Pavan Sukhdev, um economista ambiental, principal autor do relatório The Economics of Ecossystems and Biodiversity (TEEB), da ONU, publicou em 2012 o livro “Corporação 2020 – como transformar as empresas para o mundo de amanhã”.
No livro ele analisa as Corporações 1920, empresas que se desenvolveram no século passado, operaram e prosperam através da expansão e criação de demanda, inovação dos produtos e produção barata, com pouca limitação às responsabilidades para seus acionistas e com redução de qualquer restrição imposta às suas atividades em questões de tempo, local e propósito. E compara com as Corporações 2020, empresas do futuro, que precisam de um novo DNA que inclua metas sociais, aumento do bem-estar humano, igualdade social, harmonia comunitária, e que reduza a escassez ecológica e os riscos ambientais de suas operações e forma de prosperar.
2020 chegou. E as Corporações 1920 ainda operam em nosso meio sem os elementos necessários deste novo DNA de Sukhdev. Mas existem sinais claros que estamos vivendo um processo de transformação na gestão de negócios e de marcas em direção à sustentabilidade.
Pela primeira vez a conferência de Davos do World Economic Forum indicou que os 5 principais riscos ao desempenho da economia mundial são ambientais. O manifesto publicado após a conferência prega que as empresas precisam envolver todas as partes interessadas para a criação de valor compartilhado e sustentando, não devem atuar apenas como uma unidade económica geradora de valor aos seus acionistas, deve também atingir objetivos ambientais, sociais e de boa governança para realizar as aspirações humanas e sociais como parte de um sistema social mais amplo. Isto é o chamado para o desenvolvimento de um novo tipo de capitalismo, o “stakeholder capitalism”, que impõe um novo propósito ao mundo dos negócios, maior que simplesmente o lucro no curto prazo.
Larry Fink, do fundo de investimento Black Rock, em carta aos CEOs 2020 deixa claro que os riscos de investimento apresentados pelas mudanças climáticas devem acelerar uma realocação de capital com a busca de portfólios de investimento mais resilientes com foco em retornos mais estáveis para o longo prazo. Declarou que a sustentabilidade deve ser o novo padrão de investimento. Nos anos anteriores Fink já anunciava a importância do propósito para as empresas, não como slogan ou campanha de marketing, mas como razão fundamental para gerar valor para as partes interessadas, não apenas lucro para acionistas. Para ele o propósito orienta a cultura e proporciona tomadas de decisões consistentes para sustentar resultados de longo prazo.
Em setembro de 2019 o Pacto Global e a Accenture Strategy, publicaram um estudo com 1.000 CEOs de 21 indústrias de 99 países. Foi preparado para checar a contribuição das empresas com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), para refletir sobre oportunidades e desafios em relação à sustentabilidade e como as empresas devem intensificar suas ações e mudar sistemas de mercado nesta década de entrega dos ODS da Agenda 2030 da ONU. OS CEOs reconhecem que devem ter uma contribuição maior para alcançar uma economia e uma sociedade global sustentável até 2030: 78% de empresas asiáticas e norte-americanas acreditam que precisam dissociar o crescimento económico do uso de recursos naturais e da degradação ambiental; 76% afirmam que a confiança dos cidadãos será fundamental para a competitividade das empresas em seu setor nos próximos cinco anos; 88% acredita que os sistemas económicos globais precisam se concentrar novamente no crescimento equitativo.
A tradicional pesquisa sobre Tendências Globais de Consumo (2020) da Euromonitor revela consumidores mais preocupados com a sustentabilidade, querendo modelos de negócios circulares, com menor geração de resíduos, que utilizem compartilhamento, reutilização, reposição, aluguel e produtos mais duradouros, aspirando marcas que desenvolvam produtos e serviços mais acessíveis, que apoiem a diversidade e inclusão para todos, que reduzam preconceitos, com marcas que estejam conscientes quanto ao seus impactos à poluição do ar e ao aquecimento global.
A cada dia reunimos mais dados e conhecimento suficientes para afirmar que a transformação do modelo de negócio das empresas é inevitável, tanto pelo lado mais romântico da sustentabilidade, que considera a manutenção da resiliência ambiental com a geração de bem estar para as gerações de pessoas, como pela certeza que seguir a rota do modelo de desenvolvimento de 1920 impactará no curto prazo a prosperidade dos negócios, definindo a própria sobrevivência das empresas.
Sukhdev alertou que a transformação das empresas não iria simplesmente acontecer, é um desafio complexo. Mas agora, em 2020, ano que o amanhã chegou, é preciso saber como transformar as empresas para o mundo de hoje.
Nenhum modelo de negócio 1920 se justifica mais em 2020. Mas a janela de tempo para transformar as corporações está acabando. É preciso começar agora uma gestão de negócios e marcas para a sustentabilidade que respeite os limites impostos pelo planeta, com o compromisso de gerar riquezas e bem estar para todas as pessoas, que inclua o pensamento circular no sistema de produção e consumo. É a única forma das organizações prosperarem.
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