Um jovem perguntou-me: por que, afinal, o Chega é um Partido neofascista? E o que isso significará para um jovem como eu?
Eu, como todos por aqui, estou também farta: farta de salários miseráveis, casas a meio milhão de euros e empregos da treta, pessoas que vão para o trabalho às 6 da manhã e regressam a casa às 9 da noite e não conseguem pagar as contas todas. Também estou farta de temas em pauta que não discutem nada do que é fundamental, desde logo a autodeterminação social e sexual, ou seja, sem emprego e casa não há liberdade social sexual de qualquer tipo. Hoje um jovem, de qualquer sexo ou orientação sexual, a menos que seja rico e tenha casas ou garagens e jardins dos pais para festas, não tem um lugar onde se possa namorar, sair, conviver com amigos, e muito menos a perspetiva de uma casa própria, casar ou ter filhos.
Não é que não haja escolha na classificação da casa de banho, é que não há casa de banho de todo. De género algum, porque não há casa própria, de cada um, nem espaço público, para todos. Todo o espaço -tirando a praia - é privado e inacessível. Qualquer convívio custa dezenas de euros, desporto custa centenas de euros. Viajar é impossível. Um jovem não pode ir a uma discoteca, restaurante, conviver. Está preso à casa dos pais.
Emigrar é uma tristeza, não uma solução -- manda-nos para longe de quem amamos, da família e dos amigos, e deixa-nos a viver sem afectos. E, é claro, sem direitos cívicos plenos.
A tudo isto acho que é preciso dar uma resposta a sério, e não me revejo em nenhum dos partidos políticos do arco da governação parlamentar. O PS e o PSD vão continuar a fazer o mesmo, é preciso mudar radicalmente, sem medo de ser radical -- ser radical é resolver os problemas, ir à raíz. Por isso eu devolvo a pergunta ao jovem? E, o Chega, vai mudar alguma coisa? Como? Por que?
Só há uma forma - uma única, não há duas - de mudar: é ir buscar o dinheiro onde ele existe, o dinheiro de quem trabalha das 6 às 9 alimentando os lucros dos Bancos e casas para especulação. Como o Chega vai buscar este dinheiro se ele é financiado por empresários e capitalistas que pagam os salários miseráveis, os empregos da treta e guardam religiosamente o resultado desse trabalho em Bancos e casas para especular, onde brincam a vender acções, activos ou "bitcoins"?
Não fugi da questão. Por que o Chega representa um novo fascismo? O fascismo histórico surgiu há 100 anos, quando empresários começaram a financiar pessoas violentas para impedir revoltas sociais contra os empregos da treta, na Alemanha em 1920. No passado o fascismo financiava, às claras, milícias, desempregados e pessoas que saíam do exército, com raiva do mundo, desesperadas portanto, que "aceitavam" ser funcionários (ou mercenários) do partido e das milícias para combater os que vinham para as ruas fazer greves contra salários miseráveis. São os capatazes que matavam grevistas no século XIX. Não passou despercebido a ninguém que o Partido irmão do Chega, o "Ergue-te" propôs em público a proibição das greves.
Hoje, como é ilegal organizar milícias, estas organizam-se, segundo os estudos vários publicados, e relatórios de segurança das próprias polícias, através de grupos sociais violentos, de claques de futebol a artes marciais, nas polícias e movimentos de seguranças privados, ou até associações que visam "ajudar" a sociedade, fazendo dos seus corpos armas, ou usarem directamente armas, para amedrontarem quem luta contra salários miseráveis, e empregos da treta.
Mas o Chega não é isso, dir-me-á o jovem? A partir dos 15 anos de idade temos que perceber o que é a verdade e a mentira, usando a nossa própria cabeça. Ninguém pode fazer isso por nós.
Há várias reportagens de jornalistas publicadas em Portugal e relatórios de segurança que indiciam que sim, as ligações da nova extrema-direita aos grupos sociais violentos, envolvendo apoiantes do Chega. Na Grécia ficou provado e o Partido de extrema-direita foi proibido em democracia. Em Portugal, só alguns jornalistas tornaram isso público, nunca o Ministério Público investigou (por que será?).
Mas não precisamos de uma prova da ligação do Chega a milícias: o que o Chega tem sido até hoje se não pura violência verbal? Como Ventura debate? Com interrupção do debate, ruído intencional, falar mais alto que o adversário, dizer mentiras ou verdades, mas elevando a voz e repetindo três vezes, gozando, rindo, ofendendo, insultando a esmo, fez até algo que só os fascistas fazem -- falar da vida privada dos outros candidatos.
Não sou do Livre, Rui Tavares apoiou a invasão da Líbia, não tem qualquer programa distinto do PS, mas a sua vida privada é sagrada. Para os fascistas não - não existe diferença entre vida pública e privada. Hitler colocou filhos a denunciar na escola conversas dos pais em casa -- não havia fronteira entre a vida de cada um e a vida pública, é isso um tipo de totalitarismo.
Olhando as câmaras com muita convicção e dizendo frases batidas, murros em forma de palavra, toda a sua visão totalitária do mundo está ali -- "Calem-se!" é o nome verdadeiro do Chega.
Toda a comunicação do Chega é fascista, como nos anos 1920, porque não visa diálogo algum, contraditório, visa calar, silenciar, matar a voz do outro, é isso historicamente o fascismo.
Por isso Ricardo Araújo Pereira merece a nossa admiração, não só porque nos faz rir e pensar, mas porque foi ele, mais ninguém com microfone e poder de decisão, que colocou um verdadeiro cordão sanitário (que os jornalistas na sua maioria não colocaram, e muito menos o Tribunal Constitucioal) e disse - com fascistas não se discute, não há democracia quando somos silenciados -, foi o único a aprender com as lições da História.
Na verdade uma democracia a sério deve dar liberdade toda a todos; e não dar rigorosamente liberdade nenhuma a quem quer silenciar, calar, amedrontar, ameaçar, usar da violência contra os outros. No limite matar, porque é isso que faz a extrema direita ao longo da história - usa os fascistas para matar quem luta por salários e empregos decentes. A responsabilidade é toda destes Partidos e do Estado, que o permite e, às vezes, incentiva.
Este fascismo, justamente porque o Estado é conivente, não se combate com votos, claro, combate-se com organização social e política, greves, muitas manifestações, com democracia real e participativa de facto. Domingo se o Chega tiver 40 deputados vai ter rios de dinheiro para assessores, dinheiro nosso para a violência verbal com que nos tem tratado - e daí, segue-se o quê? Não vão mudar em nada as condições dos jovens, nem os salários, nem a imigração, isso só se faz lutando pela liberdade e pela igualdade, contra as empresas que financiam o Chega. E isso só se faz com fraternidade entre nós, mesmo com diferenças. Fraternidade e não gritos e medo, é a palavra-chave.
Outra coisa que se aprende a partir dos 15 anos de idade: só nós mudamos a nossa vida, ninguém faz isso por nós, os jovens têm que voltar a fazer parte das lutas políticas e sociais, sair à rua, lutar pelo que têm direito: ficar cá, ter casa, conquistar emprego, desfrutar lazer, ser felizes, ser, verdadeiramente, e a sério, livres.
Os tambores do militarismo, aliás, ameaçam a vida destes jovens não só com este lixo da História, o fascismo, mas com os mais respeitáveis senhores do comércio, da indústria e das finanças a impor decisões de guerra e economia de guerra, decisão que tem as cores dos dirigentes da União Europeia. Os partidos verdadeiramente democráticos devem por isso não só dizer não ao novo fascismo, mas exigir nem mais um euro para a guerra na Ucrânia e parar a máquina de guerra em Israel. Senão, ainda por cima, os jovens vão ser, outra vez, carne de canhão dos lucros.
Votar com os pés contra o militarismo e a violência como política, aqui, na Europa e no mundo inteiro, sempre! Contra o Chega a Fraternidade; contra a ameaça e o medo a liberdade; contra a pobreza trabalho digno para todos.
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