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sábado, 30 de setembro de 2023

Quem beneficia com o crescimento económico?

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A preocupação com o crescimento económico é o argumento clássico dos governos para sustentar o sucesso da sua prestação política. Não é por acaso que a Europa deprime quando a Alemanha antecipa a estagnação da sua economia e o governo alemão elege o crescimento como prioridade, que a Índia reclama ser o país cuja economia está em maior crescimento, ou que a China manifesta preocupação com o cumprimento dos objetivos de crescimento que anunciou para este ano. 
O crescimento económico apresenta-se como a agenda fundamental para o desenvolvimento de um país. Desde logo, porque gera emprego, aumenta o rendimento disponível das pessoas e, portanto, melhora o padrão de vida da população, permitindo um melhor acesso a bens e serviços. Quando a economia cresce, há mais oportunidades de emprego, o que contribui para a redução da pobreza e da desigualdade, e há Investimento em infraestruturas e serviços públicos (saúde, educação e outros serviços públicos essenciais). Por outro lado, as economias em crescimento tendem a incentivar a inovação e a investigação e desenvolvimento, o que impulsiona o progresso tecnológico e a competitividade global. O crescimento económico pode ainda financiar programas sociais, melhorando o bem-estar da população.
Não sendo economista, a tendência natural é para alinhar numa leitura acrítica dos números e confiar na narrativa de crescimento, mas é absurdo este desígnio de um crescimento inesgotável, sem respeito pelas fronteiras planetárias e sem um propósito vertido em agendas políticas concretas: Quem beneficia deste crescimento económico? O crescimento deve ser acompanhado por políticas que garantam a sua sustentabilidade a longo prazo e, por si só, não garante a igualdade social; são necessárias políticas públicas adequadas para distribuir os benefícios do crescimento de maneira justa e equitativa. Para alcançar um desenvolvimento inclusivo, importa reconhecer que os trabalhadores criam o valor e os seus interesses devem ter um papel mais importante no debate sobre a distribuição do rendimento e da riqueza.
A economia não crescerá autonomamente numa direção socialmente desejável. Temos de desenhar novos caminhos para alcançar um crescimento que seja não só inteligente, mas também ecológico e inclusivo. Os governos precisam de vias de política económica com objetivos claros, baseadas no que é mais importante para os seus cidadãos e para a missão, e o apoio público às empresas deve ser condicionado à realização de investimentos que promovam o caminho para uma economia real mais verde e inclusiva.
Como afirma a economista Mariana Mazzucato, a questão que se deve colocar não é quanto crescimento podemos alcançar, mas de que tipo. Para alcançar uma maior produção económica simultaneamente inclusiva e sustentável, os governos terão de reorientar as organizações públicas em torno de missões ambiciosas. “Em vez de ficarmos obcecados com metas de crescimento estreitas, podemos estar à altura dos grandes desafios do século XXI e confiar que a economia cresce na direção certa”.
Cada vez mais pessoas questionam o atual modelo de sociedade, as relações interpessoais, as condições de trabalho, a relação com o planeta, o compromisso ambiental, e exigem novas abordagens à governação. Naturalmente, todos desejamos uma vida confortável, e o dinheiro pode certamente facilitar. No entanto, uma vez satisfeitas as nossas necessidades fundamentais, que razão existe para a busca incessante de lucros cada vez maiores ou de crescimento económico, mesmo que isso se faça à custa do bem-estar humano e comprometendo o próprio futuro?
Em tempos de crise climática e ambiental, torna-se imperativo que uma economia impulsionada pelo consumo excessivo diminua para que a humanidade possa não só suportar, mas também florescer.
Helena Freitas, Diário de Coimbra 26.09.2023

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