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quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

O farsante André Ventura, que critica a nova lei da emigração


Antes de chegar ao Parlamento, André Ventura saltou da Autoridade Tributária (AT) para a Finpartner, uma empresa de contabilidade e assessoria fiscal com intensa actividade nas áreas da engenharia fiscal via offshore e vistos gold, o que não deixa de ser engraçado, à luz da narrativa em torno da “pátria” e das posições anti-emigração que agora defende. Porque isto da pátria não é para qualquer gajo que chegue de barco de borracha em fuga da miséria. Isso seria cristão demais para um farsante como Ventura. Tratando-se de um oligarca russo, angolano ou chinês, que aterre em Lisboa no seu jacto privado, então já somos capazes de ter aqui alguma coisa para lhe vender. Nacionalidade portuguesa pelo preço certo em euros.

Isto do trabalho, na óptica do André Ventura, tem muito que se lhe diga. É que eu ainda sou do tempo em que, em 2019, o líder do Chega deu uma entrevista a uma estação televisiva de uma igreja qualquer, onde afirmou, com a convicção a que nos habituou, que, mal fosse eleito, deixaria todas as suas outras ocupações para se dedicar a tempo inteiro a servir o país. Porque defendia, convictamente, que os deputados o deviam ser em exclusividade de funções. Claro que, uma vez eleito, Ventura continuou a servir os interesses da Finpartner, durante quase mais dois anos, durante os quais teve acesso a informação privilegiada resultante da sua posição no Parlamento, que pode ou não ter entregue ao seu principal empregador. E desengane-se quem achar que Ventura saiu da Finpartner por imperativo de consciência. Saiu, isso sim, porque a contradição se tornou insustentável. E porque os próprios militantes do Chega começaram a ficar indignados. Tivessem deixado Ventura tranquilo na sua vida, e ainda hoje lá estaria.

Indo um pouco mais atrás, até 2014, recorde-se que André Ventura assinou um parecer, enquanto inspector tributário ao serviço da AT, que contribuiu para isentar uma empresa de Lalanda de Castro, ex-patrão de José Sócrates, do pagamento de 1,8 milhões de euros de IVA. Este caso foi investigado no âmbito do processo dos Vistos Gold, por suspeita de favorecimento de Lalanda e Castro, que também está referenciado na Operação Marquês, Panama Papers e é acusado de corrupção no processo Máfia do Sangue. E sim, este Ventura que serviu de peão na manobra de evasão fiscal de Lalanda e Castro, que prejudicou todos os portugueses, é o mesmo Ventura que demoniza todos os beneficiários do RSI, incluindo crianças.

Em 2021, as contribuições dos imigrantes subiram para um valor recorde: 1293 milhões de euros. Paralelamente, as prestações sociais de que beneficiaram ficaram-se pelos 325 milhões, o que significou um saldo positivo de 968 milhões para os cofres da Segurança Social.
Em 2022, novo recorde. Desta vez, as contribuições ascenderam a 1861 milhões, as prestações sociais caíram para 257 milhões e o saldo disparou para os 1604 milhões.
Mais um ano, mais uma chapada na retórica desonesta da extrema-direita xenófoba e racista.
Mais uma chapada na narrativa canalha que faz dos imigrantes o bode expiatório da agenda do ódio.
Mais uma chapada na instrumentalização do medo e da ignorância, da demagogia da divisão, do cheio nauseabundo do isolacionismo nacionalista.
A verdade, digam o que disserem os descendentes de Salazar, é que precisamos destas pessoas. Porque são eles quem aceita os trabalhos precários e mal pagos na construção civil, no turismo, na restauração e no serviço doméstico. Sem eles, estes sectores colapsariam, ou ficaram perto do colapso.
Porque falta mão-de-obra, e porque os portugueses não querem esses trabalhos. Preferem emigrar.
Portanto, sim, estes imigrantes, sejam brasileiros, paquistaneses, indianos ou nepaleses, fazem falta à economia portuguesa.
E contribuem para contas públicas mais saudáveis. Muito mais saudáveis.
Portugal precisa deles.
O resto é conversa de populistas que não têm mais do que ódio e ditadura para oferecer ao país.

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