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sexta-feira, 28 de maio de 2021

Sem Agricultores a agricultura da Europa não tem futuro!

Num momento determinante para a agricultura europeia, uma vez que se ultimam as negociações da Política Agrícola Comum para a próxima década, a qual ditará as regras que balizarão a produção agrícola e o rendimento dos agricultores europeus, garantindo que continuaremos a produzir alimentos de qualidade, a um preço razoável e mantendo os mais elevados padrões de sustentabilidade social e ambiental realizou-se em Santarém o FFA2021 – Portugal.

No entanto nem todas as notícias são boas … e os exemplos de momentos francos de troca de opinião, construtiva e construtora, como este que aqui hoje está a decorrer, são escassos.

O principal risco deriva do posicionamento eco-fundamentalista do apparatchik europeu, que parece pretender levar a mais escrutinada, controlada e eficiente agricultura do mundo – responsável pela produção de uma parte importante dos alimentos que consumimos – para um caminho assente em verdades assumidas como adquiridas, sem qualquer preocupação do impacto das suas propostas e decisões no tecido produtivo, nos atores locais e na economia do mundo rural.

Sem agricultores a agricultura da Europa não tem futuro!

Sem a nossa participação, desestrutura-se o mundo rural e coloca-se em causa a sustentabilidade social e ambiental do território, num momento em que todas as previsões indiciam que o risco produtivo e ambiental aumentará, num quadro de evolução climática caracterizado por um aumento de temperatura e fenómenos climáticos mais extremos e mais frequentes.

Tentam passar um atestado de menoridade à maioria da sociedade e recorrendo a mensagens catastróficas e por vezes intimidatórias, onde as “fake news” são elemento recorrente. Têm um trabalho profissional e metódico que pretende impor comportamentos e atitudes, sem antecipar impactos nem prever qualquer mitigação.

O Green Deal e a Estratégia da Biodiversidade, que inclui a das Florestas, são boas iniciativas, com as quais concordamos nas grandes linhas orientadoras.

No entanto vão ferir de morte a agricultura europeia e o mundo rural se não repensarmos as metas e os métodos para as atingir:
  • Reforçando a Precaução, por opção à Proibição
  • Melhorando a Eficiência, combatendo a Imprudência
  • Apostando na Liberdade, lutando contra a Irracionalidade
  • Promovendo a Diversidade, como contrapartida à Obrigatoriedade

No uso de fitofármacos, a argumentação científica isenta tem que ser a base de um sistema com elevado grau de precaução em que a proibição, motivada por preocupações populistas e ideológicas, não seja a opção de serviço.

Na utilização de adubos e fertilizantes ou da água para rega, onde a eficiência que conseguimos é cada vez maior, resultado de uma agricultura de precisão e pressionada pela necessidade de racionalidade económica, as opções não podem ser cerceadas administrativamente, sem critério e sem olhar às especificidades das opções produtivas e das realidades regionais.

A opção cega na agricultura biológica, inviável em termos produtivos e destruidora em termos sociais – porque só poucos consumidores lhe poderão aceder – não pode ser uma orientação de sentido único, num tempo em que a diversidade e a liberdade individual de escolha parece querer ser transformada em propriedade de alguns.

A utilização de um discurso formatado, baseado em ideias benévolas, mas inconsequentes e perigosas, como as cadeias curtas ou os malefícios de uma suposta intensificação, não nos pode iludir.

Estas são as linhas vermelhas inultrapassáveis, que os ministros que nos defendem e os deputados que nos representam têm que respeitar e assegurar, sem vacilar, no diálogo com uma Comissão Europeia, arvorada defensora de um modelo de sociedade fundamentalista e pouco inclusivo, condicionador do mais básico direito dos cidadãos europeus – a liberdade de escolha.

Pelo que os media nos vão informando e as redes sociais replicam, de forma nem sempre representativa, as coisas não vão correr bem para o futuro da agricultura europeia.

E o nosso histórico posicionamento, de falar muito para dentro e muito pouco para a sociedade e para os cidadãos – de que a ELO é uma exceção exemplar – também não ajuda à nossa defesa.

Precisamos de reinventar no discurso, sobre dois prismas:
  • No combate positivo e construtivo, mas sem tréguas, às metas irracionais e irrazoáveis propostas pela Comissão Europeia, constantes do Green Deal e da Estratégia da Biodiversidade;
  • No modelo de comunicação, direcionando-o para a sociedade e para os cidadãos, com um fluxo de informação, constante e verdadeiro e uma forte presença nas redes sociais.

Consistentemente e sem desistir, temos que contrariar de forma incisiva a hostilidade da comunicação social e a desvalorização mediática da nossa mensagem, das nossas propostas e do seu valor como base de uma solução de futuro para os territórios rurais:

Uma agricultura e uma floresta diversa e inclusiva, que é uma mais-valia efetiva em termos económicos, sociais e ambientais. Só assim garantiremos melhores alimentos e mais ambiente.

Nós agricultores, que estamos habituados à dureza do clima e ao risco da aleatoriedade produtiva a céu aberto, temos que perceber que o enquadramento mudou e também que neste combate não podemos ficar sentados no conforto do sofá.

Temos que nos fazer à estrada, promover a mudança e lutar pelo objetivo pretendido:

Reforçar o papel da agricultura e dos agricultores europeus na produção mundial de alimentos, com um padrão superior de desempenho produtivo, social e ambiental, ao mesmo tempo que contribuímos para as metas climáticas e para a redistribuição de riqueza a nível global.

O que hoje assistimos faz parte deste trabalho, complementar à nossa atividade de produção e gestão do território, ao qual, tal como nas nossas explorações, teremos que nos dedicar nos próximos tempos, 24 horas por dia, 7 dias por semana.

Trabalho em que temos que mostrar inequivocamente, à sociedade e aos cidadãos:
  • Que somos mais amenizadores que condicionadores
  • Que todos os dias temos um agricultor à nossa mesa

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