Só te curves para amar - René Char
René Char (1907-1988) foi um poeta de Isle-sur-la-Sorgue, vilarejo próximo a Avignon, situado no sudeste da França. Ele fez parte do grupo surrealista francês por um curto período (1929-34) junto a nomes como Paul Éluard, André Breton e René Crevel. Lutou na Resistência francesa no Exército Secreto do maquis dos Baixos-Alpes durante a Ocupação Alemã, adquirindo com isso a imagem de uma figura engajada de grande importância no pós-guerra. Ele relata essa sua experiência em uma de suas obras mais famosas, seus Folhetos de Hypnos, dedicada a um dos seus melhores amigos, o escritor Albert Camus. Com grande talento para a amizade, Char foi amigo de filósofos, escritores e sobretudo pintores, como Georges Braque, Salvador Dalí, Alberto Giacometti, Pablo Picasso, Juan Miró e Nicholas de Staël. O poema seguinte passa pelas temáticas do sagrado, do amor e da criação. Traz uma acepção cíclica do tempo, tendo como base simbólica o elemento do fogo no pré-socrático Heráclito de Efeso. A chama que arde é simultaneamente macrocosmo e microcosmo, movimento e inércia, multiplicidade e unidade. Ela ilumina o mundo para nos levar a enxergar em todas as coisas o seu eterno ciclo de morte e renascimento.
A chama sedentária
Precipitemos a rotação dos astros e as lesões do universo.
Mas por que alegria e por que dor?
Assim que chegamos à montanha frontal, surgem minúsculos trajados de sol e de água aqueles que chamamos de deuses, a expressão menos opaca de nós mesmos.
Não teremos que civilizá-los.
Apenas os celebraremos, bem de perto; seu abrigo está numa chama, nossa chama sedentária.
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