pertence ao género masculino ou feminino?" questões colocadas por João de Melo, esclarecendo desde logo, que não veio para as responder.

Todavia, considera o autor "que há qualquer coisa de múltiplo na ideia de cada um acerca da Poesia".

"O elogio que dela se possa fazer não deve ser genérico nem abstrato. Cada um de nós traz em si, consigo, uma reserva desconhecida de Poesia. O nosso destino é também o dos poetas. Porque ela, Poesia, é um trabalho da sensibilidade e do ouvido - do ouvido que reconhece a música, mas também do outro: aquele que ouve e escuta o mundo, que ouve o silêncio e a voz dos humildes, dos humildes universais que devíamos ser todos nós".

Para Melo, a Poesia "é sobretudo uma voz no interior da linguagem, algo como um suspiro ou um grito sem voz, e tanto pode morar à esquina de um soneto ou de uma oitava, como em cima de um muro erguido pelas palavras, isto é, pela prosódia de uma prosa".

"Tal como o poeta, também o poema tem causas a suscitar ou a defender: do amor à amizade, da vida à morte, do júbilo à dor, da indignação à revolta, da rua e da casa do poeta à morada universal da humanidade inteira. Ele está na rua, connosco se deita e se levanta: caminha, trabalha e regressa a casa", afirma Melo que na sua mensagem cita poemas de Natália Correia, João Ruiz de Castelo-Branco, Luís de Camões, Herberto Hélder, Ruy Belo e um dos heterónimos de Fernando Pessoa, Alberto Caeiro.

Pior que tudo, remata João de Melo, "será um homem despedir-se da sua memória da Poesia".

Adotado pela Organização das Nações Unidas para a Cultura, Educação e Ciência (UNESCO, na sigla em inglês) em 1999, o Dia Mundial da Poesia pretende "homenagear poetas, reviver tradições orais de recitais de poesia, promover a leitura, escrita e ensino de poesia, e fomentar a convergência entre a poesia e outras artes".

Energia nuclear para descarbonização da Europa é desnecessária


O prolongamento da vida útil da energia nuclear na Europa é desnecessário para a descarbonização, indica um relatório do Gabinete Europeu do Ambiente (EEB, na sigla original), ontem divulgado.

Segundo as conclusões do EEB, que junta 180 associações ambientalistas de 38 países, as energias renováveis, a poupança de energia e opções de flexibilidade podem substituir a energia nuclear, sendo viável a eliminação gradual da “frota nuclear envelhecida da Europa e alcançar a neutralidade carbónica até 2040”.

O relatório é divulgado na véspera de uma cimeira em Bruxelas sobre energia nuclear, que junta dirigentes políticos e empresas, para debater o papel da energia nuclear na redução dos combustíveis fósseis, aumentando a segurança energética e o desenvolvimento económico.

A cimeira será copresidida pelo primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, e pelo diretor-geral da Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA), Rafael Mariano Grossi e surge na sequência da inclusão do nuclear na declaração da cimeira da ONU sobre o ambiente que decorreu no final do ano passado no Dubai (COP28), admitindo a energia nuclear como fonte de energia com baixas emissões de dióxido de carbono.

No entanto, de acordo com o relatório do EEB, a construção de novas centrais nucleares é “uma estratégia irrealista para a descarbonização”.

Porque tem custos muito elevados e a construção é demorada está também em debate o prolongamento da vida das atuais centrais nucleares, algo que o relatório do EEB também contraria.

O documento mostra “que a atual frota nuclear pode ser eliminada gradualmente, a par dos combustíveis fósseis, à medida que os países da União Europeia (UE) transitam para um sistema energético drasticamente mais eficiente, alimentado por energias renováveis e apoiado por opções de flexibilidade”.

“À medida que as energias renováveis crescem e a procura de energia diminui, o papel da energia nuclear na Europa torna-se redundante. Veja-se o caso de Espanha, onde o aumento da energia eólica, solar e hídrica fez baixar os preços da eletricidade e obrigou as empresas de energia a suspender a energia nuclear para evitar perdas financeiras”, acrescenta.

O EEB salienta que a frota nuclear da UE está envelhecida, que todas as centrais, exceto duas, foram construídas antes de 2000, e que sem extensões de prazo a maioria das centrais deve encerrar até 2030. Segundo o organismo europeu, a contribuição da energia nuclear para o cabaz elétrico está em declínio na UE e os custos a aumentar.

O relatório conclui que os esforços de descarbonização dos Estados membros da UE devem dar prioridade à redução do consumo de energia na indústria, nos edifícios e nos transportes, ao mesmo tempo que aumentam a implantação das energias renováveis.

Por causa da cimeira, uma coligação internacional de ativistas vai organizar uma manifestação de protesto em Bruxelas. A organização ambientalista Greenpeace UE diz em comunicado que os ativistas protestam contra o que consideram “contos de fadas nucleares”.

Esta semana, mais de 500 organizações de todo o mundo assinaram uma declaração anti-nuclear, defendendo “energia segura, acessível e amiga do clima para todos”, e apelando aos governos para que não desperdicem tempo e dinheiro com esses “contos de fadas”.

Outra organização ambientalista, que junta associações europeias, a “Climate Action Network” (CAN Europe) apresenta também um documento segundo o qual a energia nuclear é “uma perigosa distração” da transição para um sistema energético baseado em energias renováveis, “e ameaça atrasar a urgente eliminação progressiva dos combustíveis fósseis”.

“Vemos com crescente preocupação o renascimento da energia nuclear”, diz Thomas Lewis, da CAN Europe, frisando que as energias renováveis são o substituto mais barato, mais rápido e mais viável para os combustíveis fósseis.

terça-feira, 19 de março de 2024

Nuno Júdice - Fragmentos


Fôssemos assim, inundados desta sabedoria.

1
Aceita o transitório; nada do que
é definitivo, dura, te pode atingir
2
Algo de visível perpassa
nos limites do ser.
3
De noite, o vento partiu
um dos vidros das traseiras.
4
Só o ruído da noite sobrevive
à luz e ao furor matinais.
5
(Se aquelas nuvens, no horizonte,
chegassem até mim…)
6
O fragmento, porém, exprime
o estilhaçar da intensidade.
7
No último fragmento, fixa
o efémero e repousa.

In Meditação sobre Ruínas

Poema de Nuno Júdice: O Jogo


Falta cor, falta circo, falta teatro, falta alegria nas ruas. Como faz falta.

O Jogo
Abro a caixa do inverno. Tiro os ventos,
as rajadas da chuva, os bancos de neve de onde
fugiram todos  os pássaros. Desenrolo à minha
frente os pântanos do inverno, Ando à volta
deles para desentorpecer as pernas; sacudo
o frio das mãos, limpo a chuva que se me colou
aos cabelos. Depois volto a lançar os dados
– e avanço até à primavera.

Nuno Júdice, O meu primeiro álbum de poesia, selecção de Alice Vieira, Dom Quixote, Lisboa, 2007

segunda-feira, 18 de março de 2024

Livro da Semana - A Sabedoria da Terra


Enquanto botanista, Robin Wall Kimmerer faz perguntas sobre a natureza com as ferramentas da ciência. Enquanto membro da Nação Potawatomi, partilha a ideia de que plantas e animais são os nossos mais antigos professores. Neste livro, a autora une essas duas lentes de conhecimento para nos guiar numa «viagem que é tão mítica quanto científica, tão sagrada quanto histórica, tão inteligente quanto sábia», nas palavras de Elizabeth Gilbert, autora de Comer, Orar, Amar. Baseando-se na sua vida como cientista, indígena, mãe e mulher, a autora mostra-nos como outros seres vivos nos oferecem dádivas e lições importantes, mesmo que nos tenhamos esquecido de como ouvir as suas vozes. Numa densa trama de reflexões, que vão da criação de Ilha da Tartaruga às forças que ameaçam hoje o seu crescimento, Robin Wall Kimmerer desenvolve a sua ideia central: o despertar de uma consciência ecológica requer o reconhecimento e a celebração da nossa relação recíproca com o resto do mundo vivo. Só quando conseguirmos ouvir as línguas de outros seres seremos capazes de entender a generosidade da terra e aprender a retribuir da mesma forma. A Sabedoria da Terra está destinado a ser um clássico da escrita sobre a natureza.

"Quando olhamos para todos os danos que infligimos, é fácil acreditar que a Terra está a ser destruída. Mas, na verdade, é a nossa relação com a terra que está destruída. Nós temos a capacidade de mudar essa realidade, podemos optar por consumir menos e agir com mais cuidado com a Terra. Podemos escolher compreender o mundo como uma dádiva e responder adequadamente.
Não necessitamos de mais política, de mais dados, nem mais dinheiro. Precisamos sim de uma mudança no nosso coração."

sábado, 16 de março de 2024

Bauman e a dificuldade de amar


Zygmunt Bauman é autor de inúmeras obras com a palavra líquido em seu título. A noção de liquidez proposta pelo filósofo e sociólogo polaco, falecido no começo desse mês, é aplicada aos mais variados temas como a modernidade, o amor, o medo, a vida e o tempo, expressando a fluidez, isto é, a imensa facilidade com que estes elementos escorrem pelas mãos do homem moderno. A ideia, extraída de “O Manifesto Comunista” de Marx e Engels, vem da célebre afirmação de que tudo que é sólido se desmancha no ar e de que tudo que é sagrado é profanado: assim é a modernidade e sua essência que se alastra pela vida do homem moderno transformando-o não só como indivíduo, mas também como ser relacional.
O primeiro livro do Bauman que li foi “Amor Líquido” o qual, carinhosamente, valendo-me das palavras de Caetano, defino como “um sopapo na cara do fraco”, que me fez e faz, já que essa sorte de questionamento é constante, pensar na forma como nos relacionamos hoje em dia. Um ponto alto do livro, aos meus olhos, é o capítulo no qual Bauman fala sobre a dificuldade de amar o próximo destacando o modo como lidamos com os estranhos. Penso que nessa dificuldade é que se encontra a raiz de tantos dos nossos problemas seja na esfera pessoal ou pública. E é sobre isso que eu gostaria de refletir conjuntamente hoje.
Vivemos em uma sociedade fortemente marcada pelo conflito ser x ter na qual o homem passa a se expressar pelas suas posses, elementos definidores de sua própria identidade, o que reflete na busca por certa conformidade que ceifa a pluralidade de existências e segrega o que é diferente, estranho. O modo como as cidades se dividem é exemplo disso, os nichos considerados seguros são aqueles onde todos se parecem, exacerbando a nossa dificuldade em lidar com os estranhos que passam a ser evitados através de sistemas de segurança, muros, priorização de espaços que assegurem a conformidade de seus freqüentadores como os shoppings e etc. Evitar a todo custo o incômodo de estar na presença de estranhos, começar a enxergar naquele que sequer se sabe o nome um inimigo em potencial e desconfiar de tudo e de todos só é possível graças ao desengajamento e ruptura de laços para o sociólogo polaco.
Se levarmos em conta que amar outra pessoa não é amar o que projetamos nela e sim a sua humanidade e singularidades, não será difícil compreender que o amor é um desafio nos tempos de modernidade líquida. A busca pela felicidade individual nos transforma em tribunais individuais e, na disputa pela sentença a ser proferida, não raro, o que se vê é sair vencedor aquele que se recusa a ouvir o outro. Facilmente, pois, livramo-nos dos compromissos e de tudo aquilo que nos pareça incômodo. Ainda que tão agarrados a nós mesmos, paradoxalmente, é bastante comum que a solidão seja companhia (e problema) constante de quem vive a descartar.
Os muros que construímos ao nosso redor, físicos ou emocionais, têm mesmo esse condão de isolar e criar dois mundos em cada um de seus dois lados: o de dentro e o de fora. O último, espaço cativo dos que nos incomodam- aqui incluídos tanto quem nos relacionamos de forma íntima, quanto aqueles que preferimos distantes, inviabilizados de estar perto, enfim, aniquilados ao prender, matar, limitar a circulação, fixar em zonas periféricas e etc. É que Narciso acha feio tudo que não é espelho, já diria, mais uma vez, o sempre genial Caetano Veloso.
Dessas reflexões que vão (muito) longe e que, por ora, encerro aqui fica sempre uma mensagem muito clara para mim: amar (mesmo) é um ato revolucionário e só ama quem tem coragem o bastante para lidar com esse desafio porque sabe que, por mais que nem tudo sejam flores, esse amor “sólido” é que nos impulsiona a querermos ser melhores seja como pessoa ou sociedade. Parece distante e utópico, mas está dentro de nós: ame profunda e verdadeiramente. Até quem você não conhece.

Ode à Paz

Ode à Paz
Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza,
Pelas aves que voam no olhar de uma criança,
Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
Pela branda melodia do rumor dos regatos,

Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos,
Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pela futura manhã dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz.
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre as portas da História,
                               deixa passar a Vida!

Natália Correia, in "Inéditos (1985/1990)"

sexta-feira, 15 de março de 2024

O mar não está para peixe!


Auntlantis: 2Sweeping the Floor2
A typical mundane workday for the Aunties of Auntlantis.Aunties take a break on the beach after a day of cleaning the ocean.
A nap on the beach is the best way to relax.
Inspired by Plato, great pacific garbage patch and poor birdies with bellies full of plastic trash.

This is an incredible video by Nice Aunties, an ground-breaking and innovative Japanese activist group who draw attention to a wide range of issues relating to ocean conservation and the destruction of our planet with outstandingly creative communications.

Original version posted on Instagram on 9 March 2024

quinta-feira, 14 de março de 2024

Petição - Temos de proteger o lobo!

Exmos/as Senhores/as,

Escrevo a propósito da proposta da Comissão Europeia, apresentada a 20 de dezembro de 2023, para reduzir o estatuto de proteção do lobo na Convenção de Berna, apesar da falta de evidências científicas para apoiar uma mudança que poderá ter impactos devastadores.

Considero a proposta da Comissão Europeia inaceitável. A desproteção do lobo em nada resolve os problemas socioeconómicos que afetam a agricultura e as comunidades rurais e, no entanto, esse argumento falacioso é usado pela Presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen, promovendo a desinformação.

Nós, humanos, fazemos parte do ecossistema que partilhamos com outras espécies que desempenham papéis ecológicos cruciais. A forma como gerimos a proteção de espécies como o lobo mostra o nosso empenho na preservação da biodiversidade europeia e reflete a nossa atitude em relação ao ambiente em que vivemos. Podemos decidir se queremos que a natureza na Europa prospere ou apenas sobreviva.

A coexistência entre as pessoas e os grandes carnívoros é possível e provada por mais de 80 projetos de investigação e conservação desde 1992, e os Estados-Membros da UE têm de saber e querer usar as ferramentas de conservação ao seu dispor. A Lei de Proteção do Lobo-ibérico protege esta espécie em Portugal desde 1988, e os esforços de conservação atrelados às medidas de promoção da co-existência tornaram possível a convivência harmônica entre as pessoas e o lobo.

Como pessoa cidadã da União Europeia, preocupo-me com estas questões. Por isso, apelo ao Governo português que continue a fazer ouvir a sua voz junto da Comissão Europeia e mantenha a posição manifestada no início de 2023 de oposição à redução do estatuto de proteção do lobo. Enquanto Estado-membro da UE, Portugal deve rejeitar esta proposta. Esse é o meu apelo – e espero que seja ouvido.

A menos que haja novas provas científicas substanciais recolhidas pelos serviços da Comissão Europeia, considero que a ciência e a opinião pública são claras: a alteração do estatuto de proteção do lobo – quer ao abrigo da legislação da UE, quer da Convenção de Berna - não se justifica.

Música do BioTerra: Billy Idol - White Wedding (Clubland Extended Remix)


Traditionally, a bride wears white at her wedding to symbolize virginity. In the song, Billy Idol is being sarcastic. He's saying his sister is going through with a “shotgun wedding” because she's pregnant, not a virgin at all. So, to him it's amusing that she's wearing white.

quarta-feira, 13 de março de 2024

Mais de 1,6 milhões de pedidos para fazer queimas e queimadas em 2023


A aplicação informática para comunicar e autorizar queimas e queimadas recebeu cerca de 1,6 milhões de pedidos no ano passado, mais 600 mil do que em 2022, revelou hoje o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.

A plataforma queima e queimadas, gerida pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), existe desde 2019 e permite uma gestão centralizada dos pedidos de autorização e de comunicação, tendo em conta que as queimas necessitam de uma comunicação prévia fora do período crítico de incêndios rurais, enquanto as queimadas exigem uma autorização.

No chamado período crítico de incêndios – geralmente entre 01 de julho e 30 de setembro – tanto as queimas como as queimadas precisam de uma autorização para serem realizadas.

Dados hoje divulgados pelo ICNF, durante a apresentação da nova campanha “Portugal Chama 2024-2026”, dão conta que a plataforma queimas e queimadas recebeu 1.655.010 de contactos em 2023, enquanto no ano anterior tinha recebido 1.030.857, um aumento de 13%.

A plataforma das queimas e queimadas pode ser acedida através de uma aplicação de telemóvel, portal do ICNF e através da linha SOS, que tem várias componentes relacionadas com ambiente, gestão florestal e queimas e queimadas.

Segundo o ICNF, a linha SOS recebeu 111.803 chamadas no ano passado sobre pedidos de autorização ou comunicação da realização das queimadas, mais 25% do que em 2022.

Em declarações à Lusa, o presidente do ICNF, Nuno Banza, afirmou que a esmagadora maioria dos pedidos são feitos através do site ou do telemóvel, mas “continua haver também muitos pedidos feitos telefonicamente”, uma vez que o número é gratuito.
“O ano passado tivemos mais de um milhão de contactos pelas diferentes formas para pedidos de queimas ou queimadas e tivemos um pico que chegou a quase 4.000 chamadas no mesmo dia”, disse, explicando que os pedidos feitos através da plataforma permitem que todo o processo seja automatizado, uma vez que as câmaras municipais têm acesso a esta aplicação e são as autarquias que “autorizam ou não” as queimas e queimadas “em função das condições meteorológicas que existem nos territórios”.

Nuno Banza destacou a “grande mudança” que se tem verificado nos últimos anos devido às campanhas de sensibilização: “As pessoas normalmente já nem sequer pensam em queimar nos dias de maior risco do ano”.

O responsável frisou que o maior número de pedidos “são fora da tradicional época do verão”.

No entanto, esclareceu que há dias no inverno, em que há períodos de seca por não chover, e não se pode fazer queimas, salientando que “é por isso que esta plataforma é muito importante”.

A Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF) apresentou hoje a nova campanha “Portugal Chama”, que vai prolongar-se até 2026, depois da campanha anterior, que funcionou entre 2019 e 2023 e com o mesmo nome, ter permitido reduzir em mais de metade os incêndios florestais em seis anos, conseguindo-se evitar cerca de 60.000.

O presidente da AGIF afirmou à Lusa que a primeira campanha “Portugal Chama” conseguiu “alterar muitos os comportamentos dos portugueses”.

“Só que ainda há 7.000 incêndios por ano, dos quais a maioria são intencionais”, frisou Tiago Oliveira, sublinhando que tem de existir agora “um tratamento específico: ou trabalho policial ou também de trabalho de sensibilização de proximidade”.

Na cerimónia de apresentação da campanha, Manuel Rocha, da GNR, apresentou a operação “Floresta Segura” da Guarda Nacional Republicana, que tem várias fases, nomeadamente da realização de ações de sensibilização e fiscalização, investigação dos incêndios e combate.

Entre 2019 e 2023, a GNR deteve 599 pessoas pelo crime de incêndio florestal, identificou 3.882, registou 25.694 crimes e investigou 42.963 fogos, além de ter levantado 25.336 autos de contraordenação, sendo a maioria por falta de limpeza dos terrenos.