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segunda-feira, 31 de outubro de 2022

MovRioDouro acusa: efluentes vinícolas não tratados poluem gravemente



Em 2021, foram despejadas para o Douro 60 a 180 “piscinas olímpicas” de efluentes vinícolas não tratados o MovRioDouro apela a compromisso político no combate aos efluentes vinícolas não tratados e recorda estudo da UTAD que alerta para os problemas da poluição provocados pela indústria vitivinícola

De acordo com estudo, em termos de carga orgânica, os efluentes provenientes das adegas são 10 a 100 vezes mais poluentes que os efluentes urbanos.

Movimento estima que, só em 2021, foram produzidos entre 1,5 a 4,5 milhões de hectolitros de efluentes (o equivalente a 60 a 180 piscinas olímpicas)

O MovRioDouro, movimento de cidadania em defesa dos rios da Bacia Hidrográfica do Douro, quer um compromisso político no combate aos efluentes vinícolas não tratados. Um estudo, elaborado por um investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e divulgado agora pelo movimento, dos problemas de eutrofização causados pela indústria do vinho nos rios da bacia hidrográfica.

No final de 2021, arrancaram as comemorações dos 20 anos da classificação do Douro Património Mundial da UNESCO, uma região rica do ponto de vista cultural, económico, social e, também, gastronómico.

Segundo o Instituto da Vinha e do Vinho para 2021/2022 estima-se que a produção de vinho na Região do Douro alcance os 1,5 milhões de hectolitros de vinho. A região do Douro e Porto terá sido a que registou o maior acréscimo da produção de vinho – um crescimento de 20%.

Um estudo levado a cabo por António Pirra, investigador da UTAD, e divulgado agora pelo MovRioDouro, dá a conhecer alguns dos impactos que esta indústria tem no Douro e seus afluentes. De acordo com o estudo “As adegas e o ambiente: Gestão e tratamento da água na Região Demarcada do Douro”, os efluentes vinícolas são altamente poluentes (cerca de 10 a 100 vezes mais poluentes que os efluentes urbanos, em termos de carga orgânica). No Douro, uma adega produz, em média, cerca de um a três litros de efluentes por cada litro de vinho produzido. Significa, portanto, que, no ano passado, foram produzidos entre 1,5 a 4,5 milhões de hectolitros de efluentes provenientes desta indústria.
A pergunta que se impõe é: qual é o tratamento dado às águas de lavagem utilizadas no processo de produção do vinho?

“Os principais problemas detetados tem a ver com os consumos de água e das condições em que são gerados os efluentes vinícolas, originando fenómenos de poluição orgânica, com impacto nas comunidades aquáticas e na qualidade da água para consumo humano, a que se adicionam os problemas causados nas próprias ETARs municipais causados pela variabilidade/sazonalidade da sua produção”, esclarece Rui Cortes, membro do MovRioDouro e investigador da UTAD. “O impacto negativo dos efluentes vinícolas sente-se, quer ao nível da poluição dos cursos de água na proximidade das adegas pela falta generalizada de Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) individuais adequadas, quer pelo efeito do mau funcionamento das ETAR municipais, vocacionadas para o tratamento de efluentes domésticos, muito menos poluentes e de composição muito diferente dos efluentes vinícolas”, acrescenta.

“É necessário utilizar muita água para fazer um bom vinho”
De grande importância para a fileira vitivinícola, o uso da água é fulcral na higiene e elaboração do vinho. As águas de lavagem utilizadas, resultantes das diversas operações que se realizam na adega, são fontes reais de poluição, mesmo que se considerem apenas os constituintes naturais das uvas e do vinho. Com efeito, a matéria orgânica presente nos efluentes vinícolas, assim que chega ao meio recetor, inicia a sua degradação, dando início a uma rápida multiplicação de microrganismos que usam o oxigénio dissolvido, introduzindo perturbações no equilíbrio biológico dos cursos de água.

Reconhecendo o impacto económico, social, cultural e ambiental da produção de vinho no Douro, o MovRioDouro apela a uma maior fiscalização, por parte das entidades competentes, e a um compromisso com a denúncia das más práticas pela classe política e pelas pessoas apreciadoras da região, do seu vinho e do seu rio.

“É necessário utilizar muita água para fazer um bom vinho e, no geral, as adegas de maior dimensão continuam sem dar grande atenção ao destino dos seus efluentes e resíduos sólidos, situação que se deve por um lado à falta de sensibilidade ambiental e ao desinteresse dos proprietários, motivados pela deficiente fiscalização e consequente impunidade da infração e, por outro lado, pela falta de conhecimento e preparação técnica dos responsáveis da adega na área dos efluentes. Esta questão assume, por isso, importância relevante dado o não cumprimento da legislação em vigor”, esclarece António Pirra, responsável pelo estudo.

Para o investigador da UTAD, “a fileira vitivinícola, como todos os outros setores, deve minimizar o seu impacto ambiental, adaptando as tecnologias de produção aos constrangimentos ambientais, como a redução dos consumos de água e da quantidade de efluentes, e introduzindo sistemas de tratamento de efluentes eficientes, adaptados às especificidades das adegas, nomeadamente no que respeita à sua pequena e média dimensão e ausência de mão-de-obra especializada”.

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