A União Europeia já aprovou cinco pacotes diferentes de sanções à Rússia, numa tentativa de travar a guerra na Ucrânia, ou de, pelo menos, dificultá-la, mas uma das grandes resistências europeias são as sanções ao gás natural, combustível fóssil do qual grande parte dos países, sobretudo da Europa Central, dependem. Afinal, quanto tempo poderá sobreviver a Europa caso decida sancionar o gás natural russo?
Esta sexta-feira surgiram duas respostas totalmente antagónicas, uma ocidental e outra do lado russo, uma baseada na técnica, outra na ironia.
A versão europeia, que vai até ao inverno
Vamos à primeira. O chefe do Departamento Europeu do Fundo Monetário Internacional (FMI) afirmou que a Europa será capaz de aguentar, sem grandes consequências, um embargo ao gás natural russo durante seis meses. Em entrevista à agência AFP, Alfred Kammer avisou que, para lá desse prazo, a situação pode complicar-se.
“Ao longo dos primeiros seis meses a Europa consegue lidar com tal embargo, tendo alternativas de fornecimento e usando o stock existente”, explicou.
De resto, alternativas é aquilo que o responsável pede, avisando os países europeus de que vários passos devem ser dados, entre os quais uma possível redução do consumo ou até uma construção de mais reservas. No caso da Alemanha, que é dos países mais dependentes, mais de um terço da energia consumida é proveniente do gás natural russo. Portugal, como teve oportunidade de dizer o então ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, é dos que sofrerá menos em caso de embargo.
“A nossa dependência em relação à Rússia é residual no domínio do gás. Portugal tem uma dependência mínima face à Rússia”, disse, a 4 de março, à margem de uma reunião em Bruxelas.
O prazo colocado por Alfred Kammer termina perto do início do inverno, altura mais crítica, em que o consumo de energia, nomeadamente de eletricidade, é maior: mais ares condicionados para o frio no centro da Europa e menor luz diária.
“Se o embargo durasse até ao inverno, e durante esse período, isso teria efeitos significativos”, referiu o diretor do FMI.
Quanto a números, o responsável aponta que a União Europeia poderá perder cerca de 3% do seu Produto Interno Bruto em caso de embargo a todos os combustíveis fósseis russos, um número que poderia ser ainda maior caso o inverno fosse mais rigoroso.
Será por isso que países como Alemanha, Áustria ou Hungria se mostram tão relutantes a este embargo. O chanceler alemão, Olaf Scholz, ainda esta sexta-feira veio dizer que sanções ao gás natural não colocariam um fim à guerra, enquanto Áustria e Hungria já deixaram claro que esse embargo está para lá daquilo que os países estão disponíveis a fazer.
Para a Rússia, a Europa não dura nem uma semana
O vice-presidente do Conselho de Segurança da Federação Russa afirmou que a Europa não duraria uma semana caso decidisse deixar de importar gás natural russo.
Citado pela agência estatal TASS, Dmitry Medvedev reagiu assim a um documento em que a Comissão Europeia dá conta de que as empresas europeias vão poder continuar a comprar gás natural russo em euros e dólares sem quebrarem as sanções em vigor.
“A Comissão Europeia permitiu o pagamento do gás natural em rublos e acredita que o decreto do presidente da Rússia ainda pode ser aplicado nos negócios europeus. Apreciamos a consistência e a integridade dos nossos parceiros europeus”, disse, com clara ironia, através do Instagram.
Em tom mais sério, o também antigo presidente da Rússia comentou os mais recentes dados do FMI, dados por Alfred Kammer. “Vamos ser sérios, não durariam uma semana”, afirmou Medvedev.
A importância do consumidor
O primeiro-ministro de Itália perguntou se preferíamos "a paz ou o ar condicionado", enquanto o governo alemão já pediu contenção no consumo, com o responsável pela Economia e Ação Climática a sugerir mais bicicletas e menos veículos.
Alfred Kammer concorda e olha para o consumidor como alguém com papel-chave. O diretor europeu do FMI pede a governos e populações que aumentem as "campanhas públicas para reduzir o consumo de energia".
"O consumidor pode agir agora", defendeu, acrescentando que essa redução pode significar mais combustível armazenado.
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