Do XVº Congresso da ADFERSIT (Associação Portuguesa para o Desenvolvimento dos Sistemas Integrados de Transportes), que decorreu esta semana na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, saem duas conclusões principais. Por um lado, a prioridade de investir na ferrovia, meta agora suportada pelo PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) e estratégica no que diz respeito ao cumprimento dos desafios da descarbonização, mas também essencial para o aumento da competitividade nacional. Por outro, a urgência de vencer esta corrida contra o tempo que, diz Ricardo Paes Mamede, "é uma aposta que devia ter sido feita há 30 anos".
Para o professor no ISCTE, que participou num dos debates desta conferência, existem vantagens enormes na ferrovia, mas "não tenho expectativa excecional do seu impacto na economia". Mais otimista, Ricardo Mourinho Félix, defende que "não é só o que podemos ganhar, mas o que podemos perder". O vice-presidente do Banco Europeu de Investimento (BEI) acredita que os atuais desafios do setor dos transportes em geral serão igualmente oportunidades de aumentar a competitividade, apesar dos prazos curtos de financiamento do PRR e da capacidade de execução que "tem limites". Apesar disso, o ex-secretário de Estado salienta a importância de combinar esforços - estratégicos e de financiamento - entre setor público e privado para que todas as metas sejam atingidas. Ligar Lisboa e Porto numa hora e 15 minutos
Uma das prioridades definidas no Plano Ferroviário Nacional é a ligação de alta velocidade entre Lisboa e Porto, um objetivo de que se fala há décadas e que se prevê que permita transportar anualmente cerca de oito milhões de passageiros. "Trata-se de melhorar a mobilidade dos passageiros, especialmente neste troço da linha do Norte que está congestionado em vários pontos", aponta Pedro Moreira, presidente da CP - Comboios de Portugal. No entanto, na perspetiva de Miguel Cruz, "é preciso que esta seja uma alternativa com impacto económico e relevante". O presidente da IP - Infraestruturas de Portugal alertou, contudo, para a importância de que esta ligação não limite as escolhas do local do novo aeroporto, e que a tome em consideração na construção dos respetivos interfaces. Do lado do setor privado, Alberto Ribeiro, administrador do Grupo Barraqueiro, que detém a B-Rail, empresa com negócios na ferrovia, defende que é preciso avançar rapidamente. "Desde 1985 que se fala nesta ligação, sem um centímetro de linha feita, mas acredito que agora há vontade política", reforça.
Em jeito de conclusão, Pedro Siza Vieira, presidente do congresso, destacou as palavras do Presidente da República, que encerrou o primeiro dia de debate. "Este é o tempo de execução e de ultrapassar os impasses num conjunto de áreas dos transportes". Atualmente, disse, o país dispõe de recursos financeiros limitados no tempo, que contribuirão para a eficácia dessa execução. Sobre a nova linha de alta velocidade, acredita que "é o investimento público mais decisivo, transformador e estruturante dos últimos anos", que ajudará a construir uma grande área metropolitana atlântica que permitirá intensificar o transporte de passageiros mas também o de mercadorias, ligando ao futuro aeroporto e, mais tarde, aos portos, e rentabilizando a infraestrutura.
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