O que era esperado continua a acontecer. A destruição de áreas rurais, comunidades e territórios persiste após décadas de advertências, opiniões, discussões, traições e desrespeito. O estado de degradação da floresta portuguesa continua a ser uma condição fundamental para a catástrofe: abandono, monoculturas industriais, espécies invasoras, degradação dos serviços de protecção e vigilância, desinvestimento no interior. Além disso, a seca assola o país devido à crise climática e o calor torna tudo mais frágil. Os incêndios ocorridos este ano em Odemira, Proença-a-Nova, Monchique, Cadaval, entre outros, são a manifestação disso mesmo. Em ciclos cada vez mais curtos, o nosso país está exposto a incêndios catastróficos pelos quais existem responsáveis.
Olhamos para o futuro e não podemos ignorar que o que está a acontecer é exactamente o que os governos e as indústrias de pasta de papel impuseram: mais eucalipto, mais incêndios, mais abandono, despovoamento, alterações climáticas, desertificação e perda de biodiversidade. Mais monoculturas de eucalipto, invasoras e espécies de rápido crescimento e propensão ao fogo substituem a floresta nativa, acelerando esse ciclo. E o clima muda, tornando-se mais quente, mais seco, com secas mais prolongadas e menos dias chuvosos. O deserto está a ganhar terreno. Este é também o plano dos governos e das indústrias de celulose. Eles não têm outro plano e rejeitam qualquer alternativa.
Medidas que não revertem este ciclo aceleram-no. Precisamos da floresta como primeira barreira contra a seca e a desertificação. Para isso, temos que mudar o cenário. Não em décadas, mas agora. Temos de responsabilizar as indústrias da pasta que nos trouxeram até aqui, a The Navigator Company e a Altri Florestal, e os dirigentes que lhes estenderam o tapete vermelho - de todos os partidos. Eles não os impediram e entregaram o futuro do nosso país. Não podemos mais aceitar isso. As indústrias de celulose devem pagar pela destruição do passado e do presente.
Também responsabilizamos as empresas portuguesas que continuam a agravar a crise climática, como a Galp e a EDP, que planeiam continuar as suas atividades destrutivas e extrativas durante décadas, lucrando como nunca antes e rejeitando os cortes de emissões necessários para travar o caos climático. É urgente garantir as necessidades das pessoas, o equilíbrio ambiental e a saúde pública, e não os mesmos velhos negócios.
Precisamos de menos ignições e menos área queimada. Isso significa ter um cadastro florestal completo do território nacional, e o que estiver abandonado deve ser assumido pelo Estado. As áreas abandonadas precisam de ser geridas, não pelas actuais estruturas ineficazes, mas por uma instituição criada para o efeito. O caminho seguido durante décadas no Portugal rural tem sido de oposição aos pequenos proprietários e à diversificação rural, agrícola e florestal, mantendo deliberadamente os preços baixos e a pobreza persistente. A floresta do futuro deve ser construída com intervenção estatal direta, mas a partir de um Estado que rejeita estar nas mãos de uma indústria devastadora para o país, como a indústria da celulose.
Precisamos de “deseucaliptizar” Portugal. Precisamos de remover 700 mil hectares de plantações de eucalipto no país nesta década e transformar essas áreas em florestas e bosques resilientes que possam resistir ao futuro mais quente e seco que a crise climática produziu. Precisamos fazer com que isso aconteça para deter o deserto.
No dia 3 de setembro saímos à rua: “Protesto pela Floresta do Futuro” - um protesto em Lisboa, Porto, Coimbra, Odemira, Figueira da Foz, Viseu, Pedrógão Grande, Ourém, Oliveira do Hospital, Arganil, Sertã, Cartaxo , Proença-a-Nova, Vila Nova de Poiares, e outros territórios porque as promessas e os remendos dos últimos anos nunca furaram a lógica que nos trouxe até aqui e que nos levará, se não nos rebelarmos, a entregar o território em que vivemos para nos tornarmos numa área incapaz de sustentar populações, incapaz de defender vidas. Saímos às ruas por um futuro muito além da simples lógica dos ciclos económicos e políticos. Basta!
What was expected continues to happen. The destruction of rural areas, communities, and territories persists after decades of warnings, opinions, discussions, betrayals, and disregard. The state of degradation of the Portuguese forest remains a fundamental condition for catastrophe: abandonment, industrial monocultures, invasive species, degradation of protection and surveillance services, disinvestment in the interior. On top of this, drought engulfs the country due to the climate crisis, and the heat makes everything more fragile. The fires that occurred this year in Odemira, Proença-a-Nova, Monchique, Cadaval, among others, are the manifestation of this. In increasingly shorter cycles, our country is exposed to catastrophic fires for which there are responsible parties.
We look to the future and cannot ignore that what is happening is exactly what governments and pulp industries imposed: more eucalyptus, more fires, more abandonment, depopulation, climate changes, desertification, and loss of biodiversity. More monocultures of eucalyptus, invasives, and fast-growing species with a propensity for fire replace the native forest, accelerating this cycle. And the climate changes, becoming hotter, drier, with longer droughts and fewer rainy days. The desert is gaining ground. This is also the plan of governments and pulp industries. They have no other plan and reject any alternative.
Measures that don't reverse this cycle accelerate it. We need the forest as the first barrier against drought and desertification. For that, we have to change the landscape. Not in decades, but now. We must hold the pulp industries that brought us here accountable, The Navigator Company and Altri Florestal, and the leaders who rolled out the red carpet for them - from all parties. They didn't stop them and handed over the future of our country. We can no longer accept this. The pulp industries must pay for the destruction of the past and the present.
We also hold accountable the Portuguese companies that continue to worsen the climate crisis, like Galp and EDP, planning to continue their destructive and extractive activities for decades, profiting like never before and rejecting the necessary emissions cuts to stop climate chaos. It's urgent to ensure the needs of the people, environmental balance, and public health, not the same old businesses.
We need fewer ignitions and less burned area. That means having a complete forest registry of the national territory, and what's abandoned must be taken over by the State. The abandoned areas need to be managed, not by the current ineffective structures, but by an institution created for this purpose. The path followed for decades in rural Portugal has been in opposition to small landowners and rural, agricultural, and forest diversification, deliberately maintaining low prices and persistent poverty. A forest of the future must be built with direct state intervention, but from a state that rejects being in the hands of a industry devastating to the country, such as the pulp industry.
We need to "de-eucalyptize" Portugal. We need to remove 700 thousand hectares of eucalyptus plantations in the country this decade and transform these areas into resilient forests and woodlands that can withstand the hotter and drier future that the climate crisis has produced. We need to make this happen to halt the desert.
September 3nd, we took to the streets: "Protest for the Forest of the Future" -a protest in Lisbon, Porto, Coimbra, Odemira, Figueira da Foz, Viseu, Pedrógão Grande, Ourém, Oliveira do Hospital, Arganil, Sertã, Cartaxo, Proença-a-Nova, Vila Nova de Poiares, and other territories because the promises and patches of recent years have never cut through the logic that brought us here and that will lead us, if we don't rebel, to surrender the territory we live in to become an area incapable of sustaining populations, incapable of defending lives. We take to the streets for a future far beyond the simple logic of economic and political cycles. Enough!
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