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sexta-feira, 3 de maio de 2024

As virtudes da lentidão


Estou a começar a ter aulas de Tai-Chi desde Janeiro deste ano. Estou a adorar.
O nosso Presidente da República não podia estar mais certo quando afirmou que os orientais são lentos.
Siddhartha Gautama (o Buda) meditou durante seis meses (segundo alguns relatos) antes de descobrir as suas Quatro Nobres Verdades.
Na filosofia Taoísta apenas o lento e deliberado pode ser considerado Virtuoso ou Sábio.
Na estética japonesa "Ma" é o espaço vazio.
Na fotografia os espaços negativos (vazio) são importantíssimos para o sujeito "respirar".
Na escrita, a mesma tarefa. A lentidão contribui para a imaginação e vêm novas ideias. Acreditem.
Na actualidade ocidental com o nervosismo e stress das pessoas sempre ligadas a algo ou alguém distante, com os smatphones ligados na cabeceira da cama, no banho e ao lado dos talheres disputando a atenção, sinto-me grato pela aprendizagem diária desta arte de "lentidão oriental".
Ser lento é ser livre, evito respostas brutas e agressivas, degusto melhor (a slow-food é uma boa resposta) e prefiro falar do que teclar.
Acredito que chegámos a um ponto onde para evoluir é preciso regredir, reaprender com os antepassados e os bons exemplos asiáticos e também os africanos. E a sabedoria dos povos indígenas do Globo.

Adenda: Comentário de António Cerveira Pinto
Na China é uma prática comum, normalmente solitária. Vêem-se homens e mulheres, quase sempre de meia idade ou idosos, nos jardim d alamedas de Pequim realizando Tai Chi. Mas reparei também, corria o ano de 2007, nos avós que passeavam netos e netas, enquanto os pais trabalhavam. E ainda pequenos grupos de homens que escreviam caracteres no passeio, com água. Seria poesia, ou algum jogo? Não sei. Nos Estados Unidos há uma outra forma de escapismo (o que eu fui escrever!) muito em moda. Chama-se TM, ou Meditação Transcendental. Eu prefiro passear e filosofar, sozinho ou acompanhado. As ruas falam comigo, as casas falam comigo, as árvores reduzem-me à insignificância, as flores ensinam-me arte, os pequenos insectos atarefados explicar-me o que é uma vida de trabalho, e os corvos de Bruxelas, como os de Tóquio, ou da catedral de Évora, fazem de mim um irmão franciscano. Só vivemos uma vez.

P.S. De acordo com o Budismo, Siddhartha Gautama viveu várias reencarnações e relatou-as nos  chamados contos de  Jatakas.

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