A dramática diminuição dos recursos naturais e a degradação do meio ambiente já não é mais uma ameaça, mas uma realidade, que afecta milhões de seres humanos. Inúmeros tesouros do mundo natural já foram perdidos e estamos prestes a perder, para sempre, animais e plantas que acabamos de descobrir, e cujo potencial para o nosso benefício é imprevisível. No Brasil, a derrubada de árvores e as queimadas na Floresta Amazónica continuam acontecendo. Mesmo com a criação de inúmeras Unidades de Conservação, a Floresta Atlântica também continua sendo agredida de maneira totalmente irresponsável. A causa principal é o aumento crescente da população mundial, que já soma 6 biliões e segue aumentando. A sua estabilização todavia só será possível quando houver uma melhor distribuição de renda e, consequentemente, a diminuição da pobreza na Terra. O avanço do capitalismo selvagem, baseado na tecnologia, dificilmente será contido. Exacerba-se pela necessidade de biliões de pessoas pobres dos países emergentes, de participar da riqueza material das nações industrializadas. A visão do mundo mecanicista de Decartes e de Newton, onde o corpo humano é visto como uma máquina, onde é estimulada a crença no progresso material ilimitado, e onde a mulher é classificada em posição inferior a do homem, é uma forma equivocada de nortear as acções humanas de maneira harmónica com a natureza. A única saída é por intermédio da força da ética ambiental, do planeamento familiar e da libertação da mulher. Mas esta solução requer uma mudança radical no nosso pensamento, nos nossos valores e nas nossas acções. Essa nova percepção é de um mundo totalmente integrado, que reconhece a interdependência de todos os fenómenos naturais com os seres vivos. Esses são os fundamentos de um importante e promissor movimento popular global, conhecido como Ecologia Profunda. É um pensamento ambientalista contemporâneo, tendo como base a escola filosófica fundada pelo filósofo norueguês Arne Naess, no início da década de 70.A Ecologia Profunda prevê que a única maneira de protegermos a nós mesmos é o reconhecimento e a protecção de todas as formas de vida do nosso planeta.
A distinção entre a Ecologia Rasa e a Ecologia Profunda hoje é amplamente aceita dentro do pensamento ecológico moderno. A Ecologia Rasa é centralizada no ser humano, é antropocêntrica. É como se a Terra existisse somente para o benefício do homem. A Ecologia Profunda, ao contrário, reconhece o valor de todos os seres vivos e concebe os seres humanos apenas como um dos componentes da complexa e extraordinária teia da vida. O inseto que está aos nossos pés, ao qual na maioria das vezes não damos valor nenhum, possui um nome, interage com outras espécies de um mesmo ecossistema e o seu código genético não é muito diferente do nosso. Isto significa dizer que todos os seres vivos, a biosfera, tem um ancestral comum que começou a pensar quando surgiu a humanidade. Daí, sob a perspectiva ética, é nossa obrigação pensar nas outras criaturas e proteger a biosfera. Intimamente inserido neste pensamento, o ecofeminismo surge como uma importante escola filosófica de ecologia, que tem a base moral e espiritual ideal para um estilo de vida ecológico e activismo ambientalista. A dominação patriarcal sempre foi marcada por uma exploração hierárquica militarista, racista, capitalista selvagem e industrialista. São exemplos clássicos da ação antiecológica dos homens, diferentemente das mulheres, que se identificam muito mais com a natureza. As atitudes maternais predispõem ao pacifismo e à exploração harmoniosa dos recursos naturais pelas mulheres. O movimento feminista, desde a década de 70, defende a ideia de que o meio ambiente natural é feminino e por este motivo a proteção da natureza está ligada à libertação da mulher. O termo ecofeminismo foi usado pela primeira vez por Francoise d’Eauboune, mas foi por intermédio da publicação do livro de Rachel Carson, Silent Spring (1962), que despertou a atenção dos cientistas, dos políticos e dos historiadores para o movimento ecológico feminista. A autoconsciência da espécie humana há de progredir até alcançar a igualdade entre os homens e as mulheres, para a salvaguarda da vida, no nosso belíssimo e raro planeta azul.
CARLOS RENATO FERNANDES - ESCRITOR E FOTÓGRAFO DA NATUREZA,MEMBRO DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO PARANÁ, CENTRO DE LETRAS DO PARANÁ E AUTOR DOS LIVROS O PARANÁ , FLORESTA ATLÂNTICA – RESERVA DA BIOSFERA E CURITIBA.
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