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sábado, 30 de novembro de 2024

Evangelicals and MAGA: Politics of Grievance a Half Century in the Making


Evangelicals and MAGA is a historical case study of the Fulton Cotton Mill neighborhood in Atlanta where Christian nationalism took root in the late 1960s and 1970s as people transitioned out of the Jim Crow era. During the transformative decades between the 1954 (Brown vs Board of Education) and 1973 (Roe vs Wade), the Federal government banned segregation, Bible reading and prayer in schools, and discrimination against women and minorities, producing a White backlash and re-alignment of American politics. I was doing research in Cabbagetown during that time, looking at at racial attitudes, churches and religious life, and gender and family. I saw the messaging of Evangelical leaders becoming more politicized as they protested those bans on their traditional values and called to make America great again by returning to traditional Evangelical values. Preachers used the Christian ontology of good and bad, God and the Devil, as a framework to understand the changes. They saw their lifestyle as God given and good; the changes were bad. Their calls for Christian leadership in government to enact laws based on the Bible would later emerge as elements in the Christian nationalism movement and MAGA.

About the author
Ron Duncan Hart is a cultural anthropologist from Indiana University with postdoctoral work at the University of Oxford on Jewish Studies. He is director of the Institute for Tolerance Studies and is a former University Vice-President and Dean of Academic Affairs.

sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Paulo Freire


"O sistema não teme os pobres que passam fome, teme os pobres que sabem pensar"

quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Os cibergóticos



Já os cibergóticos ( com a sua indumentária e dança exuberantes surgiram mais ou menos há 15 anos) refectiam sobre a crise ecológica, questionavam este mundo cheio de pesticidas, nanobiotecnológico, radiocactivo, o progresso acelerado da inteligência artificial, o desdém/paixão pela robótica e perscrutavam o alarme totalitário da Big Tech. Era comum o uso de máscaras. Não imaginávamos era que vinha mesmo aí a crise pandémica. E estamos na revolução 4.0 e "impreparados" para os seus efeitos. A ver.

terça-feira, 26 de novembro de 2024

Não há como ir ao IKEA para destruir florestas


Durante dois anos, a Disclose investigou o ogre sueco e o seu sistema de predação de madeira em todo o mundo. Apesar dos seus compromissos com a gestão florestal sustentável, a Ikea é, acima de tudo, uma defensora do greenwashing. Este documentário de 50 minutos mostra que uma árvore a cada dois segundos. Esta é a quantidade de madeira que a Ikea utiliza todos os anos para fabricar os seus móveis, que são vendidos a preços baixos em mais de 60 países. Nos últimos anos, a empresa sueca intensificou o seu compromisso com a gestão florestal sustentável. Mas qual é a realidade?

A cada 5 segundos, uma estante BILLY é vendida. Mas os números surpreendentes da marca sueca têm um custo: dependem da exploração descontrolada da madeira e do trabalho humano.

Para o Disclose, os cineastas Marianne Kerfriden e Xavier Deleu traçaram a cadeia de fornecimento da multinacional. A sua investigação levou-os da Suécia à Nova Zelândia, passando pelo Brasil e pela Polónia, para se reunirem com especialistas da indústria madeireira, activistas e cidadãos empenhados em proteger as suas florestas. Este documentário lança uma nova luz sobre o apetite insaciável do ogre da floresta.

Conselhos para envelhecer bem


Escrito por uma alma de 90 anos!
42 lições que a vida me ensinou
“É algo que todos deveriam ler pelo menos uma vez por semana.”
“Certifique-se de ler até o fim.”
“Para celebrar o envelhecimento, escrevi as lições que a vida me ensinou. É a coluna mais pedida que já escrevi.”
“Meu conta-quilômetro rolou para 90 em agosto, então aqui estão elas mais uma vez.”
Escrito por Regina Brett, 90 anos, do Plain Dealer, Cleveland, Ohio.
“A vida não é justa, mas ainda é boa.”
“Quando em dúvida, dê o próximo pequeno passo.”
“A vida é curta demais para desperdiçá-la.”
“Seu trabalho não cuidará de você quando estiver doente, mas seus amigos e família sim.”
“Quite seus cartões de crédito todos os meses.”
“Você não precisa vencer todas as discussões. Seja fiel a si mesmo.”
“Chore com alguém. É mais curativo do que chorar sozinho.”
“Comece a economizar para a aposentadoria no primeiro cheque de salário.”
“Quando se trata de chocolate, a resistência é inútil.”
“Faça as pazes com o passado para que ele não estrague o presente.”
“Não faz mal deixar seus filhos verem você chorar.”
“Não compare sua vida com a dos outros. Você não conhece a jornada deles.”
“Se um relacionamento precisa ser segredo, você não deveria estar nele.”
“Respire fundo. Isso acalma a mente.”
“Desfaça-se de tudo que não for útil. O peso da desordem é maior do que você imagina.”
“O que não te mata realmente te fortalece.”
“Nunca é tarde demais para ser feliz. Mas isso depende apenas de você.”
“Quando for atrás do que ama, não aceite um não como resposta.”
“Use as velas, os lençóis bonitos e a lingerie especial. Hoje é uma ocasião especial.”
“Prepare-se, mas depois siga o fluxo.”
“Seja excêntrico agora. Não espere a velhice para usar roxo.”
“O órgão sexual mais importante é o cérebro.”
“Ninguém está no comando da sua felicidade além de você.”
“Reenquadre os desastres com a pergunta: ‘Isso vai importar em cinco anos?’”
“Escolha sempre a vida.”
“Perdoe, mas não esqueça.”
“O que os outros pensam de você não é da sua conta.”
“O tempo cura quase tudo. Apenas dê tempo.”
“Por melhor ou pior que uma situação seja, ela mudará.”
“Não se leve tão a sério. Ninguém mais leva.”
“Acredite em milagres.”
“Não audite a vida. Apenas apareça e aproveite agora.”
“Envelhecer é melhor que a alternativa: morrer jovem.”
“Seus filhos têm apenas uma infância. Não a desperdice.”
“No fim, tudo o que importa é que você amou.”
“Saia todos os dias. Milagres estão ao seu redor.”
“Se víssemos os problemas dos outros, pegaríamos de volta os nossos.”
“Invejar é perda de tempo. Valorize o que você já tem.”
“O melhor ainda está por vir.”
“Não importa como você se sente, levante-se, vista-se e apareça.”
“Desista do controle.”
“A vida não vem com um laço, mas ainda é um presente.”

segunda-feira, 25 de novembro de 2024

COP29: Desastre total


Ativistas e ambientalistas criticam acordo financeiro frágil na COP29. Greta Thunberg: “A decisão da COP29 é um desastre completo. As pessoas no poder estão mais uma vez prestes a concordar com uma sentença de morte para as inúmeras pessoas cujas vidas foram e serão arruinadas pela crise climática. O texto está cheio de falsas soluções e promessas vazias”. Claudio Angelo, do Observatório do Clima: “O acordo de financiamento fechado em Baku distorce a UNFCCC e subverte qualquer conceito de justiça. Com a ajuda de uma presidência incompetente, os países desenvolvidos conseguiram mais uma vez abandonar suas obrigações e fazer os países em desenvolvimento literalmente pagarem a conta”. Tasneem Essop, da Climate Action Network, acusou os países desenvolvidos de má-fé nas negociações em torno do financiamento climático: “Esta deveria ser a COP das finanças, mas o Norte Global apareceu com um plano para trair o Sul Global. No final, assistimos à mesma história, com os países em desenvolvimento ficando com pouca opção a não ser aceitar um acordo ruim”. Tracy Carty, da Greenpeace International: “A nova meta é uma amarga decepção. US$ 300 biliões anuais até 2035 é muito pouco, muito tarde. Essa meta de financiamento não vem com nenhuma garantia de que não será entregue por meio de empréstimos ou financiamento privado, em vez do financiamento público baseado em subsídios os quais os países em desenvolvimento precisam desesperadamente”. Fonte.

Um delegado da Arábia Saudita foi acusado de fazer alterações diretas a um texto oficial de negociação da COP29, diz o Guardian: “As presidências das COP costumam distribuir os textos de negociação como documentos PDF não editáveis a todos os países em simultâneo, sendo depois discutidos. No sábado, a presidência do Azerbaijão fez circular um documento com atualizações ao texto de negociação sobre o programa de trabalho para uma transição justa (JTWP). Este programa tem por objetivo ajudar os países a avançar para um futuro mais limpo e mais resistente, reduzindo simultaneamente as desigualdades. O documento foi enviado com ‘alterações registadas’ em relação à versão anteriormente distribuída. Em dois casos, o documento mostrava que as alterações tinham sido feitas diretamente por Basel Alsubaity, que pertence ao Ministério da Energia saudita e é o líder do JTWP.Namíbia aproveita a cimeira sobre o clima COP29 para promover investimentos em petróleo e gás. Fonte.

Falhada a revanche, em 1975, derrotados de Abril e Novembro tentam a revanche, em 2024


É divertido ver hoje escrito por Pacheco Pereira, Irene Pimentel, José Manuel Fernandes, Helena Matos - e tantos outros, sem nunca citarem - a minha tese de doutoramento sobre o papel do PCP na Revolução. Quando a defendi o júri foi, em parte dele , duríssimo, como eu nunca tinha visto um júri. E a reação destes dois historiadores e dois jornalistas foi de um enorme incómodo, para ser delicada. O tempo é sábio. Foi publicada em 2011. Não precisam de me citar, vivo muito bem com o livro, o que lá está já ninguém apaga. Na inquisição das disputas políticas em geral ataca-se pessoas, ignora-se a sua existência ou finge-se que as ideias são novas. Um país com escassos quadros e todos dependentes do aparelho de Estado é assim. Os quatro apoiaram o 25 de novembro. Não porque, como alguns, foram perseguidos pelo PCP, mas, como o tempo o demonstrou, queriam estar ao lado do aparelho de Estado.
Não, o PCP nunca quis fazer uma revolução em Portugal. Queria Angola e a reforma agrária. O 25 de Novembro foi o cerco à democracia popular com a desculpa - do PS - que era para evitar uma ditadura soviética.
O que acabou em 25 de novembro foram 19 meses de democracia participativa como nunca se viveu antes na história de Portugal. A contra revolução não nos “salvou” de ditadura soviética, impôs sim um regime de democracia formal nas eleições, e ditadura, cada vez mais severa, nos locais de trabalho, retirando a voz a quem nas fábricas, escolas, hospitais e serviços geriu ( com uma eficácia sem paralelo) este país por 19 meses mostrando que era possível viver de outra forma.
Não lhes pergunto onde estavam no 25 de novembro claro, já sabemos, mas onde estão hoje face à NATO e a Israel. Porque é isso que se debate na AR a propósito do 25 de Novembro. Onde estão face ao rearmamento da Europa e ao genocídio em Gaza, hoje?

sábado, 23 de novembro de 2024

COP do Clima na reta final em Baku ou como navegar à vista entre as ausências, o “greenwashing” e as taxas solidárias



Na 29.ª Cimeira do Clima, quase a terminar no Azerbaijão com um sabor amargo, o financiamento da ação climática voltou a ser “o tema” em debate. Existem sectores da economia que são largamente sub-tributados, mas que poluem enormemente o planeta, daí que a task force “Global Solidarity Levies: For People and the Planet” tenha esta semana divulgado o seu segundo relatório, no qual propõe taxas solidárias a cobrar aos maiores vilões ambientais, entre os quais se encontram os produtores de combustíveis fósseis, a aviação, o transporte marítimo internacional, as criptomoedas ou a indústria dos plásticos. Sem esquecer, com o pontapé dado há dias pelo Brasil no G20, e já antes no âmbito do Quadro Inclusivo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), os super-ricos ou, para usar o eufemismo da Declaração do Rio de Janeiro, os “indivíduos com um património líquido ultra-elevado”.

E porque a justiça climática anda de mãos dadas com a justiça fiscal, aquele grupo de trabalho, presidido pela ex-diplomata francesa Laurence Tubiana, uma das arquitectas do Acordo de Paris, já anunciou, em parceria com o Banco Mundial, a OCDE, académicos reputados e peritos das Nações Unidas, as contas feitas se os maiores poluidores forem tributados: 216,2 mil milhões USD/ ano (taxa sobre a extração de combustíveis fósseis, com base na tributação de 5 dólares por tonelada de CO2); 200-250 mil milhões USD/ ano (taxa de 2% sobre o património líquido dos bilionários); 173,4 mil milhões USD/ ano (imposto de 50% sobre os lucros excepcionais das 14 maiores empresas de combustíveis fósseis por capitalização bolsista, entre julho de 2021 e julho de 2023); 133 a 274 mil milhões USD/ ano (imposto sobre as transacções financeiras, com base numa taxa nominal de 0,3 ou 0,5%); 127 mil milhões USD/ ano (taxa de transporte marítimo, calculando entre 150-300 USD por tonelada de CO2); 121 mil milhões USD/ ano (taxa de passageiro frequente: 9 dólares/ passageiro em cada segundo voo do ano e 177 dólares no vigésimo voo no mesmo ano); 104 mil milhões USD/ ano (valor da taxa de carbono aplicada em 2023); 25 a 25 mil milhões USD/ ano (taxa sobre a produção de polímeros primários, cobrando entre 60 a 90 dólares por tonelada); 18 mil milhões de USD/ ano (taxa sobre o consumo de querosene nos voos internacionais, a 0,33 dólares/ litro); e, por último, 5 mil milhões de dólares/ ano (taxa sobre a mineração das bitcoin, com base na cobrança de 0,045 dólares por kWh de energia consumida).

Esta solução permitiria obter o bilião de dólares anuais necessários para reverter a crise climática bem como o encolher de ombros dos países mais ricos e com maiores responsabilidades históricas nas emissões de gases com efeito de estufa (GEE). Até ao momento, a generosidade Norte-Sul resume-se a 700 milhões de dólares, isto é “aproximadamente ao salário anual dos dez jogadores de futebol mais bem pagos do mundo", como disse António Guterres, frisando a necessidade de “passar de biliões a triliões”.

Conforme afirmou recentemente Nadia Calviño, presidente do Banco Europeu de Investimento (BEI), “um dólar investido em adaptação e resiliência poupa cinco a sete dólares em reparações e indemnizações por danos.” Numa Conferência marcada pela ausência de muitos chefes de Estado e de Governo e pelo abandono da delegação argentina, o porta-voz da Aliança dos Pequenos Estados Insulares (AOSIS), particularmente ameaçados pelo aquecimento global, pôs o dedo na ferida ao dizer que se sentem “abandonados”.

No estertor da era dos combustíveis fósseis, o monstro continua a estrebuchar e a perspetiva de ter nos EUA uma Administração liderada por Donald Trump torna mais real atingirmos um aumento médio da temperatura de 3,1°C até 2100, na senda do alerta dado há um mês pela agência das Nações Unidas para o ambiente (UNEP) ao lançar o relatório Emissions Gap Report 2024. A dura realidade é que, nove anos após a assinatura do Acordo de Paris, em 2015, as emissões GEE aumentaram 8%. Também o desempenho climático de Portugal piorou, tendo o país descido duas posições no Índice de Desempenho das Alterações Climáticas (CCPI) apresentado na COP29.

Greenwashing files
Ao mesmo tempo que as ONG e o ativismo indígena têm mostrado crescente dificuldade em fazer ouvir a sua voz nas COP, os lobistas voltam a integrar as delegações nacionais em grande número. Após analisar as listas de participantes, a plataforma Kick Big Polluters Out revelou que “mais de 200 lobistas da agricultura industrial, representando as maiores empresas agro-alimentares do mundo”, além de 1770 lobistas das companhias fósseis, tiveram acesso às negociações oficiais da COP29.

A verdade é que as empresas de combustíveis fósseis não querem deixar no solo o petróleo, o gás e o carvão que nos matam. Pelo contrário, querem extrair mais e mais, enquanto der lucro, e os Governos continuam a dar uma mãozinha ao negócio, financiando com dinheiro dos contribuintes uma atividade que devia caminhar a passos largos para a extinção. Mas não, caminha apenas para nos extinguir a todos!

As companhias sabem há décadas dos perigos de queimar combustíveis fósseis. Por isso, tal como aconteceu com as tabaqueiras no passado, que esconderam os malefícios para a saúde e enfatizaram o glamour de fumar, fizeram tudo o que puderam para que o assunto se mantivesse fora do radar, financiando campanhas massivas de desinformação, comprando cientistas e governos. Agora que já não conseguem mentir mais, avançaram com técnicas mais sofisticadas, o chamado marketing verde ou greenwashing. A ONG ClientEarth, sediada em Londres, desmontou magistralmente esta nova forma de enganar os incautos nos seus greenwashing files.

As campanhas da Aramco, Chevron, Drax, Equinor, ExxonMobil, INEOS, RWE, Shell e Total mostram que cumprir as metas do Acordo de Paris, ou seja, manter o aumento da temperatura da Terra em 1,5°C, face aos níveis pré-industriais, não é uma preocupação para estas empresas. A sua principal preocupação é parecerem preocupadas. E continuarem a faturar.

“Os estudos mostram que existem planos para produzir 120% mais combustíveis fósseis até 2030 do que o necessário para nos mantermos abaixo deste limiar. Não podemos simplesmente queimar todo o stock mundial de carvão, petróleo e gás e esperar evitar uma catástrofe climática”, refere a ClientEarth.

A Aramco é detida pelo Governo da Arábia Saudita e considerada a empresa de petróleo e gás que mais emite no mundo inteiro. É responsável, desde 1965, por mais de 4% de todas as emissões globais. Detém reservas fósseis, até pelo menos 2077, que ultrapassam as reservas combinadas da Exxon, Chevron, Shell, BP e Total. Em 2020, anunciou que iria aumentar a sua produção de 12 para 13 milhões de barris de petróleo por dia. Em 2023, na sequência do aumento dos preços da gasolina após a pandemia, a companhia anunciou lucros recordes de 161 biliões de dólares (154,5 biliões de euros), valores superiores aos resultados publicados pela ExxonMobil e pela Shell (55,7 e 39,9 biliões de dólares de lucro - €53,5 biliões e €38,3 biliões - respetivamente). A Aramco recusa revelar as suas emissões GEE. Também não divulga os montantes que investe em inovação e em tecnologias de baixo carbono.

A Coligação para os impostos solidários, que nasceu da iniciativa conjunta dos Barbados, França e Quénia, reúne hoje infelizmente apenas 17 Estados! Seria bom que Portugal, além da conversão da dívida em apoio às iniciativas de mitigação e adaptação dos países de expressão portuguesa, seguisse o exemplo francês e integrasse esta frente, contribuindo com a sua quota-parte para o esforço global de ajuda aos países mais vulneráveis. O Governo de Montenegro prometeu dar para esse fim 11 milhões de euros anuais até ao final da década. Uma quantia manifestamente insuficiente. Tal como o ambíguo X inscrito como valor na proposta inicial de texto final apresentado pela presidência azeri. Fonte

sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Dias de pedra


"Das noites passadas pouco ficou;
revelados corpos sonolentos,
sem brilho.
Despeço-me da pele que cobre
o momento.
Vagueio desertos nómadas 
em busca do meu próprio corpo.
Subo espirais de pedra,
contemplo sons que não vejo
horizontes que não quero.
Faço das horas presentes
tempos absurdos,
converto minutos em resistência,
até se esgotarem as forças."

António Patrício Pereira

terça-feira, 19 de novembro de 2024

Citação de Brian Eno


"Estou cada vez mais convencido de que a nossa única esperança de salvar o nosso planeta é se começarmos a ter sentimentos diferentes sobre ele: talvez se ficarmos reencantados pela incrível improbabilidade da vida; talvez se sofrermos arrependimento e até vergonha por o que já perdemos; talvez se nos sentirmos entusiasmados com os desafios que enfrentamos e com o que ainda poderá tornar-se possível. Resumidamente, precisamos de nos voltar a apaixonar, mas desta vez pela Natureza, pela Civilização e pelas nossas esperanças para o futuro."

Brian Eno quote:
"I’m more and more convinced that our only hope of saving our planet is if we begin to have different feelings about it: perhaps if we became re-enchanted by the amazing improbability of life; perhaps if we suffered regret and even shame at what we’ve already lost; perhaps if we felt exhilarated by the challenges we face and what might yet become possible. Briefly, we need to fall in love again, but this time with Nature, with Civilisation and with our hopes for the future."

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

O elogio da esquerda etiquetária da direita


«Devia-nos escorrer uma lágrima furtiva quando lemos os carinhosos analistas que exigem à esquerda que regresse à “velhinha luta de classes”, agora “propriedade” da direita, pois o “vírus” democrata foi “capturado por grupelhos anticapitalistas”. O eterno Fukuyama é citado por Teresa de Sousa para provar que o que condenou Kamala foi a “protecção exclusiva de um conjunto de grupos marginalizados: minorias raciais, imigrantes, minorias sexuais, etc.”. E acrescenta ela com condescendência: “O problema não está em que estas preocupações não sejam justas, que são”. São mas não são e não podem, aqui aplica-se a filosofia da famosa rábula do Ricardo Araújo Pereira.

As minhas teses contra estes conselhos comoventes são, primeiro, que são uma fraude para incensar Trump e, depois, que tentam empurrar a esquerda para uma marginalidade etiquetária conveniente à direita.

Apaziguar Trump?
A pantomina começa por apresentar o Partido Democrata (PD) como a esquerda. O PD foi o partido dos esclavagistas durante a guerra civil; 70 anos depois, mesmo com a sua supermaioria, Roosevelt desistiu de uma lei federal contra os linchamentos porque os senadores democratas sulistas não o permitiriam. A perda dessa influência territorial e a pressão dos direitos civis mudou o mapa partidário, mas não a fidelidade a Wall Street: foi Clinton quem determinou o fim da lei do New Deal no controlo bancário e Kamala vangloriou-se da chancela da Goldman Sachs no seu programa. Chamar esquerda ao PD, ou fantasiar que representou os trabalhadores, é um insulto mal recebido pelos seus chefes.

Num país dividido ao meio pelo bipartidarismo, tanto democratas como republicanos sempre tiveram povo e é uma pirueta apresentar Trump como o portador da tal nova “luta de classes” colonizada pela direita. E, como é bom de ver, os lusos “proprietários da luta de classes” olham para o salário como a abominação que reduz o lucro. Nisso coerentes, a sua “luta” é pela redução do IRC ou, como notava o bilionário Warren Buffett, é para pagar menos IRS do que a sua secretária. Temo aliás que este amor pela “classe” seja de pavio curto e que volte à fábula meritocrática do elevador social, minúscula arca de Noé onde não cabe classe alguma.

O facto é que os “proprietários da luta de classes” se refugiam no discurso poltrão sobre a culpa woke para justificarem Trump. Afinal, repetem, ele tocou o coração do povo, oferecendo o identitarismo MAGA e a esperança dos descamisados. No entanto, bastaria olhar para a galeria de horrores do séquito para notar que o trumpismo é o poder de uma casta económica e procura impor a necropolítica, pobres descamisados que são carne para canhão. Por isso, a política de apaziguamento dos que endeusam o homem, que já deu mau resultado no passado, não será melhor agora: o que ela prova, como se verifica no fim do cordão sanitário francês ou na nomeação de Rutte para a NATO às costas do Governo de extrema-direita, é que a direita clássica desliza para o trumpismo.

Arrumados no beco?
O trumpismo é um identitarismo brutalista, dirigido por um fascista, com traços teocráticos e subordinado à pilhagem do país por uma elite empresarial, cujo ícone é Elon Musk, que investiu 119 milhões e ganhou 26 mil milhões com a eleição. Esta vaga crescerá. É o que me leva ao meu segundo ponto: a resposta da esquerda só pode ser a disputa da maioria, o que exige que crie a certeza social de que é ela que garante liberdade e segurança.

Assim sendo, face à ameaça civilizacional, é só curiosa a tentativa dos apaziguadores de nos pedirem um regresso ao passado. Ora, uma esquerda declarativa e cerimonial – etiquetária, portanto – só serve para o consolo da direita. Ela é inútil, nenhuma muralha de Jericó cairá com as trombetas das proclamações sobre o partido-guia. O modelo dessa política etiquetária já foi experimentado de todas as formas e só conduziu a sectarismo e auto-satisfação desarmante, enquanto a luzinha que brilhava numa janela do Kremlin para iluminar a humanidade se extinguiu às mãos dos dirigentes feitos oligarcas. Esse passado é um beco onde morreu a saudade.

Entretanto, em nome da fantasia de um exército de robots obedientes a algum grande educador do proletariado, a esquerda conservadora propõe na Alemanha a deportação de imigrantes e noutros países opõe-se à paridade entre homens e mulheres ou a medidas de transição energética.

Pois pergunto então que sentido teria a esquerda abandonar a maioria do povo, que são mulheres, ou renunciar aos direitos humanos, ou entregar o futuro ao capitalismo fóssil? Ou se, quando em Portugal se fez o referendo que despenalizou o aborto, havia outra prioridade da luta de classes? Ou se o país ficou pior por ter aprovado o casamento gay, que enfureceu a direita, a hierarquia religiosa e, já agora, muitos populares? É precisamente por disputar o único imaginário universalista que resta – liberdade e igualdade – que a esquerda deve rejeitar o etiquetarismo e juntar todos os setores populares que disputam os seus direitos.

Num tempo em que há menos sindicalizados do que precários e trabalhadores por turnos, ou migrantes, ou quando há mais manifestantes nas marchas LGBT+ do que no 1.º de Maio em todas as cidades menos uma, essa inclusão é uma condição para restabelecer a capacidade de acção colectiva da classe trabalhadora – e deve ser o seu programa.

Mais ainda, se a segurança da vida boa, dos bens comuns, da saúde à escola, e dos bens essenciais, o salário e a casa, é a base do projeto socialista, tal transmutação democrática só vencerá se for a expressão de uma aliança maioritária. Essa é aliás a razão pela qual setores da esquerda norte-americana, refugiados no seu próprio etiquetarismo sem alternativa política, prejudicam o combate pela igualdade ao substituírem a luta social pela ideia de que a experiência pessoal do trauma é a fonte da autoridade discursiva ou que o cancelamento pode estabelecer a regra da praça pública.

Contaminada pelo abismo intoxicante das redes sociais, essa esquerda é profundamente individualista e desiste do sentido da comunidade, que é a essência do universalismo socialista. Sim, Trump ensina-nos alguma coisa: a não desistir de toda a luta de classes que enfrenta o capitalismo real.»

terça-feira, 12 de novembro de 2024

Trump e o fim de uma era dourada que nunca o foi


Por Ricardo Paes Mamede
A vitória de Trump nas eleições presidenciais americanas foi recebida com preocupação generalizada e há boas razões para isso. Trump tem um modo de fazer política que degrada a democracia e põe em causa o regular funcionamento do Estado de direito. A sua mensagem é contrária à coesão social e à dignidade da pessoa humana, estimulando o ódio, a intolerância e o desprezo pelo ambiente, pela ciência e pelos factos. Ao nível económico, promete uma redução de impostos que agrava as desigualdades e uma política comercial agressiva que desestabiliza as relações internacionais. Pior ainda, o regresso vitorioso de Trump é um estímulo acrescido a todos os partidos e movimentos que, em diferentes países (Portugal incluído), seguem a mesma linha política. Nada de positivo pode vir daqui.
À boleia das críticas a Trump surge muitas vezes o lamento sobre o fim de uma era de globalização supostamente feliz. O anunciado regresso do proteccionismo americano contrastaria com várias décadas de relações comerciais assentes em regras, que teriam contribuído para um bem-estar alargado à escala global.
Esta narrativa tem dois problemas. Primeiro, ignora que a globalização económica contemporânea, com as suas regras e lógicas de funcionamento, criou um conjunto de problemas sérios nas economias e nas sociedades. Segundo, é incapaz de perceber que o sucesso de Trump — e de outros movimentos políticos semelhantes — é mais consequência do que causa dos problemas decorrentes das relações económicas internacionais.
A forte expansão do comércio internacional e dos fluxos financeiros é um dos traços mais marcantes da economia global contemporânea. Sob a promessa de prosperidade generalizada, as fronteiras comerciais foram desmanteladas, abrindo espaço a uma mobilidade sem precedentes de capital, bens e serviços. Países de rendimentos baixos especializaram-se na produção intensiva de bens de consumo a baixo custo, enquanto as nações mais ricas se concentraram em sectores de alta tecnologia e serviços financeiros. Este processo resultou na criação de cadeias de valor globais, fazendo emergir uma interdependência entre economias que foi por muitos recebida como uma promessa de paz e estabilidade. Na verdade, este modelo trouxe um conjunto de distorções e desequilíbrios que colocam em causa a viabilidade de uma economia mundial integrada nos moldes actuais.
A emergência da China como superpotência industrial, assente na instalação em massa naquele país de fábricas das empresas dos países ricos a partir da década de 1980, foi um dos principais factores que contribuíram para agravar os desequilíbrios globais. A deslocalização da capacidade produtiva para a China pretendia tirar partido dos seus baixos custos de produção e aceder a um mercado potencial de grandes dimensões.
Os resultados foram, por um lado, a acumulação de enormes excedentes comerciais e de capacidades tecnológicas pela economia chinesa; por outro lado, a desindustrialização de muitos países ocidentais, com impactos nefastos nas suas estruturas sociais e no seu endividamento externo. Os poucos países que resistiram à desindustrialização daí decorrente foram aqueles que produziam os bens de que a China necessitava para o seu desenvolvimento económico. Como exemplo mais ilustrativo, a economia alemã, tendo um perÆl de especialização assente em máquinas e equipamentos de produção e transporte, viu crescer as suas exportações como poucos, à boleia da procura chinesa. Tal como a China, a Alemanha seguiu uma política de contenção da procura interna (por via de políticas salariais e orçamentais restritivas), traduzindo-se na acumulação de excedentes comerciais signifcativos face aos seus parceiros.
Assim, a par do crescimento exponencial dos movimentos de bens e capitais, a globalização contemporânea caracterizou-se por enormes desequilíbrios nas contas externas, com efeitos negativos na estabilidade financeira internacional. Os países com elevados superavits comerciais reciclaram os seus excedentes financiando os deficits dos países com contas externas negativas. Isto permitiu aos últimos continuar a consumir, mas à custa de um endividamento crescente.
Estes desequilíbrios têm estado na origem das centenas de crises financeiras e recessões económicas ocorridas nas últimas quatro décadas em diversos pontos do globo (incluindo a crise do euro, que arrastou Portugal entre 2010 e 2013). O excesso de crédito e a especulação financeira dão lugar a bolhas no preço dos activos que, ao rebentar, originam recessões profundas. A pandemia e a guerra na Ucrânia vieram acrescentar à lista de efeitos nefastos da globalização os riscos associados a um excesso de interdependência entre países no fornecimento de bens essenciais.
Longe de ser uma era dourada, a globalização económica contemporânea tem estado assim associada a fenómenos de instabilidade social, financeira e económica. Pelo caminho, milhões de trabalhadores nos países desenvolvidos viram os seus empregos desaparecer, os salários estagnar, a precariedade e as desigualdades aumentar. A capacidade dos Estados para fazer face a estes problemas fragilizou-se. Era difícil que isto não se traduzisse em instabilidade política.
Quem lamenta o fim da globalização como a conhecemos até há pouco não se limita a ignorar os aspectos nefastos das regras em vigor. Parece também confundir as vantagens inerentes às trocas comerciais entre países com uma economia global em que “regulação” significa pouco mais do que impor a cada Estado a abertura descontrolada das suas economias à concorrência internacional.
Não haja dúvidas de que o proteccionismo de Trump é simplista e perigoso. O aumento acentuado das taxas aduaneiras, acompanhado de uma atitude de confronto nas relações entre países, poderá resultar numa guerra comercial generalizada, com consequências graves para a economia global.
A solução para os desequilíbrios resultantes da globalização económica deveria, ao invés, passar por uma regulação mais robusta dos sistemas financeiros e por uma coordenação internacional das políticas cambiais e comerciais que permitisse ajustar as contas externas distribuindo as responsabilidades entre os países com excedentes e os países deficitários — na linha do que Keynes propôs há 80 anos, com pouco sucesso, no âmbito das negociações de Bretton Woods.
Na ausência de tais mecanismos de coordenação, não é de espantar que os países recorram aos instrumentos que têm à sua disposição. A solução não é boa. Desmantelar as fronteiras económicas nacionais e esperar que tudo corra pelo melhor, como em larga medida se fez nas últimas décadas, ainda o é menos.

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Retirem a Helena Ferro de Gouveia do Horário Nobre!

Exigimos a retirada de Helena Ferro de Gouveia do horário nobre da televisão devido ao seu apoio inabalável ao genocídio do povo palestiniano em Gaza

Nós, cidadãos do mundo, vimos por este meio expressar a nossa profunda preocupação com a presença de Helena Ferro de Gouveia no horário nobre da nossa televisão. Esta figura pública, que defende sem reservas uma campanha de violência extrema, compromete a integridade da opinião pública ao divulgar propaganda enganosa e sem contraditório sobre a situação em Gaza.

É do conhecimento geral que Helena Ferro de Gouveia, sem respeito pelo valor da vida humana, apoia abertamente a morte de milhares de pessoas como resposta desproporcional aos eventos de 7 de outubro de 2023, quando uma fação terrorista, inicialmente criada e apoiada por Israel, atacou indiscriminadamente cidadãos israelitas. Com cada intervenção, ela procura distorcer o cenário do conflito em favor de interesses socioeconómicos e políticos específicos, gerando um desequilíbrio na perceção pública da realidade e agravando uma crise que já afeta e tira a vida a milhares de pessoas, incluindo crianças inocentes, numa escala sem precedentes.

Razões para a petição:

Propagação de ódio: O horário nobre deve estar reservado a conteúdos de qualidade. A promoção de ideias de apoio ao genocídio é um insulto aos valores fundamentais da humanidade.

Normalização da violência: Ao permitir que Helena Ferro de Gouveia expresse publicamente o seu apoio à violência contra civis, estamos a contribuir para a normalização de atos desumanos, criando um ambiente em que o sofrimento de inocentes é relativizado.

Distorção da verdade: A repetição de propaganda sem contraditório ameaça gravemente a compreensão pública do conflito, desviando a atenção das reais causas e consequências e impedindo uma visão justa e equilibrada.

Erosão dos valores éticos dos media: Os meios de comunicação social têm a responsabilidade de apresentar informação com rigor e imparcialidade. Permitir que figuras públicas transmitam opiniões extremistas e unilaterais ameaça a credibilidade dos media e contraria os seus próprios princípios de neutralidade.

Impacto negativo na coesão social: Discursos de ódio e de incitação à violência contra um povo podem desencadear divisões internas, ampliando tensões sociais e contribuindo para um clima de intolerância e desumanização.

Apelamos a todos para que se juntem a esta causa. Com o vosso apoio, podemos restaurar o equilíbrio e proteger a dignidade de um povo, afastando as influências nocivas de Helena Ferro de Gouveia.

Assinem a petição. Salvemos o povo da Palestina. Expulsemos o ódio do horário nobre.

Obrigado!


domingo, 10 de novembro de 2024

Crise na Democracia

«Tudo é mau nos resultados eleitorais dos EUA. Acontece. Já não é a primeira vez na história que demagogos, populistas, protoditadores ganham eleições e, sem excepção, os efeitos são sempre maus. Não são maus para toda a gente, nem são maus para tudo, mas no geral são maus, em primeiro lugar, para a democracia, depois, dependendo do país, são maus para outros países ou para o mundo. No caso de Trump, são maus para quase tudo, a não ser para a direita radical em todo o mundo e para a Rússia porque, como se vê, eles são “estranhos companheiros de cama”, para não dizer em inglês.

Como quem me lê sabe, não foram uma surpresa estes resultados e a preocupação com a possibilidade e depois com a sua concretização. Estando a escrever dos EUA, em plena Trumplândia, e tendo tido já várias discussões com votantes no Trump, lendo a propaganda republicana, ouvindo as rádios como a Patriot Radio, tenho uma noção do que levou Trump ao poder. Percebe-se muito bem como os MAGA e Trump ganharam primeiro a guerra cultural, depois a guerra política, por esta ordem. A esquerda que anda há mais de uma década convencida das suas “causas fracturantes”, que nos EUA tem consequências práticas, muito mais absurdas do que na Europa, acantonou-se nas elites e perdeu as suas bases sociais, a começar pelos sindicatos. Se lessem Marx, perceberiam que trocar “bases sociais” por “bases intelectuais” é derrota certa. Não é razão única, mas foi a fundação em que todo o resto se construiu: medos, ódio ao “outro”, identidade construída contra o “outro”, radicalidade grupal, substituição da ciência e do saber por fake news e teorias conspirativas, ignorância agressiva, discurso violento nas redes sociais que são excelentes para isso, dissolução de muitos mecanismos que são fundamentais para haver democracia. Não é um anátema contra os votantes de Trump, mas é isso mesmo que os “faz”.

Eu não me irrito com muita coisa, mas a minimização do Trump, antes e depois das eleições, sob várias formas e feitios, deixa-me “balístico” e a cantar o hino nacional como se fazia antes do 25 de Abril, com uma subida do tom de voz numa certa parte da letra. A Marselhesa também serve. E a Constituição americana também.

Não tenham ilusões: há muita gente em Portugal, no processo de radicalização à direita dos últimos anos, que está feliz com a vitória de Trump, e não é só o Chega. Estão felizes com a derrota dos “outros”, os socialistas, os bloquistas, os centristas, os do “sistema”, e essa felicidade transparece por todo o lado.

Sem dúvida que é necessária análise no comentário e na academia sobre as “razões” do que se passou, até porque há muita coisa nova no movimento MAGA e nas razões do seu crescimento e no papel carismático de Trump. Mas para quem sabe o que é a fragilidade da democracia, há um combate político imediato a travar. Nós não estamos nos anos 30, mas também estamos nos anos 30.

Por tudo isto, deve denunciar-se a minimização em curso do que se passou, e as suas várias formas – uma delas é só falar dos malefícios e asneiras dos democratas em tom de fúria, muito trumpista, aliás, para evitar falar dos desmandos de Trump; outra é dizer que não se deve tomar à letra o que ele diz, que hoje tem uma equipa e um programa (um susto de equipa e o programa é o do Project 2025), que não vai fazer o que disse que ia fazer (esquecendo que ele é um narcisista patológico e, pelo menos, vai tentar, deixando um rastro de estragos pelo caminho), que não vai entregar a Ucrânia a Putin, que não vai aprovar taxas aduaneiras retaliatórias, que não se vai vingar (vai, vai) dos seus opositores, e que não vai fazer nada do que prometeu no “primeiro dia” em que quer ser “ditador”. Esquecem-se de que Trump é um criminoso que se vai perdoar a si próprio e aos assaltantes condenados do 6 de Janeiro, e que não há hoje para um homem como Trump quaisquer “checks and balances”, com uma interpretação absoluta do poder presidencial, tendo na mão o Supremo Tribunal, o Senado e talvez a Câmara dos Representantes.

Deixei para o fim a questão, que presumo alguns vão logo fazer depois de lerem o primeiro parágrafo deste artigo: "E, então, a pujança da democracia americana, o valor do voto popular, a escolha inequívoca dos americanos?" É que há um pequeno problema, o mesmo com que faz que seja uma asneira dizer que Hitler subiu ao poder democraticamente: é que a democracia não é apenas a vontade popular expressa no voto, é o primado da lei, o valor dos procedimentos constitucionais, o respeito pelos limites e separação dos poderes. Democracia apenas com o voto, sem a lei, é demagogia e a demagogia é o terreno ideal para os ditadores. Esperem por seis meses de Trump e voltamos aqui.»

sábado, 9 de novembro de 2024

Make America Great Again!


The worst Holocaust in all of Human History
The American Holocaust consisted of the genocide of 100 million indigenous and native Amerindians
Dismantling The Empire is the only way to save America!~ Jill Stein

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Trump- neofascista

A América (EUA)  é "construída por tipos puritanos, fanáticos religiosos e  por criminosos" ( Demie More)
O ódio, o ressentimento, a mentira e a violência foram e continuarão a ser o combustível desta tragédia democrática que é a consolidação do fascismo como alternativa política.
"Estas eleições fizeram prova da falência do establishment político e mediático. falhou tudo. falharam as previsões, falharam os comentadores, falharam os resultados. pretendeu-se condicionar a opinião e favorecer um dos candidatos, por sinal, uma candidata, na qual, aliás, podendo, eu teria votado. ao invés de ir à raiz das coisas optou-se pelo politicamente correcto de uma agenda de fantasias e desejos. Trump, um delinquente desbocado, fez uma campanha implacável. utilizou o insulto como arma de arremesso e escolheu apenas dois ou três temas - as guerras, a ameaça do outro configurada na imigração, a economia. mentiu. mas, actor consumado, disse o que o seu eleitorado queria ouvir. ninguém sabe como vai acabar com as guerras ou se vai fazer a maior deportação de sempre de pessoas que ele diz comerem cães e gatos de estimação. tão pouco se sabe até que ponto poderá impor medidas proteccionistas. falou à emoção dos mais pobres contra as elites que nada resolvem. Harris, certamente do agrado de pessoas mais sofisticadas, patinou nas guerras e na imigração, recuou em posições anteriores como no caso dos fósseis, defendeu bem a questão do aborto e deixou no ar a ideia de taxar os mais ricos. em determinados contextos as evasivas são letais. neste, foi. para quem tem o coração à esquerda, meter a cabeça na areia é suicidário. ceder sistematicamente ao apelo das políticas neoliberais, enveredar pelo belicismo apoiando guerras absurdas, hesitar no socialismo e envergonhar-se dele é horrível. tal como contemporizar com uma liderança europeia que passa a vida a falar de guerra enquanto, em nome da moderação, apoia o sionismo e escancara as portas ao fascismo. meter a cabeça na areia serve para quê? sabem, por exemplo, a qual a percentagem de americanos que não acredita nos media mainstream? 70 por cento."- Jorge Campos

terça-feira, 5 de novembro de 2024

Filme: Dreams, de Akira Kurosawa


Desdobrando-se numa série de oito vinhetas míticas, esta última obra de Akira Kurosawa foi inspirada nas próprias visões noturnas do acarinhado realizador, juntamente com histórias do folclore japonês. Numa viagem visualmente sumptuosa pela imaginação do mestre, histórias de maravilhas infantis dão lugar a aparições apocalípticas: um jovem rapaz tropeça num casamento de raposa numa floresta; um soldado confronta os fantasmas dos mortos na guerra; o colapso de uma central sufoca uma paisagem costeira com fumo radioativo. Intercalado com reflexões sobre o poder redentor da criação, incluindo um tributo ricamente texturado a Vincent van Gogh (interpretado por Martin Scorsese), Sonhos de Akira Kurosawa é ao mesmo tempo uma montra para o talento artístico do seu criador na sua forma mais desenfreada e um lamento profundamente pessoal por um mundo à mercê da ignorância humana.
"People have forgotten they're a part of nature too." (a partir de 1h:43 minutos, um diálogo deveras importante)

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Extremos climáticos no abismo?


«Corremos o risco de atravessar pontos de inflexão planetários? Corremos o risco de empurrar o planeta para uma trajetória em que se possa afastar continuamente de um estado que possa sustentar a vida tal como a conhecemos? Este documentário explora estas questões, apresentando perspetivas de especialistas e investigação científica em curso sobre o sistema terrestre em rápida mudança e o risco crescente de desencadear feedbacks de "ciclo vicioso" rápidos, não lineares e até auto-reforçados em sistemas planetários críticos, como os mantos de gelo da Antártida e da Gronelândia , as correntes oceânicas (incluindo a circulação meridional de capotamento do Atlântico ou AMOC) e a Floresta Amazónica.

sábado, 2 de novembro de 2024

Trump não vai ser derrotado por uma mulher. Vai ser derrotado por milhões de mulheres


If anti-Trump Republicans like Mitt Romney and Mike Pence aren't courageous enough to endorse Kamala Harris, how can we expect an anti-Trump voter married to a trigger-happy MAGA bully to speak up? Well, in the voting booth she doesn't have to, says a new Lincoln Project ad called "Secret."

The ad begins with two couples who are friends with each other stepping out of their cars to vote. Out of earshot of the women, one of the men asks the other if he's still voting for Trump. "Hell yeah," his buddy replies.

"What about your wife?" the MAGA man asks. "She doesn't like him," the friend says with a heavy sigh. "But she's votin' for him," he insists. The first says his wife is doing the same. Or so he thinks.

What neither man realizes is that these women, when left alone in their voting booths, have other plans. They glance at each other with knowing looks. They smirk. One of them mouths out the word, "Kamala." Other women begin to look around, and it's soon clear they are all in on the "Secret" — the name of the ad — as they all fill in the Kamala Harris bubble. (See video above, posted by the Lincoln Project.)

"Only you need to know who you vote for. Just ask Melania," says the caption on the ad's YouTube page, poking fun at Melania Trump's obvious disdain for her husband. While a few comments found the ad to be offensive, most commenters, including a lot of men, applauded the message, which, sadly but most likely, targets a real demographic.

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Somos Todos Um

De cor não se faz o peito,
Nem de tom a dignidade,
O sangue que corre no corpo
É o mesmo em qualquer idade.
Não há raça que domine,
Nem pele que determine,
O valor de uma alma humana
Que a vida enfim ilumine.
Olhos castanhos, azuis,
Pele clara, pele escura,
Somos todos passageiros
Na mesma amarga procura.
Somos filhos da mesma terra,
De um mundo só, sem fronteira,
Desconhecemos o ódio,
Mas o amor faz-se bandeira.
Racismo é a sombra fria
Que ofusca a nossa razão,
Lutemos todos por um dia
De igualdade e união.

João Soares, 23.10.2024