MANAUS – O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicou recente estudo sobre as produções agropecuárias e extrativistas, segundo os grupos de cor ou raça de seus produtores.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicou recente estudo sobre as produções agropecuárias e extrativistas, segundo os grupos de cor ou raça de seus produtores. O Censo Agro 2017 fez um recorte sobre as populações indígenas e apontou que os maiores percentuais de produtores indígenas estão nas regiões Norte (5,0%) e Centro-Oeste (1,29%). Roraima (33,63%), Amazonas (20,43%), Amapá (10,96%), Acre (6,09%) e Mato Grosso do Sul (4,52%) detém os maiores números de produtores indígenas.
As lavouras indígenas são voltadas em quase sua totalidade para o consumo do produtor e sua família
O censo apontou recortes territoriais específicos sobre as terras indígenas distribuídas pelo País afora e para Unidades de Conservação – Reservas Extrativistas (Resex), Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS) e as Florestas Nacionais, Estaduais e Municipais. Para Marta Antunes, do Censo de Povos e Comunidades Tradicionais, o estudo aponta a família como elo produtivo. “Isso se dá, principalmente, nos estabelecimentos dedicados ao autoconsumo. Nos estabelecimentos dirigidos por indígenas também encontramos maior diversidade de produtos, que ocasiona mais segurança alimentar para essas famílias”, explicou.
O levantamento do IBGE também demonstra que as atividades ligadas ao plantio e cultivo por parte das comunidades e famílias indígenas têm finalidades estabelecidas na necessidade do consumo. Em 67,08% dos estabelecimentos agropecuários, em terras indígenas, a finalidade principal da produção de horticultura é o consumo do produtor e seus familiares. Entre o total de estabelecimentos encontrados pelo Censo Agro 2017, esse percentual é menor (43,54%).
Saudável e diverso
Além de familiar, as culturas praticadas pelas comunidades indígenas são diversas e com maior grau de saudabilidade. Entre as populações pesquisadas, 88,01% dos estabelecimentos dirigidos por indígenas não utilizaram agrotóxicos. O percentual cai se observados nas demais populações. Os pretos (76,86%), pardos (74,73%), amarelos (59,56%) e brancos (55,88%). Os indígenas têm produção mais diversificada (43,24%), classificados como diversificados e muito diversificados, de acordo com a classificação de grau de especialização da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
Conforme o técnico em agropecuária e antropólogo Alvatir Carolino, é interessante observar a pesquisa. “Interessante notar que o resultado aponta para o Norte porque, realmente, é no Norte do País que estão concentradas a maioria das populações indígenas“, detalhou. Alvatir também destaca que a complexidade da Amazônia impõe condições às populações indígenas. “É preciso entender a pesquisa sob as realidades impostas pela Amazônia e pela própria cultura desses povos. Existem povos que não veem a agricultura como nós vemos. Os Tariano tem suas roças, já os Gau preferem não ter“, observou.
“São complexidades, diversidades e sistemas, desses povos, que nem a estatística geográfica dará conta de contabilizar a produção. Os Gau, os Makú, preferem não ter roças próprias, e o sistema agrícola é completamente diferente porque são povos que circulam em várias regiões do alto Rio Negro”, analisou. “Já os Mura, da aldeia Muraí, na área de Autazes, deixaram de criar bubalinos depois da demarcação de sua terra. E, agora, estão se voltando para o extrativismo florestal, a castanha e o babaçu”, contou Alvatir.
Ancestralidade
O técnico explica que mesmo com a abundância do babaçu na região dos Mura, os próprios Mura não sabiam, exatamente, como explorar o fruto. “Eles ouviram falar que os antigos ouviram falar que os antigos trabalhavam o babaçu de tal forma, ou seja, foi preciso desenvolver pesquisa para encontrar as formas de aproveitamento do babaçu pelos Mura. Como eles estão, agora, na teia do mercado de consumo, o Ifam está desenvolvendo técnicas para estabelecer produtos agroindustriais do babaçu, e assim torna os Mura autossustentáveis no extrativismo“, adiantou.
Quanto a questão do uso de defensivos, Alvatir Carolino explica: “Como técnico e antropólogo, temos dialogado com muitos povos sobre produção agrícola. Temos, via Ifam, o curso de agroecologia, que orienta os povos indígenas que já vivem os fundamentos de uma sociedade de mercado para manter distância da chamada agricultura convencional que usa adubação sintética e o uso de biocidas, pois assim há possibilidade de aumentar a produção com produtos orgânicos“, afirmou.
“Está provado que os produtos orgânicos detêm um poder de mercado enorme no Brasil, ainda mais quando trazem selos de segurança alimentar. Com essa perspectiva é possível aumentar, em muito, a produção. Para se ter uma ideia, os produtos orgânicos na cidade de Manaus chegam a ser 300% mais caros que os convencionais. Trazendo selo de certificação com dois valores agregados, que são o fato de ser orgânico e de vir de uma terra indígena, esses produtos ganham ainda mais um enorme valor de mercado”, salientou Alvatir.
Produção
A pesquisa do IBGE trouxe, ainda, dados sobre a produção e as culturas mais praticadas entre as populações originárias. Entre os produtos mais cultivados pelos indígenas, de acordo com o Censo Agro 2017, estão a pimenta, o cará e a batata-doce. Na lavoura temporária, os produtos mais presentes nos estabelecimentos dirigidos pelos indígenas são, em ordem decrescente, a mandioca, o milho em grão, o abacaxi e o feijão fradinho.
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