Uma lição exemplar sobre as nossas origens e mais uma machadada nos preconceitos racistas… |
Uma reconstrução da aparência do primeiro ser humano moderno do mundo, de cerca de 160 mil anos atrás (Museu Moesgaard, Dinamarca) |
Por Nuno Gomes
Os primeiros humanos modernos eram pretos, não muito diferentes de algumas etnias africanas actuais, e assim continuaram durante milénios enquanto alguns saiam de África. Chegados à Europa, Ásia e mais tarde América, depararam-se com climas diversos e foram-se adaptando para sobreviver. Alguns chegaram cedo à Austrália, por volta de 60.000 anos atrás - os aborígenes -, e não mudaram muito. Outros, foram para norte e ocuparam a Eurásia - cro-magnons e denisovianos -, e ficaram mais claros porque a pele clara absorve mais raios UV, essenciais para produzir a vitamina D. A pele escura, surgida nos trópicos para precisamente proteger a pele contra o excesso de radiação solar, tornou-se num problema para as sociedades de caçadores-recolectores eurasiáticos que baseavam essencialmente a sua dieta em carne de mamute e outros animais de grande porte, pobre em vitamina D. Além disso, para se protegerem do frio vestiam roupas de peles dos animais que caçavam e mais tarde de tecido, pelo que a protecção solar contra um sol menos inclemente que nos trópicos tornou-se obsoleta e até contraproducente. Os primeiros habitantes europeus, por exemplo, que conviveram com os neanderthais, eram pretos e só há uns 30.000 anos começaram a mudar a cor da pele, tornando-se uns mais brancos que outros, consoante o clima. Os mais extremos foram os escandinavos, que ficaram mais brancos que a cal. Mas os esquimós, que vivem ainda mais a norte, são um pouco mais escuros que estes, o que parece um contra-senso, mas isso acontece porque vêm de uma linhagem diferente dos escandinavos, provavelmente dos denisovianos, e seguiram a sua própria evolução paralela. Portanto, este micro-promenor da cor da pele, que tem uma importância genética como outro qualquer, mas que serviu para todo o tipo de discriminações e atrocidades, baseia-se apenas numa adaptação climática dos euroasiáticos, que mais tarde também migrariam para as américas. E os europeus e norte-americanos, que tanto gostam (agora menos, felizmente) de apregoar a sua superioridade evolutiva, são uns inadaptados quando vão para os trópicos. Basta ver os camarões escandinavos que assam nas nossas praias - são uns bichos fora do seu habitat. Não fossem as roupas e morreriam das maleitas de pele mais atrozes...
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