Livro de Giorgos Kallis- O erro de Malthus (revisão)
Limits: Why Malthus Was Wrong and Why Environmentalists Should Care
Um dos conceitos básicos em Ecologia é o dos limites: qualquer população de seres vivos tem o potencial de crescer exponencialmente. Num modelo simples há uma altura que que começa a não haver recursos suficientes (alimento, espaço) para suportar este crescimento populacional. Num cenário otimista a taxa de reprodução diminui e a taxa de mortalidade aumenta, fazendo com que a população estabilize naquilo que se designa por “capacidade de sustento”. No cenário pessimista a taxa de crescimento mantém-se, a população excede a capacidade de sustento, os recursos esgotam-se ou degradam-se e os efetivos colapsam, para eventualmente retomar o ciclo mais tarde. No primeiro cenário colocam-se espécies como as baleias ou os elefantes (que se autolimitam), no segundo ratos, moscas ou baratas (que são limitadas catastroficamente pelos fatores externos).
Para alguém com um conhecimento básico de Ecologia, portanto, a existência de limites é um dado de partida, assim como o são os mecanismos que resultam desses mesmos limites. Deste ponto de vista, a insistência dos economistas num crescimento exponencial contínuo só pode ser entendida como irrealista, e o apoio político que ela recebe como irracional. Neste contexto as ideias de Thomas Malthus são muitas vezes citadas. Na interpretação vulgar existem limites maltusianos porque a população humana cresce muito mais depressa do que a produção de alimentos. O que acontece a seguir é menos claro, mas o adjetivo “malthusiano” continua a aplicar-se à perspetiva (e realidade) de guerras e fomes alegadamente causadas pelo excesso populacional.
É aqui que entra o último livro de Giorgos Kallis. O autor começa por clarificar que Malthus não fala de limites. A sua teoria da diferença entre os ritmos de crescimento da população humana e da capacidade de produção de alimento foi utilizada não só para justificar a existência da pobreza (os recursos não chegam para todos) mas também para justificar a eliminação da assistência aos pobres (o impulso de sair da pobreza cria o espírito empreendedor necessário para o progresso). De facto, Malthus advoga o crescimento contínuo quer da população quer da tecnologia.
GK parte desta incompreensão generalizada dos conceitos de Malthus para chamar a atenção do movimento ambiental para o problema de basear uma linha de ação política em limites externos, como os 2ºC do Acordo de Paris. O argumento não é intuitivo, mas o esforço de o compreender compensa, pela nova perspetiva que proporciona e pelas orientações políticas que dela emanam.
O argumento de GK é que os limites não são impostos pela natureza, são definidos por nós. Um limite implica um objetivo, um propósito. Queremos limitar o aquecimento global a 1,5ºC porque a ciência nos diz que acima disso o clima mudará de tal forma que o tipo de civilização que temos agora poderá deixar de ser possível. Mas não vai acontecer nada de particular no dia em que o planeta ultrapassar esse limite. Se o ultrapassarmos (quando o ultrapassarmos) teremos um clima diferente e uma civilização diferente porque foi essa a escolha que, coletivamente, fizemos ou deixámos que fizessem por nós.
Não há limites, a não ser os que nós colocamos. E é esse o segundo argumento de GK- que os ambientalistas e as forças políticas progressistas deviam intervir defendendo limites internos positivos em substituição das atuais bandeiras negativas, que os colocam como profetas da desgraça. GK constrói um argumento poderosíssimo em torno da auto-limitação, concebida em função dos objetivos que queremos atingir. A mensagem passa assim a ser positiva: isto é o que queremos e para isso estas são as medidas que precisamos de ser implementadas e estes os limites (agora sim!) que não podem ser excedidos.
Esta é uma chamada de atenção muito importante: chega de dissecar o que está mal, chega de gastar energias a criticar o crescimento ou o capitalismo. É difícil entusiasmar-se com o decrescimento, e a mobilização contra o capitalismo é impossível sem uma ideia clara de como o queremos substituir. Todas as forças progressistas deviam analisar esta mensagem e procurar nela os pontos de união que lhes conferirão o poder de mudar o mundo.
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