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segunda-feira, 31 de julho de 2023

O desafio do cobalto - O lado negro da transição energética


Para garantir que a condução continue a ser possível apesar da crise climática, a indústria automóvel aposta nos carros elétricos. Mas muitas de suas baterias usam uma matéria-prima extremamente problemática: o cobalto.

Calor, seca, inundações. A crise climática chegou à Europa. Para garantir que a condução continue sendo possível enquanto a pegada de CO2 é reduzida, a indústria automóvel recorreu a uma solução: a mudança rápida e abrangente para carros elétricos. A Comissão da UE decidiu pela mesma solução. Agora, não apenas a Tesla, mas a Volkswagen, Volvo, Peugeot e Renault estão investindo dezenas de biliões de euros em eletromobilidade. E a eletromobilidade requer baterias.

Mas muitas dessas baterias contêm uma matéria-prima extremamente problemática: o cobalto. Extraído na forma de minério, 65 a 70% da produção global de cobalto está localizada na República Democrática do Congo.

Este filme mostra o lado negro da mineração de cobalto. O trabalho infantil é apenas um dos muitos problemas. Todo o setor está cheio de corrupção. O solo está contaminado e a saúde e a vida das pessoas estão em risco. O domínio de mercado da China está levando a Europa a uma perigosa dependência. Diante dos gigantescos problemas colocados pela cobiçada matéria-prima, a UE busca outras formas de colocar as mãos no cobalto. O filme faz uma pergunta incómoda: as minas na Europa devem ser reabertas?

Já estamos em ebulição global


A partir desta quinta-feira, 27 de julho, o aquecimento global chegou oficialmente ao fim e começou uma nova era: “A ebulição global”. As palavras fortes são de António Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas, numa conferência de imprensa em que revelou o que julho de 2023 pode muito bem tornar-se no mês mais quente de sempre na história registada.

“As alterações climáticas estão aqui. É assustador e isto é apenas o início”, disse Guterres. “Ainda é possível limitar o aumento da temperatura global para 1,5 graus e evitar o pior. Mas isto apenas funcionará com ações drásticas e imediatas.”

A informação dada pelo secretário-geral surge após cientistas terem confirmado também nesta quinta-feira que as últimas três semanas foram as mais quentes algumas vez registadas. Karsten Haustein, da Universidade de Leipzig, garante que o mundo está 1,5 graus mais quente este mês do que em qualquer outro julho antes da industrialização.

Em causa estão fatores como a poluição humana. “A humanidade está em risco. Para uma vasta parte da América do Norte, Ásia, África e Europa, está a ser um verão cruel. Para o resto do planeta, é um desastre. E para os cientistas, não há dúvidas: a culpa é das pessoas.”

Vários avisos já tinham sido dados pela comunidade científica ao longo dos últimos nos, por isso esta situação não é propriamente um choque. O que surpreende os especialistas é mesmo a forma acelerada como as temperaturas estão a mudar.

Guterres pediu ainda que os políticos não ficassem estáticos e que tomassem medidas rapidamente. “Este ar não é respirável, o calor não se aguenta, e o nível de inação é inaceitável. Líderes devem liderar. Chega de hesitação e desculpa. já não há tempo para isso”.

Petteri Taalas, secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial, também deixa um aviso: “A necessidade de reduzir o efeito estufa é mais urgente do que nunca. A ação climática não é um luxo, mas uma necessidade.”

Não esquecer que entre 65% e 80% do CO2 libertado no ar por acção do homem dissolve-se no oceano num período entre 20 a 200 anos. O restante é removido por processos mais lentos que levam centenas de milhares de anos, incluindo a meteorização química e formação de rochas. Isso significa que, uma vez na atmosfera, o dióxido de carbono pode continuar a afectar o clima por milhares de anos [artigo científico]

domingo, 30 de julho de 2023

Nova Rota da Seda da China: o Projeto do Século


O presidente chinês XI Jinping nomeou o "projeto do século". Desde 2013, a China investiu biliões para trazer o "Reino do Meio" para a vanguarda da economia global e da política internacional.

O que a China batizou de 'A Nova Rota da Seda' permite que um par de ténis seja transportado de comboio da China para a França em menos de duas semanas. Mas eles também atuam como um veículo para uma onda de expansionismo chinês em todo o mundo.

Em Gwadar, no Paquistão, a China está a escavar um porto gigante, além de uma espetacular rodovia que atravessa o Himalaia, para abrir as portas para os mares quentes. Nos limites das suas fronteiras russas na Ásia central, ao longo de uma nova linha férrea que serve a Europa, empresários chineses instalaram zonas económicas especiais e cassinos no meio do deserto. Mais longe de Pequim, em Djibuti, no Chifre da África, o Estado chinês estabeleceu recentemente um porto militar, a poucos passos das bases americana e francesa, além de construir uma ferrovia ultramoderna que atende a Etiópia. Na esteira desses movimentos, as empresas chinesas estão investindo nos mercados do leste africano, na esperança de fazer da região uma das novas oficinas do mundo.

Ver também
Campanha da China no Ártico - O que a China quer na região?

sábado, 29 de julho de 2023

Hilda Hist - Obsceno

Aquela 
"Aflição de ser eu e não ser outra.
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
E à noite se prepara e se adivinha
Objeto de amor, atenta e bela.
Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera.
(A noite como fera se avizinha)
Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel
Não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra."


Página oficial

O G20 não chega a acordo sobre um limite para as emissões de gases de efeito estufa até 2025


 Os ministros do meio ambiente do G20 falharam na sexta-feira em chegar a um acordo sobre a redução das emissões de gases de efeito estufa para combater a mudança climática, uma semana após o fracasso dos combustíveis fósseis.

“Não conseguimos chegar a um acordo sobre um limite para as emissões de gases de efeito estufa até 2025”, disse à AFP o ministro francês da Transição Ecológica, Christophe Béchu, antes de acrescentar: “Estou muito desapontado”.

As negociações com China, Arábia Saudita e Rússia foram "complicadas", disse ele.

Os ministros do G20, cujos membros representam sozinhos mais de 80% do produto interno bruto mundial e das emissões de CO2 do planeta, vão examinar na sexta-feira em Madras, na Índia, vários dossiês cruciais, como o financiamento da adaptação às mudanças climáticas , biodiversidade e os princípios que devem reger as atividades económicas marítimas.

E especialmente aquele que visa limitar as emissões de gases de efeito estufa até 2025, para o qual o ministro francês anunciou um fracasso no final do dia.

Mas nos corredores, dificilmente esperávamos resultados significativos nos outros arquivos também.

No entanto, estava inicialmente previsto que desta reunião dos Ministros do Meio Ambiente do Grupo dos Vinte (as dezenove economias mais desenvolvidas e a União Europeia) resultariam acordos que seriam posteriormente assinados pelos líderes durante a cimeira de setembro em Nova Delhi.

Rússia corrompeu agentes de Kyiv em 2014 e começou a planear invasão


O historiador Mark Hollingsworth afirmou à Lusa que a guerra em curso na Ucrânia está a ser planeada desde a anexação da Crimeia (2014), altura em que os serviços secretos russos conseguiram informações importantes ao corromperam agentes de Kyiv.

A situação é relatada no livro de investigação do historiador britânico "Manipulação - O KGB e as Democracias Ocidentais", recentemente publicado.

"A atual guerra (na Ucrânia) foi planeada desde 2014 [anexação da península da Crimeia] e, nessa altura, o FSB [Serviço Federal de Segurança, o sucessor do soviético KGB] conseguiu muita informação corrompendo os serviços de informações ucranianos e obtendo uma quantidade significativa de material que eu menciono com detalhe neste livro e esses factos são importantes para se perceber a invasão de 2022", disse à agência Lusa Hollingsworth.

"O que ainda é pouco conhecido", frisou o historiador britânico, é que os serviços de informações russos (FSB e SVR, os serviços secretos externos russos) em 2014 "corromperam, subornaram e intimidaram" agentes dos serviços secretos da Ucrânia e conseguiram ter acesso a documentos importantes de Kiev.

No entanto, apontou o historiador, a "fraqueza" dos serviços secretos da Rússia (desde 2014) foi o uso de ideias preconcebidas sobre o que eles próprios entendiam ser a verdade ou a realidade, tendo depois tentado encontrar os factos que podiam encaixar-se nessas mesmas ideias.

"Por outras palavras, em vez de enviarem agentes com a missão de descobrir qual era a verdade e sobre o que estava a acontecer na Ucrânia, limitaram-se a uma ideia preconcebida sobre o que eles pensavam ser a verdade para depois dizerem às chefias o que as chefias queriam escutar. Isto é o que eu penso que está a acontecer na Ucrânia", afirmou Mark Hollingsworth, referindo-se à invasão russa iniciada em fevereiro de 2022.

Segundo a teoria de Hollingsworth, e no que diz respeito à campanha militar em curso há mais de um ano no território ucraniano, a direção do FSB comunica ao chefe de Estado russo, Vladimir Putin, o que ele quer ouvir em vez de investigar os factos.

Para o historiador britânico, geralmente este tipo de situações são "um problema no mundo dos serviços de informações" porque ao deixarem-se controlar pelas ideias políticas - simplesmente para agradarem aos líderes -, "esquecem" os factos que marcam a realidade. 

Por outro lado, o historiador diz que ainda é cedo para relacionar a retirada desordenada das forças internacionais do Afeganistão (concluída no verão de 2021) e a invasão de 2022 da Ucrânia, mas, na sua opinião, "é provável" que Moscovo tenha acompanhado os acontecimentos em Cabul para estudar o comportamento dos outros países e moldar o tipo de operação militar.

Quanto à rebelião contra as altas patentes da Defesa russa chefiada em meados de junho pelo líder do grupo russo de mercenários Wagner, o historiador diz que ainda é difícil perceber o que de facto aconteceu porque Yevgeny Prigozhin ainda está vivo.

"Se a operação tivesse sido uma tentativa de golpe de Estado, o líder seria executado ou preso e pelo que sabemos Prigozhin ainda é um homem livre", frisou.

"Penso que a tentativa de progressão até Moscovo foi uma forma de mostrar poder. É possível que Prigozhin - e isto é pura especulação - tenha informação sobre a fortuna de Putin e talvez por isso Putin não tenha atuado contra ele. É um assunto que ainda tem de ser investigado. Até ao momento é especulação", ressalvou.

No livro agora lançado em Portugal, Hollingsworth evidencia o papel da "desinformação" dos serviços secretos da antiga União Soviética durante a Guerra Fria e analisa igualmente a campanha da Rússia na Ucrânia desde a invasão da Crimeia, assim como os novos sistemas utilizados pelo FSB.

Sobre Putin, a obra refere que o chefe de Estado russo foi um oficial do KGB que inicialmente se dedicava a identificar, ameaçar e prender opositores da União Soviética nos anos 1980 e que mais tarde, na ex-República Democrática da Alemanha, assistiu à "humilhação" da queda do Muro de Berlim.

"Ele nunca esqueceu isso. Nunca esqueceu a humilhação. O que o motiva é restaurar a União Soviética no sentido nacionalista. Ele não é um comunista, ele apoiou a União Soviética mas sem ser um comunista. Apoiava um Estado forte e centralista, muito autoritário e nacionalista sem acreditar no comunismo como o sistema que deveria conduzir a economia", referiu o historiador.    

Mark Hollingsworth é autor, entre outras obras, da investigação "Londongrad" sobre as atividades dos oligarcas no Reino Unido e do livro "Thatcher's Fortunes" sobre a fortuna da antiga chefe de Governo britânica e o papel do filho, Mark Thatcher, em vários conflitos em África.  

À Lusa, e sobre projetos futuros, o historiador admitiu que seria "um desafio" escrever sobre o papel atual dos serviços secretos da República Popular da China, mas adiantou que "talvez escreva um terceiro e difícil livro sobre a Rússia" sobre a fortuna de Vladimir Putin.

"Por outro lado tenho muito interesse em História e estou, por isso, muito interessado também em escrever sobre o Duque de Windsor que chegou a ser o rei Eduardo VIII que abdicou em 1936, no Reino Unido. Ele esteve em Portugal em 1939 e 1940, durante a Segunda Guerra Mundial e era pró-nazi. O que foi fazer a Lisboa? Seja como for, isso é outra História", concluiu.

A obra "Manipulação - O KGB e as Democracias Ocidentais" (Bertrand Editora, 325 páginas) foi publicada este mês em Portugal e inclui uma lista de falsificações do KGB durante a Guerra Fria. 

Capitalismo e Pulsão de Morte


Sinopse

Aquilo a que hoje chamamos crescimento é na verdade uma excrescência, uma proliferação cancerosa que destrói o organismo social. Essas excrescências metastizam-se com uma vitalidade inexplicável. A certa altura, esse crescimento já não é produtivo, mas destrutivo. Há muito que o capitalismo ultrapassou este ponto crítico. As suas forças destrutivas produzem não apenas catástrofes ecológicas ou sociais, mas também mentais. Os efeitos devastadores do capitalismo sugerem a existência de um instinto de morte.
Depois de inicialmente Sigmund Freud ter introduzido o conceito de instinto de morte de forma hesitante, confessou que «não poderia pensar de outra forma», porque a ideia ganhara poder sobre ele.
Pensar hoje no capitalismo é impossível sem considerar o instinto de morte.

" Aquilo a que hoje chamamos crescimento é, na realidade, uma proliferação carcinomatosa, desprovida de objectivo. Atualmente assistimos a uma euforia de produção e de crescimento que faz lembrar um delírio de morte. Simula uma vitalidade que oculta a aproximação de uma catástrofe mortal. A produção assemelha-se cada vez mais a uma destruição. É possível que a autoalienação da humanidade tenha atingido aquele grau que lhe permite experimentar o seu próprio aniquilamento como uma fruição estética. O que Walter Benjamim disse outrora sobre o fascismo pode hoje aplicar-se ao capitalismo."

sexta-feira, 28 de julho de 2023

Música do BioTerra: James Blake - I Never Learnt To Share

Original
  
Remix

My brother and my sister don't speak to me
But I don't blame them
But I don't blame them
My brother and my sister don't speak to me
But I don't blame them
But I don't blame them

Biografia
Página Oficial
Youtube

Moçambique perde 267 mil hectares de florestas todos os anos

Moçambique perde todos os anos 267 mil hectares de florestas, segundo dados avançados em Maputo pelo diretor nacional de Florestas, Cláudio Afonso.

“Temos estado a registar algumas preocupações porque anualmente perdem-se cerca de 267 mil hectares de florestas”, afirmou o responsável à margem da primeira reunião do Comité Técnico para a Operacionalização da Declaração de Maputo sobre a Gestão Sustentável e Integrada da Floresta de Miombo, evento de dois dias que arrancou na quinta-feira.

As atividades madeireiras são apontadas como responsáveis por este cenário.

A iniciativa da Declaração de Miombo foi lançada pelo Presidente da República, Filipe Nyusi, e durante estes dois dias de reunião está a ser discutido o regulamento do funcionamento dos comités (técnico e ministerial) e o plano de ação bienal dos onze países da região austral de África que adotaram a declaração.

Para a implementação destas ações, Moçambique já garantiu cerca de 17 milhões de dólares, para necessidades totais avaliadas em 30 milhões de dólares identificadas para a implementação do plano de ação traçado e que deve vigorar por um período de dois anos.

Neste evento, foi anunciado que o Fundo Global vai disponibilizar a Moçambique cerca de 12 milhões de dólares para revitalização das reservas florestais, restauro, apoio institucional e implementação do sistema de monitoramento florestal do país. Outros cinco milhões de dólares serão disponibilizados pela Agência de Cooperação Italiana, anunciou ainda a secretária permanente do Ministério da Terra e Ambiente de Moçambique, Emília Fumo.

A Floresta do Miombo é responsável pela manutenção da bacia hidrográfica do Zambeze, ao longo da qual vivem mais de 40 milhões pessoas dos oito países atravessados por este curso de água.

Em Moçambique, a Floresta de Miombo alarga-se da parte norte de Inhambane às províncias de Manica, Tete, Sofala e Zambézia, zona centro, e Nampula, Niassa e Cabo Delgado, na região norte do país.

A pressão sobre os recursos da floresta de Miombo, segundo o diretor nacional de Florestas, Cláudio Afonso, são mais intensos nas províncias da Zambézia, Nampula e Niassa.

A Declaração de Miombo foi adotada em agosto de 2022 e estabelece a necessidade de união de esforços dos países da África austral para o incremento de opções de proteção e conservação da Floresta de Miombo e desenvolvimento da região do grande Zambeze.

Tudo ao contrário e atrasado do que foi proposto em 2016 na conferência da Rede do Miombo

Saber mais:

quinta-feira, 27 de julho de 2023

Comunismo verde totalmente automatizado



A estreia das mudanças climáticas como uma questão de relevância global foi na Cúpula da Terra do Rio em 1992 (ECO-92). De lá para cá, a relação entre energia e economia só tem se tornado mais política, com cidadãos de todo o Norte e Sul Global crescentemente mais conscientes dos desafios que elas representam. De fato, uma pesquisa realizada em 2017 pelo instituto de pesquisa estadunidense Pew Research em 38 países mostrou que 61% dos entrevistados consideram as mudanças climáticas como uma das suas principais preocupações, colocando-as acima da geopolítica tradicional, da migração e de um modelo econômico falido em termos de ameaça percebida.

E, no entanto, o aumento da conscientização pública ao longo do último quarto de século não conseguiu se traduzir em ação significativa. Os níveis atmosféricos de dióxido de carbono (CO2), o principal “gás do efeito estufa”, foram 61% maiores em 2013 do que em 1990. Os anos que se seguiram à crise econômica de 2008 foram os de maiores aumentos anuais de emissões na História.

Só que não há apenas uma dissonância entre o conhecimento dos fatos e a forma como agimos, há também o problema da nossa incapacidade de modelar o futuro com precisão.

No presente, o consenso científico afirma que um aquecimento de dois graus neste século é algo altamente provável. Ainda que isso possa representar um enorme choque para a ordem global, com níveis de migração jamais vistos, diminuição de colheitas e uma enorme crise de recursos naturais, se esse cenário representasse o pior que poderíamos alcançar, teríamos sido sortudos.

Isso porque qualquer coisa muito além desse nível nos levaria a alcançar um ponto de inflexão. Nesse caso, uma cascata de circuitos de retroalimentação, incluindo a desertificação e a liberação de hidrato de metano, faria com que três graus levassem a quatro, quatro a cinco e cinco a seis.

A humanidade poderia suportar um mundo seis graus mais quente do que no presente? Talvez, mas com oceanos quentes e ácidos demais para manter a vida, com a agricultura de massa sendo possível somente em torno dos polos norte e sul e com níveis elevados de metano atmosférico – gerando problemas para qualquer coisa que respire – trata-se de um cenário difícil de se imaginar.

Um eterno presente: a tirania do Realismo Capitalista.
Como é possível que cada vez mais pessoas estejam cientes das mudanças climáticas, bem como de suas consequências potencialmente devastadoras, e ainda assim tão pouco seja feito? A resposta é a política.

As gerações futuras olharão em retrospecto para os últimos 25 anos e isolarão duas coisas em particular. A primeira é um aumento dramático nas emissões de dióxido de carbono – e com isso, uma aceleração adicional no aquecimento global. A segunda é um modelo económico específico, globalizado não só em termos de comércio e produção, mas, mais importante ainda, em termos de um quadro de referência que coloca o lucro acima de tudo e que exige circulação.

Esse modelo deve ser compreendido como a “globalização contemporânea“, distinto do processo geográfico de mesmo nome – que segue ao mesmo tempo que ele – que se desenvolve, em vez disso, como uma “compressão do tempo-espaço” tornada possível pelas transformações tecnológicas.

A globalização contemporânea foi um arranjo político intencional, fundado em um certo conjunto de ideias, e embora haja uma correspondência com o fenómeno tecnológico e geográfico, este último poderia ter se desenvolvido sem o primeiro.

Para a globalização contemporânea, o fim da Guerra Fria foi decisivo, com as instituições do capitalismo ocidental da metade do século XX – o FMI, a OMC e o Banco Mundial – combinado com o novo zeitgeist cultural do realismo capitalista – a ideia de que o fim do mundo seria mais possível do que o fim do capitalismo. Os mercados livres não eram mais entendidos como sistemas socialmente contingentes, mas sim como a totalidade da realidade. A síntese destes dois elementos, somada à ausência histórica de uma utopia concorrente ou de forças geopolíticas que servissem de contrapeso, levaram a uma segunda belle époque entre 1990 e 2008. Nela, um sistema econômico específico, baseado em mercados globais em constante expansão e na eliminação de toda fricção à circulação (seja ela cultural, tecnológica ou econômica), foi crucial.

Sem surpresa, isso se deu principalmente nos países afluentes do Norte Global, onde o realismo capitalista reinava supremo. Para as nações em desenvolvimento, a História permanecia longe de terminar, com a lógica operacional estando, em vez disso, na busca por alcançar padrões de vida mais elevados, salários crescentes e maior prosperidade. Uma economia global cada vez mais integrada, especialmente após 1990, permitiu que os dois lados se adequassem como peças de um quebra-cabeça: a mão de obra barata de uma China em ascensão no Sul Global possibilitava a economia psíquica do realismo capitalista no Norte Global. Os primeiros ficavam mais ricos, os últimos se sentiam mais ricos. Em termos marxistas, a base (ou “estrutura”) do Sul Global possibilitava a superestrutura das nações mais ricas.

E por um tempo isso funcionou.

Mas, nos termos das mudanças climáticas, esse arranjo económico e cultural – baseado tanto no consentimento quanto na coerção – permitiu que as soluções baseadas no mercado permanecessem inquestionáveis até a crise de 2008, mesmo quando ficava claro que elas sequer tocavam a superfície da questão.

Embora as mudanças climáticas possam ser o resultado da modernidade industrial, ou do “capitalismo fóssil“, como Andreas Malm se refere a esse processo, para os verdadeiros fiéis do sistema isso era irrelevante. Pelo contrário, de fato, ajudou a agravar uma fé cega na capacidade da tecnologia de resolver quase qualquer problema. Assim como a máquina a vapor alimentada por carvão de Watt transformou a sociedade na virada do século XIX, de maneira semelhante, as tecnologias ecológicas iriam dar sustentação a uma transição similar em nosso próprio tempo; os limites do crescimento se expandiriam mais uma vez. No fim das contas, o capitalismo era toda a realidade, a História acabou e nada muda de verdade.

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Esse conjunto de premissas, em que as mudanças tecnológicas manteriam a capacidade do capitalismo de sustentar o planeta independentemente das circunstâncias, é referida como a “solução tecnológica“. Geralmente vem na forma de sequestro de carbono, geo-engenharia e fontes de energias renováveis – ou uma combinação dos três.

A solução tecnológica busca negar a Política, afirmando que se pode mudar a realidade social sem mudar as relações sociais: os ricos não precisariam ficar menos ricos, as disparidades de renda não precisariam ser reduzidas, o consumo de bens e serviços não precisaria diminuir. É por isso que diante de um sistema económico que não consegue oferecer padrões de vida crescentes, os autoproclamados “moderados” gritam pela “inovação!” Essa não é uma posição moderada – é, isso sim, uma posição de credulidade fervorosa.

Até certo ponto, há alguma razão nessa linha de argumentação. A humanidade, pelo menos até agora, tem conseguido superar todos os desafios que enfrentou – desde micróbios mortíferos até predadores maiores e as turbulências de várias eras glaciais. Em todas essas vezes, não só prevalecemos mas prosperamos, principalmente como resultado de nossa capacidade de processar informações e criar ferramentas – ou tecnologia – em resposta.

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Historicamente, o movimento verde tem tratado com desprezo o raciocínio da solução tecnológica, e com razão. A maioria daqueles que as perseguem em relação ao clima – com esquemas malucos como bloquear parte do sol com uma “sombra espacial” para gerenciar a radiação solar ou remover enormes quantidades de CO2 da atmosfera através do sequestro de carbono – não quer salvar o planeta, mas prolongar o sistema económico e social que o está matando – um sistema baseado em produção para troca, lucro e trabalho assalariado.

A política do movimento verde, naquilo que tem de mais radical, tem insistido, portanto, que uma resposta adequada precisa ser mais fundamental. No interior dessa posição estava uma compreensão implícita de como a História se desenrola e sobre como ocorrem as transformações. Assim, enquanto os deterministas tecnológicos entendem a tecnologia como a força motriz da História e, portanto, a única maneira de abordar as mudanças climáticas, os radicais verdes compreendem as relações sociais e as ideias, ou mesmo as relações com a natureza, como aquilo que realmente importa.

A este respeito, ambos os lados exibem um viés. Só que para mudar a História e salvar o mundo, isso não é suficiente.

Como fazemos a História
A melhor maneira de compreender a tecnologia, e a maneira como ela internaliza e dá forma às relações sociais na cultura, na sociedade e na economia, é enxergá-la como um elemento dentro de uma totalidade mais abrangente, através da qual a História evolui. É assim que David Harvey lê o pensamento de Karl Marx sobre o tema – com o autor de O capital compreendendo a História como sendo constituída por seis campos distintos, mas mutuamente adaptativos: tecnologia, natureza, processo de produção, reprodução da vida cotidiana, relações sociais e concepções mentais. Todos esses campos estão em tensão dinâmica, cada um deles constantemente dando forma e sendo moldado por todos os outros.

Marx queria entender como a História é feita, a fim de transformá-la: “Os filósofos apenas interpretaram o mundo de diferentes maneiras; o que importa é transformá-lo”. Quando se pensa sobre a História como algo tão complexo, sendo gerado por campos que englobam tantas coisas, rapidamente se compreende os limites da ênfase em apenas um deles.

Elon Musk, por exemplo, diria que a tecnologia determina a História, assim como afirma o realismo capitalista em geral. Isso permite enquadrar realidades políticas construídas como sendo naturais e imutáveis. Enquanto isso, um eco-anarquista poderia dizer que a natureza e as relações sociais são todas importantes: talvez, se todos nós fôssemos veganos e ciclistas, poderíamos salvar o planeta. Alternativamente, Lenin teria dito que o processo de produção é o principal, e que, sem mudanças significativas aí, o resto não tem importância.

Para Marx, no entanto, a transformação sistémica – o que ele chamava de mudar para um “novo modo de produção” – exigiria lidar com todas essas categorias, em conjunto. Portanto, assim como o capitalismo (definido pela produção para a troca e mão-de-obra assalariada) surgiu lentamente ao longo de um período de séculos, assim também o fará o que for sucedê-lo. Como pós-capitalistas, e como seres humanos que querem parar as mudanças climáticas desenfreadas, isso deve informar a maneira como agimos agora.

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Dada a janela de tempo em que estamos operando (temos cerca de três décadas para descarbonizar completamente a produção global enquanto o consumo de energia deve dobrar), isso não será fácil. A resposta é enfatizar cada momento como parte de uma transformação mais abrangente, com a necessidade de novas tecnologias, relações sociais, concepções mentais, fluxos de trabalho e concepções da natureza. Nenhuma esfera sozinha é suficiente.

Embora possa soar extremamente difícil, muito desse trabalho já vem sendo feito. O trabalho de ativistas e movimentos de direitos dos animais em torno de hábitos alimentares modificados significa que muitas pessoas já desfrutam de uma relação muito diferente com a natureza. E mesmo aqueles entre nós que não são vegetarianos ou veganos achariam a visão cartesiana de outras espécies animais como autômatos não apenas estranha, mas desumana. Uma das principais alterações no tratamento das mudanças climáticas será a transformação na produção e no consumo de alimentos – especialmente a carne, que utiliza quantidades prolíficas de água e de terra, e gera quantidades significativas de gases do efeito estufa como o metano. Isso sem mencionar as questões éticas sobre tratar os animais como mercadorias.

Em resposta, podemos esperar que o vegetarianismo e o veganismo se tornarão cada vez mais comuns nas próximas décadas. Além das concepções transformadas sobre a natureza, as mudanças tecnológicas manifestando essas concepções também serão importantes, à medida que, nos próximos anos, os substitutos da carne se tornarem cada vez mais autênticos e a carne sintética – carne sem animais – encontrar um mercado de massa. Usando muito menos água e terra, e criando muito menos metano como subproduto, a carne sintética é uma conversão muito mais eficiente da energia solar em alimento do que a criação de animais para o abate – algo que provavelmente será ridicularizado em um futuro não muito distante.

Enquanto isso, as tecnologias renováveis estão realizando grandes avanços, assim como o armazenamento energético. Um mundo que tenha uma produção completamente descarbonizada em algum ponto do século XXI não é o sonho molhado de otimistas tecnológicos, mas parece algo inevitável quando se olha a queda nos custos das tecnologias de painéis fotovoltaicos e de energia eólica como consequência das curvas de experiência. A questão, portanto, é o quão rapidamente esse processo vai se desenrolar, e a quem pertencerão essas tecnologias.

Perguntas semelhantes precisarão ser respondidas acerca da Inteligência Artificial, dos dados em geral e da extração de recursos além do nosso planeta. Tudo isso está chegando, e com eles um novo paradigma civilizatório – tão disruptivo quanto foi a combinação da máquina à vapor com os combustíveis fósseis na aurora da Revolução Industrial. O que importa, para os pós-capitalistas, é se seremos capazes ou não de dobrar o arco da História para garantir que os dividendos dessas tecnologias se reflitam na emancipação de todos nós – e não apenas no aumento dos lucros para poucos.

É de suma importância, com relação às energias renováveis, que a difusão aconteça com urgência; caso contrário, o aquecimento de mais de dois graus parece quase certo.

Pensar pequeno é lindo, pensar grande também
Historicamente, tudo isso é anátema para as melhores tradições do movimento verde que, desde o início dos anos 1970, têm persistido na ideia do crescimento encontrando limites e na importância de tornar local a produção e gerar tipos de vidas muito diferentes.

Embora seja verdade que sua ida de carro para o trabalho todas as manhãs é ineficiente em todos os sentidos, e que você compra muitas coisas das quais na verdade não precisa, a ideia de que a resposta às mudanças climáticas está em consumir menos energia – que uma transição para energias renováveis deveria significar necessariamente uma redução no padrão de vida – parece errada. De fato, as tendências com as energias renováveis apontam para o contrário: o sol fornece ao nosso planeta energia suficiente para atender a demanda anual da humanidade em apenas 90 minutos. Em vez de consumirmos menos energia, os desenvolvimentos em energia eólica e solar (dentro de poucas décadas) devem significar energia distribuída de tamanha abundância que não saberemos o que fazer com ela. Quando combinamos isso com as tecnologias da inteligência artificial, robôs com forte acoplamento sensório-motor e mineração de asteroides, de repente você enxerga uma sociedade para além da escassez de energia, recursos e, mais importante, para além da mão de obra.

O comunismo de luxo totalmente automatizado é o populismo verde
Essa é a visão que deve ser oferecida em resposta às mudanças climáticas – uma visão que aceita a transformação nas relações com a natureza, especialmente com outras criaturas, mas que não abraça o primitivismo verde ou o “retorno ao campo“. Para aqueles que fizerem isso, será por uma questão de escolha e não por necessidade.

Nesse mundo, não precisaremos viajar menos, nem deixar de desfrutar de colheitas e alimentos de outras partes do planeta. Muito pelo contrário – ver os grandes feitos da humanidade e a beleza da Terra será um direito fundamental de todos. A vida será mais fácil, com cada vez mais tempo dedicado ao lazer e não ao trabalho. Qual seria o sentido da vida? Bem, isso ficará para você decidir.

Esta é uma visão populista (no sentido usado por Laclau e Mouffe) que compreende as potencialidades do presente que virá em breve, buscando deslocá-las para um propósito mais elevado. O comunismo de luxo totalmente automatizado não é algo inevitável, e cenários alternativos são possíveis: o rentismo e a escassez artificial são tão plausíveis quanto a abundância; a guerra e a destruição em massa são tão prováveis quanto a energia limpa permanentemente mais barata. Fundamentalmente, contudo, qualquer movimento verde efetivo deve compreender essas tecnologias ou vai perder: a evolução não tem marcha ré.

Além do mais, esse populismo precisa ser global, conciliando as necessidades e os interesses dos países mais pobres com os dos mais ricos. A transição para as energias renováveis no Sul Global – que aproveitará a energia mais abundante e mais barata que em qualquer outro lugar da Terra – será possibilitada por meio de transferência tecnológica e reparações pela injustiça histórica sob a forma de um imposto global sobre o carbono. Descarbonizar a economia não apenas salvará o planeta, ricos e pobres; isso levará eletricidade para as centenas de milhões na África subsaariana e no sul da Ásia atualmente sem acesso a ela. Dará sustentação a um nível de recuperação do atraso tecnológico impensável para aqueles que associam a geração e distribuição de energia com grandes infraestruturas centralizadas.

***

No entanto, esse populismo precisará enfrentar a globalização contemporânea, cujo modelo privilegia a livre circulação de bens e capital acima das pessoas, e cuja ênfase no comércio sem fronteiras – muitas vezes o padrão, mesmo dentro da esquerda – é a essência do fetiche da mercadoria. Esse modelo tem limitado a possibilidade dos Estados de se descarbonizar em velocidade, muitas vezes por meio de regras de licitação e contratação centradas em concorrência justa, algo bem documentado por Naomi Klein em seu livro Isso muda tudo.

Uma globalização consciente não vai entregar as mudanças das quais precisamos, sejam elas ambientais ou econômicas; além disso, um anseio pelo rompimento com a ordem estabelecida deve ser conjugado com o impulso pela criação da abundância energética por meio do abandono dos combustíveis fósseis. Como escreve Paul Mason:

Da Praça George, em Glasgow, até a Praça Syntagma em Atenas, sempre havia uma bandeira catalã tremulando acima da multidão. Eu nunca havia entendido, até agora, que essas bandeiras eram uma parte essencial dessa história. As narrativas sobre o “rompimento” na Europa moderna – quer sejam sobre se afastar dos Estados-nação, das moedas, das zonas de livre-circulação ou da própria UE – são todas conduzidas por um fato central: o arranjo atual não funciona.

Fingir o contrário seria lamentavelmente inadequado, e qualquer populismo verde, no nível micro ou macro, deve ser enérgico sobre esse fato. Uma ruptura com os combustíveis fósseis e com o neoliberalismo também precisa ser uma ruptura com a atual ordem global.

O último aspecto do populismo verde é o reconhecimento de que os Estados importam e que o eleitoralismo possui importância. Durante muitas das últimas décadas, o movimento verde tem sido mais favoráveis a projetos locais de pequena escala, com gêneros de ativismo que preferem a autotransformação, a união experimental e o imediatismo. Tudo isso tem seu valor e não deve ser descartado, mas os verdes radicais precisam entender que somente os Estados, os maiores instrumentos de ação coletiva já criados pelos seres humanos, são capazes de realizar o que é preciso.

Então, que aspecto teria essa “realização”? Significaria descarbonizar por completo o Norte Global até 2030 e o Sul Global até 2040, o que por sua vez significa que os países em toda a Europa e América do Norte precisarão reduzir as emissões de CO2 em 8% a cada ano na década de 2020, com a mesma exigência valendo para os países mais pobres ao longo da década seguinte.

Isso exigirá enormes níveis de consentimento, juntamente da mobilização dos Estados em algo comparável a um esforço de guerra. Felizmente, as pessoas precisam de empregos – até que os robôs aperfeiçoem o acoplamento sensório-motor – e há muitos bens públicos como saúde, educação e moradia universais, que devem ser englobados num projeto mais amplo de transformação ecológica e renovação social.

Populismo não significa se curvar ao menor denominador comum. Significa identificar aquilo que as pessoas desejam e canalizá-lo através de um paradigma tecnológico cujas relações sociais ainda não foram decididas. Significa dizer “aqui está um caminho para uma abundância ilimitada”, ao invés de pedir que a civilização seja colocada em uma camisa-de-força.

Ao compreendermos a História como um fluxo evolutivo, podemos prosseguir construindo esse projeto no agora – nas ideias, nos modelos de produção e consumo, nas relações e nas tecnologias. Entretanto, é importante observarmos que isso precisa ser combinado com uma visão de progresso e de destino inevitável, com as organizações estabelecidas de representação democrática – Estados, sindicatos e partidos – no papel de auxiliares para a construção de um mundo radicalmente diferente.

Luta contra o verdadeiro Inimigo! Quando Sinead O'Connor rasgou a foto do Papa no 'SNL'

Em 3 de outubro de 1992, Sinéad O'Connor rasgou uma foto do Papa João Paulo II no Saturday Night Live, numa denúncia muito pública da pedofilia na Igreja Católica.
Ela estava à frente da época.


A cantora Sinead O'Connor provocou indignação em 3 de outubro de 1992, quando rasgou uma foto do Papa durante a sua apresentação musical no Saturday Night Live.

Na preparação para o episódio, o criador do programa, Lorne Michaels, concentrou toda a sua atenção no apresentador Tim Robbins. O ator politicamente ativo lançou um ataque violento contra a controladora da NBC e os infames poluidores General Electric, que Michaels rejeitou para o programa, alegando que a peça era mais direta do que engraçada. (Robbins, talvez antecipando esse resultado, incluiu uma cena na sua astuta sátira política de 1992, Bob Roberts, na qual o anfitrião convidado - interpretado pelo amigo de Robbins, John Cusack - é igualmente fechado por uma automitificação "nervosa" ao vivo no show de skectchs chamado Cutting Edge Live.) Robbins, com a então esposa e colega provocadora Susan Sarandon na plateia, eventualmente apareceu nas boas noites para o show ostentando uma T-Shirt anti-GE. Ainda assim, ninguém estava pensando nele, na General Electric ou em qualquer outra coisa além do convidado musical daquela noite.

Depois de apresentar o seu primeiro número, uma interpretação tipicamente impressionante da canção da Loretta Lynn "Success Has Made a Failure of Our Home", O'Connor voltou ao palco do Studio 8H tendo feito alguns pedidos de última hora. Em vez de cantar o planejado uma música a cappella "Scarlet Ribbons", o empresário de O'Connor informou ao coordenador musical do SNL, John Zonars, que O'Connor, em vez disso, apresentaria uma versão a cappella de "War", de Bob Marley.

E, como a cantora irlandesa pretendia que a música chamasse a atenção para a questão do abuso infantil, ela pediu que a performance fosse filmada com uma única câmera, em close-up, para que o seu gesto final (de ela segurando um imagem de uma criança faminta), seria o foco duradouro. Zonars, na história oral do SNL, Live From New York, afirma que todos ficaram comovidos com a música e o gesto de O'Connor no ensaio geral quando ela ergueu a foto planeada e fez um apelo sincero para proteger as crianças vulneráveis do mundo.

Então a cantora de 26 anos entrou no palco do SNL para seu segundo número da noite no show ao vivo. Ela cantou “War”, a voz inimitável de O'Connor aumentando o poder da paixão até que, depois de transmitir a mensagem final da música, “E sabemos que venceremos/Pois estamos confiantes na vitória/Do bem sobre o mal”, levantou uma fotografia de O Papa João Paulo II para a câmera e, olhando diretamente para o cano da câmera ao vivo, rasgou-o. “Lute contra o verdadeiro inimigo”, exortou O'Connor, depois soprou as velas que haviam sido seu único acompanhamento e saiu do palco.

Foi quando todo o inferno desabou.

A NBC foi imediatamente, e por dias depois, inundada de ligações, condenando de forma esmagadora o convidado musical do SNL por insultar o chefe da Igreja Católica. Como a própria O'Connor relembrou no seu livro de memórias de 2021, Rememberings, ela foi recebida com um silêncio sinistro não apenas no palco (o diretor Davey Wilson ordenou que o tradicional sinal de "aplausos" não fosse aceso), mas também nos bastidores, onde os atordoados e chocados elenco e equipa quase desapareceram.

“Quando andei nos bastidores, literalmente não havia um ser humano à vista”, lembrou O’Connor no livro. “Todas as portas se fecharam. Todo mundo desapareceu. Incluindo o meu próprio empresário, que se trancou no seu quarto por três dias e desligava-me o telefone.”

A própria O'Connor apareceria mais uma vez naquela noite, ao lado de Robbins e a sua agora esquecida camiseta nas boas-noites, enquanto as centrais telefónicas da NBC se iluminavam com católicos indignados e outros condenando o que consideravam um ataque não provocado a um líder religioso mundial. Várias semanas depois, quando a cantora subiu ao palco de Nova York no concerto de homenagem no Madison Square Garden para comemorar o 30º aniversário de Bob Dylan na música, O'Connor mais uma vez abandonou seu planeado número de Dylan ("I Believe in You", do álbum de Dylan de 1979). Slow Train Coming, uma vez que ela foi recebida com uma enxurrada confusa e contínua de vaias e aplausos da enorme multidão. Com o colega concertista Kris Kristofferson (que havia apresentado O'Connor brilhantemente ao elogiar a sua coragem) emergindo dos bastidores para dizer à cantora: "Não deixe os bastardos te derrubarem", ela lançou uma a cappella "Guerra" mais uma vez, enquanto o público incessante tentava abafá-la.

De volta ao Saturday Night Live, a reação foi decididamente mista. O membro do elenco Phil Hartman foi ao The Late Show With David Letterman naquela semana para expressar descontentamento por O'Connor ter surpreendido todos no programa, o que ela certamente fez. (É impossível não sentir pena dos artistas Tim Robbins, Ellen Cleghorne, Melanie Hutsell e Rob Schneider, que tiveram que seguir a façanha de matar multidões de O'Connor num esboço chamado "Sweet Jimmy: The World's Nicest Pimp".) No entanto, Michaels ele mesmo não apenas permitiu que ela voltasse ao palco para acenar boa noite para a multidão ainda atordoada, mas também depois chamou a ação de O'Connor de "a coisa mais corajosa possível que ela poderia fazer", citando sua conturbada história pessoal com abuso infantil e o encobrimento sistémico pela igreja de abuso sexual por seu clero, algo que o católico criado O'Connor sabia sobre tudo muito intimamente.

Ainda assim, o Saturday Night Live também permitiu uma refutação particularmente feia às ações de O'Connor no programa seguinte, quando o apresentador e colega católico Joe Pesci não apenas remontou as peças reunidas da foto ofensiva (justo), mas prometeu que, se ele tivesse sido na assistência na semana anterior, ele teria dado à jovem “uma tal bofetada”. Então, vários meses depois, a convidada musical Madonna (que condenou publicamente O'Connor, até zombando da aparência da cantora de cabeça raspada), repetiu a façanha citando o apelo de O'Connor para "lutar contra o verdadeiro inimigo", enquanto rasgava um foto do notório adúltero de Long Island e futuro cameo-maker de Saturday Night Joey Buttafuoco.

Nos anos seguintes, a estrela do SNL, Jan Hooks, usava intermitentemente um boné careca e sotaque irlandês para representar O'Connor no programa, embora esses esboços se concentrassem mais na reputação da cantora como uma mulher franca - embora ocasionalmente sem humor e estridente - do que no SNL. 

Enquanto isso, protestos, ameaças de morte e shows cancelados seguiram o rasto da cantora, com um golpe publicitário anti-O'Connor no Times Square vendo uma escavadeira achatando uma pilha dos seus discos. A outrora cantora no topo das paradas nunca recuperou verdadeiramente uma posição nas músicas de  sucesso norte-americanas.

Ainda gravando hoje aos 55 anos, O'Connor encontrou sucesso contínuo noutros países, mesmo com sua longa e histórica história de problemas pessoais e mentais atormentando a estrela problemática, incluindo a chocante morte por suicídio de seu filho Shane em janeiro de 2022. Quanto a  alegação de O'Connor de que a Igreja Católica e o Papa João Paulo II foram responsáveis por permitir incontáveis ofensas contra crianças na Irlanda e em todo o mundo, bem, a história justificou pelo menos as acusações então tabus que a jovem cantora fez ao vivo na TV norte-americana, mesmo se o dano à sua carreira ainda persiste.

quarta-feira, 26 de julho de 2023

Grandes marcas destroem roupa que tinham prometido reciclar – investigação


Um par de calças doado à C&A foi queimado num forno de cimento e uma saia doada à H&M viajou 24.800 quilómetros, de Londres até um terreno baldio no Mali.

A maior parte das roupas doadas a grandes marcas, que prometem reutilizá-las ou reciclá-las, é na verdade destruída, deixada em armazéns ou enviada para África, segundo uma investigação divulgada esta segunda-feira.

A investigação, da responsabilidade da organização “Changing Markets Foundation”, com sede nos Países Baixos, indica que várias cadeias internacionais “deitam fora roupas que prometeram salvar”. E trata-se de roupa, diz a organização, em perfeitas condições.

A organização não-governamental (ONG) explica num comunicado que usou “air tags” da Apple (dispositivos que enviam a localização) e assim conseguiu rastrear 21 peças de roupa usada, em perfeitas condições. Os artigos foram doados às lojas H&M, Zara, C&A, Primark, Nike, The North Face, Uniqlo e M&S na Bélgica, França, Alemanha e Reino Unido, e outros doados a uma grande cadeia de vendas online.

Grandes marcas comprometem-se a reciclar, produzir menos resíduos, acabar com produtos químicos perigosos, e fazem ofertas para quem entregar roupa em segunda mão, que dizem será para reciclar ou reutilizar.

Segundo a organização, apesar das promessas, três quartos dos artigos (16 em 21) foram destruídos, deixados em armazéns ou exportados para África, onde cerca de metade da roupa usada é retalhada para outras utilizações ou abandonada.

A “Changing Markets Foundation” dá exemplos: um par de calças doado à M&S foi destruído numa semana, outro par doado à C&A foi queimado num forno de cimento, uma saia doada à H&M viajou 24.800 quilómetros, de Londres até um terreno baldio no Mali, onde parece ter sido despejada. Três artigos acabaram na Ucrânia, onde as regras de importação foram flexibilizadas devido à guerra. Apenas cinco artigos dos 21 foram reutilizados na Europa ou acabaram numa loja de revenda.

“A maior parte dos programas promete explicitamente não deitar fora a roupa utilizável. Mas nenhuma das marcas mencionadas mantém registos públicos sobre o destino das roupas que lhes são doadas. Em vez disso, entregam-nas a empresas especializadas em reutilização, reciclagem e eliminação final” diz a ONG no comunicado.

Urska Trunk, da ONG, diz citada no documento que as promessas das lojas são mais um truque de “lavagem ecológica” (greenwashing), porque os artigos doados em perfeitas condições são na sua maioria destruídos, deixados em armazéns ou enviados para o outro lado do mundo.

A “Changing Markets” lembra que a União Europeia está a reforçar as regras em matéria de resíduos e pede uma lei forte, que contemple objetivos obrigatórios de reutilização e de reciclagem.

O “greenwashing” é uma estratégia de publicidade através da qual uma empresa poluidora pretende fazer passar uma imagem de responsabilidade ambiental, que na verdade não tem.

Encontros Improváveis - Victor Hugo e Emmy Lou Packard

Emmy Lou Packard - "California morning", 1984

"É triste pensar que a natureza fala e que o género humano não a ouve." ~ Victor Hugo.

terça-feira, 25 de julho de 2023

Mais de 50ºC no Vale da Morte, 45,3ºC na Catalunha: ondas de calor serão "mais frequentes" no futuro (e este verão "pode ser considerado fresco" para o que aí vem)


Os cientistas indicam que as ondas de calor "já não são acontecimentos excecionais" e as que ocorrerem "serão ainda mais intensas e mais frequentes"

Um estudo, divulgado esta terça-feira, concluiu que, sem as alterações climáticas, as atuais vagas de calor na Europa e nos Estados Unidos teriam sido "praticamente impossíveis".

Mais de 50 graus no Vale da Morte, nos Estados Unidos, um recorde histórico de 45,3°C na Catalunha [Espanha], mais de 43°C em Phoenix [EUA] nos últimos 24 dias: sem as alterações climáticas, estas vagas de calor teriam sido "praticamente impossíveis" na Europa e nos Estados Unidos, indicou a rede científica World Weather Attribution (WWA).

A WWA, que avalia a relação entre os fenómenos meteorológicos extremos e as alterações climáticas, considerou igualmente que as alterações climáticas tornaram a vaga de calor na China "pelo menos 50 vezes mais provável".

Estas ondas de calor "já não são acontecimentos excecionais" e as que ocorrerem "serão ainda mais intensas e mais frequentes se as emissões [de gases com efeito de estufa] não forem reduzidas rapidamente", concluíram os investigadores.

Embora fenómenos naturais, como os anticiclones e o 'El Niño', possam contribuir para desencadear estas ondas de calor, a subida "das temperaturas globais devido à queima de combustíveis fósseis é a principal razão pela qual são tão graves", sublinhou a WWA.

Para chegar a estas conclusões, os autores do estudo - sete cientistas dos Países Baixos, do Reino Unido e dos Estados Unidos - utilizaram dados meteorológicos históricos e modelos climáticos para comparar o clima atual e o aquecimento global de 1,2 graus com o que era no passado.

Estes resultados foram publicados sem passar pelo longo processo de uma revisão por pares, mas combinam métodos já aprovados pelos pares.

Os cientistas prestaram especial atenção aos períodos em que o calor foi "mais perigoso", ou seja, de 12 a 18 de julho no sul da Europa, de 1 a 18 de julho no oeste dos Estados Unidos, Texas e norte do México, e de 5 a 18 de julho no centro e leste da China.

Os responsáveis salientaram que o aquecimento global está a agravar a intensidade das temperaturas: com o aquecimento global, as ondas de calor na Europa são 2,5°C mais quentes, as da América do Norte são 2°C mais quentes e as da China são 1°C mais quentes, indicou a WWA.

Este mês pode ser "o julho mais quente de que há registo"

De acordo com a NASA e o observatório europeu Copernicus, este mês "deverá tornar-se no julho mais quente de que há registo".

"No passado, estes acontecimentos teriam sido aberrantes. Mas, no clima atual, podem ocorrer aproximadamente de 15 em 15 anos na América do Norte, de 10 em 10 anos no sul da Europa e de cinco em cinco anos na China", explicou Mariam Zachariah, cientista do Imperial College de Londres, que contribuiu para o estudo, num briefing telefónico.

Estas ondas de calor "tornar-se-ão ainda mais frequentes e ocorrerão de dois em dois ou de cinco em cinco anos" se o aquecimento global atingir os 2ºC, "o que poderá acontecer dentro de cerca de 30 anos, a menos que todos os países signatários do Acordo de Paris implementem plenamente os atuais compromissos para reduzir rapidamente as emissões", acrescentou.

Este início de verão "pode tornar-se a norma (...) e até ser considerado fresco se não atingirmos a neutralidade carbónica", sublinhou a climatologista britânica Friederike Otto.

Na opinião de Otto, "os resultados deste estudo de atribuição não são uma surpresa. (...) De um ponto de vista científico, é até irritante, porque apenas confirma o que previmos. Mas o que não prevíamos era o quão vulneráveis somos aos efeitos do aquecimento global. Porque ele mata pessoas", insistiu.

No entanto, "estas ondas de calor não são a prova de um 'aquecimento global descontrolado' ou de um 'colapso climático'. Ainda temos tempo" para inverter a situação, disse a cientista.

"Precisamos urgentemente de parar de queimar combustíveis fósseis e trabalhar para reduzir as nossas vulnerabilidades. Se não o fizermos, dezenas de milhares de pessoas continuarão a morrer", afirmou Otto, que considera "absolutamente essencial" que a legislação internacional sobre a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis seja adotada na 28.ª Conferência da ONU sobre o Clima (COP), no Dubai, em novembro.

segunda-feira, 24 de julho de 2023

Amor de mãe elefante - Elephant mother love


Há fotografias que nos marcam. Como é possível abater elefantes? O tráfico de marfim? Em circos?

Os elefantes africanos são os maiores mamíferos terrestres do mundo, com os machos, em média, atingindo até 3m de altura e pesando até 6 toneladas.

Após o declínio populacional ao longo de várias décadas devido à caça ilegal de marfim e perda de habitat, o elefante africano da floresta está agora listado como criticamente ameaçado. O elefante africano da savana também está listado como ameaçado de extinção na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da UICN.

O número de elefantes africanos da floresta caiu mais de 86% num período de 31 anos, enquanto a população de elefantes africanos da savana diminuiu pelo menos 60% nos últimos 50 anos, de acordo com as avaliações. Ambas as espécies sofreram declínios acentuados desde 2008 devido a um aumento significativo da caça furtiva, que atingiu o pico em 2011, mas continua a ameaçar as populações. Atualmente, existem cerca de 415.000 elefantes africanos em estado selvagem.

Outras grandes ameaças para ambas as espécies de elefantes africanos incluem a conversão contínua dos seus habitats naturais para agricultura e outros usos da terra.

Estamos a fazer o tudo o que podemos para ajudar, desde a monitorização de rebanhos até o treino de guardas florestais comunitários e a proteção do habitat. Ao proteger os elefantes, também estamos a ajudar a apoiar as comunidades locais por meio de medidas para reduzir o conflito entre humanos e elefantes e iniciativas para apoiar os meios de subsistência locais. Precisamos da sua ajuda para protegê-los.

Poque é que os elefantes africanos são tão importantes
Os elefantes desempenham um papel essencial no seu ambiente. Eles são “arquitetos paisagistas” – por exemplo, enquanto se movem e se alimentam, eles criam clareiras em áreas arborizadas, o que permite que novas plantas cresçam e as florestas se regenerem naturalmente.

E depois há a dispersão de sementes. Quando os elefantes comem plantas e frutas com sementes, as sementes muitas vezes ressurgem sem serem digeridas. É assim que muitas plantas se espalham. E os elefantes podem comer sementes grandes que animais pequenos não podem.

Sem os elefantes, a estrutura natural e o funcionamento das suas paisagens seriam muito diferentes, o que teria impactos na restante vida selvagem e nas pessoas que partilham aquele espaço.

A população local depende dos recursos naturais encontrados nos habitats dos elefantes, por exemplo, para alimentação, combustível e rendimento. Como um dos “cinco grandes” da vida selvagem de África, os elefantes são populares entre os turistas, o que pode ser uma importante fonte de rendimento para as comunidades.

Ao ajudar a proteger os elefantes, também ajudamos a garantir que seu ambiente e seus recursos naturais estejam disponíveis para as próximas gerações.

Música do BioTerra: Wire - Ahead


Lips growing for service
Eyes steady for peeling
Bring on the special guest
A monkey caught stealing
Standard rewards in corners
Is full-board in new quarters
Kneeling for pleasure
Ensures a good time

I remember, I remember
Making the body search
I remember, I remember
Making the body search

Someone is taking you
Someone has taken me
TV doesn't understand
A word that matters

Scattering desires to
Smouldering fires
Someone has taken you
Someone is taking me

I remember
Making the body search
That is was nothing
But enough for ahead

domingo, 23 de julho de 2023

Música do BioTerra : Slow Pup - Slugs


Quiet, c'mon and give me a kiss
I guess that I wasn't over it
Perfect, all the ways I know we
Fit together, I think I want back in
Oh, when it, it all ends again
What if I tell you that
You'll be playing in my head

'Cause you're a summer hit
I'm singing it
You're a summer hit
I'm singing it

Listen, I wanna tell you how I've been
That I want you despite my defense
Trust in all the things I never said
I'm sorry I haven't been honest
But when it, it all ends again
What if I tell you that
You'll keep playing in my head

Bibiografia e Discografia

Página Ofial

Caos climático marca o mês de Julho na Terra. Os avisos da NASA e de outros cientistas

Gavin Schmidt, cientista da NASA, avisa que Julho será provavelmente o mês mais quente da Terra. Outros investigadores notam que o actual caos climático vai deixar marcas na terra e no mar.


Vários especialistas climáticos da agência espacial norte-americana (NASA) reuniram-se esta semana em Washington. "Estamos a assistir a mudanças sem precedentes em todo o mundo", constatou Gavin Schmidt, director do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da NASA, que deixou o alerta sobre o que ainda está por vir. Julho de 2023 será provavelmente o mês mais quente do mundo em "centenas, se não milhares, de anos", afirmou o climatologista, citado pela agência AFP.

O caos que se instalou um pouco por toda a parte neste mês de Julho colocou a crise climática bem à vista de todos. Incêndios alimentados por dias consecutivos de calor excessivo, vagas de altas temperaturas que se arrastam por semanas com recordes a ser quebrados em muitos países afectando sobretudo os continentes da Europa, América e Ásia, inundações de grandes proporções que causam vítimas mortais.

As ondas de calor deverão persistir em grande parte do mundo durante o mês de Agosto, disse esta sexta-feira um especialista da Organização Meteorológica Mundial (OMM), na sequência das temperaturas recorde registadas nas últimas semanas.

A OMM disse no início desta semana que esperava que as temperaturas na América do Norte, Ásia, Norte de África e Mediterrâneo fossem superiores a 40 graus Celsius "durante um número prolongado de dias desta semana, à medida que a onda de calor se intensifica". "Devemos esperar, ou pelo menos planear, que estas ondas de calor extremas continuem até Agosto", disse à Reuters John Nairn, conselheiro sénior para o calor extremo da OMM.

Este mês de Julho já conta com algumas quebras de recordes diários, de acordo com ferramentas geridas pela União Europeia e pela Universidade do Maine, nos EUA, que combinam dados terrestres e de satélite em modelos para gerar estimativas. Os dados divulgados não são ainda os dados finais, mas “a tendência para o calor extremo é inconfundível e irá provavelmente reflectir-se nos relatórios mensais mais robustos emitidos mais tarde pelas agências norte-americanas”, referiu esta semana Gavin Schmidt durante uma conferência de imprensa da NASA, citado pelas agências internacionais.

Ler notícia completa aqui

sábado, 22 de julho de 2023

Rita Matias disse que ia distribuir estudo do IPCC que afinal não existe com conclusão que também não existe

Não seja mentirosa, Rita Matias. Primeiro não existe um relatório IPCC em 1989. Depois, há de facto aquecimento global e o lóbi da indústria petrolífera faz todos os possíveis para o contestar. A Ciência desdiz o que disse.


"A senhora deputada vai sempre encontrar uma referência qualquer científica, mas eu queria-lhe explicar o que é o painel do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas): tem 195 membros, países. É um contributo internacional alargadíssimo. Existe desde 1988, faz parte das Nações Unidas. Não é um contributo de uma pessoa, como a senhora deputada cita, são 195 membros. Não é uma coisa que se rebate com um cientista, é um consenso generalizado do ponto de vista científico que tem um trabalho de décadas e que nos diz quais são as consequências do impacto das alterações climáticas. Ignorar isto é muito arriscado", desafiou o ministro do Ambiente.

Pouco depois, Rita Matias alertava o presidente daquela Comissão Parlamentar, Tiago Brandão Rodrigues, deputado do PS, de que o seu partido iria fazer chegar aos serviços um "relatório do IPCC de 1989 que dizia que algumas nações poderiam estar submergidas nos anos 2000. Pasmem-se, chegamos a 2023 e nenhuma das nações foi submersa (sic). Este relatório foi feito pelos 195 membros, pelo orgão enaltecido pelo ministro. Às vezes as predições falham".

Na terceira e última parte daquela audição, Tiago Brandão Rodrigues avisou que o documento já tinha sido distribuído, mas fez questão de confrontar Rita Matias com a natureza do suposto "relatório": "Senhora deputada, quero dizer-lhe uma coisa, na dialética parlamentar não serve tudo. A senhora deputada disse que ia distribuir um relatório do IPCC, que era importante para entender um conjunto de questões sobre a posição do IPCC em relação às alterações climáticas, mas fez-nos distribuir uma notícia, sem fonte ou data, praticamente não se consegue ler. Não pode dizer que vai distribuir uma coisa e distribuir outra completamente diferente. Parecia que trazia um livro que era quase uma obra mundial e depois traz um livro do 'Tio Patinhas'. Só queria saber onde está o relatório do IPCC."

O relatório de 1989 não existe e Matias acaba por confirmá-lo já no fim da audição ao ministro do Ambiente: "A referência que eu fiz era à UNEP (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente). A notícia que divulguei tinha aquilo que referi, a questão de estar predito que algumas zonas estariam inundadas à data de hoje, que é uma questão que não existe."


"The Oshkosh Northwestern". É este o nome do jornal onde consta a peça partilhada por Rita Matias, na sua edição de 30 de junho de 1989. A notícia, distribuída pela Associated Press (AP) um dia antes, tem por base uma entrevista o diretor da sede de Nova York do UNEP. O primeiro parágrafo dizia: "Alto funcionário ambiental da ONU diz que nações inteiras podem ser apagadas da face da Terra por causa do aumento do nível do mar se a tendência do aquecimento global não for revertida até ao ano 2000."

Este funcionário da ONU era Noel Brown, na altura diretor regional do UNEP, que, alerta-se, não era cientista. Embora reconhecidamente alarmistas, as declarações deste alto funcionário da ONU foram muitas vezes distorcidas, nomeadamente por Rita Matias, que sugeriu que a declaração de Brown significava que as nações estariam submersas no ano 2000. Na verdade, Brown empurrava a consequência para um futuro mais distante. Isto, "se a tendência do aquecimento global não for revertida até 2000." Os cenários nos artigos citados pela AP descreveram projeções que mencionavam inclusivamente o ano 2100.

No final da década de 1980, mais precisamente em novembro de 1988, o UNEP e a Organização Meteorológica Mundial criaram o IPCC e "direcionaram-no para avaliar a ciência, os impactos e as possíveis respostas às alterações climáticas globais". Como parte dessa criação, foi realizada uma conferência em Miami que se prolongou de 27 de novembro a 1º de dezembro de 1989  e que "focou nas implicações do aumento do nível do mar para a África Ocidental, as Américas, a Bacia do Mediterrâneo e o resto da Europa".

Brown, o funcionário do UNEP, parece ter feito referência a declarações feitas em artigos preparados para esta conferência, como um relatório da EPA publicado em maio de 1990 e intitulado "Mudança do Clima e da Costa: Respostas Adaptativas e as suas Implicações Económicas, Ambientais e Institucionais". Este artigo incluía projeções futuras para inundações em países de baixa elevação. Apesar disso, nenhum destes artigos científicos assegurou que isso aconteceria até 2000.

Gráfico mostrando a elevação exponencial das emissões globais de carbono entre 1800 e 2007 dos setores do petróleo, gás natural, carvão, produção de cimento e desperdício. A escala é na ordem de biliões de toneladas anuais. Em 2007  aproximou-se dos dez biliões.

Fonte: aqui e aqui