Num mundo onde as estrelas sussurravam segredos e a lua brilhava com uma familiaridade perturbadora, vivia um homem chamado Arlindo. Seu rosto alongado exibia a expressão cansada de alguém que tinha visto muito e entendido muito pouco. Ele vagou por uma paisagem de árvores esqueléticas e pontiagudas e estruturas de pedra em ruínas, cada passo ecoando um som oco que reverberava pela noite.
As noites de Arlindo eram passadas sob o céu sinistro e rodopiante, onde as estrelas tremeluziam como os olhos de espíritos vigilantes. Os corpos celestes acima pareciam pulsar com vida própria, lançando um brilho fraco e assustador sobre o mundo abaixo. A lua, perpetuamente cheia, estava baixa e pesada, lançando longas sombras que se contorciam e giravam como gavinhas de sonhos esquecidos.
Uma noite, enquanto Arlindo caminhava por um caminho ladeado por pedras irregulares, ouviu uma voz. A princípio foi suave, um zumbido suave que parecia surgir da própria terra. Ele parou, olhando em volta, mas não viu nada. A voz ficou mais alta, mais distinta, formando palavras que envolviam sua mente como os tentáculos das sombras.
"Arlindo", sussurrou a voz, "você procura a verdade?"
Arlindo estremeceu, a sua respiração visível no ar frio da noite. "Quem é você?" ele perguntou, a sua voz pouco mais que um sussurro.
“Eu sou a voz das estrelas”, respondeu. "Eu sou o guardião dos segredos e o revelador das verdades. Você vagou por tanto tempo, em busca de um significado. Você deseja saber o que está além?"
O coração de Arlindo batia forte no peito. Ele passou a vida tentando compreender os mistérios do mundo, a estranha beleza do céu noturno e as sombras que pareciam ter vida própria. "Sim", disse ele, com a voz trémula de medo e esperança. "Eu quero saber."
A voz suspirou, um som que parecia carregar o peso do universo. "Então siga o caminho para a montanha. No pico você encontrará as respostas que procura."
O caminho para a montanha era traiçoeiro, serpenteando por florestas de árvores esqueléticas e planícies áridas. Quanto mais Arlindo se aproximava da montanha, mais o ar parecia vibrar com energia, as estrelas acima ficavam mais brilhantes e intensas. Ele sentiu como se estivesse sendo observado, guiado por forças invisíveis.
Quando finalmente atingiu o pico, Arlindo estava exausto. O vento uivava ao seu redor, trazendo consigo os sussurros das estrelas. No centro do cume havia uma única e antiga árvore, os seus galhos alcançando o céu como se estivesse em súplica.
"Toque na árvore", ordenou a voz.
Arlindo hesitou e depois estendeu a mão trémula. Assim que os seus dedos roçaram a casca áspera, o mundo ao seu redor mudou. As estrelas acima explodiram numa luz brilhante e o chão abaixo dele pareceu desaparecer. Ele se viu flutuando no vazio, cercado pelo cosmos rodopiante.
Naquele momento, Arlindo compreendeu. Ele viu as conexões entre todas as coisas, a delicada teia da existência que unia o universo. Ele viu o passado, o presente e a miríade de futuros possíveis, todos dispostos diante dele como uma tapeçaria. Os segredos das estrelas eram dele para serem vistos e, com eles, o fardo do conhecimento.
Quando ele voltou ao mundo, Arlindo mudou. A paisagem era a mesma, as árvores esqueléticas e as pedras em ruínas inalteradas, mas ele agora via a beleza na sua decadência, a poesia na sua existência. Os sussurros das estrelas já não o assombravam, mas o guiavam, companheiro constante na sua eterna busca pela compreensão.
E assim, Arlindo continuou a vagar, um guardião silencioso dos segredos do universo, sempre ouvindo os sussurros das estrelas e as histórias que elas tinham para contar.
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