O livro representa um esforço único no contexto científico nacional ao reunir o trabalho de mais de 60 cientistas, que de um modo integrado avaliaram o estado dos ecossistemas em Portugal.
A cerimónia de lançamento do livro foi presidida pelo Secretario de Estado do Ambiente, Prof. Doutor Humberto Rosa. O evento decorreu na livraria Escolar Editora, no edifício C5 da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, no dia 13 de Janeiro.
Capa e sinopose do livro aqui
Ricardo Garcia faz uma crónica sobre este livro, publicada no Público dia 14 de Janeiro, com o título sugestivo (e verdadeiro!)
"Deterioração dos ecossistemas pode trazer problemas ao país, da economia ao lazer
Aqueles que consideram que preservar a natureza é coisa dos "malucos do ambiente" estão redondamente enganados. Um livro lançado ontem, em Lisboa, deixa claro que se os ecossistemas do país se deteriorarem - e alguns estão neste caminho - estaremos em maus lençóis em vários domínios, da economia ao lazer.
"Ecossistemas e Bem-Estar Humano" é uma versão completa e actualizada da contribuição portuguesa para o Millenium Ecosystem Assessment, um programa lançado pela ONU no princípio desta década e concluído há quatro anos. O objectivo do programa global era o de avaliar como as actividades humanas interagem com os serviços que os ecossistemas colocam à nossa disposição - como produção de água ou de alimentos, protecção dos solos ou simplesmente fonte de receitas [ver nota minha 1] .
Uma das formas de se olhar para estes serviços é através do seu valor, em dinheiro. "É uma linguagem que todos percebem", afirma Henrique Miguel Pereira, do Centro de Biologia Ambiental da Universidade de Lisboa, que coordenou o livro com mais três investigadores - Tiago Domingos (Instituto Superior Técnico), Luís Vicente e Vânia Proença (ambos também do Centro de Biologia Ambiental).
Por exemplo, a água mobiliza um sector, o do abastecimento, que vale dois mil milhões de euros por ano. E para que haja água de qualidade é preciso que vários ecossistemas estejam a funcionar bem, como as florestas, os aquíferos subterrâneos ou os rios e albufeiras.
Facilmente se atribui uma cifra a outros serviços dos ecossistemas. O livro salienta que as florestas representam dez por cento das exportações nacionais. Além disso, retiram dióxido de carbono da atmosfera, ajudando a conter o aquecimento global. Em 2007, absorveram 5,44 milhões de toneladas de CO2, um serviço que vale 65 milhões de euros, aos valores de hoje do mercado do carbono.
Até uma paisagem pode ter um valor. Um estudo mencionado no livro concluiu que os portugueses estarão dispostos a pagar 30 euros para preservar um terço das estepes cerealíferas de Castro Verde, no Alentejo - o habitat de excelência de algumas aves ameaçadas, como a abetarda. Ajustando-se o resultado para toda a população e para as áreas em causa, chega-se ao valor da preservação de um hectare por ano em Castro Verde: 446 euros, muito mais do que a compensação a que os agricultores têm direito (73 euros por hectares) para conservarem aquele ecossistema.
A agricultura, porém, é um dos sectores que saem mal na fotografia do livro. A maioria das práticas actuais está a degradar o solo, sem conseguir suprir as necessidades de alimentação do país. "Temos muito poucos bons solos e não temos feito um bom trabalho para os proteger", diz Henrique Pereira.[ver nota minha 2]
Na água, o cenário é ambivalente. O país tem-na em excesso: apenas dez por cento da precipitação é utilizada. Mas, quando chega ao solo, a água confronta-se com a poluição, sobretudo a difusa, proveniente da agricultura, por exemplo. Resultado: 40 por cento dos rios e albufeiras estão poluídos.
Com isso, a água - uma matéria-prima gratuita - passa a ter um custo adicional à sua captação e distribuição: o tratamento. "Se os sistemas estiverem degradados, vamos ter de gastar mais", afirma o investigador.
O livro conclui que há uma tendência para se utilizarem mais "os serviços de produção" dos ecossistemas, em detrimento dos "serviços de regulação e culturais". Isto só poderá ser contrariado "se a sociedade se aperceber das implicações negativas para o bem-estar humano". Esperemos que sim.
[1] Esta publicação esclarece melhor todos os aspectos da estrutura conceptual da Avaliação do Milénio dos Ecossistemas
[2] Esta apresentação, de 2004, mostra já uma enorme preocupação desta equipa pelo estado da arte nas florestas, agricultura e da água em Portugal
Ler ainda:
Entrevista a Henrique Miguel Pereira, Confagri, 2004
"Ecossistemas e Bem-Estar Humano" é uma versão completa e actualizada da contribuição portuguesa para o Millenium Ecosystem Assessment, um programa lançado pela ONU no princípio desta década e concluído há quatro anos. O objectivo do programa global era o de avaliar como as actividades humanas interagem com os serviços que os ecossistemas colocam à nossa disposição - como produção de água ou de alimentos, protecção dos solos ou simplesmente fonte de receitas [ver nota minha 1] .
Uma das formas de se olhar para estes serviços é através do seu valor, em dinheiro. "É uma linguagem que todos percebem", afirma Henrique Miguel Pereira, do Centro de Biologia Ambiental da Universidade de Lisboa, que coordenou o livro com mais três investigadores - Tiago Domingos (Instituto Superior Técnico), Luís Vicente e Vânia Proença (ambos também do Centro de Biologia Ambiental).
Por exemplo, a água mobiliza um sector, o do abastecimento, que vale dois mil milhões de euros por ano. E para que haja água de qualidade é preciso que vários ecossistemas estejam a funcionar bem, como as florestas, os aquíferos subterrâneos ou os rios e albufeiras.
Facilmente se atribui uma cifra a outros serviços dos ecossistemas. O livro salienta que as florestas representam dez por cento das exportações nacionais. Além disso, retiram dióxido de carbono da atmosfera, ajudando a conter o aquecimento global. Em 2007, absorveram 5,44 milhões de toneladas de CO2, um serviço que vale 65 milhões de euros, aos valores de hoje do mercado do carbono.
Até uma paisagem pode ter um valor. Um estudo mencionado no livro concluiu que os portugueses estarão dispostos a pagar 30 euros para preservar um terço das estepes cerealíferas de Castro Verde, no Alentejo - o habitat de excelência de algumas aves ameaçadas, como a abetarda. Ajustando-se o resultado para toda a população e para as áreas em causa, chega-se ao valor da preservação de um hectare por ano em Castro Verde: 446 euros, muito mais do que a compensação a que os agricultores têm direito (73 euros por hectares) para conservarem aquele ecossistema.
A agricultura, porém, é um dos sectores que saem mal na fotografia do livro. A maioria das práticas actuais está a degradar o solo, sem conseguir suprir as necessidades de alimentação do país. "Temos muito poucos bons solos e não temos feito um bom trabalho para os proteger", diz Henrique Pereira.[ver nota minha 2]
Na água, o cenário é ambivalente. O país tem-na em excesso: apenas dez por cento da precipitação é utilizada. Mas, quando chega ao solo, a água confronta-se com a poluição, sobretudo a difusa, proveniente da agricultura, por exemplo. Resultado: 40 por cento dos rios e albufeiras estão poluídos.
Com isso, a água - uma matéria-prima gratuita - passa a ter um custo adicional à sua captação e distribuição: o tratamento. "Se os sistemas estiverem degradados, vamos ter de gastar mais", afirma o investigador.
O livro conclui que há uma tendência para se utilizarem mais "os serviços de produção" dos ecossistemas, em detrimento dos "serviços de regulação e culturais". Isto só poderá ser contrariado "se a sociedade se aperceber das implicações negativas para o bem-estar humano". Esperemos que sim.
[1] Esta publicação esclarece melhor todos os aspectos da estrutura conceptual da Avaliação do Milénio dos Ecossistemas
[2] Esta apresentação, de 2004, mostra já uma enorme preocupação desta equipa pelo estado da arte nas florestas, agricultura e da água em Portugal
Ler ainda:
Entrevista a Henrique Miguel Pereira, Confagri, 2004
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