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segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Quem é António Barreto?



Por Marilia Alves, 27 de Agosto de 2021

António Barreto, conhecido intelectual e político da nossa praça, veio por estes dias, em entrevista ao Jornal Sol, afirmar que “A justiça do antigo regime era mais séria do que a de agora”. Por antigo regime entenda-se salazarismo. Possuíamos então um estado regulador até ao mais ínfimo pormenor, tribunais plenários, com uma justiça arbitrária, com a qual parece agora concordar e isso define logo uma pessoa do ponto de vista ideológico.
A justiça era exercida através de um aparelho repressivo e controlador assente numa legião de pides e de bufos. Sem esquecer as simpáticas prisões para os presos políticos, em que o pináculo da seriedade era o Tarrafal. Tudo muito sério e com pessoas de bem. E foi essa justiça “tão boa” que obrigou Barreto ao exílio dourado da Suíça. E, contrariamente, à esmagadora maioria das pessoas da sua idade, que nada beneficiaram com o regime e se sujeitaram a perder a vida numa luta inglória, uma guerra sem vencedores nem vencidos, enquanto a burguesia abastada – como é o caso e com muitos princípios declarados após a revolução, porque até aí não tinha tido qualquer intervenção politica conhecida – saiu do País e respirou liberdade, muito antes de ela cá chegar.
Enquanto ministro da agricultura do primeiro governo de Mário Soares, António Barreto acabou com a reforma agrária. Quem não se lembra da “Lei Barreto”, que determinou a entrega dos campos do Alentejo aos proprietários. A manhã sangrenta da reforma agrária, ocorreu em Montemor-o-Novo, quando a GNR atirou aos trabalhadores que contestaram e morreram dois, Caravela e Casquinha. Julgo que a frase “Fora Barreto”, continua gravada em alguns muros. Pelo menos, no das memórias. Entregou novamente os latifúndios que não foram alvo de qualquer melhoria. Passou de uma situação anárquica para outra de fraca produtividade.

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