Quatro portugueses publicaram a 20 de Janeiro de 2022 um artigo de opinião na revista científica “Nature” dedicado à maior área marinha protegida da Europa que nasceu em Novembro nas ilhas Selvagens, arquipélago da Madeira.
O artigo – assinado por Filipe Alves, investigador do MARE-Madeira, em nome de Jonas Becas, João Canning Clode (também do MARE-Madeira) e de Paulo Oliveira (do Instituto de Florestas e Natureza da Madeira) – teve como principal objectivo “contribuir para chamar a atenção para que outras nações sigam o exemplo de Portugal”, explicou à Wilder Filipe Alves.
O valor “incalculável” da biodiversidade das Ilhas Selvagens foi a razão que motivou o governo regional da Madeira a expandir, em Novembro de 2021, a área marinha protegida em redor das Selvagens, criando a maior área marinha protegida com protecção total da Europa, com mais de 2.600 km2.
Nesse território com 2.677km2, numa área de 12 milhas náuticas ao redor das Ilhas Selvagens, todas as espécies aí existentes passam a estar totalmente protegidas de atividades extrativas, como a pesca ou a exploração de inertes.
Esta decisão foi suportada por estudos científicos, jurídicos e por dados recolhidos em expedições realizadas nos últimos anos.
“A notícia da extensão da reserva das ilhas Selvagens foi muito circulada nas redes sociais e em muitos media, mas em particular esta publicação na ‘Nature’ atinge um público-alvo diferente ou, pelo menos, alarga o leque do público a abranger”, comentou Filipe Alves, coordenador do programa de telemetria de cetáceos do MARE-Madeira & Observatório Oceânico da Madeira / ARDITI.
“Já há algum tempo que víamos o papel relevante que Portugal estava a ter na conservação de áreas marinhas.” O investigador lembrou que o nosso país é “um dos 14 países que assumiram perante as Nações Unidas proteger de forma sustentável a totalidade das suas águas até 2025” e lembrou “a quantidade de reservas que tem proposto e criado no país inteiro”.
Mas aquilo que os motivou agora a submeter o artigo a “uma revista de grande impacto como a ‘Nature'” foi a “recente extensão da reserva das ilhas Selvagens, pela magnitude (área e tipo de proteção integral) e visibilidade que teve”.
A ideia é inspirar outros países a seguirem o exemplo, em nome da conservação das espécies marinhas que vivem nas suas águas.
Quanto às Selvagens, são inúmeras as espécies a beneficiar com a extensão da área marinha protegida. Entre elas, os cetáceos. No âmbito do programa de seguimento de cetáceos do MARE-Madeira & Observatório Oceânico da Madeira / ARDITI, já é possível saber, por exemplo, que “alguns dos animais com biomarcadores de satélite têm alguma preferência pela área em redor das ilhas Selvagens”, explicou o investigador.
Mas para conhecer melhor a biodiversidade da região, Filipe Alves adiantou que “está nos planos do MARE-Madeira a realização de uma futura expedição científica às ilhas Selvagens, à semelhança da realizada recentemente na ilha do Porto Santo“.
E não são só os investigadores que podem contribuir para este esforço de conservação marinha nas Selvagens. Segundo Filipe Alves, os principais utilizadores do mar devem respeitar a legislação, nomeadamente quanto aos limites de pesca e tamanhos de captura. A sociedade em geral também tem um papel importante, como por exemplo o “colocarmos o lixo, em especial o plástico, nos locais apropriados dado que o lixo marinho representa uma grande ameaça à vida selvagem”.
“Mas diria que, de uma forma geral e mais importante, temos que mudar a nossa visão e respeito para com a natureza. E isto é muito difícil. Só se poderá atingir com educação ambiental e isso levará gerações. Mas é o caminho…”
Actualmente, menos de 8% do oceano é hoje protegido. O objectivo das Nações Unidas é conseguir proteger, pelo menos, 30% até 2030.
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