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quinta-feira, 23 de dezembro de 2004

Se cada um fizer o que quiser a curto prazo, seremos todos perdedores a longo prazo

Consumo Sustentável: um exercício de cidadania em prol do meio ambiente
Andressa Melnick Mendes, Advogada, Consultora em meio ambiente

Nos últimos anos tem-se notado uma significativa mudança na relação do homem com o meio ambiente frente ao consumismo. Os resultados econômicos passarão a depender cada vez mais de decisões empresariais que levem em conta pontos não conflitantes entre obtenção de lucro e meio ambiente, uma vez que a realidade mostra que o movimento ambientalista vem crescendo em escala mundial e, portanto, os consumidores passam a valorizar cada vez mais a proteção do meio ambiente.

Nas relações de consumo o direito à informação é imprescindível para que os consumidores conheçam mais sobre os produtos e serviços que estão a sua disposição e possam optar por aqueles que melhor se encaixem no seu modo de vida.Na fabricação de alguns produtos já se constata essa preocupação com o uso racional dos recursos naturais.

Também se observam mudanças nas informações contidas nas embalagens, conscientizando os consumidores sobre questões ambientais envolvidas na fabricação dos produtos. Consumidores de atum, por exemplo, podem optar por uma marca que tem o selo de garantia de que os pescadores utilizam técnicas que evitam a captura de golfinhos, uma vez que eles se alimentam de atum e muitos acabam morrendo ao caírem nas redes de barcos pesqueiros.Outro exemplo é o filtro de papel para café que não utiliza o processo de branqueamento na sua fabricação. Há também as mercadorias que utilizam o chamado selo verde, que é a rotulagem concedida a um produto cuja origem, processo e destinação final são ambientalmente corretos.Essa atitude dos consumidores preocupados com a questão ambiental passa a influenciar no comportamento das empresas. São pessoas que separam o lixo orgânico do lixo reciclável, que evitam comprar produtos cujas embalagens sejam feitas de materiais que gerem resíduos não-degradáveis, que consomem frutas e verduras plantadas sem o uso de agrotóxicos, que se preocupam com a questão da escassez da água potável. Pessoas que estão, muitas vezes, dispostas a pagar um pouco mais por uma mercadoria, mas que ficam com a consciência leve por saberem que adquiriram produtos que, em seu processo de fabricação, causaram o mínimo possível de danos à natureza.

Neste contexto é que entra o chamado consumo sustentável, com as mudanças no comportamento dos consumidores, bem como, no comportamento dos fabricantes, percebendo seu poder na preservação do meio ambiente, para as presentes e futuras gerações, como prevê a nossa Constituição Federal e a legislação ambiental.Felizmente, o homem tem, a seu favor, várias soluções para dispor de forma correta, sem acarretar prejuízos ao ambiente e à saúde pública. O ideal, no entanto, seria que todos nós evitássemos o acúmulo de detritos, diminuindo o consumo excessivo de embalagens e o desperdício de materiais e alimentos. Urge, portanto, colocar em prática tais preceitos.Essa proposta de consumo sustentável é uma concepção voltada para três esferas: social, ambiental e ética.

Na esfera social o conceito de consumo sustentável questiona as desigualdades entre os ricos e os pobres, argumentando que é preciso encontrar um padrão de consumo em que todos tenham as suas necessidades básicas atendidas, sem ônus ecológico. A segunda dimensão, a ambiental, baseia-se no ciclo de vida do produto, partindo das matérias-primas e chegando ao descarte, atendendo a necessidade de reduzir a degradação da natureza e a poluição. Por fim, há a preocupação ética com as futuras gerações.

É imprescindível que o poder público atue em prol desse novo padrão de consumo. Inicialmente, promovendo, de forma eficiente, o consumo racional de energia elétrica e de água, por meio de campanhas de sensibilização, a começar pelas aulas de educação ambiental nas escolas e creches, incentivando, desta forma, a formação de cidadãos conscientes, que já cresçam vendo o mundo de outra maneira e que possam passar a mensagem adiante.

A mudança nos padrões de consumo exigirá uma estratégia centrada na demanda, no atendimento das necessidades básicas da população, na redução do desperdício e no uso racional dos recursos naturais no processo de produção.O consumo sustentável pode ser visto como uma estratégia viável para a sociedade, mesmo que seja a longo prazo. Porque, como disse a ex-primeira ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, se cada um fizer o que quiser a curto prazo, seremos todos perdedores a longo prazo.

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