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quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Genetically modified food a step closer in England as laws relaxed


The prospect of genetically modified foods being grown and sold in the UK has come a step closer after changes to farming regulations that will allow field trials of gene edited crops in England.

Companies or research organisations wishing to conduct field trials will still have to notify the Department for Environment, Food and Rural Affairs, the government announced on Wednesday, but existing costs and red tape will be removed so more trials are likely to go ahead.

The immediate change is small, and affects only England, but the government says it will be followed by plans for new primary legislation that will allow far greater use of gene editing in crops in the UK, and a redefinition in law of genetic modification.

That could open the way to the sale of gene-edited crops developed in the field trials, and to further steps such as gene editing in animals, and potentially the production and sale of genetically modified organisms in the UK.

Science can rescue farming. Relaxing gene editing rules should be the start

George Eustice, the environment secretary, said: “Gene editing has the ability to harness the genetic resources that nature has provided. It is a tool that could help us in order to tackle some of the biggest challenges that we face – around food security, climate change and biodiversity loss.”

Ministers are keen to use Brexit to allow gene editing, a form of genetic modification that is heavily restricted in the EU, to be used in the UK, despite a public consultation that found 87% of people who responded viewed gene-edited crops as a greater risk than traditional crop breeding methods.

Gene editing involves using and modifying genes already found in an organism, unlike other forms of genetic modification, which can use genes imported from other plants or animals. Gene editing can be used to mimic the effects of traditional plant breeding but is accelerated as it is done in a laboratory instead of requiring years of repeated selective breeding.

Proponents say gene editing could safely be used to develop crops with increased yields or additional nutritional benefits, or that would be resistant to pests and disease and withstand drought, high temperatures or other effects of climate breakdown.

Scientists welcomed the changes. Angela Karp, the director and chief executive of Rothamsted Research, which had a field trial for gene-edited wheat approved before the changes, said: “Gene editing gives us a powerful new tool to accelerate the generation of plant varieties that can potentially be more nutritious, more resilient against climate change and grown with a reduced environmental impact.

“We look forward to building on our science in gene editing to help deliver the crops farmers will need to deliver on Cop26 emissions targets and beyond. We will now be able to scale up our field scale studies and accelerate the creation of new varieties that can future proof our farming.”


An anti-GM crop demonstrator from Earth First protesting in July 2000 at the site of Scotland’s only approved trial site for the crops near Daviot, Aberdeenshire. England plans to relax its GM crop rules. Photograph: Ben Curtis/PA

Guy Poppy, professor of ecology at the University of Southampton, also welcomed the development but said: “While I understand why Defra propose a proportionate step-by-step process, I do fear that the travel along that path will be slow, complex and fraught with continuing claims and counterclaims.”

However, campaigners said the government was overriding public concern on the issue. Liz O’Neill, director of umbrella group GM Freeze, said: “Genetic engineering – whatever you choose to call it – needs to be properly regulated. The government wants to swap the safety net of proper public protections for a hi-tech free-for-all – but our food, our farms and the natural environment deserve better.”

She added: “This announcement is described as a response to Defra’s consultation on the regulation of genetic technologies. However, no detail has been made available [at the time of writing] on what George Eustice actually learned from the exercise. The consultation submissions that GM Freeze has seen raised a wide range of concerns about Defra’s proposals for dismantling GM safeguards, but this announcement suggests the minister isn’t listening.”

Joanna Lewis, the director of policy and strategy at the Soil Association, said gene editing was the wrong approach and the government should instead focus on helping farmers become more sustainable.

“What would help is a reversal of the … lack of investment in agro-ecological, nature-friendly methods and farmer-led technology,” she said. “We should be investing in solutions that deal with the cause of disease and pests in the first place, including a lack of crop diversity, the decline in beneficial insects, and animal overcrowding. We must increase soil carbon, wildlife and animal welfare on farms to solve the climate and nature crises, and protect human health.”

Gideon Henderson, the chief scientific adviser at Defra, said the government was looking closely at the implications for any changes to the UK law on GM organisms for future trade deals. The EU and some other countries impose heavy restrictions.

Even if GM organisms and associated products were omitted from trade deals, there could be concerns that other agricultural goods could be affected – in crops, by potential cross-contamination, and in the case of meat by livestock consuming GM crops.

Recomeçar


«Temos de agradecer à vida as possibilidades que nos dá de recomeçar. Penso na máxima repetida por Santo António Abade, fundador do monaquismo. De forma lapidária, ele explicava: “Em cada manhã digo ao meu coração: hoje começo.” Mas pode acontecer que perante a ideia de recomeçar nos sintamos impreparados. Como quando os “regressos” de setembro parecem requerer um suplemento de energia e um alento que havíamos jurado recuperar no período de férias, mas que percebemos agora que não foi assim. Ou quando o tempo fora de nós (o das agendas, dos ciclos de trabalho, da pressão social) não coincide exatamente com o tempo interior que estamos a viver. Na verdade, porém, isso não constitui um obstáculo para recomeçar.
O sentimento de impreparação, quantas vezes não o experimentámos já! De certa maneira, e na proporção devida, é condição do próprio recomeço. Sem ele não nos sentiríamos principiantes (que é a maneira mais bela de honrar a vida); não olharíamos para o que vem como um horizonte aberto, do qual há tanto a aprender; não nos tornaríamos exploradores do casual e do novo; não irromperíamos tremeluzentes como o fazem as dezenas de flores que escolhem florescer não na primavera, mas em pleno outono (por exemplo, a flor do medronheiro, as candeias, o açafrão-bravo, a torga). Sempre que recomeçamos, a vida nos toca com maior intensidade. E se insiste em mobilizar em nós uma força súbita, um impulso e um ardor cuja evidência não vemos é, no fundo, para nos despertar, para nos demonstrar que tal é possível, e nos introduzir, desse modo, numa tensão criativa que não é senão a forma plástica que resgata a vida da rigidez, da estase ou do desânimo.
Encaremos, portanto, com confiança os recomeços, tão vitais mesmo na sua exigência; tão propícios, ainda se nos colhem num movimento desfasado, com perplexidades e demoras. Hannah Arendt escreveu: “O curso da vida humana, direcionado para a morte, conduziria o ser humano ao declínio e à destruição se este não tivesse a faculdade de interrompê-lo e de iniciar algo de novo... Os seres humanos, mesmo se devem morrer, não nasceram para morrer, mas para começar.” Somos chamados a isso em ocasiões diferentes da nossa vida, e as causas podem ser muito concretas: um sofrimento ou uma alegria, uma transformação, um objetivo a atingir. Mas podem ser também razões mais amplas, como se começar/recomeçar se tornassem simplesmente a nossa atitude perante a existência, como o Padre do deserto, Santo António Abade, propunha.
Essa espécie de lento parto que recomeçar significa não está dito que seja indolor. Contudo, será sempre melhor do que passar pela vida que nos pertence como um estranho, sem chegar nunca ao seu âmago, sem ter compreendido apaixonadamente o que se pode entender e olhado, com consciente espanto, a porção irremovível de mistério nela contida. Um coração amadurecido sabe que a vida não se consuma em campos necessariamente alternativos (ou isto, ou aquilo), mas espera de nós a capacidade de desenhar complementaridades. É na noite que a aurora começa. Não raro, os risos mais inesquecíveis chegam acompanhados de abundantes lágrimas. E, com a perceção dos nossos limites, aprendemos a conhecer não apenas a impotência, mas também possibilidades que não víamos. Avizinhamo-nos melhor daquilo que somos. O poeta Miguel Torga contava assim como chegou à escolha do seu pseudónimo: “Torga é uma planta transmontana, urze campestre, cor de vinho, com as raízes muito agarradas e duras, metidas entre as rochas. Assim como eu sou duro e tenho raízes em rochas duras.”»
José Tolentino Mendonça

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Professores da Lousada vão ter formação no método Forest School


Vai decorrer na Lousada uma formação dirigida a educadores-de-infância e professores do 1.º ciclo do ensino básico, para que fiquem habilitados a dar aulas ao ar livre. O curso tem a duração de cinco dias (16, 17, 22, 23 e 24 de outubro) e tem uma carga horária de 35 horas, que vão das 09h00 às 17h00.

A formação que irá capacitar para a metodologia ‘Forest School’, está acreditada pelo Centro de Formação do Agrupamento de Escola Sousa Nascente. Esta metodologia baseia-se num conceito, que surgiu na Dinamarca, em 1950, quando Ella Flatau criou um “Jardim Infantil em Movimento”, onde as crianças caminhavam, todos os dias, na floresta.

A metodologia atual aposta em sessões de aprendizagem ao ar livre, permitindo reforçar a ligação das crianças com a natureza, tornando-as resilientes, confiantes, independentes e criativas.

De acordo com o município, há cada vez mais “evidências científicas que provam que a natureza tem um efeito positivo na saúde e no bem-estar físico e psicológico das crianças”, constituindo “um espaço único de experimentação, aprendizagem integral, autónoma e estimulante”.

A formação vai ocorrer na Mata de Vilar, a maior mancha de floresta nativa do concelho e um dos espaços verdes mais emblemáticos de Lousada, e será dinamizada por professores credenciados e com vários anos de experiência.

As inscrições decorrem até ao dia 11 de outubro.

Poderá enviar um e-mail para a autarquia de Lousada para colocar as suas dúvidas: matadevilar@cm-lousada.pt

A Póvoa de Varzim acordou com grafittis de protesto pelo clima. Mas eram só montagens



O que é mais imoral: um graffiti ou a destruição ambiental? Foi nisto que a associação Pathos quis pôr a Póvoa de Varzim a pensar. Como? Disseminando imagens de diferentes locais da cidade com mensagens de protesto pelo clima neles gravados. "Está na hora de ouvir o planeta", "Não há planeta B", "Rezar só não chega", "Quando não houver mar, onde vais pescar?", lia-se em diversos monumentos, edifícios e cartazes que lembram as eleições autárquicas deste domingo. As imagens chocaram muitos, mas, esta terça-feira, 28 de Setembro, um dia depois de as imagens começarem a circular nas redes sociais, o choque chegou ao fim: os grafittis eram, afinal, montagens. E os edifícios estão intactos.

A acção partiu da "vontade de sensibilizar a comunidade para a importância da conservação ambiental", começou por explicar Luís Miguel Sandão, vice-presidente da associação juvenil cultural sediada na Póvoa de Varzim. Apesar de se focarem essencialmente no teatro, também faz parte do grupo a vontade de "sensibilizar a comunidade para assuntos de interesse geral", seja a conservação ambiental, a actividade política, a igualdade de género ou a importância da literacia.

Esta acção é a prova disso: "Aproveitámos este período imediatamente a seguir às eleições e, portanto, ao período de campanha, para também, à semelhança dos vários partidos, invadir o espaço público", refere o jovem de 24 anos. O objectivo era "provocar algum questionamento acerca da moralidade deste tipo de vandalismo", para depois assumirem autoria da acção e "estabelecer este paralelismo entre o que é a imoralidade do vandalismo do espaço e de instituições públicas e o vandalismo do planeta Terra feito pela humanidade". Afinal, qual é pior? Um justifica o outro?

A táctica para fazer a acção acontecer foi simples e bastante eficaz: pediram, esta segunda-feira, 27, a algumas pessoas próximas da associação que divulgassem as fotografias adulteradas, como se tivessem sido captadas por si, para apenas esta terça-feira esclarecerem o sucedido. Até ser divulgada a explicação da campanha — da mesma forma que foram espalhadas as imagens, isto é, no Facebook —, os comentários à mesma tinham sido essencialmente de indignação; mas, assim que a associação explicou que as imagens não passavam de montagens, o cenário mudou e chegam-lhes, principalmente, mensagens positivas. "Se estes actos de vandalismo tivessem acontecido era errado; abominamos este tipo de acções. Ainda assim, houve pessoas que conseguiram retirar alguma coisa e encontraram uma intenção valiosa por detrás da acção [antes de saberem que era mentira]", remata.

"Ainda que os actos de vandalismo que ontem partilhámos tenham sido apenas fotomontagens, o vandalismo do planeta que diariamente perpetuamos é bem real — todos os dias continuamos a agredir o maior dos espaços comuns, aquele que partilhamos, que é de todos, e que está a morrer", escreveram na publicação feita no Facebook. "Incentivamos todos aqueles que se revoltaram a continuarem com essa revolta e a insurgirem-se contra o vandalismo feroz que todos praticamos diariamente", lê-se.

Alterações Climáticas – O que é que cada um de nós pode fazer? Muito e já!

                                

Diariamente todos temos sido inundados de notícias sobre as alterações climáticas: incêndios gigantescos, inundações destruidoras, secas, chuvas torrenciais, degelo dos glaciares, acidez dos oceanos, ilhas de plástico, níveis altíssimos de poluição atmosférica, etc.

Ouvimos, lemos, vemos, e parece que já nos entrou no quotidiano das nossas vidas.

Incêndios incontroláveis no Canadá e nos Estados Unidos com pequenas cidades destruídas e eliminadas dos mapas, com incêndios gigantescos na Sibéria, na Amazónia, na Austrália e na Argélia, além daqueles que anualmente já nos parecem “normais” no sul da Europa. Já parámos para pensar que não é só o CO2 libertado por esses gigantescos incêndios, são os milhões, sim milhões de hectares de florestas que deixaram de existir e que no futuro não estarão lá estes milhões e milhões de árvores para absorverem o CO2 que até agora absorviam?
Estamos a ser cozinhados em lume brando, passivos e tranquilos.
Hoje já todos sabemos que a Terra é redonda e que vivemos num ecossistema fechado e finito. A Humanidade vive numa espécie de nave espacial, a que chamamos Terra, e todos somos viajantes da mesma “nave espacial”, não há forma de sair, de mudarmos de casa.

Provavelmente, nos próximos anos a Humanidade conseguirá instalar algumas colónias de Humanos na Lua ou em Marte, serão algumas centenas de seres humanos, só isso, ponto. Somos atualmente 7.890.000.000 de seres humanos. A Organização das Nações Unidas (ONU) acaba de divulgar a primeira parte do 6.º Relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC – Intergovernmental Panel on Climate Change) que é muito mais do que um alerta para toda a Humanidade. É o resultado de estudos científicos de centenas de cientistas, investigadores e meteorologistas, fruto de dezenas de anos de estudos, e, provavelmente, o último aviso da comunidade científica mundial sobre os efeitos das emissões de gases de efeito de estufa e das consequentes alterações climáticas que estarão a iniciar um período irreversível de destruição das condições de vida da Humanidade no planeta Terra.

O próximo aviso poderá vir já tarde demais para todos nós.

Este Relatório do IPCC (utilizo a sigla em inglês por ser a mais divulgada) é tornado público três meses antes da realização da COP 26, a Conferência das Partes (Conference Of Parts – COP) que se realizará em Glasgow entre os próximos dias 1 e 12 de novembro. Esta será muito provavelmente a última oportunidade dos governantes e líderes mundiais, tomarem consciência da gravidade da situação, e de acordo com as previsões da comunidade científica internacional adotarem – sem mais hesitações –, medidas comuns e globais que possam mitigar os efeitos das alterações climáticas e preparar a Humanidade para a forma como teremos que viver num futuro que se afigura cada vez mais próximo. As conclusões deste Relatório do IPCC apontam para alterações nunca detetadas pela comunidade científica, comprovadamente provocadas pela ação das atividades humanas, e que demorarão centenas ou mesmo milhares de anos a poderem ser revertidas, algumas muito provavelmente já serão praticamente irreversíveis, como por exemplo a subida do nível dos mares.

O que nos espera?
O ciclo da água será fortemente afetado pelas alterações climáticas, com chuvas intensas e muito concentradas no tempo com as consequentes cheias devastadoras e secas muito prolongadas em diferentes regiões, conforme a latitude, mais chuva nas latitudes mais altas e mais seca nas regiões sub-tropicais;
O aquecimento global est á a provocar a aceleração do degelo do permafrost, mais intenso em regiões do círculo polar ártico, a perda de gelo dos glaciares das grandes cadeias montanhosas de todo o Mundo, sem a respetiva reposição sazonal das calotes geladas, e o degelo dos grandes mantos de gelo, especialmente da Gronelândia, mas também da Antártida;
O aquecimento dos mares, a sua acidificação, a redução dos seus níveis de oxigénio, são eventos claramente apontados à atividade dos humanos. Estas alterações nos oceanos estão a afetar os respetivos ecossistemas marinhos e todas as populações que vivem diretamente do que os oceanos lhes proporcionam;
Não faltará muito para que a existência do plástico nos mares se sobreponha à população dos animais marinhos. Uma das ilhas de plástico no Oceano Pacífico já ocupa a área equivalente à da Alemanha, França e Espanha em conjunto;
Nas cidades muito do já referido será amplificado, pela impermeabilização dos terrenos, pela prevalência do betão e do asfalto em detrimento das árvores, dos arbustos e de terra, provocando temperaturas muito mais elevadas nas áreas urbanas.
O aumento significativo das emissões de metano com efeitos muito mais terríveis que as emissões de CO2.
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Estamos condenados?

Existe ainda uma pequena, mas é mesmo pequena, muito pequena, janela de oportunidade de inverter a situação catastrófica para a qual nos dirigimos a uma velocidade cada vez maior, ou no mínimo podermos abrandar o ritmo de destruição das condições de vida para os Humanos no planeta Terra e dar-nos tempo para nos adaptarmos à nova situação e às novas condições climatéricas que nos esperam, conforme também já nos alertou David Attenborough num dos seus últimos e dramáticos apelos, no documentário, “A Life On Our planet”.

Imprescindível também o documentário “Before the Flood” da National Geographic, produzido por Leonardo Di Caprio. Existem muitos outros documentários, no entanto, estes dois aqui referidos serão suficientes para tomarmos consciência da gravidade da situação que afetará irreversivelmente as gerações que já nasceram, portanto muitos de nós (os que não morrerem antes), os nossos filhos e os nossos netos.

Já ultrapassámos o ponto do não retorno, já não é possível evitar enormes e drásticas mudanças na forma como utilizamos os recursos naturais, na forma como consumimos e produzimos a nossa alimentação, equipamentos e bens diversos, como nos divertimos ou nos movimentamos de um lugar para outro. Urge mudar o modelo de desenvolvimento baseado nos combustíveis fósseis, urge parar a utilização dos combustíveis fósseis.

A União Europeia, no passado mês de julho, lançou o Pacto Climático (Green Deal), anunciado em dezembro de 2019, aprovado pelo Parlamento Europeu em janeiro de 2020, e que pretende atingir a neutralidade carbónica em 2050, sendo que para tal tem como objetivo a redução em 55% das emissões de gases com efeito de estufa em 2030 em relação às emissões de 1990.

De um enorme conjunto de medidas que terá um impacto direto na indústria automóvel, no transporte aéreo e marítimo, na produção alimentar, na preservação dos ecossistemas e da biodiversidade, na produção de energia, uma, tem um impacto direto no mundo automóvel: a proibição da venda de veículos com motores de combustão interna, incluídos os com motores a gasolina, a gasóleo e os híbridos plug-in, a partir de 2035 em todo o espaço da União Europeia.Alguns países na União Europeia e na restante Europa já anunciaram datas limite para a proibição da venda de veículos com motores de combustão interna anteriores, são o caso da Noruega (2025), Islândia, Suécia, Holanda e Irlanda (2030).

O que é que cada um de nós pode fazer? Muito e já!
Pensar Global, Agir Local!

Não me focarei nas grandes alterações ao nível da alimentação (consumir menos carne, consumir produtos locais), do consumo de bens (Reduzir, Reutilizar, Reciclar), na redução das deslocações aéreas ou marítimas em aviões ou barcos com motores que utilizem combustíveis fósseis, na redução da utilização de plásticos, no aumento da eficiência energética das nossas casas com a respetiva redução do consumo de eletricidade, na produção local e renovável de eletricidade, etc.

Vou focar-me nos veículos que utilizamos para nos deslocarmos no dia-a-dia ou em viagens grandes ou pequenas.
  • Privilegiar o andar a pé, a utilização dos modos de mobilidade suave, bicicleta, trotinete, etc;
  • Privilegiar os transportes elétricos, o comboio, o metro, o autocarro, o elétrico tradicional, o automóvel, o motociclo, o ciclomotor, a bicicleta, etc;
  • Privilegiar os transportes públicos, de preferência elétricos e quando tal seja possível;
  • Utilizar no transporte particular, veículos exclusivamente elétricos;
  • Reduzir, se possível parar, o consumo de combustíveis fósseis.
  • Não consumir bens e serviços fúteis.

Claro que nem tudo é possível, e menos ainda no imediato, mas isto é o que deverá ser feito por todos para ainda irmos a tempo de evitar a catástrofe que se avizinha para toda a Humanidade.

O modelo de desenvolvimento tem que deixar de estar assente nos combustíveis fósseis e passar a ser um modelo de desenvolvimento baseado nas energias renováveis. Para um país como Portugal é perfeitamente possível produzir toda a energia necessária à sua economia (das pessoas e das empresas) através do recurso às energias renováveis: a hídrica, a eólica, a geotérmica (nos Açores) e, principalmente, a fotovoltaica que está muito pouco desenvolvida em Portugal, privilegiando a produção local. Portugal já hoje atinge níveis de produção de eletricidade de fontes renováveis de 70% e podemos fazer mais, podemos e devemos, sem perda de tempo.

Os veículos elétricos servirão como armazém dessa eletricidade e permitirão uma melhor gestão da rede de distribuição de eletricidade em Portugal, pois poderão armazenar a eletricidade produzida pelas eólicas durante a noite, enquanto carregam, quando o seu consumo é muito reduzido, permitindo a sua utilização durante o dia.

Esta é a mensagem final: todos podemos, devemos, temos, que fazer algo.

Porque não trocar o seu veículo com motor de combustão interna por um veículo elétrico?

Os seus filhos agradecerão.

Mais imagens e fonte: aqui

Quanto vale o capital natural de um país?

Ao ser tratada como um bem livre e ilimitado, a natureza tem sido continuamente degradada sem se conhecer o valor dessa perda. De braço dado com o PIB, o novo Sistema de Contabilidade Económica Ambiental vai mostrar a riqueza integral de um país, não deixando mais a natureza de fora. Depois, é fazer contas.

Em março de 2021, a Organização das Nações Unidas (ONU) deu um passo decisivo no sentido de valorizar o capital natural existente no mundo: adotou uma nova forma de medir índices sobre economia e ambiente. "Um passo histórico e transformador na forma como vemos e valorizamos a natureza", descreveu na altura António Guterres, secretário-geral da ONU.

Com este novo parâmetro, denominado Sistema de Contabilidade Económica - Contabilidade do Ecossistema (SEEA EA, sigla em inglês), pretende-se assegurar o reconhecimento do capital natural, como florestas, rios, oceanos, desertos, pantanais e outros ecossistemas, como valor económico de um país, fazendo assim "concorrência" ao tradicional PIB, que tem servido para medir a riqueza nas últimas décadas. Com isto, já não será possível contabilizar uma determinada destruição ambiental como progresso económico, além de que o novo quadro ajudará a reformular decisões e políticas para o desenvolvimento sustentável dos países. Os novos parâmetros deverão estar em cima da mesa para a tomada de decisões na Conferência Internacional sobre Mudança Climática, COP-26, a ter lugar em Glasgow, na Escócia, em novembro deste ano.

Quanto vale então o capital natural do mundo? Para além do índice contabilístico, na prática, são precisas ferramentas que façam essa contagem à volta do planeta. Nada que, em pleno século XXI, a tecnologia não resolva. Uma dessas ferramentas foi lançada pela ONU em abril deste ano, no seguimento do novo SEEA EA, e é sustentada em inteligência artificial. A nova ferramenta digital de código aberto permite, pela primeira vez, uma contabilidade de ecossistemas rápida, padronizada e personalizável em qualquer lugar da Terra, segundo informa a ONU.

"O ARIES para SEEA Explorer representa uma mudança de jogo para os governos que desejam implementar o padrão SEEA EA recentemente adotado", enfatizou Stefan Schweinfest, diretor da Divisão de Estatística da ONU. "Esta aplicação permite que os países deem início à compilação de contas a partir de fontes de dados globais, que eles podem refinar com dados nacionais." As contas sobre o ecossistema produzidas pelos países rastrearão a extensão, condição e serviços fornecidos pelos ecossistemas em forma de contas e indicadores físicos e monetários.

Recuperar um mundo naturalmente descapitalizado

Cerca de 30% das árvores de todo o mundo estão em risco de extinção, segundo a última estimativa da Botanic Gardens Conservation International, divulgada neste mês de setembro. No universo dos peixes de água doce, uma em cada três espécies também está ameaçada de extinção, de acordo com o relatório "Peixes Esquecidos do Mundo", publicado em fevereiro deste ano por 16 organizações internacionais de conservação. Apenas dois exemplos das grandes perdas de capital natural que estão a ocorrer em todo o planeta a uma velocidade estonteante. Por isso, a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou 2021-2030 como a Década para a Recuperação dos Ecossistemas.

De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUMA), a degradação dos ecossistemas marinhos e terrestres afeta de modo relevante o bem-estar de 3,3 mil milhões de pessoas em todo o mundo, e tem associado um custo anual de cerca de 10% do produto bruto do planeta em termos de perda de espécies e de serviços dos ecossistemas essenciais para a alimentação, agricultura, gestão de água, etc. A emergência de ações de restauro é, portanto, global. Assim, a nível planetário, perspetiva-se a recuperação de 350 milhões de hectares de ecossistemas e solos degradados até 2030, o que poderá gerar 9 triliões de dólares em serviços dos ecossistemas, incluindo a dissipação de 13 a 26 gigatoneladas de gases com efeito de estufa.

No espaço europeu, o Pacto Ecológico Europeu põe a preservação e a recuperação do capital natural no centro da agenda política europeia e destaca a urgência da transição para um novo paradigma de desenvolvimento. A Estratégia de Biodiversidade para 2030, parte integrante do pacto, é o braço que assume os compromissos e ações específicas para recuperar a biodiversidade do espaço europeu até 2030. Por exemplo, alargar as zonas Natura 2000 atuais, bem como restaurar os ecossistemas degradados e geri-los de forma sustentável. No âmbito deste plano, a Comissão proporá objetivos de restauração da natureza vinculativos até ao final de 2021.

terça-feira, 28 de setembro de 2021

Coisas que o mundo inteiro deveria aprender com Portugal

Portugal é um país muito mais equilibrado do que a média e é muito maior do que parece. Acho que o mundo seria melhor se fosse um pouquinho mais parecido com Portugal.

Coisas que o mundo inteiro deveria aprender com Portugal
Ruth Manus
Dentre as coisas que mais detesto, duas podem ser destacadas: ingratidão e pessimismo. Sou incuravelmente grata e otimista e, comemorando quase 2 anos em Lisboa, sinto que devo a Portugal o reconhecimento de coisas incríveis que existem aqui – embora me pareça que muitos nem percebam.

Coisas que o mundo inteiro deveria aprender com Portugal
Casa portugues
Não estou dizendo que Portugal seja perfeito. Nenhum lugar é. Nem os portugueses são, nem os brasileiros, nem os alemães, nem ninguém.

Mas para olharmos defeitos e pontos negativos basta abrir qualquer jornal, como fazemos diariamente. Mas acredito que Portugal tenha certas características nas quais o mundo inteiro deveria inspirar-se.

Coisas que o mundo inteiro deveria aprender com Portugal
Cozinha francesa
Para começo de conversa, o mundo deveria aprender a cozinhar com os portugueses. Os franceses aprenderiam que aqueles pratos com porções minúsculas não alegram ninguém. Os alemães descobririam outros acompanhamentos além da batata. Os ingleses aprenderiam tudo do zero.

Coisas que o mundo inteiro deveria aprender com Portugal
Arroz de tomate
Bacalhau e pastel de nata? Não. Estamos falando de muito mais. Arroz de pato, arroz de polvo, alheira, peixe fresco grelhado, ameijoas, plumas de porco preto, grelos salteados, arroz de tomate, baba de camelo, arroz doce, bolo de bolacha, ovos moles.


Coisas que o mundo inteiro deveria aprender com Portugal
Vindima
Mais do que isso, o mundo deveria aprender a se relacionar com a terra como os portugueses se relacionam. Conhecer a época das cerejas, das castanhas e da vindima. Saber que o porco é alentejano, que o vinho é do douro.

Talvez o pequeno território permita que os portugueses conheçam melhor o trajeto dos alimentos até a sua mesa, diferente do que ocorre, por exemplo, no Brasil.

Coisas que o mundo inteiro deveria aprender com Portugal
Aldeias de Portugal
O mundo deveria saber ligar a terra à família e à história como os portugueses. A história da quinta do avô, as origens trasmontanas da família, as receitas típicas da aldeia onde nasceu a avó.

O mundo não deveria deixar o passado escoar tão rapidamente por entre os dedos. E se alguns dizem que Portugal vive do passado, eu tenho certeza de que é isso o que os faz ter raízes tão fundas e fortes.

O mundo deveria ter o balanço entre a rigidez e a afeto que têm os portugueses.

Coisas que o mundo inteiro deveria aprender com Portugal
Donald Trump – Jim Watson/AFP/Getty Images
De nada adiantam a simpatia e o carisma brasileiros se eles nos impedem de agir com a seriedade e a firmeza que determinados assuntos exigem. O deputado Jair Bolsonaro, que defende ideias piores que as de Donald Trump, emergiu como piada e hoje se fortalece como descuido no nosso cenário político. Nem Bolsonaro nem Trump passariam em Portugal. Os portugueses – de direita ou de esquerda – não riem desse tipo de figura, nem permitem que elas floresçam.

Ao mesmo tempo, de nada adianta o rigor japonês que acaba em suicídio, nem a frieza nórdica que resulta na ausência de vínculos. Os portugueses são dos poucos povos que sabem dosar rigidez e afeto, acidez e doçura, buscando sempre a medida correta de cada elemento, ainda que de forma inconsciente.

Coisas que o mundo inteiro deveria aprender com Portugal
Cravo vermelho

Todo país do mundo deveria ter uma data como o 25 de abril para celebrar. Se o Brasil tivesse definido uma data para celebrar o fim da ditadura, talvez não observássemos com tanta dor a fragilidade da nossa democracia. Todo país deveria fixar o que é passado e o que é futuro através de datas como essa.

Coisas que o mundo inteiro deveria aprender com Portugal

Afetos
Todo idioma deveria carregar afeto nas palavras corriqueiras como o português de Portugal carrega. Gosto de ser chamada de miúda. Gosto de ver os meninos brincando e ouvir seus pais chamá-los carinhosamente de putos. Gosto do uso constante de diminutivos. Gosto de ouvir “magoei-te?” quando alguém pisa no meu pé. Gosto do uso das palavras de forma doce.

O mundo deveria aprender a ter modéstia como os portugueses – embora os portugueses devessem ter mais orgulho desse país do que costumam ter. Portugal usa suas melhores características para aproximar as pessoas, não para afastá-las. A arrogância que impera em tantos países europeus, passa bem longe dos portugueses.

O mundo deveria saber olhar para dentro e para fora como Portugal sabe. Portugal não vive centrado em si próprio como fazem os franceses e os norte americanos. Por outro lado, não ignora importantes questões internas, priorizando o que vem de fora, como ocorre com tantos países colonizados.

Coisas que o mundo inteiro deveria aprender com Portugal
Portugal

Portugal é um país muito mais equilibrado do que a média e é muito maior do que parece. Acho que o mundo seria melhor se fosse um pouquinho mais parecido com Portugal. Essa sorte, pelo menos, nós brasileiros tivemos.

Autora: Ruth Manus é advogada e professora universitária e assina um blogue no Estado de São Paulo, Retratos e relatos do cotidiano

Jane Goodall’s Survival Guide


Before the pandemic, Jane Goodall travelled three hundred days a year to speak to audiences about the climate crisis. “I used to do, like, three days in the Netherlands, three days in Belgium, three days in France,” Goodall, who is eighty-seven, recalled recently. In China or Australia, “it would be, like, two weeks, where they’d spread me through their country.” Everywhere she went, she met young people who were “angry, depressed, or just apathetic, because, they’ve told me, we have compromised their future and they feel there is nothing they can do about it,” she writes in her twenty-first and most recent work, “The Book of Hope: A Survival Guide for Trying Times.” Amid flooding and wildfires, impassivity and eco-grief, the question she was asked most often was “Do you honestly believe there is hope for our world?”

She does, and she’ll tell you why. “The Book of Hope,” which she wrote with Douglas Abrams and Gail Hudson, is structured like a dialogue in which the naturalist (Ph.D., D.B.E., U.N. Messenger of Peace) plays whack-a-mole with the darkest fears we hold for our ailing planet. Stories of the human intellect and indomitable spirit abound. Also, the resilience of nature and the power of young people. Hope, she argues, is not merely “passive wishful thinking” but a “crucial survival trait.” She noted, “If you don’t have hope that your action is going to make a difference, why bother to do anything? You just become a zombie.”

Goodall was seated on a sofa in the drawing room of her childhood home, in Bournemouth, on the south coast of England. She had her hair in a ponytail and was wearing a Patagonia jacket with jeans, moccasins, and whale-print socks. Shuttered in the house since the outbreak began, Goodall has adopted a relentless schedule of online engagements, Zooming to multiple countries each day. “Virtual Jane has been busier than ever,” she said. “It’s hurting my voice, my eyes.” She has not taken a day off in a year and a half; she Zoomed twice on Christmas, launched a podcast called “The Hopecast,” and, in May, accepted the Templeton Prize (previous recipients include Mother Teresa and the Dalai Lama). “But the pluses!” she said. “I’ve reached literally millions more people in many more countries. I was in Tanzania this morning, and then I was in the Netherlands for an interview. Or is it Belgium?”

Goodall was sharing the Gothic-style house (built in 1872) with her sister, Judy, Judy’s daughter and grandchildren, and an aging rescue whippet named Bean. It’s not the first time the family has taken refuge there. “It was my grandmother’s,” she said. “Mum and Judy and I came here when the war broke out. World War Two.” In the garden, butterflies flitted by; Bean was asleep in an armchair. Growing up, there were always animals around, she said. Dogs, cats, “a couple of tortoises.” “Peter the canary, who used to fly around the whole house. Hamlet the hamster, who escaped and spent the rest of her life in the back of the sofa, coming out at night for food.”

In 1960, at the age of twenty-six, Goodall left England for Gombe National Park, in Tanzania, to study animals in the wild. She took her mother with her. (“Mum played a very important role.”) It was in Gombe that Goodall almost lost hope. She was up at dawn every morning, crawling through the forest with binoculars, looking for chimps. She would return to camp unsuccessful and depressed. Finally, a chimpanzee she called David Greybeard (“very handsome”) let her observe him using grass stems to collect termites, the report of which prompted Goodall’s mentor to send an exuberant telegram: “Ah! We must now redefine man, redefine tools, or accept chimpanzees as human!”

In the drawing room, Goodall checked the time: fifteen minutes until she needed to record a message for French university students. She poured herself a drop of whiskey. “When my voice goes like this, it’s the only thing that works,” she said. (It was a lifesaver when she had bronchitis at Davos.) Did she ever get tired? “I care about the future, I care about animals, I care about trees, I care about children,” she said. “And I’m obstinate and I won’t give in. I won’t be defeated by the Bushes, and the Putins, and the Bolsonaros, all these terrible, terrible people.”

Lately, Goodall has been working from an attic bedroom surrounded by objects that give her hope: a photograph of David Greybeard, a Native American talking stick, a bell made from a defused land mine. She climbed the stairs slowly, held up the bell, and rang it. “Special,” she said. She checked the time again. The French students beckoned. 

Fonte: New Yorker

O climatologista Carlos da Camara, em entrevista à VISÃO- "Vamos ter um clima no Sul de Portugal mais parecido com o de Marrocos? Sim, e temos de nos adaptar e mitigar os efeitos."


No final de junho, uma onda de calor nunca antes vista matou centenas (milhares?) de pessoas no Canadá e nos EUA. Duas semanas depois, um temporal de dimensões bíblicas abateu-se sobre a Europa Central, matando 200 pessoas e provocando prejuízos que podem chegar aos €3 mil milhões (há estimativas que apontam para €5 mil milhões).

Serão estes desastres causados pelas alterações climáticas? Quase certamente que sim, diz Carlos da Camara, professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e um dos mais experientes climatologistas portugueses. Munido de um gráfico que se assemelha à bossa de um camelo, o também investigador do Instituto D. Luiz explica que uma pequena subida da temperatura média provoca um enorme aumento probabilístico de fenómenos extremos como estes. “Coisas que pareciam inacreditavelmente impossíveis começam a tornar-se possíveis. E às vezes nem é assim tão dramático: basta um deslocamento pequenino para que aquilo que dantes acontecia uma vez em cada 100 anos passe a acontecer quatro vezes em cada cem. Mas, como é isso que mata, é isso que tem impacto.”
E isto é só o princípio.

A tragédia no Centro da Europa é uma consequência das alterações climáticas ou do mau planeamento urbano?
As pessoas começam a dizer: “Ah, isto não é das alterações climáticas, é porque construíram coisas em leito de cheia.” Não! Um fenómeno extremo com consequências catastróficas nunca é de uma só causa. É como quando cai um avião: é um conjunto de fatores raros que se intercetam. Por exemplo, o 15 de outubro de 2017, aquele dia trágico em que ardeu o País como nunca, teve vários fatores que conduziram ao desastre. Ponto um, os ventos do Ofélia: não era nada habitual um furacão chegar aqui. Era uma coisa rara que, não sendo frequente, se tornou muito menos rara. Ponto 2: uma seca terrível, outro fenómeno que é cada vez menos raro. Ponto 3: os agricultores precisavam de fazer queimadas porque depois vinha a chuva e já não conseguiam (nunca houve tantas ignições como naquele dia). Claro que construir em leito de cheia é perigoso. Só que na Alemanha não era habitual haver coisas destas. E isto só aconteceu por causa das alterações climáticas.

De que forma é que uma temperatura média mais alta pode levar a um aumento de fenómenos de precipitação intensa?
Os estados do tempo são determinados por coisas que se passam a muitos quilómetros de altitude. A corrente de jato é fundamental nisto. É uma espécie de tubos na atmosfera, com ventos de 400 ou 500 quilómetros por hora, que controlam o tráfego de sistemas meteorológicos que estão associados, por exemplo, à precipitação. A posição da corrente de jato está dependente do contraste térmico entre os trópicos e os polos. Ora, o Ártico e o Antártico estão a aquecer muito mais rapidamente do que os trópicos; esse contraste está a diminuir e a corrente de jato está a posicionar-se noutros sítios. Isso faz com que determinados sistemas meteorológicos que não eram habituais passem a ser menos raros.

Então a tragédia que aconteceu no Centro da Europa é o tipo de evento que podemos esperar que aconteça cada vez mais?
Inequivocamente, sim. E ainda há uma outra razão, além da questão da corrente de jato: a atmosfera, quanto mais quente está, maior capacidade tem de reter vapor de água e maior quantidade de água estará disponível para que, caso haja condições para precipitação, ela ocorra com maior intensidade. Portanto, o facto de estes fenómenos se tornarem mais prováveis tem que ver com as alterações climáticas de origem antropogénica.

Qual a probabilidade de cheias como estas ou ondas de calor como a do final de junho no Canadá e nos EUA acontecerem sem o efeito das alterações climáticas?
Seriam acontecimentos extremamente raros. Um recorde que sobe de 45ºC para quase 50ºC é, do ponto de vista probabilístico, pouquíssimo frequente, num cenário sem influência antropogénica. No caso da “cúpula de calor”, a corrente de jato levou à formação de uma região em que o ar não se renova durante muitos dias, como se estivesse em circuito fechado. E sobre essa região há altas pressões, que têm a particularidade de empurrar o ar para baixo, comprimindo-o, o que faz com que aqueça. Além disso, havia já no Canadá uma seca excecional. Se o ar e o solo estiverem secos, aquece ainda mais do que em condições normais. Foram então duas situações absolutamente anómalas que se juntaram.

Uma equipa de investigadores que analisou essa onda de calor disse que esta seria “virtualmente impossível” sem as alterações climáticas.
Não é nada inédito. Um artigo de um colega meu, o Ricardo Trigo, publicado na Science em 2011, na sequência da onda de calor na Rússia, acaba a dizer que a probabilidade de algo semelhante voltar a acontecer é extremamente baixa. Curiosamente, no mês passado, Moscovo teve a onda de calor mais séria dos últimos 120 anos. Isto é que me preocupa imenso. E as regiões do Mediterrâneo e do Nordeste europeu emergem como os hotspots primários. É onde vamos ter estes extremos.

A realidade está a ser mais drástica do que os modelos climáticos previam?
Está em linha com o que se previa, mas a uma taxa mais acelerada. Aquilo que eu achava que ia acontecer depois de eu morrer… Bom, estou a ficar preocupado, porque começa a haver fenómenos extremos que os modelos apontavam mais para a frente.

Como climatologista, estes fenómenos surpreendem-no? Ou olha para isto e pensa: “Há anos que andamos a avisar”?
Há anos que andamos a avisar. O problema é que um climatologista não é um catastrofista. A questão é que quando se transforma um resultado científico numa ideologia, caímos na controvérsia. Eu só digo: “Meus amigos, isto são os resultados. Agora façam o que quiserem.” O que temos de fazer é confiar na Ciência, olhar para os cenários e arranjar medidas para nos adaptarmos. Mitigar os impactos, porque eles estão aí e duvido de que possamos escapar.

Este mês, o Comité das Alterações Climáticas britânico avisou o governo de Boris Johnson de que o país está mais mal preparado para fenómenos extremos do que há cinco anos. Os governantes não estão a levar os alertas a sério?
É um facto que governos mais conservadores tendem a minimizar os impactos das alterações climáticas. Ao mesmo tempo, os de esquerda tendem a dar uma ideologia a uma coisa que não devia ser ideológica, mas sim técnico-científica.

Tivemos então a onda de calor na América do Norte, que matou centenas de pessoas…
Centenas, não. Vão chegar aos milhares. Vai ser essa a conclusão, quando se fizer a análise estatística da diferença de mortes para o mesmo período em condições normais.

… E agora as cheias na Europa, que provocaram pelo menos 200 mortes. Se isto acontece nos países mais ricos e com as melhores infraestruturas, o que podem esperar os países mais pobres do mundo? Nas metrópoles da Nigéria, do Bangladesh ou da América Latina…
Mas já acontece! De cada vez que um furacão assola o México ou a Nicarágua, os mortos são aos milhares. De facto, em países como os EUA reduz-se o número de vítimas, porque há uma capacidade de previsão e de mobilização. Essa é a vantagem das sociedades mais industrializadas. Mas também têm prejuízos económicos muito maiores. O furacão na Figueira da Foz causou uma enorme destruição na rede elétrica, por exemplo.

O objetivo do Acordo de Paris é limitar o aumento da temperatura a um máximo de 2ºC, mas preferencialmente não mais de 1,5ºC. Esses 0,5ºC podem efetivamente significar milhares de vidas salvas todos os anos? Meio grau faz a diferença?
Meio grau faz toda a diferença nos desvios-padrão. Uma coisa que tinha uma probabilidade de 0,13% de acontecer passa para 0,26% – duas vezes mais provável. O problema não é a média. Com essa eu vivo bem. É como com a subida do mar: a questão não são os 80 centímetros a mais até ao final do século, são as flutuações, com ondas e subidas de água capazes de destruir a baixa de uma cidade como Lisboa, que dantes eram raríssimas e passam a ser muito mais frequentes. A discussão do meio grau é fulcral, porque se traduz, em termos de extremos, em variações brutais de probabilidades.

Em Portugal, que consequências das alterações climáticas já se notam mais claramente?
Se analisarmos o perigo meteorológico de incêndio em Portugal dos últimos 40 anos, e o dividirmos num gráfico, vemos que todos os maiores extremos aconteceram nas últimas duas décadas, de 2000 para cá. Se cruzarmos com a área ardida oficial, vemos que acontece o mesmo. Depois podem dizer: “Ah, a paisagem está mais desordenada, ou há mais ignições”… Não estou a dizer que as alterações climáticas são o bode expiatório de tudo, mas, não havendo uma política de ordenamento do território nem de mitigação de ignições, o resultado estatístico está à vista. Outra coisa: entre 1980 e 1999, 89% dos fogos ocorriam de julho a setembro, e apenas 3% de outubro a dezembro; de 2000 a 2019, a proporção de fogos no verão baixou para 76% e de outubro a dezembro subiu para 13 por cento. Isto é um exemplo muito simples dos impactos. As alterações climáticas estão a fazer com que as consequências sejam muitíssimo piores. Tornam mais prováveis acontecimentos que eram raríssimos. Se juntarmos a isto outras condições, o impacto vai ser ainda maior.

Governos mais conservadores tendem a minimizar os impactos das alterações climáticas. Ao mesmo tempo, os de esquerda tendem a dar uma ideologia a uma coisa que não devia ser ideológica

Estamos preparados para o aumento desses riscos? Incêndios, ondas de calor, secas, inundações?
A seguir ao trauma de 2017, houve uma mudança de paradigma. As pessoas passaram a ter medo, o que às vezes é útil. Há uma muito maior colaboração entre as universidades e as instituições, por exemplo. A Proteção Civil está agora a usar conhecimento científico para o posicionamento das aeronaves. Isso nota-se, sim. Mas o problema é extremamente vasto. Além disso, transcende o ciclo governativo, aquela ideia de que o que interessa é ter resultados até às eleições, quando a questão dos fogos é muito mais complexa.

É um problema só nosso?
Não. Uma vez, em 2017, estava à conversa com um diplomata sueco que me dizia, com condescendência: “Vocês, portugueses, são muito indisciplinados. Nós, na Suécia, não temos o impacto dos fogos, porque há muitos anos que temos especialistas competentes.” E eu disse-lhe: “Prepare-se, porque vão ter problemas. As alterações climáticas estão a chegar lá.” No ano seguinte, ardeu a Suécia. Esta ideia de que os países nórdicos ou a Alemanha estão bem preparados… Não estão, porque isto ultrapassa os cenários menos usuais. Mas também lhe digo que os belgas e os alemães não brincam em serviço. Morrerem ou desaparecerem tantas pessoas é completamente inaceitável e vai haver uma mudança qualitativa na previsão e na resposta a este tipo de coisas.

Portugal devia também aprender com esta tragédia na Alemanha?
Há uma mentalidade que começa a mudar. Nos fogos, isso é óbvio: começou a perceber-se que um fogo vencido não é uma vitória, é uma derrota. Uma vitória é evitar o fogo. É como dizer: “O tipo espetou-se, mas a ambulância chegou em três minutos.” Não, vitória era não haver acidente. E isto é transposto para tudo, incluindo cheias.

Está otimista, então?
Como estes extremos vão continuar a ocorrer, as pessoas vão perceber que os climatologistas tinham razão. Agora, as alterações climáticas vão ser o Armagedão, o fim do mundo? Não. Vamos ter um clima no Sul de Portugal mais parecido com o de Marrocos? Sim, e temos de nos adaptar e mitigar os efeitos. Vão morrer uns milhares de quando em vez? Ah, pois vão, com certeza. Como se está a ver.

Nunca o mundo foi tão perigoso para quem defende a natureza, revela a Global Witness



Em 2020, pelo menos 227 pessoas morreram por defenderem a natureza, revela hoje o novo relatório da Global Witness. Os países mais perigosos foram a Colômbia, o México e as Filipinas.

“Em 2020 registámos 227 ataques letais, uma média de mais de quatro pessoas por semana”, escreve a organização em comunicado. Em 2019 tinham sido registadas 121 mortes.

Assim, o ano passado foi “o ano mais perigoso desde que há registos para quem defende as suas casas, terras, meios de subsistência e ecossistemas vitais para a biodiversidade e o clima”.

Estes ataques acontecem num contexto de inúmeras ameaças, como intimidação, violência sexual, crime e perseguição.

Ainda assim, sublinha a organização no relatório “Last Line of Defense – the industries causing the climate crisis and attacks against land and environmntal defenders“, “os nossos números estão, seguramente, subestimados e muitos ataques contra defensores da natureza não são denunciados”.

No ano passado, mais de metade dos ataques aconteceram em apenas três países: Colômbia (65), México (30) e Filipinas (29). Pelo segundo ano consecutivo, a Colômbia registou o maior número de mortes, com 65 activistas assassinados. Estas mortes aconteceram num “contexto de ataques aos direitos humanos dos activistas e de líderes de comunidades locais por todo o país”. Os povos indígenas foram especialmente afectados e a pandemia só agravou a situação. Isto porque o Governo cortou nas medidas de protecção a estas pessoas e porque o confinamento tornou os ataques mais fáceis.

O México registou um aumento de 67% no número de ataques em relação a 2019, acabando o ano com 30 mortes. O abate ilegal de árvores foi ligado a quase um terço dos ataques e quase metade foi dirigido contra comunidades indígenas.

“De forma chocante, a impunidade por crimes contra activistas continua extremamente elevada. Cerca de 95% dos assassinatos não resultaram em condenações.”

Nas Filipinas, a luta contra indústrias destruidoras do mundo natural – como projectos ligados a barragens, explorações mineiras e desflorestação – foi a razão que colocou os activistas em maior perigo.

Na lista dos cinco países com mais mortes estão ainda o Brasil (20 mortes) e as Honduras (17).

Se olharmos para as situações em que os activistas foram atacados por proteger um ecossistema em particular, 70% estavam a trabalhar para defender as florestas da desflorestação e do desenvolvimento industrial. No Brasil e no Peru, quase três quartos dos ataques registados aconteceram na região da Amazónia de cada país.

No total, quase 30% dos ataques estavam ligados à exploração de recursos naturais – abate ilegal de árvores, exploração mineira e projectos agrícolas de larga escala – e barragens hidroeléctricas e outras infraestruturas. Destes, o abate ilegal de árvores foi o sector onde se registaram mais mortes, num total de 23. O México viu aumentar o número de mortes relacionadas com a desflorestação, atingindo nove em 2020.

“Em demasiados países, ricos em recursos naturais e com biodiversidade crucial para combater as alterações climáticas, há indústrias a operar com quase total impunidade”, lamenta a Global Witness. “É raro alguém ser detido ou levado à Justiça por matar activistas.”

Assim como o que acontece com os impactos da crise climática, também os impactos da violência contra activistas não são sentidos de forma igual no mundo. A Global Witness denuncia o “desproporcionado número de ataques contra os povos indígenas”, representando mais de um terço dos ataques fatais, mesmo quando as comunidades indígenas representam apenas 5% da população mundial.

Esta organização, que faz este levantamento desde 2012, pede aos Estados para garantirem políticas nacionais de protecção do ambiente e de quem o defende, que exijam às indústrias que investiguem e condenem todos os responsáveis pela violência e outras ameaças contra os activistas.

“Os activistas são a nossa última linha de defesa contra a crise climática”, comenta a Global Witness. “Mesmo depois de décadas de violência, as pessoas continuam a defender as suas terras e o nosso planeta. Em cada história de desafio ao roubo e apropriação de terras perpetrado por empresas, contra desastres ambientais, há a esperança de podermos virar esta maré e aprender a viver em harmonia com o mundo natural. Até aprendermos, a violência vai continuar.”

Documentário -FSC Friday 2021


Ano após ano, temos sentido a importância de promover a preservação das nossas florestas e de um uso consciente dos seus recursos, de forma a não comprometer os seus valores ambientais e sociais.

Sabemos que as florestas ocupam grandes áreas do nosso planeta e são responsáveis por muitos dos produtos que usamos no nosso dia-a-dia. O papel dos cadernos onde escrevemos, as rolhas das garrafas de vinho que compramos, ou a madeira da mesa da nossa cozinha, são alguns exemplos de produtos com origem na floresta. Mas a floresta não nos dá apenas materiais, ela é a casa da grande maioria dos animais que existem no mundo e o sustento de muitas pessoas. A floresta é ainda responsável pela qualidade da água que bebemos e do ar que respiramos. Sem florestas, nós não existíamos!

As florestas vão muito para além dos benefícios que todos já conhecemos! Alguma vez pensou que o livro que está a ler vem da floresta? Que o palco da última peça de teatro que assistiu, é de origem florestal? Que a guitarra daquela banda de música que tanto gosta, também veio da floresta? E o que seria do “Robim dos Bosques” ou do “Capuchinho Vermelho”, se não houvesse florestas? É verdade, a cultura também depende da floresta!

Existem muitas coisas em comum entre a floresta e a cultura, não só os materiais como já identificámos, mas principalmente o facto de enquanto seres humanos, não vivermos sem as duas! E numa altura em que tanto reconhecemos os constrangimentos que o sector da cultura tem passado, quisemos aliar-nos a esta causa, e neste FSC Friday, promovemos uma série de atividades que destacaram a importância de uma gestão florestal responsável para o futuro da cultura.

Este ano, contámos com a participação de três actores conhecidos do grande público, Pedro Górgia, Tiago Aldeia e Alexandre da Silva, que desenvolveram uma acção de palco, abordando de uma forma divertida, o papel que cada um de nós tem na protecção das florestas, através de um consumo responsável.

Tivémos ainda ter um momento dedicado à música, com a apresentação de dois instrumentos musicais fabricados integralmente em madeira e cortiça certificada de origem nacional, e que foram oferecidos a Diogo Clemente e Tatanka, dois músicos de referência que partilharam connosco este dia.

Esta iniciativa do FSC Portugal, conta com o apoio de várias organizações certificadas e paceiros, como a 2BForest, ALTRI Florestal, Direcção Regional dos Recursos Florestais (Governo dos Açores), Euro2 (JG - Artes Gráficas), Fibromade, FINIECO, Jerónimo Martins, Sedacor, Sonae Arauco, Tetra Pak, The Navigator Company, Unimadeiras, Vicaima e Vinhos do Alentejo, evidenciando a importância da certificação florestal e o seu contributo para uma gestão florestal responsável.
Para aceder à brochura institucional da Jerónimo Martins, clique aqui.

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

A perigosa noção de ausência do futuro




«Um estudo sobre a avaliação dos impactes da crise climática realizado entre jovens de dez países de diferentes latitudes e estágios de desenvolvimento (entre os quais, Portugal) deixa no ar um retrato que tem de estar na primeira linha das discussões políticas do nosso tempo: a maioria (56%) dos jovens envolvidos neste estudo pré-publicado na prestigiada revista científica Lancet diz que o mundo está condenado; quatro em cada dez não quer ter filhos por não acreditar no futuro; seis em cada dez dizem que a sua vida será pior do que a dos seus pais e acusam os políticos de traírem as suas expectativas.

Um estado de espírito assim tão deprimente causa de imediato ansiedade, stress e problemas físicos e mentais nos jovens, dizem os especialistas. E põe em causa as noções de progresso, de expectativa, de confiança e de sentido de devir colectivo que formam as bases das democracias. Quando individualmente não se acredita no futuro, é muito mais difícil acreditar nas respostas de soluções partilhadas e em valores comuns. Cria-se assim o vazio onde cai a democracia e emergem os populismos providenciais. A defesa de soluções radicais contra os “traidores” do poder que vêem o futuro dissipar-se sem fazerem nada para o salvar acentua-se.

Chega-se assim à grande questão: o que fazer para contrariar o agravamento da crise climática e as suas consequências. A dimensão dos desafios leva muitos a considerar que o presente modelo de desenvolvimento é insustentável, que é necessário alterar padrões de consumo e recuperar a frugalidade das gerações anteriores. Esta avaliação, como já aqui defendemos, tem o terrível custo de afrontar o natural “egoísmo” das pessoas, de lhes impor mudanças de vida que na História só aconteceram sob a égide de guerras ou pandemias, ou de esperar conflitos que ameaçam os fundamentos da democracia.

Há depois os optimistas históricos, que acreditam que, nestes tempos, o egoísmo que funcionou como a mola do progresso humano pode funcionar como resposta à crise actual, fazendo com que a ciência resolva os problemas – um texto de Francisco Mendes da Silva no PÚBLICO (edição impressa de 5 de Setembro) é a esse propósito exemplar. Mas também aqui há um problema: o de aplicar à crise do presente uma leitura sobre eventos do passado. Nada nas constatações da ciência ou das ameaças presentes justificam esse optimismo. É essa noção que perturba as perspectivas dos jovens sobre o futuro. Mas é no meio, no compromisso entre mudanças políticas e confiança na capacidade da criação humana que se poderão encontrar as melhores respostas.»