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sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Charcos aumentam a biodiversidade dos jardins

Os lagos representam um ponto de atração suplementar nos espaços ajardinados mas implicam cuidados de construção específicos para não os prejudicar. Saiba porquê e aprenda a construir um.


Já reparou que sempre que entra num jardim ou parque ou passeia por uma qualquer paragem natural e encontra um pequeno espelho de água, quase sempre para para o apreciar melhor? Para além de ser absolutamente fundamental para a vida na terra, a água tem esse dom. Atrai! A atenção do homem e uma panóplia de bichos e plantas que nela vivem... Se quiser criar mais um ponto de atração no seu jardim e contribuir para a biodiversidade, então considere fazer um pequeno charco. De todas as ações que pode fazer em prol da fauna e da flora, esta é porventura a mais importante. 

Se o charco for bem desenhado e feito, cedo se tornará um pequeno paraíso para uma miríade de animais e plantas, um microcosmos do mundo natural, com predadores e decompositores, herbívoros, algas e plantas, que irão proporcionar muitas horas de observação e descoberta para toda a família, mesmo à saída de casa. Sejam os girinos em desenvolvimento, os diferentes e estranhos insectos que vivem na água, ou os movimentos cómicos dos pássaros que se vão banhar num quente dia de verão.

Como fazer um charco

Primeiro, terá de escolher um local no seu jardim. O ideal é um canto solarengo, afastado de árvores grandes (por causa das folhas mortas e das raízes, que poderão perfurar o plástico impermeabilizador). E, se possível, com uma linha de visão boa desde a sua janela, para poder observar o que lá se vai passando de dentro de sua casa.

Uma vez escolhida a área do charco, retire toda a manta morta, e marque a forma e dimensões finais, com uma corda atada a pedaços de madeira espetados no chão. Escave depois um buraco. Lembre-se que este terá de ser ligeiramente maior do que a forma final do seu charco. Ponha a terra num canto do jardim. Poderá utilizar alguma dela para refazer as margens, ou uma pequena ilha, caso o seu charco tenha dimensões razoáveis.

Quando estiver a escavar, não se esqueça de criar um perfil de profundidade que garanta margens com zonas de pouca profundidade. Deposite depois uma camada de jornais velhos, areia ou uma carpete velha sobre a cova, para proteger o plástico impermeabilizador. Deve evitar que seja perfurado por baixo. Sobre os jornais, areia ou carpete, ponha uma camada de folha de plástico (polietileno) impermeabilizadora e prenda a mesma nas margens com pesos (pedras).

A fórmula que deve usar para determinar as dimensões do charco

Para calcular a quantidade de plástico que precisa, utilize a seguinte fórmula:

comprimento – (comprimento do charco mais o dobro da profundidade) + 10%; largura – (largura do charco + dobro da profundidade) + 10%

Por exemplo, se quiser fazer um charco de 2x3 m, e 0,50 cm de profundidade, precisará de uma folha de plástico de 3,30 m por 4,40 m. O plástico deverá ultrapassar um pouco as margens projectadas do seu charco. Não estique demasiado o plástico impermeabilizador quando o colocar.

Deposite logo depois uma fina camada de areia ou terra sobre este, para evitar estragos devido à exposição solar direta. Mantenha os pesos nas margens para que o plástico estabilize. Encha o seu charco com água ou, melhor ainda, deixe que a chuva do inverno o vá preenchendo aos poucos. Assim que este estiver cheio e o plástico estabilizado, pode retirar os pesos e tapar as margens do plástico com terra, para fazer as tais margens suaves. 

Regras a observar

Quanto maior for o seu charco, mais rico será em fauna e flora. As rãs podem viver num charco com apenas um metro quadrado, mas outras espécies de anfíbios requerem pelo menos 15 metros quadrados de habitat para o fazer, dimensão já suficiente para atrair um casal de galinhas de água, se à volta do charco existir habitat palustre adequado.

A forma do charco e o que existe à sua volta também irão influenciar o tipo de animais e plantas que nele poderão viver. Em geral, quanto mais extensas e variadas forem as margens, melhor será este para a biodiversidade. Por isso, tente construir o seu charco com forma irregular e com margens com pequena inclinação para que os animais possam chegar à água sem cair ao charco.

É nessas margens com pequena profundidade que as aves irão beber, e que as rãs irão pôr os seus ovos (a uma profundidade de 10 cm, entre plantas subaquáticas). Para além das zonas pouco profundas na margem, o ideal seria fazer um charco com cerca de meio metro de profundidade.

Assim, muitos insetos e anfíbios poderão esconder-se dos predadores e aumentar a diversidade de habitats (e consequentemente de fauna) existentes. Os tritões, por exemplo, geralmente precisam de 30 centímetros de profundidade para pôr ovos. Mas, atenção, tal como as piscinas, os charcos podem ser muito perigosos para crianças pequenas e bebés. Tenha isto em consideração quando estiver a planear construir um!

Texto: José Pedro Tavares (Royal Society for the Protection of Birds, BirdLife no Reino Unido, organização parceira da SPEA)



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