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sábado, 20 de setembro de 2025

Florestas Marinhas no Norte de Portugal: Aliadas na Luta Contra as Alterações Climáticas


Um estudo pioneiro liderado por investigadores do CIIMAR e do Centro de Ciências Marinhas e Ambientais (MARE) identifica as florestas de algas marinhas da costa norte de Portugal como aliadas estratégicas na captura e armazenamento de carbono.

O novo estudo publicado na prestigiada revista Scientific Reports revela que as florestas de kelp desempenham um papel crucial na captura e armazenamento de carbono, oferecendo uma poderosa ferramenta natural para mitigar os efeitos das alterações climáticas. Este trabalho centrou-se no estudo das florestas marinhas da costa norte de Portugal, em particular das espécies Laminaria hyperborea e Saccorhiza polyschides, as duas espécies predominantes nesta zona do país.

A investigação, liderada pelos investigadores Francisco Arenas do CIIMAR e João Franco do MARE, com o contributo de uma equipa de investigadores de ambos os centros, foi financiada pelo programa BlueGrowth do EAA Grants e teve como objetivo quantificar pela primeira vez o stock de carbono armazenado por estes habitats no norte de Portugal.

As Florestas Marinhas do Norte de Portugal
As florestas de kelp são habitats formados por algas castanhas de grande porte que desempenham um papel crucial na manutenção da biodiversidade e da produtividade marinha local. “Estes habitats são comuns na costa norte de Portugal, onde existem condições únicas para o seu desenvolvimento, e representam a fronteira mais a sul para algumas das espécies aqui encontradas”, explica Francisco Arenas, líder da investigação. No entanto, estes habitats são altamente vulneráveis ​​às alterações climáticas. “Já foi detectado um processo de tropicalização nas águas portuguesas, que coloca em risco a biodiversidade associada, bem como os serviços ecológicos que estas florestas prestam, incluindo a capacidade de capturar e armazenar carbono, conhecido como Carbono Azul, contribuindo para a mitigação das alterações climáticas”, acrescenta.

Resultados impressionantes
O estudo em causa quantificou pela primeira vez o stock de carbono armazenado por estes habitats no norte de Portugal através de medições de campo, incluindo a extensão, biomassa, crescimento e teor de carbono. “Foi a primeira avaliação do valor do carbono azul associado às florestas de kelp em Portugal”, afirma o líder do estudo e investigador do CIIMAR.

Os resultados agora publicados no artigo Potential blue carbon in the fringe of Southern European Kelp forestsmostram que estas florestas armazenam cerca de 16,48 gigagramas (Gg) de carbono numa área de 5.100 hectares, o equivalente a mais de 5.000 campos de futebol. Embora ocupem uma área relativamente pequena em comparação com o tamanho do planeta, estas florestas de algas marinhas demonstram uma eficiência de captura de carbono por metro quadrado comparável ou superior à de habitats mais extensos. Este valor corresponde a 14% do carbono azul inventariado até ao momento para Portugal, cujas estimativas anteriores se limitavam a sapais e tapetes de ervas marinhas.

Principais aliados no Carbono Azul
Graças à sua elevada produtividade, estima-se que estes habitats sejam capazes de sequestrar e exportar cerca de um terço do carbono capturado anualmente por todos os habitats de plantas marinhas do país. Esta taxa excecional de sequestro de carbono realça o papel essencial, e até agora amplamente subvalorizado, das florestas de algas marinhas na mitigação das alterações climáticas.

Segundo Francisco Arenas, estas florestas marinhas são “frequentemente desconhecidas e subvalorizadas, apesar do seu valor ecológico e económico extremamente importante na costa norte de Portugal”. Estes habitats são fundamentais tanto pela sua capacidade de mitigar as alterações climáticas como como promotores da biodiversidade local, proporcionando abrigo, alimento e áreas de reprodução para inúmeras espécies marinhas.

O estudo recomenda ainda políticas específicas para a monitorização, conservação e, eventualmente, restauração destas áreas, reforçando a sua importância não só como sumidouros de carbono, mas também como habitats vitais para a saúde dos oceanos. À luz da actual crise climática, os cientistas defendem que a inclusão das florestas de kelp nas políticas de conservação marinha e de carbono azul deve ser uma prioridade, tanto a nível nacional como global. “Com a Lei de Restauração da Natureza da União Europeia em fase inicial de implementação, é urgente desenvolver e implementar técnicas eficazes de restauração ecológica, particularmente em habitats altamente vulneráveis, mas também com elevado potencial para a prestação de serviços ecossistémicos, como as florestas marinhas”, conclui Francisco Arenas.

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