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domingo, 7 de dezembro de 2025

Chuva que somos

Chuva que somos
"A chuva cai
como quem devolve ao mundo
a memória do que é simples.
Não molha a terra —
acorda-a.
E cada gota, ao tocar o solo,
faz o planeta respirar mais fundo,
como se dissesse:
“Estou vivo contigo.”
Há um silêncio verde
que cresce entre as raízes,
um pensamento que não é meu
nem de ninguém,
porque a Natureza pensa sem palavras.
Vejo a chuva cair nos campos,
e percebo que não há fronteiras
entre o que sou
e aquilo que se renova.
Sou apenas mais um corpo húmido,
uma pele que o mundo toca
para me lembrar
que pertenço.
E então sinto —
sem querer sentir —
que tudo é suficiente:
a terra que bebe,
o ar que se perfuma,
o chão que se entrega
sem nunca pedir.
A chuva é a mestra mais antiga:
ensina caindo,
e ensina sempre
a mesma lição.
Que viver é deixar-se molhar
pelo que vem do céu
e regressa ao chão
para começar de novo."

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